Explosões em Poções



- Minha nossa Lílian! – exclamou Maria, alto demais, durante a aula de Herbologia. Estávamos tendo problemas para reenvazar uma planta roxa cheia de tentáculos. – Você sabe a gravidade disto? Aquele feitiço poderia ser fatal! Você poderia ter morrido!


- Sev não lança feitiços para matar, Maria. E mesmo assim, nem foi uma Avada Kedavra.


- Mesmo assim! Você poderia ter ficado realmente mal. – ela disse, se esquivando de um tentáculo que por pouco não acertou seu olho esquerdo. – Não é a toa que o Tiago estava com aquela cara ontem.


Não pude deixar de sorrir.


- É. Ele foi um cavaleiro mesmo. – falei, dando uma espiada em Tiago do outro lado da estufa; ele estava lutando junto com Almofadinhas e Aluado contra a planta deles que era tão roxa que era quase vermelha.


Maria riu, mas depois sua expressão ficou séria.


- Esse Ranhoso é tão amigo seu que quase te mata. E você tem coragem de defender ele.


- Ele não me atingiu porque quis! Foi sem querer! – protestei.


- Mas ele estava atingindo o seu namorado! – ela disse, secando o suor da testa. – Você nunca foi com a cara de Tiago porque ele vivia azarando os outros, mas nunca deixou de ser amiga do Ranhoso sendo que ele faz coisas muito piores!


- Ele não tem culpa! São aqueles amigos dele... – um arrepio passou pelo meu corpo.


- Ele é amigo daqueles caras porque ele quer, e não porque está sendo forçado, Lílian. O Ranhoso é perverso e mal, essa é a verdade.


Eu fingi estar muito ocupada tentando com esforço colocar uma das plantas num vaso maior para não responder.


- Você tem muito bom coração, Lílian. – Maria continuou. – Bom até demais. Tão bom que não enxerga o mal das pessoas.


- Mocinhas, parem de conversa e vamos ao trabalho. – disse o professor Beery as nossas costas.


O dia continuou normal durante as aulas. O sol de começo de ano despontou do céu, mas a neve continuava insistente ao redor da propriedade.


Minha última aula de hoje era de Poções. Me juntei ao Tiago e os outros assim que me afastei de Maria e Dougie, que se dirigiram à aula de Adivinhação.


Eu estava meio temerosa com essa aula, pois Sev estaria presente. Quando entramos na sala vi Sev cochichando rápido com Avery e Mulciber.


- Olá, Lílian! – saudou-me Slughorn, como sempre entusiasmado. – Foi uma pena você ter perdido minha habitual Festa de Natal. Você nunca participou de nenhuma, infelizmente. Mas estou pensando em dar uma Festa de Páscoa e espero que você esteja presente.


- Estarei, sim senhor. – respondi, sorrindo. – Obrigada.


Eu e Tiago sentamos em uma mesa, atrás de Rabicho e Almofadinhas (Aluado ainda estava na ala hospitalar se recuperando). Tiago lançou um olhar raivoso à Sev e eu chutei seu pé embaixo da mesa.


- Muito bem alunos! – começou Slughorn, balançando-se nos pés. – Hoje vamos fazer uma poçãozinha muito especial e que será definitivamente proibida de sair desta sala. A Amortentia.


Muitas garotas presentes deram risadinhas. Tiago olhou pra mim como se estivesse segurando o riso.


- As instruções estão na página 37 do livro de vocês. Mãos à obra!


Pelas instruções do livro, as dicas pareciam bem fáceis. Porém Tiago lia tudo com certo desespero no rosto e então coçou a cabeça.


- Precisa de ajuda? – falei, rindo.


- Acho que sim.


Depois de pelo que eu saiba meia hora de trabalho as nossas poções estavam peroladas e delas saiam fumaças em espiral.


Olhei ao redor da sala e apenas eu, Tiago, Sev e Mulciber, que estava ao seu lado, havíamos terminado de fazer a poção corretamente.


- Excelente, Lílian! – bradou Slughorn. – É uma sorte sua ter Lílian como companheira, Potter. E digamos, como namorada também. – ele piscou.


- Não restam menores dúvidas. – disse Tiago, sorrindo para mim.


Alguns alunos que estavam escutando riram.


- Talvez queira chamar Potter para ser seu par na Festa de Páscoa, Lílian. – falou Slughorn, dessa vez mais baixo. – Pode levar um acompanhante, sabe...


- Você vai me levar? – perguntou Tiago, quando o professor se afastou.


- Não. Eu estava pensando em levar o Dougie... – eu disse, com sarcasmo.


Ele riu e depois voltou a olhar para poção.


- Que cheiro você sente? – ele perguntou interessado.


Eu funguei a poção.


- Sinto cheiro do jardim da minha casa, sapo de chocolate e... – corei levemente.


- E? – ele insistiu, me fitando com um largo sorriso. Como se ele já não soubesse!


- O seu perfume. – falei por fim.


Seus olhos brilharam.


- Toda vez que eu via uma Amortentia eu lembrava do seu perfume também. E também de cabo de vassoura listrada e doce de abóbora. – ele disse me fitando.


Eu retribui o sorriso.


Assim que a sineta tocou, eu e Tiago nos adiantamos para entregar nossas amostras. O resto da sala não havia terminado, portanto apenas eu, Tiago, Sev e Mulciber fomos pra frente da sala.


Quando chegamos na mesa de amostras, Tiago fez questão de esbarrar em Sev.


- Tiago. – alertei ele, puxando seu braço.


- Qual é a sua? – perguntou Mulciber com sua voz rouca.


- Não se meta Mulciber. – disse Tiago, ainda lançando um olhar irritado para Sev.


- Como vai seu amigo lobinho, Potter? – murmurou Sev ameaçadoramente.


- Do mesmo estado que você vai ficar se dizer mais uma palavra.


Sev e Mulciber sorriram maliciosos.


- Nós podemos espalhar isso pela escola inteira, Potter. – ameaçou Mulciber com o rosto enviesado.


Tiago fechou os punhos.


- Vocês não teriam coragem. – ele disse.


- Por favor, parem com isso. – murmurei, amedontrada.


- Não lembro de ter te chamado na conversa, sua sangue-ruim.


- Repete isso! – Tiago gritou. Ele empunhou a varinha e apontou para o pescoço de Mulciber.


Toda a sala parou para observar a cena.


- Rapazes, vão com calma! – alertou Slughorn, indo depressa em nossa direção. – Não quero mandar ninguém para diretoria, então, por favor, sosseguem.


Tiago não parecia estar disposto a abaixar a varinha.


- Potter. – chamou Slughorn.


- Tiago, por favor... – murmurei para ele.


Ele abaixou a varinha e deu-lhe as costas; eu fiz o mesmo.


- Até mais, sua imunda sangue-ruim. – ouvi Mulciber dizer.


Houve um estampido. Vários gritos ecoaram pela sala quando os vários vidros de poções se estilhaçaram. Poções voaram pra todos os lugares e cacos iam em várias direções.


Tiago me puxou para baixo de uma mesa, para me evitar de ser atingida.


Todos saíram apressados, pois vários vidros se racharam e os cacos voavam fatais pelos ares.


Eu vi pela fresta da mesa Slughorn erguer a varinha. Os cacos repentinamente pararam de serem atirados e outros caíram imóveis no chão.


Tiago me puxou pela mão e pegando nossos materiais fomos correndo, agachados, para a porta.


Saímos desembestados, antes que Slughorn pudesse nos chamar e apenas quando chegamos no térreo paramos, com a respiração ofegante para fazer algum comentário.


- Você deveria ter se controlado. – eu disse, com a mão no peito.


- Não fui eu quem fez aquilo.


- Como é?


- Eu não causei aquilo. Eu ia sacar a varinha de novo, mas não explodi nada. – ele respondeu, me olhando confuso. - Não foi você?


- Não.


- Então quem foi? – ele perguntou surpreso.


- Não sei, mas... – minha frase foi interrompida por Rabicho e Almofadinhas, que vinham em nossa direção.


- Aí estão vocês. – disse Almofadinhas. – Slughorn está dando um duro em Mulciber e Ranhoso. Estava mais que provável que foi Mulciber porque ele estava com a varinha erguida.


- Mas não foi Mulciber. – eu disse. – Senão ele teria atacado Tiago.


- Se não foi ele que quebrou tudo então quem foi? – indagou Rabicho.


- Não fui eu e nem a Lilian. – falou Tiago.


Todos se entreolharam confusos.


- Se eu fosse vocês se trancavam na Sala Comunal. – alertou Rabicho. – Se isso cair nos ouvidos de Mcgonagall...


Não foi preciso Rabicho terminar a frase. Puxei a mão de Tiago e subimos rapidamente as escadas para o primeiro andar.


- Isso é loucura. – comentei, enquanto caminhávamos apressados pelo corredor. – Você tem que parar de se atracar com o Sev toda vez que o ver! Você viu no que isso resulta?


- Pare de defender ele Lílian! – protestou Tiago.


- Não estou defendendo ninguém! Só estou falando que vocês precisam se controlar!


- Ele e aqueles amiguinhos dele te chamam de você-sabe-o-quê, te insulta e ainda te lança um feitiço, e você insiste em conversar com ele!


- Você sabe o porquê que eu converso com ele.


- Sei, mas não consigo entender.


Assim que chegamos à sala comunal alguns olhares se voltaram para mim e Tiago. Maria e Dougie vieram se juntar a nós.


- É verdade o boato? – perguntou Dougie. – Vocês andaram explodindo a sala do Slughorn?


- Não, não sabemos quem fez isso. – respondi, me sentando numa poltrona vazia.


- Como assim? – indagou Maria sentando-se do meu lado para me olhar melhor.


- A gente não fez nada. – expliquei.


Passamos o resto da tarde discutindo quem poderia ter causado tudo aquilo, e sinceramente, eu não estava com muita vontade de saber quem fora.

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