O Espelho de Ojesed



- Harry! Harry! Está chegando!


- E para que tanta empolgação? Não é como se algum deles fosse bom, é?


- Mas podemos ficar aqui no colégio, vai ser o melhor Natal de todos!


Harry sorriu. Ashley às vezes era bem agressiva, mas às vezes ela ficava tão feliz com coisas simples como a chegada do Natal que ele tinha que tirar o chapéu para ela. Se alegrar com coisas simples era um dom.


Mas de fato, o clima de Natal estava tomando a escola. A neve do lado de fora estava tão alta que os alunos diziam que para ir para o lado de fora, para as aulas de herbologia por exemplo, eles estavam tendo que nadar pelo caminho. De fato, a neve estava tão alta que chegava até acima da cintura dos alunos do primeiro ano. Fred e Jorge Weasley haviam enfeitiçado uma série de bolas de neve e as faziam quicar o dia inteiro na parte de trás do turbante do professor Quirrel. Hagrid tinha que tratar as corujas que chegavam bastante debilitadas de suas entregas devido ao frio excessivo. O frio era tão grande que ventava até mesmo dentro das paredes do colégio, e as aulas de poções, nas masmorras, haviam se tornado praticamente insuportáveis. Os alunos se colavam o máximo possível uns nos outros e tentavam se aquecer no fogo dos caldeirões, vendo suas respirações se transformarem em nuvenzinhas de ar condensado. É claro que isso tudo foi uma desculpa e tanto para as "Siamesas" grudarem ainda mais em Malfoy, e um motivo a mais para Ashley fazer cara de vômito quando passava por elas.


Por falar em Draco Malfoy, este estava ainda mais insuportável desde a derrota da Sonserina no quadribol. À princípio, ele tentara caçoar os gêmeos, dizendo que Harry seria substituído por um sapo e Ashley por um macaco no próximo jogo, devido ao fato de Harry ter quase engolido o pomo, e de Ashley ter ficado um bom tempo agarrada ao aro como um macaquinho. Mas como estavam todos muito impressionados com a performance dos Gêmeos, a piada não tinha graça nenhuma. Então ele começou a caçoar de outro jeito:


- Eu tenho tanta pena destas pessoas que não tem uma família em casa para onde ir no Natal... Têm que ficar aqui no colégio...


- Cuidado com a boca, Malfoy. - respondeu Ashley, depois da décima vez na qual o garoto disse isso. - Quem desdenha quer comprar.


Draco ficou infinitamente pálido depois dessa e parou de irritar os Gêmeos por uns... Três minutos.


A verdade é que quando McGonagall anunciou que quem quisesse passar o Natal em Hogwarts podia simplesmente assinar uma lista e pronto, Ash e Harry foram os primeiros. Rony também assinou pois sua família iria à Romênia visitar Carlinhos, então ele, Percy, Fred e Jorge iriam ficar. Já Hermione iria para casa.


Em um desses dias que precediam o Natal, Harry, Ash, Rony e Hermione deram de cara com Hagrid carregando uma enorme árvore para o salão.


- É para o Natal, Hagrid? - perguntou Ashley, sorridente, com os olhinhos brilhando.


- É sim. O salão está ficando lindo, deviam ver!


- Aaaaah eu aaaaamo o Natal! - comentou Ashley girando no lugar.


- Já comprou o presente do seu irmãozinho querido? - perguntou Harry, passando o braço pelos ombros dela.


- Isso depende se ele já comprou o meu.


Os dois riram e se lembraram de como até um ano atrás os dois se presenteavam com cartões de Natal feitos à mão, um para o outro, em folhas de caderno. Era o melhor presente que eles ganhavam, afinal, era isso ou um par de meias surradas dos Dursley. O cartão de Ash para Harry era sempre cheio de estrelinhas e coisas coloridinhas e fofinhas. O cartão de Harry para Ash era sempre preto no branco, mas com alguns desenhos bem engraçados de Duda sendo atropelado por uma caminhonete, Duda sendo estrangulado por um gigante, Duda caindo um um poço sem fundo, Duda se engasgando com uma maçã...


As lembranças dos Gêmeos foram interrompidas pela última pessoa que eles queriam ver naquele momento.


- Weasley! Aprendendo a ser guarda-caça para se juntar ao retardado-mor quando se formar? - caçoou Draco.


- O que há de errado com você, seu peste? - interferiu Harry. - Só porque perdeu para minha irmã e eu tem ficado mais desagradável que de costume nos últimos dias. Esquece isso e deixa a gente em paz!


- Pelo menos eu tenho pais e vou para a casa ter um natal descente.


- Agora chega. - respondeu Ashley, avançando para cima do loiro. Harry foi logo atrás, seguido por Rony. Hermione tentou segurar os três, mas ela era uma só e acabou com Harry em uma mão, Rony em outra e Ashley presa por uma das mãos de Hagrid. Nesse exato instante apareceu a penúltima pessoa que eles queriam ver.


- Estão aprontando confusão? - indagou Snape.


- Professor, os três iam me bater! - apressou-se Malfoy.


- Eles foram provocados! - retrucou Hagrid.


- Provocados ou não, brigar é contra as regras da escola. Menos cinco pontos para a Grifinória. E você Malfoy, vem comigo. Preciso discutir um assunto com você.


Draco deu as costas com uma cara extremamente enfezada e foi seguindo Snape escola adentro. Hagrid continou seu caminho para o Salão Principal e foi seguido pelos quatro. Logo, adentraram o recinto, e estava maravilhoso!


Vários pinheiros já estavam espalhados pelo Salão, com o que Hagrid levava, somavam-se doze. Estes pinheiros estava sendo enfeitados com cristais de neve e velas incandescentes. Festões de azevinho estavam pendurados por todos os lados e havia visco também.


- Está tudo lindo Hagrid, mas temos que ir agora. - comentou Ash.


- Ir? - perguntou Hagrid, olhando assustado para as crianças. - Fiquem por aí, falta tão pouco tempo para o almoço.


- Não, precisamos ir à biblioteca. - respondeu Hermione.


- Biblioteca? Nas vésperas do natal? Não acham que estão estudando demais?


- Não é isso. - respondeu Rony. - É que desde que você deixou escapar sobre o Flamel, andamos tentando descobrir quem ele é.


- Perderam o juízo? - repreendeu Hagrid. - Já disse para não se meterem nesse assunto!


- Sem chance, estamos decididos a procurar até achar. - respondeu Ash.


- A menos que você queira nos dizer quem é e nos poupar o trabalho da pesquisa... - incentivou Harry, esperando que Hagrid falasse. Mas o homem apenas suspirou em desaprovação, deu as costas e foi ajeitar o último pinheiro.


O quarteto de fato andara empenhado na tarefa de descobrir mais sobre Flamel e o que quer que fosse que estava escondido no alçapão, mas sem sucesso. Hermione passava pelas estantes com uma lista de livros interessantes. Rony pegava alguns que lhe chamavam a atenção pelo título ou pela capa. Já Harry e Ash eram um pouco menos ativos.


Havia esta parte da biblioteca chamada "Seção Reservada" que era separada do restante da biblioteca. Havia alguns livros especiais lá dentro, que só podiam ser pegos com a autorização escrita de um professor. Os quatro tinham certeza de que Flamel estaria lá, mas estavam decididos a não perguntar a nenhum professor sobre ele para que Snape não ficasse sabendo do que estavam tramando, razão pela qual também não haviam pedido ajuda à Madame Pince, a bibliotecária. Logo, se não podiam perguntar nada a nenhum professor, também não pediriam autorização para tirar um livro da Seção Reservada. Ainda assim, Harry e Ashley ficavam rondando a seção e cochichando estratégias para invadir o local, mas todos os planejamentos eram interrompidos por um pigarrear e então os Gêmeos davam de cara com os óclinhos na ponta do nariz de Madame Pince.


- Isso não vai dar certo. - comentou Rony, folheando alguns livros na mesa. - Precisamos é de uma longa busca sem Madame Pince bafejar nos nossos pescoços.


- Talvez. De qualquer forma, vamos parar por agora, está na hora do almoço. - disse Hermione, fechando o último livro de sua lista, sem encontrar nada de útil.


Enquanto isso, na sala de Snape, Draco se mostrava irredutível.


- Me recuso! Isso é para perdedores! - esbravejou o garoto, fechando a cara para o pergaminho à sua frente.


- Perdedor você vai ser se não entender que seus pais não vão passar o natal em casa de novo. Assine logo a lista e passe este natal em Hogwarts!


- Não! É para órfãos como os Potter. Eu tenho um pai e uma mãe e não preciso passar o natal fora de casa.


- Desisto. Como quiser Sr. Malfoy, mas não se assuste ao reparar que vai passar o natal sozinho de novo.


- Não vou. Meus pais não me veem desde setembro, não é possível que não vão passar esses dias comigo.


Snape desistiu de argumentar.


Os dias se seguiram sem muitos resultados, e os quatro continuavam sem a menor ideia de quem era Flamel. Por fim, chegou o dia de Hermione partir e eles não tinham conseguido nenhum avanço.


- Vão continuar procurando enquanto eu estiver fora não vão? - perguntou Hermione.


- Claro. - respondeu Harry.


- Por que você não pergunta alguma coisa a seus pais? Eles poderiam ajudar, e não haveria perigo algum, haveria?


- Claro que não. - respondeu a menina. - Meus pais são dentistas.


Assim que o trem partiu a escola ficou estranhamente silenciosa e vazia. Os corredores e as salas pareciam no mínimo duas vezes maiores.


Em uma tarde, Harry, Ash e Rony estavam assentados na biblioteca com uma pilha de livros aleatórios, tentando encontrar Flamel.


- Caramba, que falta faz a Hermione. - comentou Ash, depois de folhear todo um livro de feitiços sem encontrar nada.


Quando o trem parou na estação, Hermione logo avistou seus pais e foi correndo até eles. Estava ansiosa para contar sobre tudo o que vira e aprendera, e o casal ficou orgulhoso e maravilhado com sua filha.


Já Draco, avistou uma pequena criaturinha empregada, usando uma fronha suja e de nariz comprido. Um elfo.


- Dobby!


- Pois não mestre. - o elfo se inclinou.


- Cadê papai e mamãe?


- Não vieram.


- Me buscar, você diz? - o elfo abriu a boca, mas Draco se interpôs. - Tudo bem, me leva pra casa.


O elfo segurou a mão do garoto e desaparatou com ele para uma enorme mansão em Wiltshire, no sul da Inglaterra. O jardim era tão grande quanto à própria casa de quatro andares. Garoto e elfo seguiram pelo caminho até a casa. O menino abriu a porta e adentrou a mansão, deixando o elfo às voltas com seu malão e começou a correr pela casa, procurando pelos seus pais. O que encontrou por fim foi uma árvore de natal, uma pilha de presentes quase do tamanho da árvore, que ia até o teto e um bilhete:


Desculpe filho, seu pai e eu tivemos que viajar para Veneza, era muito importante. Receio que não possamos chegar a tempo para o natal. Espero que fique em Hogwarts e não chegue a ler isto, mas se ler, Feliz Natal.


Beijos,


Mamãe


"De novo."


- DOBBY!


Houve um estalo e o elfo apareceu na frente de Draco.


- Pois não senhor.


- O QUE RAIOS MEUS PAIS FORAM FAZER EM VENEZA EM PLENO NATAL?


- Hm... Meu senhor, recebi ordens para não contar...


- AGORA ESTOU ORDENANDO QUE CONTE!


O elfo pareceu se contorcer de nervosismo. Por fim, decidiu que não tinha outra saída:


- Uma viagem comercial, senhor...


- Perdão?


- Algo com compras... E...


- Eles tiraram férias particulares e me deixaram aqui, não foi?


- É... Bem, sim... Pode-se dizer que sim...


Draco suspirou e se largou no sofá. Já era o quinto ano consecutivo. Ele nem se lembrava mais do que era um natal direito. Só ficava abrindo dezenas de presentes na companhia de um elfo.


- Estou cansado disso Dobby. Me traga um sanduíche, estou faminto.


O elfo fez uma reverência e foi até a cozinha.


"Eu devia ter ouvido Snape. Nem mesmo depois de meses... Continuam não ligando para mim."


Em Hogwarts tudo ia perfeitamente bem. Rony ensinou Harry e Ash a jogar xadrez de bruxo, que é igualzinho ao xadrez comum dos trouxas, mas as peças se mexiam sozinhas. Ash se entediou do jogo em três rodadas, mas Harry o achou bem divertido. O garoto teve que jogar com as peças de Simas, o que era terrível, pois estas não confiavam nele e ficavam dando palpites no jogo. Por outro lado, Rony e suas peças tinham uma sintonia perfeita, então Harry perdeu algumas vezes até desistir de jogar por um tempo.


Na manhã de natal até o clima era diferente no ar. A manhã já começou bem quando Harry acordou de manhã e para a sua surpresa:


- Presentes!


- O que esperava? Esterco de dragão? - perguntou Rony, desembrulhando alguns presentes com uma pilha já desembrulhada e com outros presentes nas mãos.


Harry pegou o embrulho mais próximo, eufórico. Era um objeto cilíndrico embrulhado em papel pardo com um cartão escrito em uma letra garranchosa, que ele reconheceu como a de Hagrid. Abriu o embrulho e viu uma flauta de madeira, aparentemente entalhada à mão.


Achou um envelope com um bilhete seco e sem desejos de festividades, vindo dos Dursley, e uma moeda de cinquenta pence lá dentro.


- Nossa, que legal, isso é dinheiro? - perguntou Rony maravilhado.


- Pode ficar. - respondeu Harry. - Deve valer menos que um nuque. - e tacou a moedinha para Rony.


Havia um embrulho enorme e macio. Harry o abriu e viu um suéter verde com enormes barras de chocolate caseiro, e um bilhete de Molly Weasley.


- Ah não, mamãe te fez um suéter! Faz para todo mundo no natal. O meu é sempre cor de tijolo... E eu detesto essa cor.


Harry vestiu o suéter. Era bem quentinho e macio, não pinicava. Experimentou um dos chocolates, estava uma delícia.


Por fim, havia várias caixas de sapos de chocolate com um desejo de boas festas vindo de Hermione.


- Bem, vamos descer. A comida do natal é sempre mais gostosa. - disse Rony.


Harry, porem, pegou um último embrulho. Era leve e suave. Ele abriu o cartão:


"À H. Potter e A. Potter.


Seu pai deixou isto comigo antes de morrer. Está na hora de devolvê-la a vocês. Usem-na bem. Um natal muito feliz para vocês."


- É para minha irmã e eu. Vou esperar encontrá-la para abrir.


Ela estava na sala comunal, comendo um chocolate caseiro, usando um suéter verde esmeralda e lendo livros que ganhara de Hermione. Hagrid lhe dera uma flauta também, e mais cinquenta pence dos Dursley.


- Hey, Rony! Pensa rápido. - ela jogou a moeda para Rony. - Feliz natal. Esse aqui é seu, Harry. - disse Ash, entregando um pergaminho para ele.


Harry o abriu e viu uma linda mensagem de natal, com letras coloridas e uma musiquinha soando quando ele abria o pergaminho.


- Uau, obrigado!


- Só para não perder o costume.


- Também tenho um.


O cartão de Harry para Ash era o desenho de Draco enfeitiçando Duda, e depois Válter matava Draco com um tiro de escopeta. Os desenhos se moviam como os quadros do castelo. Ashley caiu na risada.


- Amei Harry!


- Duda morre com o feitiço. Só para não perder o costume.


Os dois riram e se abraçaram.


- Ash, ganhei este também, mas é para nós dois. - disse o garoto, estendendo o pacote misterioso. Quis lhe esperar para abri-lo.


Ash leu o cartão.


- Não tem remetente?


- Não.


Os dois se olharam. Deram de ombros e rasgaram o papel do embrulho. O que havia lá dentro era uma enorme capa prateada, leve como água, reluzindo à luz ambiente. O tecido era suave e macio, e moldava-se facilmente aos corpos que cobria.


- É linda... Consigo me ver nela. - disse Ash.


- Quero experimentar - disse Harry.


- Eu também! - a garota replicou.


- Ok, vamos na sorte então. Eu sou o um e você o dois.


Ashley fez cara de confusa. Então Harry berrou para Rony, distraído com chocolates.


- Rony, fale um número, sendo um ou dois.


- Um... - o menino murmurou, mastigando um chocolate.


- Há, ganhei!


- Não vale! Fala de novo Rony! - gritou a menina.


- Dois... - ele respondeu.


- Há agora eu ganhei.


Os dois se olharam em disputa. Então, com sincronia de gêmeos, expiraram ao mesmo tempo.


- Ok, como foi entregue no seu quarto, pode tentar primeiro.


- Mas o que é que vocês dois tanto discutem aí? - perguntou Rony, se virando para a dupla, e dando de cara com o tecido. - AH MEU MERLIN, NÃO ACREDITO!


- Acreditar em que? - perguntou Ash.


- Isso é uma capa da invisibilidade?


- Quê? - os gêmeos retrucaram em uníssono.


- Experimentem! Anda!


Harry enrolou a capa nas costas, e para sua surpresa, apenas a sua cabeça ficou visível no espelho, o resto todo sumira.


- Uau... - murmuraram os três amigos.


- Eu já tinha ouvido falar nelas. - comentou Rony, pegando uma ponta da capa para analisar. - Leve, reluzente, prateada... Se enquadra perfeitamente... Caramba, quem deu isso a vocês?


- Não sabemos. - respondeu Harry. - Não tinha remetente.


- Minha nossa...


Os três ficaram um bom tempo em estupor, encarando a capa, admirados com o presente novo. Então, foram trazidos de volta para a realidade por Fred e Jorge, que invadiram a Sala Comunal cantando esganiçadamente músicas natalinas de bruxos.


- Feliz natal para vocês também. - disse Rony. Os três repararam que os gêmeos ruivos usavam suéteres também, só que um deles tinha um enorme "F" e o outro um "J".


- Nossa mãe. - comentou Fred. - Acha que precisamos nos lembrar do nome um do outro o tempo todo.


- É. - respondeu Jorge. - Como se não soubéssemos que nos chamamos "Jred" e "Forge".


Nesse instante Percy entrou na Sala.


- Tá legal, podem me devolver, AGORA! - ele berrou para os irmãos.


- Devolver? - perguntou Jorge.


- Devolver o que? - retrucou Fred.


- Não se façam de desentendidos! Me deem o meu crachá AGORA!


- Aaaaah! - os dois responderam em uníssono. - O crachá... VEM PEGAR!


Instaurou-se uma bagunça. Fred e Jorge fugiam e Percy tentava pegar o crachá das mãos deles. No meio da bagunça, Jorge soltou a frase:


- Ih, olha lá Fred, o Percy não está com o suéter.


- Aaaah, não acredito...


- ME DEVOLVAM MEU DISTINTIVO, PRECISO TRABALHAR!


- Trabalhar? Sem essa, natal é uma festa da família. - completou Jorge. Fred tinha subido até o dormitório e voltava com o suéter de Percy.


- Vamos vestir a suéter Percy, é quentinha!


- Nãaaaaao! ME DÁ. O MEU. DISTINTIVO. AGORA!


Fred e Jorge agarraram o irmão pelos braços e lhe enfiaram a suéter por cima da cabeça.


- ÓTIMO! - reclamou Percy. - Estou vestindo! QUEREM ME DEVOLVER A DRO...


- Irmãozinho, olha essa boca! Vem, já é meio-dia, vamos almoçar. - disse Jorge. Ele e Fred desceram as escadas arrastando Percy consigo.


- Deveríamos ir também. - disse Rony, ao ver os três irmãos saírem pelo buraco do retrato. - Estou morrendo de fome.


- E quando é que não está? - perguntou Ash. Os três desceram para a mesa também.


O almoço estava com o típico clima de almoço de natal em família. Haviam perus e batatas assadas, salsichas e ervilhas, além de bombinhas de bruxo. As bombinhas de bruxo eram uma versão ultra-aprimorada das bombinhas comuns de trouxas. Essas explodiam mesmo, com um barulho ensurdecedor, liberavam alguns camundongos e davam prendas realmente interessantes, como balões luminosos e não explosivos, um kit para cultivar capixingui, a planta símbolo de Hogwarts, e um jogo de xadrez de bruxo.


Percy quase quebrou um dente ao morder um pedaço de seu pudim de sobremesa e tirar uma foice de dentro dele. Depois de algumas doses de bebida, Hagrid deu um beijo muito estalado na bochecha de McGonagall, que corou logo em seguida.


À tarde, Rony, Fred, Jorge, Harry e Ash se reuniram no jardim para uma guerra de bolas de neve. Dividiam variados times para competir, e nessa brincadeira levaram todo o resto da tarde. Ao toque de recolher, Harry se assentou com Rony na frente da lareira para mais partidas de xadrez de bruxo. Mesmo com peças novas e completamente suas, Harry continuava perdendo. Ashley assentara-se com um dos cinco livros que Hermione lhe dera de natal, "Hogwarts, uma história", próxima aos garotos e ficou lendo. De vez em quando o trio levantava o olhar para ver Percy perseguir Fred e Jorge para tentar pegar seu crachá de volta, que estava com os gêmeos até agora.


Aos poucos todos foram deitar, restando apenas Harry e Ash na Sala Comunal. A garota estava absolutamente entretida na leitura de seu livro, e Harry testava novas estratégias de xadrez. Então, o menino levantou o olhar para a menina e seus olhos recaíram sobre o livro que ela lia. Isso o lembrou da Sessão Reservada, os livros trancados e Nicolau Flamel.


- Não achamos nada sobre Flamel. - ele comentou, encarando a capa do livro dela.


Ash ergueu o olhar surpresa, como quem sai de um transe. Olhou para a capa do próprio livro, como se tentasse entender do que Harry estava falando, então caiu a ficha.


- Estava pensando na Sessão Reservada, não é?


Ele afirmou com a cabeça.


- Se houvesse algum jeito de entrar lá, qualquer um, eu tenho certeza de que descobriríamos!


- Eu sei! - respondeu a menina, fechando o livro de vez. - Mas Madame Pince prega os olhos em nós como a Madame Nor-ra!


Silêncio. Harry olhou para sua rainha que se movimentava de acordo com suas instruções, arrastando-se pelo tabuleiro com sua enorme capa de pedra e...


- ASH! É ISSO!


- O que? - ela perguntou erguendo o olhar mais uma vez.


- Ela fica com os olhos pregados em nós, então a solução é que não nos veja!


- Do que é que esta falan...


Antes que ela completasse a frase, Harry subiu correndo para seu dormitório. Ela ficou parada olhando para o xadrez por uns segundos, e assim que voltou o olhar para seu livro o garoto voltou correndo da torre, carregando um tecido leve e prateado.


- HARRY! VOCÊ É UM GÊNIO!


Ela largou o livro no sofá e foi até o irmão. Os dois se acomodaram debaixo da capa, tomando cuidado de não deixar nada aparecer. O tecido era tão translúcido que era possível ver através dele. O acessório perfeito! Você vê tudo, e ninguém te vê!


Saíram lentamente da Sala Comunal. A mulher Gorda ainda perguntou "quem está aí?" antes de decidir fechar o buraco após a passagem dos Gêmeos. Os dois foram caminhando lentamente pelos corredores, atentos a qualquer sinal de Filch ou Madame Nor-ra. Estavam invisíveis, mas ainda podiam ser ouvidos ou tocados.


Mas o caminho foi feito sem grandes preocupações até a biblioteca. Toparam com Madame Nor-ra uma vez, mas aparentemente ela via tanta coisa quanto a Mulher Gorda, pois passou direto por eles sem dar um miado sequer.


Chegaram à Seção Reservada. Pularam as cordas que a separavam do restante da biblioteca com cautela. Então, usando um lampião próximo começaram a procurar pelo livro. Decidiram por não acender as varinhas, pois a luz era muito potente e visível à distância, já o lampião era mais discreto.


Passaram pelas estantes procurando por algum título que lhes chamasse a atenção. Muitos livros nem sequer tinham título mais. Depois de analisar umas três estantes eles se cansaram de ficar só olhando. Assentaram-se ao pé de uma estante e começaram a folhear os livros, mas ainda não havia muito sucesso. Até que, dado momento, Harry puxou um livro e o abriu.


Um rosto humano se materializou das páginas, berrando, se mexendo, agourento. Tamanho foi o susto que ele apenas deixou o livro cair. Ashley o fechou com o coração na mão, mas o grito persistia no ar.


- QUEM ESTÁ AÍ? APAREÇA!


Era Filch. Estavam fritos.


Harry sinalizou a Ash que entrasse com ele debaixo da capa e os dois foram pé ante pé, andando para a saída. Filch não conseguiu vê-los, obviamente, e não os ouviu tampouco os tocou.


Depois de andar por uns dois corredores começaram a correr. Só queriam se ver longe de Filch o mais rápido possível. Então, em dado corredor, Snape apareceu caminhando pesadamente.


Os Gêmeos perceberam que era o corredor do terceiro andar.


Porque Snape estava rondando o local de novo era a última preocupação deles. Colaram-se à parede o mais que puderam, e Snape passou reto apenas roçando a capa neles, mas não reparou. Depois que ele sumiu na curva do corredor e a voz de Filch se fez soar, os Gêmeos entraram na primeira porta que viram, a fecharam, escoraram se pelo outro lado e despencaram no chão com uma sincronia de dar inveja até aos Gêmeos Weasley.


Ficaram imóveis, ouvindo passos atrás da porta. Depois, um resmungo indecifrável, como um grunhido, e então os passos sumiram no horizonte.


- Harry... Nunca mais quero passar por um sufoco tão grande.


O garoto também soltava o ar a bafejadas.


- Concordo.


Parando para examinar a sala onde se encontravam, descobriram de tratar de uma antiga sala de aula, mas as carteiras haviam sido empurradas contra as paredes. Onde deveria haver a lousa havia um enorme espelho, ocupava o espaço do chão ao teto, com uma moldura dourada onde havia uma inscrição: "Oãça rocu esme ojesed osamo tso rueso ortso moãn".


- Não entendo uma letra do que está escrito. - comentou Ashley. - Me intriga.


Harry se aproximou do espelho. E então, ao se colocar de frente para ele, quase pulou para trás.


No seu reflexo, não estava sozinho. Uma mulher ruiva e um homem moreno encontravam-se atrás dele. O homem pousava a mão sobre o ombro de Harry.


- Harry tudo bem? Parece meio pálido...


Ela se aproximou, e viu o mesmo casal, agora atrás dos dois. A mulher a dava um meio abraço no reflexo, mas assim como Harry, ela não se sentia ser tocada.


Entrou em desespero. Segurou a mão de Harry com força. Não havia ninguém atrás deles.


- Ash, espera. Não lhe parecem familiares?


- Eu não sei, eu...


- São nossos pais.


- Não brinque com isso Harry. Você sabe que eu abomino gente morta.


- Não entende? São eles ali! Olhe!


Ash fixou os olhos verdes da mulher.


- Céus... São mesmo.


Os dois se deixaram cair no chão assentados. Ver os pais era algo que eles nunca na vida haviam imaginado que fosse acontecer, no entanto, ali estavam... Tão próximos!


Os pais do espelho assentaram-se também. Ashley deitou a cabeça no ombro de Harry.


- Não acredito... Estão bem ali.


Harry esticou a mão, mas tudo que tocou foi o reflexo no vidro frio de seus próprios dedos.


Contentaram-se então em apenas olhar. E nisto se foram horas, até que Ashley quase pegou no sono escorada no irmão.


- Ash, acorde! Temos que ir!


- Mas...


- Eu sei. Voltaremos amanhã, juro.


Os dois se despediram do espelho com um olhar triste, entraram na capa e foram tristonhos de volta à Sala Comunal.


Assim que viu sua cama de dossel Ash caiu no sono. Já Harry fitou Rony e por um átimo de segundo quis dormir, mas a vontade de compartilhar foi melhor. Sacudiu o ombro do amigo até que ele acordasse e lhe contou toda a experiência com o espelho.


- Deve ser algum feitiço ilusório. Não precisava ter me acordado.


- O que? Você não está entendendo, são meus pais lá! Ash e eu vamos voltar amanhã, você tem que ir com a gente!


- Tá, tá legal, posso dormir agora?


O dia seguinte foi uma tortura. As horas não passavam. Harry e Ash queriam que chegasse a noite logo para voltarem à sala, ao espelho, aos seus pais. Já Rony não demonstrava muita animação.


Quando finalmente o horário de recolher chegou, Harry e Ash se enfiaram debaixo da capa e fizeram Rony entrar também. Então os três saíram.


Os Gêmeos tiveram medo de não encontrar a sala de novo, mas depois de um tempo conseguiram. Entraram correndo e se postaram na frente do espelho.


- E então, o que tem de mais? - perguntou Rony.


- Vem aqui Rony! - disse Harry. Rony se aproximou impaciente.


- E então?


- São nossos pais! - exclamou Ash. - Não vê?


- Não. Só vejo nós três.


- Hein? - Harry e Ash voltaram o olhar para o espelho. O casal estava lá, sorrindo, exatamente como no dia anterior.


- Chegue mais para cá Ron...


E numa mistura de empurras, puxas e ajeitas, Rony acabou no centro do espelho sozinho.


- CARAMBA!


- Está vendo? - perguntaram os Gêmeos.


- Não, estou vendo coisa melhor! Estou mais velho, e mais bonito. Ganhei a taça de quadribol e a taça das casas, e sou monitor chefe! E poxa vida, isso no meu dedo é uma aliança, e de ouro! Me casei!


- Não é possível, eram nossos pais! - comentou Harry.


- Ei, vocês acham que este espelho mostra o futuro?


- Como poderia Ron... - respondeu Ash. - Nossos pais morreram.


Nisso um miado soou no fim do corredor. Os três se enfiaram na capa e saíram correndo.


- Estou dizendo. - comentou Rony, no café, pela manhã seguinte. - Se tiverem o mínimo de bom senso não vão voltar lá, tem algo de muito errado com aquele espelho.


- Credo Rony, está falando igual a Hermione. - disse Ash, para provocá-lo.


- Não importa. Escutem o que digo, não voltem!


Nessa noite os Gêmeos voltaram sozinhos. Entraram correndo e se assentaram de frente para o espelho. Passados vários minutos, uma voz soou sobressaltando os Gêmeos.


- Mais uma vez aqui, vocês dois...


Eles se viraram assustados. Era Dumbledore.


Ops, estavam fritos.


- Estava aí? - perguntou Ash.


- Não preciso de uma capa para ficar invisível. É a terceira vez que vocês veem aqui, e ao que parece, são os seus pais no espelho, não?


- Sim, professor. - respondeu Harry. - O que é este espelho?


- O que você acha que ele é?


- Não sei.


- Mostra uma vontade, não é? - perguntou Ash. - Um desejo profundo.


- Sim, e não pequena. Mostra uma vontade, um desejo, o mais profundo de seus corações. É um objeto magnífico, mas vocês não podem mais vê-los. Homens definharam diante dele, julgaram-se loucos. O espelho será levado a uma nova casa hoje, com outra utilidade, e peço que não voltem a procurá-lo. Agora, se não se importam, porque não colocam esta belíssima capa e voltam para suas camas?


- Posso fazer mais uma pergunta diretor? - perguntou Harry.


- Apenas uma.


- O que o senhor vê quando se olha no espelho?


- Eu? Bem... Me vejo segurando um grosso par de meias de lã. As meias nunca são o bastante, as pessoas insistem em me dar livros...


Obviamente não era verdade. Os gêmeos deixaram de lado e voltaram aos seus dormitórios.


No dia seguinte, Harry e Ash estava estirados na grama, esperando Rony voltar do banheiro. A vista do lago congelado era belíssima, assim como os picos nevados das árvores na floresta. Harry escolheu este momento para falar do espelho, pelo que ele imaginava ser a última vez:


- Como você sabia?


Ash olhou para o irmão surpresa.


- Saber o que?


- Do espelho.


- Ah, isso. Imaginei que fosse me perguntar. - ela tirou um pergaminho dobrado e o entregou ao irmão, que leu: "Não mostro o seu rosto mas o desejo em seu coração". -A inscrição na moldura do espelho era uma espécie de anagrama. Era só ler de trás pra frente. Descobri no segundo dia.


Harry expirou.


- Vou sentir falta. Nunca pensei que fosse ver papai e mamãe.


- Eu entendo Harry. Você sabe disso. Mas se eles são o desejo mais profundo de nossos corações, então é porque estão guardados neles. Estão conosco.


Harry sorriu para a irmã. De fato, seus pais estavam com eles, em seus corações, para sempre.

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Comentários (1)

  • Drica Granger

    Eu sou suspeita pra dizer que a fic é OTIMAAA !! Uma das minhas autoras de fic favoritas é a Gaby e eu seou suspeita pra falar porque nós somos amigas e eu sou a beta dessa fic mas eu so to dizendo a verdade !! Amoo a fic !!

    2012-05-25
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