-Corvo 4-





Corvo-4



Draco manteu-se parado ao observar o gato atravessando a rua, e foi apenas quando ele sumiu de sua vista que interpretou os berros raivosos vindos dos carros que passavam por ali naquele momento como ofensas impronunciáveis.

O barman que conseguiu passar pela portinhola teimosa tarde demais se aproximou de súbito, tanto que Draco só notou sua presença quando ouviu uma vóz dirigir-se a ele.

-Você dormiu antes de pagar a última ontem à noite.

Demorou um pouco para que ele realmente entendesse o que o barman estava dizendo.

-Ah sim, a bebida, claro...

Teve certa dificuldade de retirar sua última nota e algumas de suas moedas do bolso. Em seguida estendeu a mão e o homem pegou a quantia necessária.

Enquanto levava o resto ao bolso notou que as mãos do homem suavam, igualmente à sua careca carrancuda, onde gotas escorriam até sua vasta bigodeira a qual escondia-lhe quase que completamente a boca.

Sabia que ele estava nervoso por causa da visita inesperada do bichano, mas não seria por isso que aguentaria um homem asqueroso. Afastou-se com nojo após fitá-lo com repugnância. De fato não era de sua índole ser discreto e educado.

Saiu calado. Aquele lugar não lhe era mais cômodo, e além do mais, não seria seguro e nem muito esperto ficar parado esperando a visita de comensais da morte.

Foi então que notou sua mente vazia. Pisava a guia da calçada, pronto para atravessar a rua mesmo sem saber pra onde ir.

“O gato foi por aqui...” ele pensou naquele instante, porém por qual motivo ele seguiria um animal pulguento? Ele não tinha tempo para besteiras desse tipo, precisava fugir. Mas, para onde?

Retirou a bolinha do bolso e observou o brilho verde além de irritar seus olhos deixá-lo ainda mais confuso.

-Você nunca me ajudou em nada. Por que afinal acharam que o faria? Você só me mostra o que estou sentindo, sem me dar a mínima idéia de como sair de qualquer situação. Apenas me revela informações inúteis.

Fez menção de atirá-la em direção aos carros que passavam a sua frente, quando de repente viu o vermelho sinalizar para que parassem.

Draco, relutante com a situação, imaginou seu pai e Voldemort rindo incansavelmente ao ver o brilho cor-de-rosa envergonhado que outros mascarados encontraram na rua próxima ao bar trouxa. Guardou-a.

-Além de você não me ajudar em nada me faz ter que te aturar, já que se for descartada me denunciará àqueles idiotas.

Decidiu seguir pela calçada em que se encontrava.

Andou por entre as pessoas, zangando-se quando trombava com alguma delas, tentando se distrair olhando as vitrines das lojas dispostas de coisas que não o interessavam.

Olhou com desdém para uma loja de esportes, e foi retribuído por olhos ignorantes, que fitaram-no do lado de dentro.

Ele sentiu uma enorme vontade de chutar bem naquela direção, arrebentar o vidro e arremessar a bola, a qual estava equilibrada sobre uma plataforma dourada, bem na cara do imbecil sentado detrás do balcão.

Sua mente fervilhava de ruindade, quando voltou a si com uma campainha que soava na cabine ali ao lado.

Encarou-a desordenado, esquecendo completamente do sujeito antipático, o qual pareceu decidido a fazer o mesmo. Aproximou-se do aparelho tlefônico e retirou-o do gancho, em seguida, encostou-o ao ouvido e esperou que alguém falasse, sentindo-se até um pouco idiota por estar ali, parado em meio a trouxas com um telefone no ouvido que no momento parecia-lhe completamente mudo.

-Draco? – ele ouviu de repente, pouco antes de decidir afastar-se do telefone e correr o mais rápido que pudesse... Porém antes disso, aquela voz continuou.

-Draco? Sou eu... Responde...

- G - Gina?

-Não, um trasgo!

-Ah, de fato tem muita semelhança.

-Não me enche, Draco. Liguei pra te ajudar. É que...

- Só um maldito momento... Não estou em casa, e nunca estive aqui antes... Como você sabe que...

-Lembra-se do feitiço que te ajudei a lançar no seu caderno pra o caso de perdê-lo?

Pronto. Draco estava pasmo. Esquecera-se completamente do feitiço de localização.

-Eles sabem de algo?

- Não faço idéia. Acho que não... Eu, pelo menos, não contei nada.

Draco abriu a boca, disposto a metralhar palavras nada agradáveis quando ela continuou:

-Acho mais sensato livrar-se dele, sei lá, atar fogo... Já que o feitiço não pode ser desfeito mesmo...

Ele estava enraivecido. Completamente.

-Draco, escuta, eu nunca fui ligada ao mundo trouxa. Te liguei ontem pra te falar que fugisse logo, e hoje pra te dizer que deve se livrar do caderno. Mas agora você está por sua conta. Se eu fizer mais alguma ligação, eles vão passar a desconfiar.

-Realmente, seu irmãozinho ficaria muito zangado se descobrisse que você anda me ligando todo dia.

-Não falo dele, Draco, e você sabe.

-Claro que sei... Quem esqueceria comensais, ainda mais quando se está sendo PROCURADO POR ELES!?!

Suas palavras transbordavam fúria.

-Olha, Draco, se não quer a minha ajuda é só dizer.

- De que adianta? Não acabou e falar que não vai mais me ajudar?

Gina estremecia de desgosto. Estava em prantos. Não acreditava em tanta desconsideração.

-Idiota... Ingrato... Espero que peguem você!! –desligou.

Sua mão tremeu nervosa ao ouvir essas palavras. Segurava o telefone na altura do ombro, ouvindo apenas o silvo uníssono que vinha da linha agora desocupada.

-Ela de fato não tem nem um pouquinho de cérebro que seja.

Tentou se acalmar com essas palavras. Gina não falaria sobre ele para os comensais, sabia disso.

Olhou em volta e notou o vendedor da loja de esportes encará-lo estupefato por sua falta de senso e delicadeza.

Draco olhou-o com desdém e voltou a caminhar sem nem mesmo voltar o telefone ao gancho, e nem precisou dar muitos passos para sentir-se novamente desconfortável e irritadiço.

De novo tinha a visão daquele mesmo gato alaranjado que fora espantado a “saleirada” no bar não tão distante.

Ele escondia-se por entre as árvores do outro lado da rua. Até parecia vigiá-lo.

Primeiramente achou a idéia estúpida, porém outro pensamento logo lhe veio à cabeça: “Animago”.

Partiu em direção ao animal naquele mesmo instante.

O gato, que pareceu estranhar àquela cena toda, saiu correndo assim quem Draco se aproximou. Ele, no entanto, correu rua acima atrás daquele rabo de pêlos espetados, e só parou quando o bichano atravessou o portão de uma das casas da rua.

Porém ele não desistiu tão facilmente.

A casa em que ele ficara em Finghton não era tão diferente desta. Apesar de a arquitetura não ter nenhuma semelhança, a casa ainda tinha portas e janelas no lugar convencional.

Mas, de qualquer forma, ele ainda mantinha-se trancado do lado de fora do portão.

Não vendo outra alternativa puxou a varinha, e ao apontá-la para o cadeado preso às grades, sussurrou: “Aholomora”!

Nada aconteceu. Na verdade, ele nunca necessitara desse feitiço antes... Não se lembrava como fazê-lo.

Tentou novamente, arregaçando uma de suas mangas e respirando fundo: “Halomohora”!

E dessa vez, apenas algumas faíscas estridentes pularam de sua varinha, porém nada fizeram. Sentiu-se um completo idiota. Mais do que sentira enquanto esperava alguém falar no telefone em frente à loja de esportes.

Foi então que o gato pulou ao parapeito da janela, rosnando alto, os pêlos estufados de fúria.

-O que foi? – Draco ouviu uma vóz feminina dizer, mas não reconhecendo-a imediatamente.

Surpreendeu-se, porém, quando a porta foi aberta.

Aquele gato não era um animago afinal.

Pasmo, observou a garota sangue-ruím olhá-lo com a mesma surpresa.

O animal continuava inquieto, e pulou para o lado de sua dona rapidamente. Ela que tornou a sua atenção a ele fez menção de pegá-lo no colo, e nesse mesmo instante ele correu por entre as grades do portão desaparecendo rebeldemente na rua que se seguia.

-Bichento! –ela exclamou enquanto seguia sua trajetória com os olhos.



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