Cartas
CAPÍTULO 6
- CARTAS -
O último semestre do 4º ano de Rose em Hogwarts passou voando. Logo estava de férias e, em meados de agosto, estava se arrumando para ir à cerimônia de entrega das notas de Glenn dos NOMs. Sentada na cama, Lily, já pronta, tagarelava alegremente.
- O James disse hoje de manhã para a gente que vai ser auror – disse, animada – Você já sabe que profissão vai tentar, Rose?
- Não sei ao certo – respondeu, sentada em pufe defronte à penteadeira tentando passar rímel sem borrar o rosto – Talvez algo relacionado às leis.
- Isso não é muito maçante? – perguntou Lily, fazendo uma careta.
- Não acho – respondeu Rose, borrando toda a área embaixo dos olhos – Lily, você pode me ajudar, por favor?
Lily levantou-se da cama da prima de um salto e logo estava ao seu lado, limpando os borrões do rosto e começando a passar o rímel novamente.
- A tia Mione, o tio Ron e o Hugo não vão à cerimônia? – perguntou.
- Não – respondeu – Hoje a mamãe toma posse na Suprema Corte dos Bruxos, por indicação do Ministro.
- E por que você não vai? – quis saber Lily, verificando se não havia nada errado com os cílios de Rose.
- A mamãe disse para eu ir com o Glenn. Que temos que preservar os bons namorados, sabe? – explicou.
- Entendi – disse Lily – Prontinho, Rosie.
Rose se olhou no espelho, encantada com o resultado.
- Obrigada, Lily – disse, satisfeita.
- De nada – respondeu, devolvendo o tubo de rímel à prima – E o Glenn, que profissão vai seguir?
- Não sei – respondeu Rose, arrumando seus itens de maquiagem nas gavetas da penteadeira – Ele disse que já escolheu, mas só vai me contar hoje à noite.
- Algum palpite?
- Nenhum – disse, parecendo meio frustrada.
- O tio Bill esteve lá em casa hoje – contou Lily – Queria a opinião da mamãe.
- Por quê? – perguntou Rose, terminando a arrumação.
- A Victoire e a Dominique pediram demissão dos empregos que tinham para abrir uma loja de roupas. Ele queria saber o que a mamãe achava.
- QUÊ?! – fez Rose, chocada – Elas são malucas, Lily? A Victoire não vai mais trabalhar nas secretarias do Ministro? E a Dominique largou o emprego na administração do Gringotes? Para abrir uma loja de roupas?
- Exato – respondeu, sem se alterar – Por que tanto auê, Rosie?
- Isso é loucura, Lily! – explicou – Ainda mais para a Victoire, que vai se casar ano que vem.
- Não é loucura nada – retrucou – E foi o que a mamãe disse ao tio. Elas trabalharam todo esse tempo só para juntar dinheiro. Até já compraram a loja da Madame Malkin no Beco Diagonal. E quer saber? Acho que elas têm futuro. O tio Bill mostrou algumas roupas que elas desenharam, e são perfeitas! Elas vão lançar grife própria, e a mamãe também acha que elas têm muita chance.
- Eu ainda acho loucura – disse Rose, sem se convencer.
- Ache o que quiser – respondeu Lily – É o sonho delas, e elas já planejavam tudo desde que estavam em Hogwarts. Elas vão se dar muito bem. Espere e verá. Tchauzinho; acho que o seu namorado chegou – disse ela, saindo do quarto ao ouvir a campainha tocar.
Ainda sem acreditar no que as primas fariam, Rose desceu as escadas atrás de Lily, que abriu a porta e disse, ao ver Glenn:
- Olá, cachinhos marrons. Te vejo daqui a pouco – concluiu, voltando para casa.
Glenn riu da atitude de Lily, mas abriu um sorriso ainda maior ao ver Rose. Rapidamente, entrou na casa e fechou a porta atrás de si, correndo para abraçar a namorada com força.
- Oi, Rose – disse, cheirando o pescoço da ruiva.
- Oi, Glenn – respondeu, contente – Cadê seus pais?
- Estão na casa da Lily, conversando com o Harry e a Gina – respondeu, soltando-se um pouco do abraço para fitar o rosto da namorada. No instante seguinte, ele a beijou.
Depois de algum tempo, Rose se afastou dele com cuidado.
- Acho melhor a gente ir, Glenn. Seus pais estão nos esperando – disse.
- Certo – concordou, segurando a mão dela.
Harry e Gina estavam na cozinha conversando animadamente com Oliver e Tina. James, Alvo e Teddy discutiam feitiços de DCAT – pelo jeito, Alvo também sonhava com a profissão de auror – na sala, onde também estavam Victoire e Lily: aquela contava à pequena como estava o vestido de noiva que começara a desenhar.
- O Matt não vem? – quis saber Rose, indo em direção à cozinha para cumprimentar os sogros.
- Não – respondeu Glenn – Ele tirou o dia de folga para se encontrar com a Dominique.
- Tomara que eles se acertem dessa vez – disse a ruiva.
- Tomara – concordou o rapaz.
Eles ficaram um tempo conversando com Harry, Gina, Oliver e Tina, até que, por fim, decidiram que já estava na hora de ir.
Aparataram em Hogsmeade – os menores, acompanhados – e pegaram duas carruagens até Hogwarts. Entraram no Salão Principal, já relativamente cheio, e encontraram Fleur e Bill em uma mesa com Louis; Percy e Audrey com Lucy; e George e Angelina com Roxanne e Fred. Louis e Lucy usavam beca, assim como todos os outros setimoanistas.
- A Molly não vem? – estranhou Rose.
- Ela disse que tinha que ir a um jantar por causa do trabalho – respondeu Audrey – Mas, cá entre nós, aposto que é um encontro. A Molly sempre foi mais fechada, igualzinha ao Percy. Duvido que ela contaria assim de cara.
- Audrey, a Molly não ia mentir – falou Percy.
- Percy, faça-me o favor! – disse, exasperada – Você viu a roupa que ela vestiu? Ninguém se veste daquele jeito por causa de um jantar de serviço.
- O que tinha de mais na roupa?
- Era muito informal, Percy...
Continuaram um tempinho discutindo sobre a roupa de Molly, e Rose voltou a atenção para os outros familiares.
Quando as notas dos NOMs e dos NIEMs foram entregues, viu-se que James, Roxanne, Glenn, Louis e Lucy tinham ido muito bem. James, mais uma vez, fora destaque em DCAT.
Um pouco mais tarde, Glenn disse a Rose que precisava conversar com ela, de modo que foram até os jardins da escola.
- Pois bem, Rose... vou te contar que profissão decidi seguir – disse ele, parando de frente à garota.
- E qual é? – perguntou, os olhos azuis brilhando de expectativa, enquanto mil imagens se formavam em sua cabeça: Inominável, Auror, Curandeiro...
- Vou ser jogador de quadribol – revelou.
- Jogador de quadribol? – repetiu a ruiva, o brilho se apagando de seus olhos.
- Exato – confirmou Glenn, sorrindo.
Ficaram alguns instantes em silêncio, até Glenn perguntar:
- Você não gostou?
- Não – respondeu, baixinho.
- Então você não me apoia nessa decisão? – perguntou o rapaz, parecendo triste.
- Não foi isso que eu quis dizer! – disse Rose, defendendo-se.
- O que foi, então?
- Ah, Glenn... é uma profissão tão difícil...
- E qual profissão é fácil, Rose? – ela embatucou, e Glenn continuou: – Admite de uma vez, vai! Admite que você, a brilhante Rose Weasley, não apoia o namorado porque não acha que ser jogador de quadribol seja um trabalho digno!
- Glenn, não fala assim... – pediu a ruiva, os olhos marejados de lágrimas.
- E você quer que eu fale como, Rose? – perguntou, pasmo. Balançando a cabeça negativamente, prosseguiu: – Achei que você fosse me apoiar, mas, pelo jeito, criei muita expectativa em uma pessoa de visão tão limitada – dito isso, ele saiu, deixando-a sozinha.
“Visão limitada!”, repetiu Rose, mentalmente. Sentiu as lágrimas começando a transbordar de seus olhos e as enxugou. Não iria chorar. Não mesmo.
Respirou fundo e voltou ao Salão Principal. Somente Gina estava sentada à mesa.
- Cadê o tio Harry, tia? – perguntou.
- Foi pegar um pouco de hidromel – respondeu Gina, lançando um olhar astuto para a sobrinha – Tá tudo bem, Rose?
- Tá sim, tia – respondeu, agradecendo aos céus por Harry ter aparecido com o hidromel naquele exato instante. Lançou um olhar para a pista de dança. Glenn dançava com Roxanne animadamente. Sentiu Gina a observando e, por isso, desviou o olhar dos dois.
Mais tarde, voltou para casa com Harry e Gina. Chegou em casa com fome e, por isso, foi direto para a cozinha, onde fez um sanduíche com pão de fôrma, queijo e presunto. Tinha acabado de começar a comer quando Hermione apareceu, de robe e camisola.
- Oi, filha – disse, sentando-se à mesa com ela.
- Oi, mamãe – respondeu, engolindo um pedaço do sanduíche – Deu tudo certo lá no Ministério?
- Deu, sim – respondeu Hermione – E em Hogwarts?
- Do jeito de sempre – falou, sem parar de comer.
- E como seria “do jeito de sempre”? – insistiu.
- Você sabe, mamãe...
Ficaram em silêncio enquanto Rose terminava de comer o sanduíche.
- Filha, você sabe que pode conversar comigo sobre o que quiser, não sabe? – perguntou Hermione, ansiosa.
- Hum-hum – fez Rose, levantando-se – Boa noite! – acrescentou, dando um beijo na testa da mãe e saindo da cozinha.
- Boa noite, Rosie...
As últimas duas semanas de férias pareciam estar se arrastando como uma eternidade para Rose. Desde a festa, não tinha conversado com Glenn de novo. Ele não a procurara, e ela também não se deu o trabalho. Ao mesmo tempo, a ruiva evitava a convivência com James, Alvo e Lily, que, sem dúvida, já deviam ter percebido algo mais no ar. E Rose não se sentia pronta para responder perguntas ou dar qualquer tipo de informação. Hermione e Ron, por sua vez, estavam tão atribulados com os serviços no Ministério que pouco ficavam em casa, mas Rose sabia que a mãe sentia que nem tudo estava às mil maravilhas: no pouco tempo que estava em casa, esforçava-se ao máximo para tentar conversar com a filha e sempre perguntava de Glenn, ao que Rose respondia “Acho que ele está bem”, ou simplesmente fingia não ter escutado a pergunta, dando uma de desentendida. Hugo também andava ocupado: tinha deixado todos os deveres para a última hora e todos os dias se encontrava com Frank para se ajudarem, já que Lily e Alice tinham se recusado terminantemente a deixá-los copiar.
Assim, Rose sentia-se sozinha. A luz no fim do túnel foi vista quando resolveu fazer uma faxina em seu quarto. Sem querer, derrubou uma caixa entupida de penas no chão e, ao se abaixar para pegá-las, achou a rosa que Scorpius lhe dera entre elas. Intacta. Depois de tantos meses. Pegou-a e a levou ao nariz para cheirá-la. Não era de plástico. Era natural.
Com pressa, pegou uma das penas no chão, sentou-se à escrivaninha e pegou o tinteiro e o pergaminho mais próximos. Escreveu:
Scorpius,
Aqui é a Rose. Como você está?
Por aqui, as férias estão bem entediantes. Não vejo a hora de voltar para Hogwarts.
Você e sua família já voltaram para a Inglaterra?
Enfim, mande notícias.
Até mais,
Rose Weasley
Não ficou boa exatamente, pensou Rose. Mas fazer o quê?
Pediu a Angie que levasse a carta e, para sua surpresa, a resposta chegou no dia seguinte.
Olá, garota ruiva!
Sim, já estamos na Inglaterra, mas suponho que a senhorita brilhante concluirá isso sozinha pelo dia de chegada desta carta, não é?
E sim, estou bem.
Agora, para você me falar que suas férias estão entediantes, considerando o tamanho de sua família e o número de primos que tem, algo BEM grave deve ter acontecido. Aposto que brigou com o namorado.
A propósito, a Laura e o Miguel conseguiram transferência para Hogwarts. Teremos novos colegas este ano!
Scorpius Malfoy
P.S.: por que demorou tanto para entrar em contato comigo?
A resposta de Scorpius deu a Rose impulso para continuar lhe escrevendo e, desse modo, eles passaram o restante das férias se correspondendo:
Como você sabe que estou com um problema com o Glenn?
Aliás, fico feliz em saber que a Laura e o Miguel serão nossos colegas este ano e em saber que você está por perto. Aposto que eles vão para a Grifinória.
E dúvida: por que a rosa que você me deu está intacta até hoje? É algum tipo de feitiço?
Rose
P.S.: não lembro de termos combinado que seria eu quem entraria em contato com você primeiro.
NÃO CONTO! Vai ter que descobrir sozinha o segredo da rosa.
E, convenhamos, não é lá muito difícil somar 1+1 e supor que seu problema é o Wood. Mas nem pense em vir chorar as pitangas para mim, porque eu mal conheço o cara e não posso dar opinião. Vai que eu falo alguma coisa que só piora tudo? Conversa com sua mãe, com suas primas ou com alguma de suas tias. Garanto que servirão muito mais do que eu.
Laura e Miguel na Grifinória? CREDO!!!!!!!!!!!!!!!!!!! A Corvinal é ok. A Lufa-Lufa eu aguento. Mas a Grifinória é demais para a minha cabecinha. A Sonserina, sim, seria perfeita.
Scorpius
P.S.: realmente, não combinamos quem entraria em contato com quem.
Olha só, não estou a fim de ficar discutindo sobre as Casas de Hogwarts, certo?
E fala sério, Scorpius. Que tipo de amigo você é? Já passou pela sua cabeça que talvez eu não queira falar com nenhuma delas?
Explicando: sou o tipo de amigo com quem você passa oito meses sem conversar e de quem você só se lembra para contar os problemas que teve com o namorado.
E já que você não quer falar com nenhuma delas, conversa com o dito-cujo, oras! E entenda que eu não sou conselheiro sentimental, embora esteja agindo como se fosse.
Ok, eu entendi. Me desculpa. Mas eu não vou falar com ele! Ele me deixou falando sozinha!
Você reparou que estamos falando justamente sobre o que pedi que NÃO falássemos?
E, convenhamos, você está muito longe de ser santa. Ele deve ter tido um bom motivo para te largar falando sozinha.
Quer saber, Scorpius? Cansei! Te vejo na escola amanhã!
Ou não.
Rose não conseguia acreditar. “Ou não” era tudo o que ele tinha para escrever? Só? Sem mais explicações?
Continuou fitando o pedaço de pergaminho por um bom tempo, claramente decepcionada. Scorpius não voltaria? Por quê? Continuaria em Durmstrang? Ou era só uma piadinha de mau gosto?
- Rose! – gritou Hugo, do andar de baixo – É hora de ir!
- Já vou, Hugo! – respondeu, jogando o pedaço de pergaminho dentro de uma caixa onde estavam as outras cartas de Scorpius e a rosa que ele lhe dera. Com pressa, jogou a caixa dentro do malão e saiu do quarto, arrastando-o.
Chegaram cedo em King’s Cross, mas Rose, com os pensamentos ainda voltados para Scorpius, disse aos primos que precisava ir logo para a cabine dos monitores, pois não queria se atrasar no primeiro ano de monitoria.
- Vou com você, Rose – disse Alvo, surpreendendo-a: não sabia que ele também fora nomeado monitor, o que só demonstrava o quão distante ela tinha ficado.
Ao chegarem à cabine, Rose se arrependeu instantaneamente: Glenn era o único que já estava lá.
- Glenn! – disse Alvo, entusiasmado – Como foram as férias?
- Divertidas – respondeu, evitando ao máximo olhar para a ruiva – E as suas?
- Também.
Rose não disse nada. Apenas se sentou o mais longe que pôde de Glenn, o que fez Alvo lhe lançar um olhar surpreso.
Finda a reunião, os três foram para a cabine onde estavam James, Roxanne, Hugo e Lily.
- Hey Rose, o Miguel e a Laura estão aqui – contou Lily – E saíram para procurar o Scorpius.
- Scorpius? – fez Glenn, surpreso.
- Malfoy – explicou Alvo.
Era bem provável que Glenn falasse algo, mas, naquele instante, Laura e Miguel aparecerem.
- Oi, Rose! – disseram ao vê-la, ignorando Glenn.
- Nada do Scorpius – contou Laura, sentando-se – Olhamos em todas as cabines e nem sinal dele.
- Até no banheiro eu olhei – contou Miguel – Ele não está lá.
- Ele escreveu uma carta para mim – disse Rose – dizendo que talvez não viesse, mas não achei que estivesse falando sério.
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? – perguntou Glenn, olhando diretamente para Rose.
- Laura, você não quer comer alguma coisa? – perguntou Lily imediatamente.
A brasileira lançou um olhar confuso para Glenn e, em seguida, saiu da cabine com Lily. De repente, todos pareceram se dar conta de que estavam com fome e saíram da cabine, apressados. Rose ia segui-los, mas Glenn foi mais rápido e fechou a porta da cabine, colocando-se à frente da moça.
- A gente precisa conversar – disse ele.
- Não, não precisa – retrucou, encarando-o com firmeza.
- Rose, você é minha namorada e...
- AGORA VOCÊ SE LEMBRA, NÃO É? – gritou a ruiva, interrompendo-o. Respirou fundo para se acalmar. Continuou, agora em um tom de voz normal: – Eu não te devo explicações. Scorpius, Laura e Miguel são meus amigos.
- Desde quando? – perguntou Glenn, sem desistir da conversa.
- Desde o Natal no Brasil – respondeu, com pressa – Dá para parar de bloquear o meu caminho, por favor?
- Como assim, Rose? E toda aquela loucura? Você brigava com ele o tempo todo... e por que não me contou? – Glenn ignorou completamente o pedido dela.
- Eu queria te contar. De verdade – respondeu, sem desviar o olhar do rosto dele por momento algum – Mas o Glenn “estou-ocupado” Wood não tinha nem UM mísero minuto para conversar comigo!
- Os NOMs, Rose, e eu ainda sou monitor... fora que tinha o time da Grifinória ainda... – balbuciou.
- Desculpa esfarrapada – sibilou ela, interrompendo-o – Se você realmente estivesse preocupado comigo, nem que fosse só um pouquinho, se você gostasse de mim mesmo, arrumaria um tempinho que fosse para, no mínimo, me perguntar como eu estava. Mas NÃO! Estava sempre ocupado, sempre! Talvez se você tivesse conversado um pouquinho a mais comigo, eu entenderia melhor os seus sonhos. Conseguiria ver o seu lado. Mas, em vez disso, você simplesmente me acusou de ter “visão limitada” e saiu me deixando falando SOZINHA! E ainda me tratou como se eu fosse a única culpada de toda essa história, a única errada! Foi incapaz de me dirigir uma palavra que fosse esse tempo todo, e agora me aparece com ataques de ciúmes querendo que eu dê satisfação da minha vida. Não sei por que, já que você agiu por muito tempo como se isso não fizesse a mínima diferença.
Glenn nada disse. Rose continuou:
- E você nem ao menos foi capaz de me desejar feliz aniversário hoje – completou, claramente decepcionada.
- Rose, eu...
- Não perca seu tempo conversando comigo, Glenn. Não precisa. Já que você não se importa mais comigo, não precisa se dar ao trabalho – disse ela, baixinho, arrancando do pescoço o colar que ele lhe dera no Natal e jogando-o no chão. Em seguida, saiu da cabine.
Não sabia ao certo para onde ir, mas estava meio que aliviada por ver que Glenn não a seguia. Sentia os olhos marejarem de lágrimas. Não fazia diferença se as pessoas no trem a encaravam, confusas, curiosas ou felizes. Sabia apenas que queria ficar bem longe dele.
Pouco depois, encontrou Lily, Roxanne e Laura comprando doces e chocolates.
- Rose! – disse Lily, alarmada, ao vê-la.
Sem pensar, ela abraçou a prima mais nova com força e desatou a chorar.
- Ah Lily... – fungou.
- Fica calma, Rose. Vem cá – disse Lily, gentilmente, entrando em uma cabine onde estavam James, Alvo e Hugo jogando Snap Explosivo com Miguel, que, pelo jeito, era péssimo. Roxanne e Laura as seguiram, depois de terem pagado os doces.
- Rose, o quê...? – começou Hugo, preocupado.
- Hugo, deixa a Rose em paz, por favor. Depois ela conversa com a gente – disse Lily, educadamente, sentando-se ao lado da prima.
Rose sorriu tristemente, agradecida. Lily podia ser pentelha e curiosa o tanto que fosse, mas tinham bom senso. Não dizia “não chore”, “não precisa ficar assim” ou “vai ficar tudo bem”. Ela apenas esperava. E deixava a pessoa chorar tanto quanto precisasse. E, quando finalmente o outro queria falar (se quisesse), ela escutava, pacientemente.
Rose parou de chorar pouco depois, mas não estava a fim de conversar com ninguém. Tampouco sentia fome. Seus primos e amigos não a incomodaram durante o resto do dia, exceto quando James a obrigou a comer um bolo de caldeirão dizendo que não queria “ver a priminha triste, magrela e desnutrida justamente no dia de seu aniversário de quinze anos”. Apesar disso, Rose não classificou essa atitude do primo como propriamente um incômodo.
Com isso, Laura e Miguel a abraçaram com força, desejando-a felicidades, além de terem proposto aos outros que dessem um “abraço coletivo na debutante!”, ao que todos aderiram com entusiasmo, sendo suficiente para deixar a ruiva um tantinho mais animada, afinal, ainda havia quem se preocupasse com ela genuinamente.
- Debutante? – estranhou Lily – Aqui na Inglaterra se faz festa de debutante aos dezesseis anos...
- No Brasil é aos quinze – explicou Laura, desfazendo o mal-entendido.
Quando, finalmente, chegaram à Hogsmeade, Laura e Miguel tiveram que acompanhar Hagrid e os alunos do 1º ano. Os outros se encontraram com Frank e Alice e pegaram uma carruagem para a escola.
Ao chegarem ao Salão Principal, Rose viu Glenn já na mesa da Grifinória conversando com os outros monitores. Sentou-se o mais longe que pôde dele, e seus primos e amigos, sem questionar, sentaram-se com ela. A ruiva voltou seus olhos azuis para a mesa da Sonserina. De fato, Scorpius não viera. Sentiu-se triste de novo.
Antes de a Seleção começar, a diretora Williams explicou aos alunos quem eram Laura e Miguel e o porquê de estarem sendo selecionados no 5º ano. Ambos foram para a Lufa-Lufa, e foi notável o frisson que provocaram nos alunos de Hogwarts quando foram chamados à frente.
Depois disso, fez-se a Seleção dos calouros e seguiu-se o banquete. Quando ele terminou, Alvo disse a Rose:
- Vamos, Rosie? – ela sabia a que o primo se referia. Tinham que mostrar aos calouros o caminho até a Torre da Grifinória.
- Você não pode ir sozinho, Al? Por favor – pediu, meio que implorando.
Alvo a encarou, meio abobalhado, mas sabia que ela não o pediria algo assim se não fosse importante.
- Tudo bem – disse, por fim.
- Obrigada, Al! – disse ela, plantando um beijo estalado em sua bochecha e saindo correndo do Salão em seguida o mais rápido que suas pernas a permitiram. Sabia o que deveria fazer para se sentir melhor. Sabia com quem falar. Quem a alegraria. E lamentou internamente que ele não conhecesse celular ou internet. Lamentou, ainda, que tais coisas não funcionassem em Hogwarts. Seria tão mais fácil...
Ao chegar ao corujal, sentou-se no chão, ainda limpo, e tirou pergaminho, pena e tinteiro do bolso da capa. Angie voou até o ombro de sua dona, esperando-a terminar de escrever a seguinte carta:
Scorpius,
Não achei que você tivesse falado sério quando disse que talvez não voltasse a Hogwarts! O que aconteceu? Está tudo bem com você? Preferiu continuar em Durmstrang?
Me parece que a Laura e o Miguel vão gostar muito daqui. Eles estão na Lufa-Lufa. Aliás, eles não sabiam que você não voltaria! É assim que trata os amigos?
Espero vê-lo em breve,
Rose
Nos próximos dias, Rose concentrou-se em esperar uma resposta do loiro. Qualquer uma. Laura disse que também tinha escrito para ele.
Ela e o irmão já sabiam boa parte das primeiras matérias, e concentraram-se, nos primeiros dias, em fazer novos amigos, para frustração de James, que queria um momento a sós com a morena. Respondiam corretamente a todas as perguntas que os professores faziam, o que deu a Lufa-Lufa uma vantagem no início do campeonato das Casas.
Glenn não falou mais com Rose, e ela ainda não se sentia à vontade para contar a ninguém o que acontecera no trem. Mas não achava justo pedir aos primos que desfizessem a amizade que tinham com ele, afinal, eles não tinham culpa de absolutamente nada. Ao mesmo tempo, não queria ficar na companhia de Glenn mais um minuto sequer, de modo que se tornara uma aluna ainda mais aplicada do que já era, concentrando-se em estudar mais e mais para os NOMs, além de se tornar taciturna e cada vez mais introspectiva.
Cerca de uma semana depois, recebeu uma carta no correio matinal. Não era Angie que a trazia, mas uma coruja que nunca vira antes. Abriu a carta, ansiosa, pensando que talvez fosse de Scorpius, mas era de Dominique.
Oi, Rose!
Tenho certeza de que você deve estar pensando por que estou escrevendo para você, certo? Mas eu estou muito, muito feliz e queria dividir isso com meus queridos primos,
Matt e eu estamos namorando, finalmente! Ele faz tão bem a mim, prima... e ele anda ocupado no hospital com os plantões e tudo o mais, e eu também, terminando os preparativos com a Vic para a inauguração da loja no mês que vem, mas ele e o Teddy sempre arrumam um jeitinho de fazer uma surpresa para nós.
Aliás, a loja vai ser inaugurada dia 31 de outubro. Você acha que consegue vir com os outros primos? Passe a notícia a eles por mim, ok?
Beijos meus e da Vic,
Dominique
Rose ficou feliz pela prima e passou a notícia a Lily, que estava sentada a sua frente. Sabia que ela se encarregaria pessoalmente de que os outros Weasley ficassem sabendo. Ao mesmo tempo, estava frustrada: já havia se passado uma semana e nada de Scorpius. Como se já não fosse o bastante, perguntou-se como ela e Glenn haviam deixado tudo os afastar, pensando no que Dominique escrevera sobre Teddy e Matt, o que só piorou o seu estado de espírito. Desanimada, despediu-se de Lily e foi para a aula de Feitiços, que seria com a Corvinal.
À noite, no Salão Comunal da Grifinória, Angie finalmente apareceu com a resposta de Scorpius.
Rose,
Eu jamais perderia minha chance de voltar para Hogwarts. Ela é, de longe, muito melhor que Durmstrang. Tenho certeza que a Laura e o Miguel estão amando. Recebi uma carta deles hoje de manhã.
Não se preocupe comigo, só não voltei ainda porque, ultimamente, não tenho me sentido muito bem. Mas, por favor, não comente nada com ninguém (nem com a Laura e o Miguel). Meu pai disse que não faz sentido preocupar as pessoas com bobagens.
Mudando de assunto, e o seu namorado?
Scorpius
P.S.: aliás, feliz aniversário atrasado!
Que namorado, Scorpius? Não tenho namorado nenhum. Péssima tentativa de mudar de assunto. Logo você, que odiava que eu falasse sobre isso.
Obrigada pelos votos de feliz aniversário. Desde quando ter um amigo doente é bobagem? Tá bom, não vou contar a ninguém sobre isso... mas EXIJO que você me diga qual é o seu problema. Se fosse só um mal-estar passageiro você já teria voltado e, embora que não queira realmente pensar nisso, suponho que deva ser algo mais sério, não?
Espero que melhore (e me responda logo!),
Rose
Outubro chegou, e a resposta de Scorpius, não. Nesse meio tempo, Glenn tentou, sem sucesso, aproximar-se de Rose novamente, mas ela sempre dava um jeito de se afastar logo que o via se aproximando. A cada dia, a ruiva ficava mais preocupada com o loiro. Queria muito saber o que estava acontecendo.
O que mais a deixou intrigada, porém, foi a volta de Angie no fim do mês, sem resposta alguma. A coruja piou para a dona, baixinho, e rejeitou o restinho de cereal no prato dela, como se estivesse pedindo desculpas por não ter levado um bilhete que fosse.
- Tudo bem, Angie – disse Rose, afagando as penas da coruja carinhosamente, ao mesmo tempo que desejava, de todo o coração, saber um modo de fazer as corujas falarem. Afinal, ela devia ter visto algo, correto?
Na aula de Herbologia daquele dia, Rose fez dupla com Miguel, e assustou-se ao ouvir o menino reclamar que Scorpius não havia respondido nenhuma das cartas que ele e Laura haviam mandado.
- Não sei o que está acontecendo com ele – disse o moreno – Ele está muito esquisito, é a primeira vez que faz isso. Laura está começando a ficar doida de preocupação. E eu também.
- Eu entendo – comentou a ruiva, enquanto a planta que estavam podando tentava fugir de suas mãos – Estou do mesmo jeito – esclareceu, sem mencionar a última carta que recebera de Scorpius, atendendo ao pedido dele.
Em um final de semana, Rose foi com os primos pedir autorização da diretora Williams para irem à inauguração da loja de Victoire e Dominique e aproveitou, depois que todos saíram, para fazer uma pergunta a ela:
- Diretora, a senhora tem alguma notícia de Scorpius Malfoy?
A bruxa a avaliou, curiosa.
- Por que o interesse, srta. Weasley? O sr. Malfoy foi transferido para Durmstrang alguns anos atrás, não?
- Foi, mas... eu achei que ele fosse voltar – respondeu, sem se alterar.
- Eu também pensei, senhorita – confessou a diretora – Mas lamento não saber lhe informar o que aconteceu. Os pais do menino não querem me contar nada. Dizem apenas que ele vai voltar. Não sei ao certo quando, ou se realmente virá.
- Diretora, a senhora acha que ele pode perder o ano se demorar muito?
- É uma possibilidade, tenho que admitir... mas ouvi falar que ele era um dos alunos mais aplicados do ano. Não vejo por que não conseguiria, com algum esforço, acompanhar a turma – disse, simplesmente – Mas s documentação dele está toda aqui. Quando voltar, Hogwarts o receberá de braços abertos. E acredito que a senhorita e os srs. Hohenzollern também.
Entendendo a fala da diretora como uma deixa para se retirar, Rose agradeceu e saiu de lá. Voltou para a Sala Comunal para fazer um trabalho de História da Magia.
Pela primeira vez, ela não conseguiu se concentrar ou escrever uma linha. Olhava para a lareira que crepitava a sua frente. Era dia ainda, mas estava tão frio...
De repente, teve uma ideia. Sabia o que ia fazer para falar com Scorpius. Para saber o que estava acontecendo com ele. Para isso, precisava de James. E ele estava na biblioteca.
- James – chamou, ignorando a presença de Glenn ao lado do primo – Preciso falar com você em particular.
- Sério, priminha? – disse ele – Você pode esperar eu terminar este trabalho aqui com o Wood?
- Não. Tem que ser agora – disse severamente, lutando para não fitar Glenn, que a encarava, curioso.
- Certo. Com mulher brava não se brinca – disse ele, levantando-se.
Saíram da biblioteca e, ao chegarem ao corredor, Rose disse, sem rodeios:
- Preciso que você me empreste sua Capa da Invisibilidade e o Mapa do Maroto.
James sorriu marotamente.
- A priminha vai aprontar, é?
- É por uma boa causa, James... por favor?
- Empresto, sim. Com prazer – disse, tirando os dois objetos do bolso da capa e entregando-os à prima.
- Você carrega isso o tempo todo? – perguntou Rose, perplexa.
- Al ameaçou entregar para o pai uma vez – justificou James, dando de ombros.
- Ok – disse Rose, satisfeita, guardando-os no bolso da própria capa – Te devolvo ainda hoje – garantiu.
- Sem pressa, priminha. Pode aprontar o quanto quiser antes.
- Obrigada, James – disse ela, saindo correndo.
- Disponha – disse ele em resposta, gritando.
Rose voltou ao dormitório e trocou o uniforme da escola por uma de suas roupas trouxas. Apontou a varinha para o pedaço de pergaminho, murmurando “Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom” e o colocou no bolso. Saiu da Torre da Grifinória e foi até o corredor que tinha uma passagem secreta direto para o alçapão da Dedosdemel. Vestiu a Capa da Invisibilidade e, sem pestanejar, entrou na passagem secreta.
Caminhou bastante, mas chegou, finalmente, na loja de doces. Somente quando saiu até a rua de Hogsmeade que tirou a Capa. Voltou à loja de doces e comprou uma montanha deles. Foi até uma loja de artefatos bruxos e comprou Pó de Flu. Em seguida, entrou novamente sob a Capa da Invisibilidade e foi dar uma volta pelo povoado, pensando.
Rose parou em frente ao Três Vassouras. Viu Hannah atrás do balcão, servindo um grupo de forasteiros. Pensou em entrar e pedir a ela permissão para usar a lareira, mas logo desistiu. Hannah era esposa de Neville. Como explicar a ela o que fazia fora da escola sem permissão? E como dizer a ela que precisava falar com Scorpius Malfoy?
Neville saberia disso, provavelmente tiraria pontos da Grifinória e, talvez, colocasse a ruiva em detenção. Harry saberia, finalmente (ou só confirmaria), o paradeiro da Capa e do Mapa. James teria problemas. E Ron saberia da amizade da filha com um Malfoy. Tradução: problemas para Rose.
Deu meia-volta e foi até a Dedosdemel novamente. Foi até o alçapão, entrou na passagem secreta (tendo o cuidado de fechá-la atrás de si depois de atravessá-la) e tirou a Capa, reiniciando a caminhada pelo túnel. Enquanto isso, seu cérebro trabalhava a todo vapor, fervilhando com novas ideias.
Antes de sair da estátua, conferiu o Mapa. Não havia ninguém no corredor. Guardou-o no bolso e saiu, cobrindo-se com a Capa da Invisibilidade novamente. Foi, então, até o sétimo andar e fitou a parede em frente à tapeçaria de Barnabás, o Amalucado. Concentrou-se e passou três vezes pela parede, com os olhos cerrados. Abriu os olhos. Havia uma porta na parede que, até então, estava lisa. Sem pestanejar, a ruiva entrou na Sala Precisa, tirando a Capa e jogando-a no chão.
Estava em uma pequena salinha. A um canto, havia um sofá fofo e um tapete, em frente a uma lareira acesa. Na beirada desta, havia um vaso de flores, cheio de Pó de Flu. Rose amaldiçoou-se por sua burrice. Gastara parte de seu dinheiro à toa.
Sem mais delongas, encheu a mão de Pó de Flu, jogou-a nas chamas da lareira, que se tornaram verde-esmeralda e entrou dentro delas segurando com força a sacola da Dedosdemel, dizendo “Mansão dos Malfoy!”.
Rodopiava nas chamas, rezando para dar tudo certo... para vê-lo, finalmente... e então sentiu os pés baterem no chão de pedra de outra lareira.
Saiu lá de dentro, limpando a fuligem das roupas com a mão livre. Estava em uma sala luxuosamente mobiliada. Sua decoração parecia com a do palácio da realeza trouxa que Rose vira em filmes. Por um momento insano, achou que fosse, mas, no momento seguinte, um elfo doméstico entrou e, ao vê-la, assustou-se tanto que deixou a bandeja que carregava com bule, xícaras, torradas e geleia cair no chão com estrondo.
- Por favor, não grite – pediu Rose, correndo até ele, ajoelhando-se para ficar da mesma altura e segurando suas mãos carinhosamente – Eu preciso muito da sua ajuda.
O elfo fitou a menina, assustado. Parecia estar prestando atenção em outra coisa. Rose ouviu. Uma voz desconhecida parecia se aproximar da sala, xingando raivosamente. Ele olhou para a ruiva e disse baixinho:
- Se esconde, menina. Depressa!
Ela se levantou, olhando em volta. Sofás, tapete, mesinha de centro, piano de cauda, cortinas, estante de livros. Correu até esta, escondendo-se no vão que havia entre ela e a parede. Com algum esforço, afastou dois livros, deixando uma pequena frestinha entre eles para espiar o que acontecia. O elfo estava agachado, recolhendo as torradas que haviam caído no chão e colocando-as dentro de um prato.
No minuto seguinte, a porta da sala se escancarou e um homem com longos cabelos brancos entrou, mirando o elfo com ferocidade. Rose o achou vagamente familiar, embora tivesse certeza de que era a primeira vez que o via.
- Só podia ter sido você – sibilou o homem, baixinho. O elfo tremia, assustado, mirando-o.
- Desculpe o Bob, sr. Malfoy. Bob promete que não vai mais acontecer – disse, com a voz trêmula.
Senhor Malfoy? Seria aquele homem avô do Scorpius?
- Sempre a mesma ladainha! – gritou o homem, visivelmente descontrolado – “Não vai mais acontecer, senhor!” , “Prometo, senhor, vou melhorar...” – continuou, fazendo uma imitação grotesca do elfo – INÚTIL! – berrou, chutando o elfo com força. Ele guinchou de dor. Rose sentiu-se enojada. Será que Scorpius também tratava elfos daquele modo?
- O que está acontecendo aqui? – era Astoria. Ela correu o olhar pela sala, visualizando Bob, que choramingava a um canto, terminando de recolher a bagunça, e voltou o olhar para Lúcio Malfoy, a compreensão se espalhando pelo seu semblante, misturada a uma expressão de choque – De novo, Lúcio? Você bateu no Bob de novo?
- Você não tem o direito de me chamar de Lúcio, sua traidora do sangue – disse, aos arrancos. Astoria não se intimidou.
- E você não tem o direito de machucar o elfo que trabalha para mim, dentro da minha casa! – retrucou – Francamente, isso é uma total falta de respeito com o Bob e comigo!
Tentando controlar a raiva que emanava de cada fibra de seu ser, Lúcio se aproximou de Astoria, ameaçadoramente.
- Cale a boca – sibilou, cuspindo no rosto dela em seguida.
- Pai!
- Lúcio!
- Cretino!
Três pessoas apareceram na porta naquele instante: Draco, Narcissa e um homem loiro mais velho que, pela semelhança, Rose achou que devia ser o pai de Astoria.
Draco correu e abraçou a esposa com força, levando-a para longe de Lúcio. Narcissa continuou parada na porta, olhando o marido de longe, claramente decepcionada. O homem loiro, por sua vez, avançava para Lúcio, furioso, tirando a varinha do bolso.
- Papai! – chamou Astoria, dentre os braços de Draco – Não vale a pena.
O sr. Greengrass fitou Lúcio. Em seguida, guardou a varinha e correu para perto da filha. Aproveitando a deixa, Bob pôs tudo em cima da bandeja e saiu, de fininho, sendo notado apenas por Rose, que sentiu um solavanco no estômago. Como faria, agora, para ver Scorpius? Por que não trouxera a Capa?
- Eu estou cansado, Astoria. Cansado! Por que você foi casar com um cara cuja família te maltrata? – disse ele.
- O senhor está sendo injusto. A Cissa não me maltrata – disse ela – E o Draco sempre cuidou muito bem de mim e do Scorpius – acrescentou.
- Robert, o senhor sabe que eu não compartilho várias das opiniões de meu pai. E que sempre tive o cuidado de deixar isso bem claro para o seu neto – manifestou-se Draco.
- Robert, acho que a única pessoa que não aprendeu muito em todos esses anos foi o Lúcio – disse Narcissa, com a voz gélida, olhando para o marido friamente.
- Isso é esquisito! É uma aberração! – disse Lúcio, por fim – Onde já se viu se meter com trouxas? Onde já se viu tratar elfos domésticos com educação, como se eles fossem gente?
- Eles podem não ser humanos – disse Robert –, mas são criaturas mágicas que têm sentimentos, sua anta! E a magia que eles são capazes de fazer é completamente diferente da nossa. Achei que você tivesse aprendido isso com o Dobby.
- Não ouse mencionar... – começou Lúcio.
- Para com isso, pai! – interrompeu Draco – O senhor sabe que é verdade e que a história não se apaga.
Alguns instantes de silêncio. Astoria falou:
- Ninguém aqui espera que você beije os pés dos elfos desta casa, Lúcio. Mas, pelo menos, respeite-os.
- Se não for por você mesmo, ou por nós, faça isso pelo Scorpius – acrescentou Draco – O senhor sabe que, desde criança, ele sempre foi muito amigo do Bob. O Bob nos ajudou a cuidar dele, a dar atenção. Sempre que precisávamos trabalhar e não podíamos contar com alguém para olhá-lo, o Bob ficava aqui, brincando com ele.
- Isso é inadmissível – retrucou Lúcio – Onde já se viu deixar uma criança puro-sangue brincando com um elfo? E esse garoto realmente me desgosta às vezes. Você tem consciência, meu filho, de que ele escolheu fazer Estudo dos Trouxas em Durmstrang? – Rose se surpreendeu com essa pergunta. Nunca imaginaria isso – E agora ele vive por aí mexendo com toda aquela parafernália trouxa inútil. E arrumou amigos mestiços, veja bem! Andando com os Hohenzollern!
- Você devia era ter orgulho do neto que tem! – declarou Robert Greengrass, pasmo – Porque eu tenho. Muito!
- Ah sim, mas como o pobre do Scorpius vai ter uma cabeça boa convivendo com todos vocês? – disse Lúcio.
- Quer saber? Cansei de ficar aqui discutindo com você – declarou Astoria – Vou levar meu filho para o hospital.
- Não vai! – disse Lúcio – Meu neto, sangue do meu sangue, não vai para aquele hospital imundo!
- Vai sim – disse Draco – E não diga o contrário, pai, ou eu denuncio o senhor. E nem tente nos impedir.
- Lúcio, é o único jeito de o Scorpius ficar bom – disse Narcissa, meio que implorando – E eu não suportaria ficar sem meu neto... ele precisa ir. E precisa de nosso apoio.
- Vai você, Narcissa – disse ele, saindo da sala – Eu vou para a minha casa. Não coloco meus pés dentro daquele lugar imundo cheio de gentinha.
- Lúcio, espera! – disse ela, correndo atrás dele.
- Bem, eu vou ver se a sua mãe já terminou de arrumar as coisas do Scorpius para a gente ir – disse Robert a Astoria – Fica tranquila, meu anjo, vai dar tudo certo. O Scorpius vai ficar bem – ele beijou a testa da filha carinhosamente e saiu.
Astoria e Draco se sentaram no sofá mais próximo, muito calados. Rose resolveu que era hora de sair do esconderijo.
- Para onde o Scorpius vai? – perguntou, saindo de trás da estante de livros.
- Rose! – disse Astoria, surpresa.
- O que você está fazendo aqui? – perguntou Draco, confuso.
Em poucas palavras, Rose explicou como ficara amiga de Scorpius e das cartas que trocaram.
- Fiquei muito preocupada – finalizou – E precisava saber o que estava acontecendo.
Draco abriu a boca para falar algo, mas, naquele instante, Robert os chamou do andar de baixo.
- Astoria! Draco! Estamos prontos!
Astoria olhou para Rose, apreensiva.
- Rose, querida, nós temos que ir – disse ela – Não podemos demorar ou o Scorpius desconfiará que alguém está aqui. E ele não quer que ninguém saiba de nada.
- Mas... isso é tão injusto! – lamentou a ruiva.
- Rose, eu te escrevo ainda hoje, sim? Prometo que vou te explicar tudo, desde que você não conte o que farei ao Scorpius.
- Tudo bem – concordou, considerando suas opções – Você pode entregar isso ao Scorpius para mim? - perguntou, entregando a loira a sacola de doces da Dedosdemel – Talvez ele se sinta melhor.
- Claro, claro. Tchau – disse Astoria, saindo da sala com pressa e com a sacola nas mãos.
- Volte para a escola, sim? – disse Draco – Não se arrisque vindo para cá de novo sem pedir permissão. Vou lembrar a Astoria da promessa que ela te fez. Você vai receber a carta ainda hoje.
- Ok.
- E, Rose... obrigado pela preocupação genuína – completou, antes de sair da sala.
Rose se jogou no sofá que há pouco os pais de Scorpius haviam ocupado. Não queria ir. Instantes depois, Bob apareceu.
- A senhorita está bem? – perguntou.
- Sim, obrigada. Acho que é o Scorpius que não está nada bem, não é?
Bob se aproximou e sentou defronte a ela.
- É amiga do meu senhor?
- Sou.
Bob a fitou cuidadosamente.
- É uma garota bonita – disse – Acho que já te vi antes.
- Sério? – perguntou Rose, curiosa. Tinha certeza que nunca se encontrara com o elfo antes.
- Só um minuto – disse ele, saindo da sala correndo, deixando Rose intrigada. Bob voltou, carregando um papel nas mãos. Olhou para Rose e dela para o papel novamente – Ah sim, já te vi antes, senhorita.
Rose se levantou e apontou para o papel que Bob segurava.
- Posso ver? – ele a entregou e ela contemplou o papel, estupefata. Era um desenho em preto-e-branco de seu rosto. Um desenho perfeito.
- Foi o senhor Scorpius que desenhou, senhorita – explicou o elfo, parecendo orgulhoso do loiro – Ele é muito talentoso, não acha?
- Sim. Muito talentoso – concordou Rose, ainda chocada.
- Agora se a senhorita me dá licença... – disse o elfo, pegando o desenho de volta – O senhor Draco disse a Bob que garantisse que a senhorita voltasse para a escola logo. E que não volte à mansão, senão ele irá contar tudo aos seus pais.
- Certo... – disse Rose, indo em direção à lareira, vencida – Obrigada, Bob.
- De nada, senhorita! – disse ele.
- E me desculpe pelo susto... e por toda a confusão que causei – acrescentou, antes de entrar nas chamas em que Bob jogara Pó de Flu, dizendo “Hogwarts!”.
Rose voltou à Sala Precisa. Saiu de lá e devolveu a Capa e o Mapa a James, agradecendo. De uma coisa tinha certeza: algo com Scorpius, definitivamente, não estava nada bem.
No jantar daquele dia, esquivou-se de todas as perguntas de James sobre o que fizera. Também evitou conversar com seus primos e com seu irmão. Todos os seus pensamentos estavam em um certo loiro, cheios de preocupação e de ânsia em receber a carta de Astoria.
Depois do jantar, ficou o tempo todo no Salão Comunal, lendo um livro que sua mãe mandara. Já tinha feito todos os deveres e trabalhos da próxima semana, inclusive o de História da Magia, além de já ter praticado todos os feitiços estudados em aula na semana que se passou. Foi a última a ficar lá; todos os outros grifinórios já tinham ido dormir.
Um barulho na janela sobressaltou Rose. Era uma coruja cinzenta muito bonita. Correu até a janela e a abriu. A coruja deixou o pedaço de pergaminho que carregava cair na mão de Rose e voou para ir embora.
Ansiosa, com os dedos trêmulos, a ruiva abriu a carta e leu:
Rose:
Aqui é a Astoria. O Draco me lembrou de te escrever. Peço desculpas pela demora.
Entreguei os doces ao Scorpius e ele ficou muito feliz. Disse que eram os preferidos dele. Mas eu não disse que era presente seu. Draco disse que o Bob é quem comprou. Espero que não fique chateada.
Estamos com o Scorpius em um hospital trouxa. Ele está internado. A doença que ele tem é leucemia, a mesma que o representante britânico lá na Noruega teve.
Não diga nada a ninguém. O Scorpius não quer, sim? Depois combinamos de você vir visitá-lo. Ele vai ficar feliz, eu acho.
Cuide-se,
Astoria
Mistério resolvido. Rose não se conteve: debulhou-se em lágrimas.
***
N.A.: Olá, pessoas! Enfim, o capítulo 6! Esse me deu trabalho... como se não bastasse ter viajado, ficado sem notebook, ter pegado uma virose horrível, eu ainda perdi a inspiração no meio do cap! Espero que tenha ficado aceitável. É tipo um capítulo de transição. E, além de tudo, eu tenho professores que não entram em greve, mas meus queridos colegas simplesmente resolvem não ir à aula e não me avisam NADA! Sim, parece que eu sou mesmo a rejeitada.
Queria agradecer à slytherin rules, Ana CR, juliana vieira e Olivia Mirisola pelos comentários. Amei todos, todos! De coração! E foi meu recorde de comentários em um capítulo até agora. hehe Obrigada!
E, se não for pedir muito, continuem votando e comentando, sim? Daqui a alguns dias eu volto com o 7º. Bjos...
Comentários (9)
AAAAAAAAAAAAAAI, EU TÔ MORRENDO AQUI! Sério. Sério, eu tô chorando! Leucemia????? Tô endoidando demais aqui! Aiii!Amando
2013-03-08Jogador de quadribol? hauahauahauahaua Embora entenda Glenn (não aprovo ele dançando a Roxane, ou melhor, aprovo sim!) Entendo a Rose também! :(Cartas Rose e Score - Coração pulando a mil!Eles terminaram finalmente! Pulos de alegria! hauahuahauahauÉ bom que Score não tenha nada sério, Luhna!Ah não, só pode! Chorando horrores aqui junto com a Rose! :'(
2013-02-04Agora que reli os capítulos anteriores, estou por dentro da história, graças a Mérlin, então vamos ver o que esse cap me aguarda! :)
2013-02-04COMo assim leucemia? meu deuzu T_T que triste. realmente o namorado da rose nao foi compreensivo e pensou no proprio umbigo apenas ¬¬ amando amando
2012-12-14:/ Que triste! Fique morrendo de pena do Scorpius, poxaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa eu amei o capitulo, amei o rumo que a fanfic está tomando , está muito linda , emocionante e esse fim foi triste :/ A Rose foi corajosa em ir lá e fazer tudo que fez, ela realmente está gostando dele como amigo - é claro que existe algo mais - nossa eu simplesmente amei o capitulo, não sei como descrever isso, só sei que foi perfeito flr *-*bjoos!
2012-10-22Estou adoraaaando a fic!! Muito boa mesmo, adoro esses dramas hahahah, amo quando alguma historia conssegue me fazer chorar!!! Quero ver o encontro do scorpius e da rose!! E sera que essa doenca que ele teve tem algo relacionado com a doenca que o homem da noruega teve? E o amigo do teddy tambem ne... enfim, estou muito ansiosa pelos proximos capitulos... confesso que quando comecei a ler achei que fosse so mais uma fic r/s cliche, mas me surpreendeu bastante!! Vou continuar acompanhando!! bjs
2012-08-21ahhhhhhhhhhhhh to muito curiosa..amei o capitulo.. quero mais...continua,continua,continua...por favor?..;)..\0/
2012-08-06ameeeei,umas das melhores fic's que eu ja li na minha vida ahahha mao RW e SM,quando sai o proximo capitulo ? ahahahah
2012-08-06Poxa, que peninha. como será que ele ficará? se precisar de um transplante de medula, será que a rose não poderia ser doadora? agora eu não entendi, tem alguma ligação entre o cara da noruega e o scorpius?
2012-08-03