-Corvo 2-
Corvo 2-
O dia estava completamente limpo àquela manhã, e o sol ainda tocava o horizonte quando uma cinzenta coruja atravessou os céus rumando decidida ao seu destino.
Cortando ventos e ultrapassando paisagens, parou apenas ao chegar numa pequena rua sem saída.
Pareceu incerta por alguns instantes, e pousou num poste, o qual ditava as seguintes informações: Finghton -Norte; Backerground -Leste.
Observou quieta as redondezas não movimentadas, e depois rumou com extrema rapidez para a casa do outro lado da rua. Pousou suavemente no parapeito da janela e bicou algumas vezes o vidro fechado. De repente a janela foi aberta de forma tão brusca que assuntou o animal, o qual jogou-se para trás de um salto e deu uma volta no ar antes de novamente pousar, dessa vez, do lado de dentro da residência.
O local tinha poucos móveis e era mal iluminado. A sombra de um sobre-tudo negro vestia a silhueta que se afastou da janela em direção à coruja, a qual, pousada sobre a mesa, naquele instante pesava os olhos sobre o bruxo de forma inconveniente.
Ela, já impaciente, estendeu a perna em que havia uma carta amarrada quando um garoto ainda novo, aparentando no rosto seus 19 anos, adiantou-se e puxou-a sem o mínimo de cuidado com o animal que no mesmo instante piou reclamante e apressou-se janela à fora.
Ele então examinou o pergaminho em sua mão. Observou a coloração escura que cuidadosamente fora amarrada em forma de xis com uma fita de cetim púrpura berrante de um brilho anormal, letras seguiam o contexto logo abaixo e ao lado esquerdo das linhas de fita cruzada. Ali notou estar escrito à quem a carta fora endereçada:
"Sr
Draco Malfoy,
Finghton, divisa com Backerground, 32."
As letras azuis destacavam-se no fundo escuro, e quando ele as tateou pôde sentir que sobressaíam-se do pergaminho.
Virou o envelope para espiar o lado da frente. Nele não havia o remetente, apenas um selo dourado de aparência importante.
Abriu-o já com certa curiosidade, depositando o envelope na mesa e desdobrando o pergaminho que agora segurava com força nas mãos.
Seus olhos que começaram lendo vagarosamente passaram a correr cada vez mais após ler a 1ª linha do enunciado:
" Sr. Malfoy,
Informo-lhe que seu paradeiro, antes desconhecido, foi localizado no dia de hoje às três horas e vinte e quatro minutos da madrugada.
Informo-lhe também que precisamos de reforços, pois os aurores precipitaram-se ao ataque, e apesar de prevermos o acontecido jamais acatamos a possibilidade de que adivinhariam nossos planos os quais ainda estão em elaboração.
Milorde ordenou a convocação de novos Comensais, portanto estamos a caminho de sua localidade para garantirmos a sua presença.
Grato.
Lúcio Malfoy"
Ele tremia dos pés a cabeça quando o pergaminho escapou de suas mãos geladas e caiu no chão num ato imperceptivelmente ignorado.
Como eles tinham-no encontrado? Isso definitivamente não poderia acontecer, pelo menos não agora. Ele ainda não tinha arranjado outra residência, não sabia como se esconder; Pra onde ir?
Naquele momento qualquer ruído perceptível era julgado como a ameaça. Eles estavam vindo, e ele, trancafiado por si próprio, tentava buscar uma saída, porém não conseguia; estava cego.
Seu pai disse que viriam. Chegariam a qualquer momento.
Sua cabeça latejava enquanto era arremessada a qualquer tipo de idéia que o tirasse daquela situação. Idéia a qual não surgiu.
E foi em meio a pensamentos indecisos que o telefone tocou, tomando conta de sua concentração, o que fez com que o latejo de sua cabeça diminuísse consideravelmente, evaporando a cada inspiração.
Seus olhos miraram o aparelho enquanto o mesmo tocava incessantemente. Teve receio de atendê-lo, estava com medo.
“Eles não usariam telefone, usariam?”
Aproximou-se cautelosamente da mesinha na qual ele fora depositado, tal como se o telefone talvez pudesse saltar sobre ele a qualquer instante.
Tocou sua mão trêmula sobre ele e retirou-o do gancho bem de vagar, pousando-o em seguida em seu ouvido.
Nada disse. Esperou por alguns segundos alguma voz surgir. Fosse quem fosse ele não confirmaria sua localização.
No entanto a pessoa a qual ligara pareceu fazer o mesmo, permanecendo calada enquanto Draco não dissesse algo.
A falta de palavras dentre os longos instantes seguintes criou nele uma certa vontade de desligar, porém a impaciência surgiu do outro lado da linha, fazendo com que palavras soassem para que os dois pudessem confirmar com quem estavam falando.
-Draco? -fez-se ouvir suavemente a voz já conhecida.
Ele então sentiu um alívio confortante, porém a idéia de que "convidados" estavam a espera tomou-lhe novamente.
-Então é vo... ah, mas... por que está ligando? -gaguejava enquanto apoiava-se sobre seus pés bambos, seus olhos vigiando atenciosamente a janela que, agora ele havia notado, ainda estava abeta.
-Como assim "por que estou ligando"? -dizia ela preocupada - Você ainda não recebeu uma notificação? Sei lá, uma coruja...?
-Está falando da GRANDE idéia do meu pai de me colocar entre os novos?
-Ah, quer dizer que você já sabe...então POR QUE ESTÁ TÃO CALMO? -disse as últimas palavras em plenos berros de desaprovação.
-E quem disse que eu estou calmo? -respondeu ele, impaciente - Achei que fosse mais esperta, ou pelo menos que tivesse um pouco de cérebro! Não sou idiota de cometer a mesma burrada que você, seguir Voldemort, por Merlim!
-Draco, eu já disse que os aurores não tem chance, ele é...
-É forte? Justamente o motivo pelo qual fico longe dele. Servi-lo pra que? Pra ele me matar assim que eu cometer algum engano?
A garota emudeceu-se ao ouvir essas palavras, porém ela tinha ciência de como Draco era “delicado”, e embora seu modo rude a tivesse magoado, ela não pretendia mostrar nenhum sinal de fraqueza.
-Draco... -voltou a dizer, preocupada- eu não liguei para discutir com você e nem falar sobre isso... você sabe que tenho meus motivos para...
-Então ligou pra que? Fale logo, antes que eu seja arrastado daqui!
-É que...eu logo imaginei que você ficaria em casa, pelo menos tempo o bastante para pensar pra onde ir, qualé Draco? Saia logo daí, depois você dá um jeito de se virar, pelo menos assim não te pegam...
Essas palavras entraram-lhe pela cabeça como uma pancada. Era lógico que ele deveria fugir antes de qualquer coisa.
-Draco? Draco você está aí?
-Hãn, sim, fale.
-Falar? Eu já disse tudo o que você precisava ouvir, ou seja, o óbvio. Quem é que não tem nem mesmo um pouco de cérebro, heim?
-Há, fica quieta. E não adianta falar mais nada porque eu já estou saindo, e espero não te ver por um bom tempo.
-Ta bem, então, até logo –respondeu secamente, tal como se não tivesse ouvido seu rude comentário. Desligou.
Ele se dirigiu à porta e abriu-a com rapidez, porém antes de sair um impulso levou suas mãos às vestes. Sua varinha não se encontrava lá.
Sentindo-se terrivelmente ridículo, condenou-se ao correr para o quarto, afinal, como ele largava a varinha assim sem mais nem menos, ainda mais enquanto se escondia de comensais?
Avistou-a sobre a escrivaninha e no momento que a apanhou notou um forte brilho amarelo limão surgir de dentro da gaveta.
Hesitou por alguns instantes, porém ele não estava em condições de pensar em o que levar consigo ou não. Resolveu então que, caso levasse algo desnecessário tudo o que teria que fazer era livrar-se dele, o que seria bem mais fácil do que conseguir algo de que precise depois.
Ouviu alguns ruídos e olhou maquinalmente para a porta. Ele certamente não se importava com o fato de que aqueles eram ruídos causados por algum vizinho desastrado o qual havia derrubado um copo ao chão.
Apressou-se em abrir a gaveta, e de lá pegou o objeto que brilhava, uma pequena bolinha, aparentemente de vidro, de aspecto apavorado.
Apertou-a com força, suas mãos esconderam-na completamente contendo seu brilho chamativo. Tornou a mão fechada sobre o criado mudo num costumeiro movimento involuntário de fechar a gaveta. Olhou uma ultima vez dentro dela notando um caderno escuro parcialmente coberto de papéis e tralhas.
Ouviu outro barulho (que mais uma vez veio da casa vizinha) e fez menção de sair correndo, porém antes disso apanhou também o caderno, afinal, não queria que seu pai ou outros comensais vissem suas anotações pessoais. Guardou-o no bolso junto à bolinha cintilante, e com a varinha em punhos correu para fora da casa. Certamente se soubesse aparatar seria muito mais fácil.
Durante um bom tempo correu pelas ruas realmente não se importando pra que lado ir, pois quanto mais perdido melhor, afinal, era óbvio que o procurariam primeiramente nos lugares os quais conhece ou que costuma freqüentar.
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Após caminhar a tarde inteira, encontrou-se cansado em algum bairro trouxa, o qual ele certamente não conhecia.
Entrou cautelosamente num bar que, apesar de ter um espaço consideravelmente grande, não possuía muitos fregueses. Sentou-se ao balcão e, desacostumado com as bebidas trouxas, permaneceu calado ouvindo os carros correrem do lado de fora e palavras pouco decifráveis sussurrarem por conversas entre os ali presentes, esperando a noite passar como se um outro dia pudesse talvez levá-lo a uma outra realidade.
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