Enquanto Isso, na Casa dos Gri

Enquanto Isso, na Casa dos Gri



À medida que o fim do mês se aproximava, a neve se dissipava.


Os N.I.E.M.'s ocorreriam em abril e por isso os deveres de casa foram redobrados. Na verdade eu estava indo realmente bem em todas as matérias, pois podia contar com Tiago e os outros, que eram realmente bons em vários feitiços.


Aluado saíra da ala hospitalar uma semana depois do incidente da aula de Poções; ele se sentia muito culpado por ter causado tal confusão, apesar de todos lhe dizerem o contrario.


Sev não conversava tanto comigo agora, já que parte do tempo eu passava junto a Tiago, que o tratava com igual raiva. As aulas de Poções se tornaram muito desconfortáveis, tanto pelo comportamento rude entre os dois, quanto os alunos que sempre nos olhavam hesitantes, com medo de que outras explosões viessem a acontecer.


A única noticia boa, porém, é que no próximo fim de semana iria ter um novo passeio à Hogsmeade. A atmosfera entre todos estava excitada naquele domingo.


- Finalmente vão liberar a gente. – comentou Maria, de mãos dadas com Dougie, enquanto descíamos para o café. – Eu acho que ia enlouquecer se continuasse no castelo por mais algum tempo.


- Mas o que adianta a gente ir para Hogsmeade se quando voltarmos ainda vão ter dezenas de trabalho para fazer? – disse Dougie.


- É bom clarear a cabeça um pouco. – comentei.


Sentei-me ao lado de Tiago na mesa da Grifinória.


- Oi, Lílian. – ele cumprimentou radiante. – Quer ir à Hogsmeade comigo?


- Vou pensar no seu caso. – brinquei.


- Então pense logo, senão convido outra pessoa. – ele respondeu, comendo uma torrada.


- Quem, a Laura? – perguntei, ligeiramente irritada. As palavras meio que escaparam da minha boca.


Ele franziu a testa.


- Ela está com o Peter agora. Mas porque eu iria com ela?


- Ué, vocês não estavam grudados outro dia?


- Os pais dela trabalham com os meus. – ele respondeu, então deu um sorriso malicioso. – Lílian Evans está com ciúmes?


- Não! – bufei, corando.


Ele começou a rir e eu revirei os olhos.


- Se voce não calar a boca, eu recuso seu convite. – ameacei.


Ele passou os dedos na boca, teatralmente, como se fechasse um zíper.


Depois do café, de mãos dadas, eu e Tiago fomos para a estradinha de terra pela segunda vez.


- Espero não encontrar o Ranhoso por lá. – ele comentou, depois de novamente usar o Feitiço Impermeabilizante.


- Ah, não começa. – murmurei.


- É sério, Lílian. Não sei se vou conseguir me controlar se eu ver ele perambulando por aí com aquele desgraçado do Mulciber...


- Uma coisa eu não entendo. – interrompi. – Porque vocês se odeiam tanto? Eu sei que é normal esse confronto entre Grifinória e Sonserina, mas nada justifica o fato de vocês sentirem tanta raiva desse jeito.


- Ele gosta de Arte das Trevas, Lílian! É claro que eu devo odiá-lo!


- Mas vários outros alunos da Sonserina com certeza serão bruxos das Trevas também, e voce só implica com Sev.


- Porque tive a infelicidade de conhecer ele no trem no primeiro dia de aula. – ele disse rispidamente. – E eu não acredito que não saiba o maior motivo da nossa briga.


- Qual?


- Você, Lílian. Ele me odeia também porque estamos muito próximos, porque agora estamos namorando!


- É, eu sei. Mas nos outros anos vocês brigavam muito também e eu nem olhava na sua cara direito.


- Mas sempre estava na cara que eu gostava de você. Apesar de você viver me ignorando.


- Eu já disse que você merecia ser ignorado. – aproveitei a mudança de assunto.


Ele parou, sorrindo.


- E agora, eu mereço?


- Não, claro que não. – respondi, me divertindo.


- Pois não parece.


Eu o beijei terna e demoradamente.


- Quer prova maior que isso?


- Acho que não. – ele falou, ligeiramente atordoado.


Hogsmeade como sempre estava lotada. E como sempre havia estudantes para todo lado.


Eu e Tiago tomamos cerveja amanteigada no Três Vassouras, compramos grandes quantidades de doces na Dedosdemel e brinquedos na Zonko's e passamos na Escriba para comprar penas e tinteiros novos.


- Quer ir na Madame Puddifoot comigo? – Tiago convidou, depois de acabarmos de sair do correio, onde enviei uma carta para minha mãe (ela dissera na última correspondência que estava tendo um acesso de raiva com Túnia).


- Isso é muito romântico, Potter. Romântico demais até para voce. – comentei rindo.


- Tem muita coisa de mim que voce ainda desconhece. – ele falou, com uma piscadela.


O pub era um lugar apertado com várias mesas espalhadas pelo recinto, cada uma ocupada por um casal. Pro meu alívio avistei Laura e Peter sentados à um canto. A decoração era repleta de coraçõezinhos de todos os tipos. Tiago parecia reprimir o riso olhando para tudo aquilo.


- O que vão pedir, queridos? – perguntou Madame Puddifoot, assim que sentamos em uma mesa.


- Dois chás, por favor. – disse Tiago, ainda com o ar de riso.


- Qual a graça? – perguntei interessada, quase rindo junto com ele.


- Esse lugar é meio...


- Engraçado. – completei, juntando-se a ele para rir.


- É.


Digamos que enquanto estávamos ali, o encontro não fora muito romântico, e sim engraçado. Eu não podia olhar para nenhum outro casal, senão eu sabia que não ia resistir à crise de riso. Mas não deu pra resistir muito quando um aluno da Lufa-lufa topou de cara com um querubim de cerâmica; eu e Tiago engasgamos com o chá.


- Desculpe. – Tiago disse assim que saímos para a rua tortuosa. – Acho que não foi uma boa idéia...


- Foi a melhor coisa que já fiz em Hogsmeade antes. – interrompi.


Ele sorriu satisfeito.


- Será que posso complementar mais esse encontro? – ele disse. – Que tal visitar a Casa dos Gritos comigo?


- Acho que vou gostar.


As ruas não tinham muitos alunos como antes, pois com certeza já haviam partido de volta para o castelo.


Quando chegamos à casa velha e cheia de destroços entramos sem ser vistos por outras pessoas, que pelo visto estavam muito ocupadas com seus afazeres.


- Feitiço da Distração. – explicou Tiago, assim que adentramos a casa. – Ninguém nem percebeu a gente.


Eu não estava escutando. Ainda estava observando a casa; havia cadeiras quebradas, cômodos pequenos e pó ao longo do corredor. Havia também arranhões na parede, destruindo toda a tapeçaria; em alguns moveis totalmente quebrados pareciam haver marcas de mordida.


- Incrível. – murmurei.


- Aluado não economiza esforços na hora de se divertir. – Tiago comentou risonho.


Andei cautelosa pelas salas; realmente não havia nada inteiro na casa. A não ser uma coisa que me chamou atenção. Era uma espécie de pano jogado num canto.


Foi mais estranho ainda na hora que eu o peguei. A matéria parecia ser liquida, apesar de não estar molhada. Era muito mais lisa que seda e deslizava facilmente da mão.


- O que é isso? – perguntei à Tiago, estendendo a estranha capa meio prateada.


- Ah, sim. É uma Capa da Invisibilidade.


Eu agitei a capa e envolvi meu corpo. Olhei para meus pés, mas eles não estavam visíveis.


- Uau! – eu disse.


- Era do meu pai. Ele a passou para mim e disse que era para eu passar adiante quando... eu tiver filhos...


Sua expressão me avaliou um pouco, e ele logo olhou em outra direção.


- São muito raras. – comentei, meio corada.


- Sim.


Eu cobri meu corpo inteiro; era estranho ficar totalmente invisível.


Tiago olhou ao redor.


- Tá, pode parar com isso Lílian. – ele disse rindo.


Eu cheguei por trás dele e o abracei.


- Ficou com medo? – falei, brincando.


- Sinceramente não.


Ele me puxou para perto e me beijou. Eu retribui sem medo e ficamos muito tempo ali, juntos. Eu não queria que esse momento acabasse nunca, só eu e Tiago ali, sozinhos...


Houve uma batida. A porta se escancarou, revelando... Sev.


Ele olhou para nós dois, ainda abraçados, sua expressão surpresa.


- Eu não acredito! – exclamou Tiago, empunhando a varinha. – O que você quer aqui Ranhoso?


- Eu vim ver se Lílian está bem. – ele falou e pra minha admiração, estava sem varinha.


- Estava nos seguindo de novo? – indagou Tiago furioso.


- E se estava? – Sev falou irritado. – Mas vejo que ela está bem, então... Tchau.


Ele deu as costas para sair da casa.


- Sev! – chamei, mas ele não se virou para mim.


Fiquei um tempo ainda olhando para a porta, talvez esperando que Sev voltasse.


- Lílian? – ouvi Tiago chamar. – Você está bem?


- Ele me odeia.


Tiago bufou.


- Isso é bom, não é? Quanto mais distancia estiver dele melhor.


Eu não respondi.


- Vamos. – falou Tiago, pegando na minha mão. Dando uma última olhada na casa, eu o segui.

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