Xarope Pra Tosse

Capitulo 29 Xarope Para Tosse

Não existe eu sem você. Mas, mesmo que doa em mim, pode existir, você sem mim.

 

–Bom dia turma –Eu disse tentando parecer animada, mas não estava. A chuva que havia pego no dia anterior tinha acabado comigo, havia tomado algumas poções para conseguir vir trabalhar. Mas não estava muito bem –Hoje começam as inscrições para o concurso, ele vai acontecer em Dezembro, mas as primeiras audições vão ser feitas logo. Queremos ver quem vai e quem não vai participar do concurso.

–Todos podem participar professora ?

–Desde que cantem bem, porque é a procura para a banda do Dec...Que é um grande amigo nosso. E vou contar uma coisa. Que não deveria contar ainda, porque pode não acontecer... Mas em breve teremos outras audições...Acho que depois de dezembro... Para algo que ainda não posso contar...

–Ah professora...Diz ai...

–Direi em breve. Agora...Vamos a aula ? –Perguntei e todos gritaram animados.

 

–E como as coisas estão ai ? –Emma me perguntou e eu dei de ombros.

–Tudo bem. Quase todos os alunos de dança e canto se inscreveram...

–Estava falando com você, mas tudo bem. Quando você sai daqui ?

–Daqui a pouco...Precisa de ajudar ?

–Na verdade...–Ela corou e eu sorri.

–Você é a única irmã mais velha que cora...Sério. Posso adivinhar o que quer ?

–Vai fundo...

–Quer a casa essa noite ? Para ficar a sós com Fernando ? –Eu a olhei sorridente.

–Como...

–É obvio. A casa de vocês está alugada até...2038 ? Que é quando Nando vai entrar em Hogwarts...Então quer dizer que vocês não tem para onde ir. E a minha casa é a primeira opção. Então, eu vou sair com as crianças, até porque Draco e Astoria vão passar o resto da semana com Joe e acho que só a verei dia 31 no aniversário do tio Harry... E depois os levarei para casa de papai e mamãe. E vou sair com Joshe hoje...Então a casa está liberada.

–Tem certeza de que não quer o emprego em Hogwarts ? A nova professora de adivinhação ficaria impressionada com seus poderes...

–Tão engraçada. Fico me perguntando porque todo mundo me fala sobre o cargo de adivinhação em Hogwarts...Um dia desses vou receber uma carta de Neville, me pedindo para dar aulas lá...

–Obrigada maninha....

–De nada Em.

Olhei Emma sair da minha sala... Não sei se você sabe , ou já se sentiu assim, mas eu só conseguia me sentir vazia. É o tipo de momento em que você não sabe o que fazer... Ficar parada olhando para a porta não ajudava em nada, só me fazia pensar. Que talvez Emma estivesse certa e que casar com Joshe fosse apenas uma maneira de tentar ser infeliz.

Peguei minha bolsa, meu casaco e resolvi sair um pouco antes. Minhas aulas haviam acabado. Eu resolvi voltar para casa, arrumar as coisas. Quando cheguei em casa o silencio reinava lá. Fernando e Emma ainda estavam na escola. Ela disse que eles passariam um bom tempo lá. Professores são professores... Não importa em que tipo de escola estejam.

Joguei a bolsa na cama, assim como a roupa que estava vestindo e rumei para o banheiro. Tomei um banho frio, mas relaxador e assim que sai do banheiro escolhi algo para vestir. Coloquei uma blusa folgada e um short, também folgado e desbotado. Desci e arrumei o que podia, tentei arriscar um prato culinário e quando terminei, bem, não estava nem um pouco apresentável. Eu deixei pra lá, Emma poderia se virar com o jantar...

Quando a casa já estava mais que arrumada eu fui para a biblioteca. Havia deixado a pasta lá, na noite anterior. A pasta havia algumas informações sobre a banda de Dec, algumas informações que ele havia me pedido para guardar por enquanto. A biblioteca continuava a mesma de sempre, as paredes altas, longas prateleiras com todos os livros que eu e Scorpius já havíamos lido na vida. Uma mesa enorme no centro, com muitas gavetas e cheia de papeis sobre ela, a janela fechada e a cortina que a cobria.

Procurei a pasta e a achei perto da janela, na poltrona de cor verde escura. A peguei e coloquei na primeira gaveta da mesa. Me sentei na ma cadeira e tentei dar um jeito na bagunça... Tirei alguns papeis daqui, outros dali...E encontrei o livro. O livro que Mirax me deu. Não havia prestado atenção nele antes... Não havia nome na capa, apenas a capa preta e três estrelas. O folheei sem muita atenção e vi que haviam algumas paginas em branco. Achei estranho, não parecia um livro, parecia até um diário.

Resolvi deixá–lo na minha cabeceira, junto do diário. Quando voltei troquei de roupa. Vesti uma calça de couro preto, uma blusa clara com alguns detalhes de florzinhas, um casaco que eu adorava e alguns acessórios da mesma cor. Quando estava pronta desci, fui pegar Joe no colégio de Valentim e Ron no colégio em Londres.

Fui ouvindo uma música que me lembrava o colégio e quando peguei as crianças no colégio as ouvi cantar Accio Love enquanto dirigia para casa dos meus pais. Resolvi adiar o passeio, tinha que jantar com Joshe e precisava me preparar mentalmente para isso.

–Boa tarde! –Falei quando cheguei em casa e vi que meus pais estavam com visitas...

–Boa tarde querida... –Mamãe se apreçou em nos cumprimentar e as crianças foram correndo falar com tio Harry e tia Gina.

–Mãe.. Pai... Tio Harry, Tia Gina... –Cumprimentei os quatro enquanto via as crianças correrem em direção ao jardim, a ponto de não poder mais vê–las.

–Como está querida ? Faz um tempo que não a vejo –Tia Gina me abraçou e logo depois veio tio Harry.

–Concordo. E o casamento ? Soube pelo seu pai... Está animada ? –Tio Harry perguntou e eu dei um sorriso, não muito convincente.

–Ah querida, está muito linda –Papai disse depois de um abraço de urso.

–Obrigada papai... E eu estou animada tio Harry.

Depois disso os três começaram milhares de perguntas. Mamãe não estava nada empolgada com isso, fingia que estava preocupada com os biscoitos que estava assando, mas eu sabia que não era por isso. Eu dei uma desculpa qualquer e rumei para a cozinha, deixando papai, tia Gina e tio Harry falando sobre um jogo de Quadribol, que segundo eles, seria o jogo do século.

–Mamãe... ?

–Oi Rose –Ela me olhou séria e eu me sentei na cadeira.

–O que houve mamãe ?

–Só estou preocupada com você...E esse casamento... Você está certa de que é isso que você quer ? –Mamãe perguntou, mas não tive nem coragem, nem uma  resposta para ela. – Não quero me meter na sua vida...

–Mamãe...

–Não Rose. Deixe–me falar. Você tem que decidir o que quer, se ama mesmo Sebastian... Ou se ... Tem que decidir o que fazer com Joshe, não pode engana–lo...

–Não estou enganando ...

–Você tem certeza disso ? –Mamãe olhou para a porta e novamente para mim. –Não está enganando ele de verdade...Está se enganando. Quanto mais ouço falar nesse casamento... Eu não aceito. Eu não entendo...

–Mamãe...

–Se, quando chegar Maio, você não tiver desistido disso Rose...

–Não vou desistir Mãe!

–Espero que não. –Ela disse e pegou alguns legumes. Achei que o assunto estava encerrado, achei mesmo, mas como mamãe nada nunca está certo até que ela tente de todas as maneiras. –Quando eu e seu pai nos casamos... Eu achei que fosse o melhor momento da minha vida...

–E não foi ? –Perguntei espantada e ela riu.

–Não. Mas está entre os melhores. Um dia, quando chegamos com Hugo da maternidade você e Emma estavam sentadinhas no sofá da sala, Emma quis carregar Hugo no colo imediatamente, mas não deixamos...E você ficou o admirando. Tocando os cabelinhos ruivos dele enquanto sua irmã praticamente tentava arrancá–lo das minhas mãos. Quando eu perguntei porque ela queria isso, ela disse que você não deixava mais que ela a carregasse, e agora vocês teriam Hugo...Bem, você disse que estava assim, porque ele era a coisa mais linda que já havia visto. E eu me senti a pessoa mais feliz do mundo, eu tinha a minha família perfeita, naquela noite eu descobri como era ser feliz e quis, de todo o coração, que vocês, um dia, experimentassem o mesmo...

–Mãe...

–Não chore. Porque você vai ser feliz, vai ser feliz no caminho que escolher.

–Não. Não vou. Mas vou me encarregar de fazer Joe feliz...Porque ela merece isso! –Falei limpando as lágrimas. Abracei mamãe demoradamente e depois me afastei. –Tenho que ir, vou jantar com Joshe... –Mamãe me olhou sem entender e eu dei de ombros.

 

Silêncio.

Dor.

Escuridão.

Angustia...

E mais silêncio.

Um silêncio que estava gritando.

Sei, parece uma poesia dark, mas era apenas a minha cabeça naquele momento. Não havia silêncio, não fora, não havia escuridão ... Havia eu, Joshe, o restaurante, as pessoas, e um enorme vazio. Ele estava sorrindo e contando mais uma vez seus planos.

–O que acha disso ?

–Joshe...

–Rose... –Ele brincou, mas não sorri.

–Porque quer se casar comigo ? –Ele me olhou sem entender, mas não hesitou.

–Porque eu te amo. Porque estamos namorando há bastante tempo, você conhece minha família, eu conheço a sua...Porque isso me faria o homem mais feliz do mundo. Me daria uma família... –Ele segurou minhas mãos e eu senti meus olhos se encherem de lágrimas. Mas não da emoção que uma mulher sentiria ao ouvir que o homem que ela ama, sente o mesmo. Eu senti que a cada dia mais eu me tornava mais hipócrita e nojenta...Como as pessoas que eu sempre detestei...Como Molly. Eu estava ali apenas por mim. Pelo futuro da minha filha, para que uma dia ela pudesse ser feliz...

–Eu...

–Eu te amo! E isso é o que importa! Não sei porque fez a pergunta, mas quero que saiba que te amo, não fique...

–Insegura. Eu estava insegura –Eu sorri e Joshe levou minhas mãos aos seus lábios.

–Não fique. Nunca haverá motivos de minha parte. Nunca.

 

Os dias que se seguiram foram horríveis. As aulas estavam me cansando mais que o normal, eu estava fraca. Tinha os preparativos para o aniversário de Ronald Sirius e até mesmo o presente que escolheria para tio Harry me deixava confusa. Cheguei mais cedo na escola, no dia do aniversário de tio Harry. Havia pedido a ajuda de mamãe para comprar um presente para ele e estava pensando nos últimos preparativos para a festa de Ronzinho quando ‘ela’ apareceu.

–Bom dia, professora... –A palavra foi dita com desprezo e eu

–Bom dia, Amorella. –Falar aquele nome me fazia lembrar do relacionamento dela com Sebastian. E isso me irritava muito.

–O que faz tão cedo aqui ?

–Vim preparar algumas coisas... E você o que faz aqui ?

–Vim falar com você!

–Sobre... ?

–Sua audácia.

–Oi ?

–Não se faça de sonsa –Olhei impressionada para a loira em minha frente. –Eu vi sua ceninha com Sebastian dias atrás, eu vi o beijo...Você acha que ninguém nota como você o olha? Por favor, você é comprometida, o que seu noivo pensaria disso ?

–Eu não sei onde você quer chegar com isso...Mas...

–Ah você sabe sim aonde eu quero chegar. Se não quiser que eu conte ao seu noivinho o que anda  fazendo com Sebastian...Se afaste dele. Não sei porque é tão difícil entender isso... –Ela disse chegando perto de mim e do piano. – Ele não te quer mais. Pare de usá–lo.

–Olhe aqui Amorella...

–Olha aqui você Weasley, se quer ser uma vagabunda , tudo bem. Não me importo que traia seu noivo, com um, dois, ou mil homens, mas não com o meu... –O silêncio se instalou pela sala depois do tapa mais sonoro que eu já havia visto em minha vida.

Amorella segurava o rosto, que agora estava marcado com a palma da minha mão e me lançava um olhar tão mortífero que por alguns momento me perguntei, como ainda estava viva. Eu senti vontade de pedir desculpas, mas ela me ofendeu de uma maneira irreparável, assim como aquele tapa que eu havia acabado de dar em seu rosto, algo irreparável e imperdoável. Me virei para o piano e peguei alguns papeis da aula.

Ela me olhou como quem olha um assassino e depois sorriu. A olhei sem entender e ela bateu palmas satisfeitas. Logo depois passou as mãos pelos olhos, como se estivesse acordando agora, mas isso estava fazendo com que ela ficasse com os olhos vermelhos. Minhas mãos ainda acentuavam sua pele branca, quase pálida. Ela deixou uma lágrima, mais falsa que ela, cair e andou até a saída da minha porta.

–Obrigada por proporcionar a minha volta com Sebastian...Rose Weasley!

Aquilo doeu mais do que eu pensava que doeria. E talvez tenha doido mais ainda ao fim da minha aula. Quando todos os alunos estavam se preparando para ir embora, a víbora também, mas ele ficou lá. Me olhando seriamente, sentado, enquanto os outros saiam. Os últimos dias estavam sendo arrasadores para mim e eu soube que naquele momento, ficariam piores ainda.

–Quero falar com você... –Ele disse com sua voz rouca, irresistivelmente sexy.

–Prossiga.

–Porque fez aquilo com Amorella ? Ela só queria...

–Ela me chamou de vagabunda. Não vou discutir isso com você, o problema é entre ela e eu.

–Não, se o problema sou eu.

–É.Então o que você quer que eu faço, chame ela, você e comece uma conversa sobre a nossa relação ?

–Não. Eu só quero que não tente bater na Amorella... Ela não disse nada demais. Não planejava ser um problema pra você, mas sei que sou. Mas Amorella não...

–Não ? Ela é o problema. Você é o problema. Desde que entrou na minha vida tudo está de cabeça pra baixo, eu não sei mais o que fazer, estou errando desesperadamente, estou mentindo pra Joshe, eu o trai...

–Rose...

–Eu o enganei. Enganei você. Eu nunca, nunca, nunca faria isso com Scorpius... Merlin. Porque. –Eu comecei a falar desesperadamente enquanto andava pela sala. –Porque. Porque...

–Rose!

–Vá embora. Vá embora daqui. Me deixe sozinha. Estou surtando! –Ele ficou me olhando tentando entender, ou talvez, assimilar o que eu estava dizendo. Eu não estava mentindo, em alguns momentos,quando eu ficava nervosa demais, precisava tomar alguns remédios, ou poções.

–O que está acontecendo com você ?

–Você! É você que está acontecendo. E eu não quero mais...Não quero mais que aconteça. –Peguei os comprimidos na minha bolsa,  um copo de água na sala e voltei a olhar para ele. –Me desculpe por Amorella. Prometo que nem mais notarão que estou aqui.

–Rose...O que você vai... ? –Depois que engoli os remédios, peguei minha bolsa, meu casaco e sai da sala.

Passei na sala da diretoria e continuava a mesma coisa. Kalshe não estava ali, Roxi estava no hospital e Nina nem ao menos olhava em minha cara. Eu apenas deixei tudo ali e resolvi ir logo pra casa. Joe estava com Draco e Astoria, mas com o aniversário de tio Harry viria com eles. Ronald estava com meus pais e Fernando e Emma não estavam mais dando sinal de vida. Eu me arrumei enquanto ouvia algumas músicas antigas.  Estava tentando não pensar em Sebastian, no meu surto e na maldita Amorella.

Esperei Joshe vir me buscar para irmos ao aniversário de tio Harry.  Ele estava elegantemente arrumado e não parava de falar no aniversário e em como todos da família o aceitavam bem. Eu apenas assentia a tudo.

O aniversário de tio Harry foi como em todos os anos, ele cumprimentava todos que entravam, a família se divertia a beça e os convidados também, havia uma entrega de presentes engraçada, tio Harry tirava milhares de fotos com a família, muitas dessas com meus pais. Ele e papai bebiam mais do que deviam e dançavam na pista de uma maneira que nem Hugo, James ou Alvo dançariam. E quando acabou eu, Joe e Joshe voltamos para casa.

 

 

A gritaria. As crianças. As mães sem saber para onde ir. Doces de todas as cores possíveis. Músicas infantis. Eu apenas ria do desespero de Emma para que todos ficassem bem no aniversário. Ela voltou com uma bandeja na mão, e eu peguei alguns.

–Ótima irmã, você. Poderia me ajudar com todas essas crianças ?

–Ah maninha...Estou tomando conta das... Das bebidas! –Eu disse e Emma revirou os olhos.

–Rose, receba as visitas ok? Afinal você é a anfitriã...

–Ei. Eu sou só uma boa espectadora.

–Você a dona da casa e minha irmã mais nova, então ouça o que eu digo e calada.

–Controladora...–Eu resmunguei e Emma riu alto. Fui para a porta, receber as mãe e as crianças.

Conversei algum tempo com Sara, com Roxi, deixei Nina passar batida e recebi Alvo com Nico e o...Noah. Ele havia levado os dois filhos ao aniversário de Ron.

–Eu te procurei...

–Eu sei. Estava em uma missão. Incomunicável.

–Alvo...

–Me desculpe Rose. Acho que eu estou ferrando com tudo –Ele disse quando as crianças foram brincar com as outras.

–Eu também. Acredita que nem Nina fala mais comigo...

–Acho que isso só pode ser maldição de quem nasce no dia 17... –Ele disse e eu ri.  – Soube do seu casamento... – Ele disse depois de um longo tempo de silêncio entre nós dois, quebrado apenas pelo riso das crianças, as músicas infantis e a conversa de alguns adultos.

–Ei Rose! –O sorriso de Amanda Carry Batist me atingiu em cheio.

–Oi Carry...Amanda...

–Como está querida ?

–Estou bem você ? –Alvo deu um tchauzinho com a mão fazendo uma careta.

–Ótima, soube que vai se casar novamente...Que lindo. Aposto que Scorpius aprovaria Joshe...Se ele estivesse aqui. –Eu juro que senti vontade de enfiar minha mão na cara dela como fiz com Amorella, mas me controlei. –Quem é aquele menininho com Nico ?

–Noah...

–Filho de quem ?

–Meu filho! –Alvo falou praticamente ressurgindo das cinzas.

–Parabéns, mas de onde surgiu a criança ?

–Amanda cadê o Charles ? –Perguntei para que Alvo não precisasse responder aquela pergunta e ela de um sorriso fraco.

–Com o Dominic! –Ela disse tirando o sorriso do rosto. –Rose querida...Preciso te dizer uma coisa.

–O que Amanda ?

–Acho que Dominic está me traindo...

–Sério ? Porque ? –Perguntei cinicamente e ela deu de ombros.

–Não faço a mínima ideia. Estou arrasada com isso é claro. Mas respeitarei as escolhas dele...

–Claro que sim. Me diz uma coisa Amanda... –Eu chamei minha atenção para outro assunto. –Porque não me disse que foi amiga da Molly ? –Seu rosto empalideceu por alguns instantes e ela perdeu seu costumeiro sorriso sínico.

–Eu... Eu não sei do que está falando. De onde tirou que fui amiga da Molly ?

–Eu tenho minhas fontes.

–Suas fontes então... Não estão tão antenadas assim. Não tive nada a ver com Molly... –Ela disse e olhou alguém ao longe. –Vou falar com Kalshe ok ? Depois te vejo querida.

Eu realmente não havia desconfiado de Amanda a principio. Sempre a achei insuportável e por algum tempo me tornei sua amiga, mas nunca me enganei com ela. E as desconfianças de Roxi e Dominic me deixavam com algo sério para pensar. Porque ela não queria que eu soubesse que foi amiga de Molly ? Fiquei pensando nisso durante toda a festa e resolvi procurar ajuda em um lugar que eu sabia que teria.

 

 

–A que devo a honra da sua visita ?

–Preciso de ajuda.

–Ajuda com o que exatamente ?

–Algumas respostas que só você conseguirá... Eu preciso saber, se conhece alguém que saiba quem é verdadeiramente Amanda Carry.

–Está falando daquela medica loira ? –Ela perguntou e eu assenti. – Imaginei que fosse fazer essa visita para falar sobre ela... Soube de umas coisas...

–Que coisas ?

–Não existe uma Amanda Carry, em lugar alguma. Mandy Lock Charles seria o nome correto dessa...Médica. E até ai imagino que já saiba, já que sua prima andou fazendo perguntas a McGonagall.

–Como você sabe disso tudo ?  –Eu sempre me perguntava como ela sabia de tudo.

–Eu tenho bons informantes. Em todos os lugares... De todas as formas.

–Ok, ok. Agora me diga o que eu ainda não sei.

–Ela é realmente amiga da sua prima maluca... A que está presa. Ela fez umas visitinhas outro dia. –Eu estava chocada. –Mas não sei se Weasley ainda é amiga dela.

–Isso foi meio confuso.

–A Weasley assassina não quis receber a visita dela, ela meio que impôs isso. Weasley continua a mesma víbora de sempre, mas ela tem medo de Charles, não sei exatamente porque, mas acho que Charles tem alguém poder sobre ela.

–Está dizendo que Molly, uma das maiores assassinas de bruxas do mundo bruxo tem medo de uma médica ?

–Uma médica que foi amiga dela. Que sabe todos seus podres...E que mexe com magia negra, assim como ela. Sabe de outra coisa que eu descobri sobre ela ? –Rita riu enquanto perguntava.

–Nossa, o que foi ?

–Ela tem uma caixa. Uma caixa de bombons, ela espalha para Merlin e o mundo que foi dá avó dela, uma velha caduca que era trouxa. A caixa se enche de bombons assim que eles acabam... Mas não é magia dos elfos; Eu passei um bom tempo pesquisando sobre isso, e só existe uma coisa que pode fazer com que isso aconteça, além dos elfos...

–O quê ?

–A magia negra. –Rita disse balançando a cabeça –Ela fez um pacto quando era mais nova... Ela prometeu algo em toca da caixa de bombons da avó, ela queria que os bombons sempre voltassem e lembrasse aquela que partiu.

–Está dizendo que os bombons que ela oferece naquela caixa e diz que é da avó na verdade são bombons de algum pacto maluco que ela fez para que a caixa nunca ficasse vazia ?

–Isso mesmo.

–Quanto mais eu vejo algo sobre Amanda...Mas me assusto. Ela é mesmo praticante de magia negra ?

–É. Rose, eu não vou dizer como sei, mas sei que você está desconfiando que Molly deixou Scorpius no corpo desse rapaz novo...Sebastian.

–Eu ainda me pergunto, como você sabe dessas coisas...

–Isso é segredo, minha cara Weasley. Mas o que importa é isso... –Rita tirou um pequeno livro da prateleira da sua sala. –Esse livro aqui, fala sobre a pratica de magia negra e um pequeno fenômeno que eles chamam de... Inversão de corpos. Bem se você acha que ela fez isso, está enganada. Se ela tivesse feito isso, Scorpius nunca mais poderia voltar para o corpo dela.

–Porque não ?

–Se uma alma, mudar uma vez do corpo, não volta jamais. Pelo menos, é o que diz a inversão de corpos. Não é como uma poção...Um feitiço...Isso é a mudança das almas, algo que não deve acontecer.

–Ai meu Merlin...E se ela tiver feito isso mesmo assim ? –Eu perguntei e Rita revirou os olhos.

–Rose, poderia pensar um pouco ? Estou achando que esses tempos longe do Profeta a fez perder a capacidade de ter um pensamento coerente! –Eu estava quase concordando com ela. –Ela não fez isso Rose! Ele não trocou de corpo... Talvez tenha o matado mesmo...

–Oh.

–Não podemos dizer se é verdade ou não, mas ela não tiraria a alma dele, porque nunca nada mais seria como antes.

–Eu não sei como descobre essas coisas... Eu não sei porque descobre coisas assim Rita.

–Ajudar os amigos vale ? –Ela disse com um pequeno sorriso, tão atípico de Rita Skeeter que me fez sorrir também.

–Vale, muito.

–E como está a pequena Malfoy ? –Ela perguntou sorrindo. –A última vez que a vi... Ela disse que queria ser igualzinha a mim. –Eu apenas ri e revirei os olhos.

–Você é uma figura! Ela está ótima...

–E você ? Como está ? –Ela voltou a ficar séria e eu demorei um pouco a entender sua pergunta.

–Ah, como eu poderia esquecer. Você já sabe sobre meu casamento.

–Sei. E acho um absurdo, aposto que é até sua mãe... –Ela fez uma careta –Não está de acordo com isso.

–Não...Não está. Eu simplesmente não entendo porque. É tão difícil aceitar que eu gosto do Joshe, ele é um cara especial....

–Não para você. Se houver casamento você se arrependerá pela resto da vida.

–Eu não entendo porque vocês não gostam da ideia de...

–Rose. Todos falaram que não acham que você deveria casar, mas eu direi o porque disso. Você não ama esse trouxa... Se o amasse não teria o traído com o desmemoriado, que pode ou não, ser Scorpius.  Se amasse Joshe pararia com esses questionamentos sobre Scorpius, Sebastian ou sei lá quantas formas esta criatura tem em sua mente e se focaria no dia mais feliz da sua vida.

–No dia mais feliz da minha vida ? –Eu perguntei e ela revirou os olhos.

–O seu casamento! –Ela disse e eu me envergonhei por não saber a resposta. –É disso que estou falando, se fosse o melhor dia da sua vida você ao menos saberia do que estou falando. Por Merlin! Não pode se casar com um homem porque ele gosta da sua filha de 5 anos. Isso é sinal de que não está bem. Pode acreditar, se até a hora do sim, você não tiver desistido desse casamento idiota eu mesmo farei com que você desista.

–Rita!

–Não me olhe assim. É o que todos querem fazer. Colocar o mínimo de juízo nessa sua cabecinha não ruiva. –Eu sorri para ela.

–Estou em meu pleno juízo.

–Isso é o que você pensa, querida. Agora...Me diga uma coisa...

–Pergunte.

–Está gostando de ensinar lá ? Naquela escolinha ? –Ela fez uma careta, muito engraçada, diga–se de passagem, e eu ri.

–Não é você que sabe sobre tudo...Como não sabe disso ?–Eu ri alto e Rita Skeeter riu comigo.

–Me pegou Malfoy... –Ela me chamou de Malfoy, e eu me arrepiei. –Você é a viúva dele, não sei porque voltaram a te chamar de Weasley.

–Eu pedi... É triste ser chamada de senhora Malfoy quando não tenho o meu Malfoy do lado.

–Mas tem a Malfoyzinha –Eu assenti. –Você poderia deixar a escola por um tempo... Ou por um bom tempo. Só conheço uma jornalista boa o bastante para tomar meu lugar, e ela não trabalha mais para mim.

–Está me convidando para voltar para o profeta ?

–Estou.

–Mas...

–Rose, ser professora de dança, na minha opinião, não é algo que combine com você. Se lembra quando chegou logo aqui ? Você sempre esteve com sede de aprender, enquanto estagiava construía seu caminho dentro do profeta. Foi uma das melhores jornalistas que já passou por aqui, porque sempre amou o que fez e eu sei que ainda ama, por isso sei que você é a única pessoa que poderá me substituir e um dia você achará alguém bom o suficiente pra substituir...E eu até já sei quem.

–Você...

–Volte, Rose! Volte a fazer parte do Profeta, deixe que suas amigas tomem conta da escola... Eu sei que no momento é isso que você quer. Sem Sebastian pra tirar você do “bom” caminho, você vai ter tempo pra refletir se é isso que você quer, sem ter a pressão de todos. Ah, sem contar que vai trabalhar com o que realmente ama...

–As vezes eu me pergunto se existe algo que você não consiga... –Falei depois de alguns segundos de silêncio.

–Então quer dizer que vai voltar... ?

–Vou. Mas quero dar um apoio a AD, talvez aos fins de semana...

–Depois diz que gosta do trouxa... –Rita disse e eu revirei os olhos me segurando para não rir.

–Ele não vai ligar em me ajudar.

–E quando pode começar ?

–Poderia começar amanhã mesmo...Mas tenho que explicar aos meus alunos porque sairei , então, te vejo na quinta. –Me levantei e apertei sua mão.

–Te vejo na quinta...Malfoy! –Rita disse quando eu estava prestes a abrir a porta.

–Até, Skeeter!

 

 

–O quê ? – As três disseram em uníssono.

–Isso ai. Eu vou voltar a trabalhar no Profeta Diário.

–Mas porque está nos avisando agora ? Porque não foi logo pra lá e deixou seus alunos desamparados ? –E essa foi a alegria de Nina pela minha partida.

–Não é bem assim, você tem que arranjar outra professora de dança... –Kalshe começou.

–Eu já arranjei outra professora para ensinar o que eu ensino. Mas quero continuar participando da AD, nos projetos administrativos, das audições talvez...

–Você está sendo tão egoísta Rose... –Mais uma vez Nina falou irritada.

–Eu estou egoísta ? Não. Você é quem está magoada porque eu fui sincera com você. Sinceramente, se queria que eu mentisse pra você, porque não disse antes ? Eu poderia ter sido falsa ou te dizer que papai Noel existe, talvez eu tivesse sido melhor se fizesse isso.

–Porque não mentiu ? Não é isso que você faz de melhor ? –Ela gritou alto e eu me calei. Kalshe nos olhou desconfortável e Roxi, que ainda não havia se metido suspirou alto.

–Não vejo problema algum em Rose voltar para o Profeta, é o que ela gosta. E além disso, Rose disse que quer continuar com os projetos, AD é uma escolha de sonhos, se uma das idealizadoras não pode seguir os sonhos dela, como poderemos inspirar nossos alunos a seguir os sonhos deles ? Vocês estão sendo severas com Rose.

–Eu concordo com a saída dela. –Kalshe assentiu e voltou a sentar–se, mas Nina estava profundamente irritada. Não só comigo, com o mundo, pelo que eu lhe disse, por achar que está perdendo James. Tudo aquilo contribuía.

–Dois votos, não dá pra competir Nina. –Ela nem ao menos me olhou.

–Venceram! Agora voltarei ao meu trabalho...

–Nina...

–Não quero falar com você. –Ela disse sentando–se em sua cadeira e eu assenti.

–Tudo bem. Estarei esperando você amadurecer! –Falei sem olhar para trás.

–Eu vou com você... –Roxi disse e eu assenti.

–Não sei até quando elas ficarão assim...

–Espere mais um pouco...

–Faz quase um mês, um mês eu disse aquilo a Nina...E que Kalshe descobriu sobre Alvo.

–Uma horas elas terão que aceitar, Nina está machucada, por que acredita mesmo que James não a ame. Ela se torna infantil quando está triste. Kalshe está magoada pela mentira, ou omissão da verdade... Aposto que logo ela estará fazendo chocolate quente para nós quatro enquanto conversamos sobre como Alvo lhe pediu desculpas.

–Você acha que uma hora isso vai passar ? –Perguntei e Roxi assentiu.

–Vai, quando você menos esperar. Não fique assim Ross, tudo vai se resolver. Vai se despedir deles agora ?  –Roxi perguntou assim que paramos na frente da minha sala, estavam todos os meus alunos lá, havíamos pedido que todos estivessem ali para receber o tal comunicado. –Vou entrar com você.

–Obrigada!

Eu estava com o coração na mão. Vi todos os meus alguns ansiosos pelo comunicado e me senti uma grande traidora, não queria abandoná–los, não mesmo, mas faria de qualquer jeito. Eu dei um sorrisinho tão falso que doeu em mim. Olhei para todos eles, em breve teriam outro professor, me teriam apenas como coordenadora da turma, eu gostava de todos eles, mas meu tempo como eles havia acabado. Eu estava voltando...Voltando a fazer o que eu sempre amei fazer.

–Oi turma!

–Oi Rose! –A maioria gritou entusiasmada.

–Eu não queria começar falando do que eu vim falar, porque isso me deixa triste, totalmente triste... –Olhei para Roxi e ela fez um gesto firme para que eu continuasse. –Eu estou deixando a turma de vocês na AD –Ouvimos muitas exclamações e uma delas sobressaiu as outras. Foi de Cléo, uma garota de 18 anos vinda do Brasil.

–Eles demitiram a senhora, professora ? –Eu sorri e neguei com cabeça.

–Como todos sabem, antes de me aventurar como professora eu era Jornalista, na verdade, nunca deixei de ser Jornalista. Meu sonho sempre foi trabalhar em um determinado Jornal, desde que eu era uma menina, eu lutei até conseguir chegar a esse jornal e quando eu estava lá, me tornei Editora–Chefe por um bom tempo... Mas eu perdi a essência, eu não tinha mais condições de estar lá, fui para uma revista, ligada ao jornal...E quando não dava mais sai. Junto com as garotas, Roxi, Nina e Kalshe, idealizei a escola. Um lugar para as pessoas que sonham, mas esqueci um pouco dos meus sonhos. E hoje, depois de uma conversa com a minha ex chefe eu fui chamada para voltar ao jornal e acho que é uma das melhores noticias que tive nos últimos tempos. Não irei abandoná–los, de forma alguma. Serei a coordenadora da turma de vocês e qualquer coisa poderão me procurar, porque agora tenho dois trabalhos incríveis a fazer, ajudar vocês a realizarem seus sonhos e continuar realizando os meus. Os verei todo final de semana e quando a saudade apertar eu venho, podem acreditar. –Eu disse deixando alguns lágrimas caírem, todos estavam sérios, Regina, que estava ali de intrusa, estava chorando e veio me abraçar.

–Abraço em grupo –Ouvi alguém gritar e senti aquele mar de alunos se reunindo em um abraço coletivo, para mim.

Depois de muita conversa, uma última aula e muitos abraços eu me despedi de todos eles, até mesmo de Sebastian. Que me abraçou forte e, sob os olhares vigilantes de Amorella, que agora sorria abertamente, me disse sussurradamente “Siga seus sonhos Rose...”. Eu o agradeci e quando terminei, agradeci a todos e fui embora, não antes de dizer que os encontraria no sábado.

Precisava sair, respirar outros ares, dirigir...Sim, dirigir. Uma das coisas que sempre gostei foi de dirigir. Porque sempre aliviou a minha mente, me ajudava não pensar demais, ou pensar... Só que em coisas boas. Me despedi de Roxi e segui para meu carro. Liguei o som, abri as janelas. E liguei o motor.

Tenho encarado a estrada aberta

Você pode ser meu em tempo integral, papai

Branco e dourado

Cantar blues está ficando fora de moda

Você pode ser meu em tempo integral, meu bem

Frio ou quente

Fiz a curva no estacionamento e , pelo retrovisor, o vi. Ele estava encolhido, sentado em um canto, com as pernas junto ao corpo e as mão na cabeça. E ela foi até ele, o abraçou e fez com que ele chorasse em seu ombro. Fez com que ele voltasse a confiar nela...Segurei com força no volante enquanto Sebastian e Amorella saiam do meu campo de visão.

Pisei no acelerador, mas não ultrapassei a velocidade limite. Senti o vento entrar pelas janelas e bagunçar meus cabelos. O vento balançava tudo, levava algumas coisas embora e trazia outras. O vento, a estrada, dirigir...Tudo isso me deixava absorta.

Não me deixe mal

Tenho viajado por muito tempo

Tenho me esforçado demais

Com uma bela canção

Estava tentando organizar meus pensamentos, minha vida. Aonde eu tinha parado de ser a Rose que havia se casado com Scorpius Malfoy e tido uma bela família... ? Aonde eu havia desistido de tudo ? Eu estava dirigindo minha vida de uma maneira errada, eu dirigia melhor meu carro do que minha vida...Eu estava perdendo todos que amava, aquilo me dava medo. Muito bem.

Ter amigos é ter uma família além da sua. Pessoas que você escolhe. Pessoas de confiança, com quem você sempre pode contar e que nunca, nem mesmo nos piores momentos, te trairiam. Eu estava os perdendo, precisava dar um jeito de consertar. Senti algumas lágrimas molharem meu rosto e logo serem levadas pelo vendo. O vento sempre leva tudo.

Ouço os pássaros na brisa de verão, dirijo rápido

Estou sozinha à meia noite

Estou tentando não me meter em confusão, mas eu

Tenho uma guerra em minha mente

Então, eu simplesmente dirijo

Simplesmente dirijo

Então, eu simplesmente dirijo

Simplesmente dirijo

Cantarolei a música que vinha do rádio, mesmo sabendo que não conseguiria tirar todos os problemas da cabeça, naquele momento eu queria esquecer de tudo. Esquecer quem eu era...E as vezes, eu me perguntava quem eu era. Quem era Rose Weasley Malfoy. Não sabia responder, eu ainda não sabia responder aquilo.

E então, no silencio daquela tarde fria, eu apenas dirigi. Com o vento balançando meus cabelos, com a música deprimente no rádio. Com todos os momentos que em minha mente passavam como um filme. De todos os medos e todas as frustrações...

Morrer jovem e aproveitar muito

Foi assim que meu pai fez de sua vida uma arte

Bebemos o dia inteiro, e conversamos até anoitecer

É assim que os viajantes fazem, dirigem até escurecer

Não me deixe agora

Não diga adeus

Não dê as costas

Não me deixe na mão

Ouvi meu celular tocar.Era Joshe, olhei para o telefone mas não pude atendê–lo. Não, na verdade eu poderia. Poderia encostar o carro, parar por alguns segundos e atendê–lo. A verdade é que eu não queria. Não queria ter que atendê–lo, ter que falar com ele... Queria continuar deixando que o vento levasse todos os sentimentos ruins.

Queria ali, naquele momento, lavar minha alma...Dirigindo. Depois de algumas ligações não atendidas ele parou de ligar. E eu continuei dirigindo, não sabia para onde estava indo e nem quando voltaria...

Ouço os pássaros na brisa de verão, dirijo rápido

Estou sozinha à meia noite

Estou tentando não me meter em confusão, mas eu

Tenho uma guerra em minha mente

Eu simplesmente dirijo

Eu simplesmente dirijo

Eu simplesmente dirijo

Eu simplesmente dirijo

Me senti como nos filmes, onde a pessoa está na reta final. Onde tem duas alternativas e ela sabe qual usar. Onde acontece o clímax, quando  a mocinha consegue reverter toda a situação e faz com que todos voltem a gostar dela... Quando todos se mobilizam para que ela fique bem.

Mas eu não era a mocinha da história. Não sabia como reverter as coisas, nem ao menos tinha uma saída concreta em minha mente. Não queria pensar sobre isso, mas parecia que a cada segundo e a cada pensamento omitido vinha algum em minha mente param e fazer pensar sobre aquilo.

Estou cansada de me sentir como se eu fosse louca

Estou cansada de dirigir até ver estrelas em meus olhos

É tudo que eu tenho para me manter sã, querido

Então eu simplesmente dirijo

Eu só dirijo

Eu passei um bom tempo na estrada. Com o vento bagunçando meus cabelos, balançando minhas roupas, desfazendo todos os laços e desatando os nós que estavam em minha mente. Me enchendo de arrepios, me dando forças para olhar o mundo de outra forma, para pensar.

Sabia que estava na hora de voltar .Voltar para minha realidade. Para tudo o que eu estava cultivando, mesmo que as vezes eu me sentisse triste demais para isso. Continuei dirigindo...Dirigindo de volta para casa. Para que, talvez, a dor pudesse passar.

Ouço os pássaros na brisa de verão, dirijo rápido

Estou sozinha à meia noite

Estou tentando não me meter em confusão, mas eu

Tenho uma guerra em minha mente

Eu simplesmente dirijo

Eu simplesmente dirijo

Eu simplesmente dirijo

Eu simplesmente dirijo

Parei o carro em frente a minha casa e fiquei ali. Não estava mais estrada, mas tentava pensar como antes. Tentava...Só tentava. Fiquei ali até ter que buscar Joe na escola. Não quis entrar em casa, não quis falar com ninguém, contar as novidades...Não quis. Só precisava de algo que curasse a minha dor. Como o abraço da minha pequena...

 

 

As semanas se passaram rapidamente. Talvez por estar de volta ao profeta...Junto com Sara, que me atualizava de todas as coisas boas que aconteciam com ela e com Dominic. Ou com Dominique...Que me lembrava sobre ela e Fred e como agora a relação dela com Sara estava mais amigável. Rita, que parecia estar sempre de olho em mim com o pretexto de estar me vigiando para saber se eu ainda merecia o cargo.

E todos os fins de semana eu continuava a coordenar, ajudar todos os alunos com tudo até com as audições, que, quando acabaram podemos escolher um vencedor, Piter ganhou o privilegio de entrar para a banda de Dec, algo que fez com que Regina sentisse bastante, então, a pedido dos dois trocamos o vencedor...Sebastian entrou para a banda de Dec e deixou a escola. Não, sem antes nos agradecer por tudo, da melhor maneira que ele conhecia...Cantando.

Estávamos todos no salão principal reunidos para nos despedirmos dele. Amorella dizia estar triste pois passaria um bom tempo sem vê–lo. Se ela estava triste...Não sabia o quão destroçada eu estava. Disse estar feliz pela chance dele, de estar em uma banda maravilhosa como aquela...Mas eu não estava feliz. Sim, meu egoísmo venceu, eu não poderia admitir para mim mesma estar feliz, porque não estava, nem um pouco.

Quando ele subiu ao palco improvisado eu senti meu coração apertar...Senti uma pequena angustia tomar conta de mim. Quando ele deu o tom para os músicos senti que minha vida estava acabando. Dec ficou do meu lado durante a apresentação dele e Mabi do outro.

 –Ele tem um talento incrível Rose. Mas...

–Mas ? –Eu perguntei olhando–o sem entender.

–Tem certeza que não quer mantê–lo aqui ?

–Não, não quero. Quero que ele brilhe...E de preferência longe daquela... Daquela...

–Vaca ? –Mabi falou fazendo com que Dec risse, eu estava tentando a todo custo não tentar rir.

A vida é muito curta para se importar com ela, whoah

Eu estou perdendo a cabeça, perdendo a cabeça, perdendo o controle

Aqueles peixes no mar estão me encarando, oh oh

Oh oh oh oh

Um mundo molhado anseia pela batida de uma bateria,

Whoah-oh

 

Sebastian começou a cantar. E eu estava bebendo todas as palavras da música que ele estava cantando. Assim como a maioria dos seus colegas... Amorella estava bem na frente, pulando feito louca e me deixando irritada. Todos estavam dançando animadamente enquanto ele cantava.  Estava pensando em todos os momentos que tive com ele e tentando não chorar.

Não queria acreditar que era uma despedida, Dec e Mabi me abraçaram , cada um de seu lado e eu sorri. Com ajuda de Mabi e Dec eu consegui ficar firme até ele acabar de cantar e descer do palco. Todos foram ao encontro dele, abraços, beijos, promessas, pude ouvir tanta coisa. Me afastei dali, odiava despedidas.

Se eu conseguisse achar um jeito de ver isso melhor

Eu fugiria

Pra algum destino que eu já deveria ter encontrado

Eu estou esperando esse xarope pra tosse fazer efeito, fazer efeito

–Está fugindo de mim, Rose Weasley ? –Algum tempo depois de sair de perto de toda aquela gente ouvi a voz de Sebastian.

Eu estava sentada nos fundos da escola. Imaginando o que ele estaria fazendo dali a cinco meses, no dia do meu casamento. Em como eu queria arranjar uma boa desculpa para não deixá–lo ir embora, em como eu sempre queria fazer algo, mas acabava deixando para lá. Olhei para Sebastian, ele estava encostado na porta, me olhando com um pequeno sorriso.

–Não. Eu só fiquei com ...

–Dor de cabeça ?

–Exatamente! Como adivinhou ? –Eu brinquei e ele sorriu.

 

A vida é muito curta para se importar com ela, whoah

Estou chegando agora, chegando agora, saindo do nada

Esses zumbis no parque, eles estão procurando por meu coração

Oh oh oh oh

Um mundo escuro anseia por um respingo do Sol, oh

Sebastian caminhou lentamente até mim e se sentou do meu lado. A vista dos fundos da porta dos fundos da escola era incrível. Havia um estacionamento entre a escola e uma pequena floresta. As árvores eram pequenas e separadas, com flores de todas as cores que sempre balançavam alegremente. Eu gostava de olhá–las, gostava de ouvir o farfalhar que as flores faziam.

Olhei para aquele belo lugar se pude sentir as árvores me chamarem. Olhei para Sebastian ao meu lado e ele também olhava para a floresta, quando notou que  eu o olhava, olhou para mim de volta. Seu sorriso continuou o mesmo e seus olhos caçaram os meus como se procurassem uma resposta, explicação ou algo do tipo.

Se eu conseguisse achar um jeito de ver isso melhor

Eu fugiria

Pra algum destino que eu já deveria ter encontrado

Minha mente trabalhava furiosamente, meu coração aceleradamente, mas meus lábios não se moviam. Eu olhei, queria dizer algo, mais uma vez me desculpar por ter o enganado ou até mesmo pedir para que ele não fosse, mas não consegui, lhe dei um sorriso amarelo e continuei a olhá–lo.

–Porque está aqui fora ? –Me assustei quando notei que eu havia falado aquilo. –Quero dizer... Tem uma festa lá dentro para você, e além disso...Precisa conversar com seus colegas, seus amigos...–Parei de falar quando notei que ele continuava a me olhar com seu costumeiro sorrisinho.

Então eu corro para o que eles disseram que poderiam me restaurar

Restaurar a vida do jeito que ela deveria ser

Estou esperando esse xarope pra tosse

Fazer efeito

 

–Eu pensei muito no que lhe falar quando viesse aqui... Mas quando eu te vejo todos meus pensamentos somem, eu não consigo mais pensar em nada coerente. Achei injusto que eu ganhasse a chance de ir para a banda do Dec quando foi o Piter que passou...Mas depois de ouvir um monologo dele e outro da Reg...Acho que é melhor que eles fiquem juntos. Pelo menos os dois ficarão juntos...

–Eu...

A vida é muito curta para se importar com ela, whoah

Eu estou perdendo a cabeça, perdendo a cabeça, perdendo o controle

Se eu conseguisse achar um jeito de ver isso melhor

Eu fugiria

Pra algum destino que eu já deveria ter encontrado

–Só me deixe terminar de falar Rose! –Ele me cortou. –Sinto por não podermos ter algo. Você é uma das mulheres mais...Ou talvez seja a mais, a mais... Você as vezes é tão Rose, que acho que apenas dizer seu nome já é um elogio. Não queria ter que ir, não queria ficar. Sabe um sentimento paradoxo ? Eu não consigo deixar de te amar, mas não sei se quero te amar. Quero te manter longe de mim, mas a primeira coisa que penso quando a vejo é que você poderia estar do meu lado, por toda a vida...E eu não sei se um dia vou entender porque traiu seu noivo já que o ama...

–Eu não o amo! –Eu disse alto e seus olhos chegaram a brilhar.  Minha cabeça ainda estava rodando e eu não queria lhe dizer nada. –Joshe vai ser um marido maravilhoso...

Então eu corro para o que eles disseram que poderiam me restaurar

Restaurar a vida do jeito que ela deveria ser

Estou esperando esse xarope pra tosse

Fazer efeito

–Você não o ama e vai casar com ele ? O que há com você Rose ? Porque isso ?

–Eu tenho que ir...Joe está com meus pais, não posso deixá–la lá hoje... Espero que tenha boa sorte lá com a banda... –Ele segurou meu braço quando eu me levantei e eu não pude sair dali correndo, da maneira que eu queria.

–Não irá embora sem me dizer o porque...

–Você merece alguém tão maravilhoso e talentoso quanto você –Eu disse –Alguém que sempre estará aqui pra você, alguém que não te decepcione. Alguém que te ajude e não quer minta pra você! –Eu disse deixando algumas lágrimas caírem.

 

Mais uma colherada de xarope pra tosse agora, oh

Mais uma colherada de xarope pra tosse agora, oh

Ele me abraçou forte. E quando o abraço acabou, limpou algumas das minhas lágrimas.

–Eu mereço alguém que me ame. Assim como você, seu noivo ou qualquer outra pessoa no mundo. –Ele disse acariciando meu rosto. – Sei que não entenderá isso agora. Como sua amiga não entendeu aquilo que você lhe disse...Você prefere sofrer a aceitar algumas coisas. Não sou eu quem irei te fazer pensar ao contrário. Só espero que você consiga alguém especial. Porque você merece Rose...–Ele beijou minha testa.

–Adeus... –Eu disse quando ele começou a se afastar.

–Até logo...Nem toda despedida é para sempre!

 

***

 

–Não vai dizer nada ?

–Porque não foi atrás dele ? Porque não pediu que ele ficasse ? Porque estava se fazendo sofrer ?

–Porque eu estava perdida. Perdida em pensamentos, perdida nas lembranças... Eu nem ao menos sabia se Sebastian era Scorpius ou não. Eu estava presa...E não sabia como me libertar. –Falei e depois de alguns minutos de silêncio a árvore respirou fundo?!?

–Prossiga, quero saber de todos os detalhes sórdidos! –Ah essa dona árvore...Não tinha jeito mesmo.

Fim do capitulo 29

N/a:  Oi gente, como estão ? Eu espero que bem... Então, post rápido né ? Pois é, gosto e não gosto desse capitulo, mas não é por isso que resolvi postar mais rápido. Como já havia dito anteriormente, provavelmente quero terminar a fanfic, dia 24/01 e para que isso aconteça, preciso escrever os dois últimos capitulos e o epilogo e preciso postar com frequência. Espero conseguir manter essa "meta" e espero que os próximos capitulos sejam mais interessantes e esclarecedores. 

Luhna: Não foi dessa vez, Luhna. O Joshe não deixou a Rose... Todo mundo resolveu pegar um pouco do azar dessa autora maléfica... Mas garanto que tentarei resolver todos esses problemas até o fim da fanfic.  Ahhhhhhh sim *-* Minha mãe me contou uma vez e eu passei a procurar ela e quando achei outro dia, vi que se encaixava direitinho na fanfic. Eu fico tentando colocar em prática a ideia da história.  Nina, é a mais, como posso dizer isso..., Nem é algo como infantil, mas ela é a doce. A que acredita em amores verdadeiros, a mais romântica das garotas e ver seu romance, que tinha que ser perfeito, desandar dessa forma, só a deixa maluca... Ela só vai entender realmente o que Rose está dizendo quando mudar um pouco internamente. Eu também não queria tá na pele dela, porque não sou tão romântica e também não sei se tão compreensiva (só vivenciando pra saber).  kkkkkkkkkkk Sabe que eu gosto do Joshe ? Nem coloquei o personagem dele lá nos personagens, mas vou fazer isso e vou colocar no fim desse capitulo o pobre coitado... Ele foi mesmo inconveniente, mas poxa, o cara está apaixonado, iludido, ele queria fazer uma surpresa, Rose vai rebolar muito pra contar isso a ele eu ainda acho que ela meio má quando se trata do Joshe, poderia liberar ele antes, contar logo tudo... E eu ficaria mega chateada com Rose... No caso de Joshe e Sebastian ela está mais que errada. Emma conseguiu se resolver e eu gostei de trazê-la de volta. Acho que ela é uma personagem legal, quero mantê-la até o final da fanfic.  kkkkkkkkkkkkkkk não nesse capitulo, apesar de achar que se encaixaria perfeitamente nele, é que Rose tá estragando tanta, mais tanta coisa... E espero que o capitulo no qual ela vai ser inserida, agrade.  Concordo, gosto da Marley, mas Rachel é Rachel... Eu assisti alguns episódios da 5 temporada, mas não é como antes realmente... O episodio do tributo então, me acabei de chorar aqui. Roxi e Dominic vão trazer tudo a tona... E, de certo modo, com a ajuda de uma certa pessoinha que Rose vai "acidentalmente" ficar de frente novamente.  Vamos continuar \o/ Obrigada pelo comentário Luhna, fico feliz que esteja acompanhando a fanfic, flr. Beijoos!


Maah Malfoy : Hey Maah. Pode tentar dizer quem é a arvore... Tipo, essa árvore é o esquema mais maluco que já vi na vida. Porque ela tem um papel especifico, ela tá realmente ai para uma coisa e tem um capitulo em que vamos descobrir realmente o que acontece ai, porque e quem é ela. Confesso que a primeira coisa que pensei quando ouvi a música depois da morte dele, foi neles dois. E em como deve ser doloroso para a Lea um dia, voltar a cantá-la... Ah querida, tudo bem. Eu te entendo. E espero que consiga se sair melhor nas provas. Poste sim a fanfic e me diga para que eu leia. Eu confesso que fiquei até besta aqui, porque seu comentário foi muito lindo minha flr, sério, quando postar mande que eu terei o maior prazer em ler. E muito obrigada por acompanhar  a fanfic e comentar, com toda certeza, faz toda a diferença. Beijoos!

Roupa da Rose no capitulo :




Vos apresento, Joshe : 






Trechos do próximo capitulo: 

Sorri para o espelho, mas ele sabia que o sorriso era pra ele. Fui para a saída do banheiro e senti seu olhar me seguindo. Antes de alcançar a maçaneta senti sua mão segurando meu braço, de maneira forte, decidida. Nossos olhares se encontraram e eu não tentei me desvencilhar quando ele soltou meu braço e me puxou pela nuca. Uma de suas mãos tocou minha cintura e a outra ainda estava bem segura em minha nuca.

Não resistimos muito. Estava de olho em seus lábios, sentia saudade de beijá–lo. Os seus também estreitavam os meus sem a mínima descrição, mas por que infernos teríamos mesmo descrição ? Estávamos no banheiro de um restaurante, toda descrição havia acabado no momento em que ele entrou no mesmo banheiro que eu. 

***

A primeira coisa que pensei ao ouvir o barulho, o carro capotando e meu celular tocando, foi que estávamos morrendo. E por algum tempo foi isso que pareceu. Até tudo ficar calmo, como uma tempestade que passa e deixa os terríveis rastros. Senti boa parte do meu corpo dolorido e quando abri os olhos não pude acreditar que ainda estava viva.

–Sebastian! –Tentei acordá–lo, estávamos de cabeça para baixo. –Por favor Sebastian... –Tentei tirar meu cinto e quando finalmente consegui, me inclinei para tirar o seu também. Coloquei meu celular no bolso e sai do carro tentando não me cortar com todo o vidro espalhado no chão frio da pista.

 Beijoos, Lana!

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