06:00 - 07:00



OS EVENTOS A SEGUIR OCORREM ENTRE SEIS E SETE DA MANHÃ.


 


 


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            As chamas azuis dançavam sob o caldeirão que Hermione e Neville vigiavam de tempos em tempos. Em alguns minutos Neville conseguira reunir algumas ervas com o poder oposto aos da poção misteriosa. Felizmente o taberneiro possuía um estoque vasto de ervas raras o que facilitou o trabalho. Porém; o fato de muitas das substâncias da essência original fossem poderosíssimos, somado a questão do desconhecimento do seu modo de preparo original, dificultavam um pouco as coisas.


            Neville, no entanto, parecia esperançoso. No momento cortava folhas largas de uma planta que Hermione conhecia muito bem.


            –Algumas folhas de mandrágoras poderão ajudar a neutralizar o efeito do capsicum – e, dizendo isso, jogou os talos cortados no caldeirão onde o antídoto improvisado estava sendo preparado. A substância começara a adquirir um cintilante tom alaranjado e o rosto de Neville se abriu num sorriso – Acho que iremos conseguir, Hermione!


            Hermione não pode deixar de se sentir aliviada e esperançosa com a notícia. Era como se um significativo peso fosse tirado de suas costas.


            –Em quanto tempo você acha que terminaremos a poção? – perguntou Hermione.


            –Uns vinte minutos, meia hora no máximo – Respondeu Neville. Hermione consultou o relógio. Pouco passava das seis da manhã. Ela nem vira o tempo passar.


            Hermione olhou para o relógio em sua mão, sentindo um aperto no coração. Aquele era o mesmo relógio que Rony usava como comunicador em seu trabalho como auror. Horas antes, ao cair da cadeira e sofrer aquele terrível ataque o relógio havia caído de um dos seus bolsos. Quando os aurores voltaram e levaram Rony para baixo com a maca, ela se deu conta do relógio e o apanhou.


            Era um bonito relógio de ouro, com alguns botões a volta do mostrador e pequenos sóis girando em vez de ponteiros. Analisando o relógio, lembrou-se que deveria avisar Harry sobre qualquer avanço que tivessem. Pedindo licença para Neville, ela se levantou saiu da sala e se encaminhou para um pequeno corredor. Se certificando que ele estava deserto, ela apertou um dos botões chamando pelo relógio de Harry.


            Torcendo para que Harry sentisse o chamado rapidamente, ela esperou. Não esperou muito tempo, cerca de um minuto depois o visor do relógio se esfumaçou e o rosto confuso de Harry apareceu.


            –Hermione.... o quê??!


            –Oi, Harry... acho que tenho boas notícias!


            –Hermione... de onde você está falando?? Como...?


            –Eu peguei o relógio comunicador do Rony, mais cedo... – falou Hermione apressada – ele havia caído e eu guardei no bolso...


            –Certo – Harry respondeu, compreendendo. Ele olhava para os lados ansioso, como se estivesse preocupado com alguma coisa. – Mas enfim, pelas calças de Merlim onde diabos você se meteu?


            –Eu estou no Caldeirão Furado. Pedi ajuda para o Neville analisar o vômito do Rony.


            Do outro lado do relógio, a lógica simples de Hermione tomou conta de Harry também. Ele sabia que Neville se tornara um exímio preparador de poções com o tempo.


            Harry olhou para os lados novamente, se certificando de que ninguém estava escutando a conversa. Ele ainda se encontrava nos destroços do laboratório destruído. Havia uma porção de bruxos curandeiros e guardas do Hospital a um canto analisando os estragos feitos. Mas não pareciam estar prestando atenção no auror.


            Ele se voltou para o relógio.


            –Então... o que você e Neville descobriram?


            –Bem... – começou Hermione – a má notícia é que a poção que Rony bebeu é poderosíssima e foi feita com ingredientes usados geralmente em magia negra... A boa é que Neville acha que conseguirá produzir um antídoto improvisado que servirá para neutralizar alguns dos encantamentos da bebida, seja ela qual for.


            Harry sentiu uma pontada de esperança atravessar seu coração.


            –E em quanto tempo esse antídoto ficaria pronto?


            –De acordo com Neville, cerca de meia hora no máximo.


            Harry refletiu por alguns instantes, olhando de novo para o grupo de bruxos a alguns passos dali.


            –Certo... você tem como vir diretamente para o St. Mungus quando ficar pronto?


            –É claro... – respondeu Hermione, imediatamente. Depois de uma pausa ela perguntou com uma voz enrolada. – como ele está?


            O auror respirou fundo, medindo o que deveria lhe contar.


            –Parece que o corpo do Rony entrou numa espécie de coma... os curandeiros ainda não descobriram o que poderia estar causando isso. O Sr. Grid disse que vão transferi-lo para um quarto particular para ele ficar em observação dentro de alguns minutos.


            Harry pode ver que o rosto da amiga havia ficado branco ao mencionar a palavra “coma”. Ela não soube o que dizer, procurando algo para falar Harry disse:


            –E Hermione, por favor, não diga nada sobre o antídoto para ninguém que não seja Neville, ok? Parece que você estava certa... Alguém está tentando dificultar as coisas por aqui?


            –Por que? O que aconteceu?


            –Nada... – falou Harry, quando Cho entrou de volta no laboratório semi-destruído. Carl Krane bem atrás dela como um cão de caça instruído. – Eu falo quando você chegar, ok? Apenas tome toda cautela do mundo a trazer este antídoto para cá.


            –Está bem...


            –Eu vou ter que desligar agora. – respondeu Harry – depois a gente se fala.


            E num movimento rápido, ele interrompeu a conexão ao mesmo tempo em que Cho e Carl se postavam do seu lado.


            –Alguma novidade? – perguntou Cho.


            –Nenhuma – respondeu Harry, quase que no automático. Depois, tentando uma abordagem mais sutil para a auror não desconfiar disse – parece que eles não descobriram o que aconteceu por aqui, ainda – respondeu, tentando parecer descontraído.


            –Hmm... com quem estava falando? – perguntou a auror.


            –O quê?... ah... aah... Monique queria me passar algumas instruções...


            Cho Chang franziu a testa, e já ia abrir a boca para argumentar quando outra pessoa voltava ao laboratório. Harry se dirigiu para ela, se desvencilhando da oriental.


            –Sr. Grid! Eu posso falar com o senhor por alguns instantes?


            Grid olhou por alguns instantes para o auror vindo em sua direção, e então respondeu, intrigado.


            –Claro, Sr. Potter... O que seria?


            –Na verdade – respondeu Harry, se posicionando em frente ao curandeiro – eu gostaria que a conversa fosse em particular.


            Walden Grid olhou ainda mais intrigado para Harry. Seus olhos azuis se fixaram aos de Harry e ele se sentiu como se estivesse sendo radiografado pelo bruxo. Exatamente como outro bruxo fazia a muitos anos atrás. Harry começou a se perguntar quantos anos tinha o curandeiro. Com seus cabelos e cavanhaque brancos salpicados de prata, ele presumiu que o curandeiro já devia estar pela casa dos setenta anos. Mas sabia que isso não significava grande coisa. Bruxos em geral possuem uma vida ativa bem maior que os trouxas. Um de seus amigos, por exemplo, Aberforth Dumbledore já contava com 130 anos.


            –É claro, - Walden Grid por fim respondeu – vamos... vamos até a minha sala lá, poderemos conversar mais sossegadamente.


            E juntos, os dois saíram do ambiente cataclísmico do laboratório, para o corredor além. Juntos se dirigiram até o final do corredor, onde havia uma porta.


            –Espero que você não se importe de caminhar – respondeu Grid, abrindo a porta e revelando alguns lances de escadas – minha sala fica a um andar acima daqui, entende... acho um desperdício subir pelo elevador. De toda a forma, os cabos dos elevadores foram abalados pela explosão. O pessoal da manutenção mágica está cuidando disso agora é claro.


            As lâmpadas das escadarias tremiam e piscavam, provavelmente por causa da explosão de alguns minutos atrás. A luminosidade do ambiente era fraca e Harry mal conseguia distinguir os degraus a sua frente, enquanto seguia Grid. Olhando para a capa branca do curandeiro a sua frente, ele pensava no que estava prestes a fazer. Se perguntando se esse seria, de fato, o correto a fazer.


            Ao subirem os lances de escada, chegaram a uma nova porta que levava ao sexto andar do hospital. Passando por ela, eles chegaram a um corredor muito parecido aos que haviam visitado antes. Era todo pintado de branco com detalhes em verdes nos rodapés e nas molduras das portas. O estranho abandono do corredor não alarmou o auror, a estranha explosão no andar de baixo havia convergido boa parte dos curandeiros e curiosos para lá.


            Grid acompanhou Harry pelo corredor até uma porta. Mantendo-a aberta para o auror passar, Harry entrou na sala do curandeiro.


            A sala de Walden Grid inspirava um certo refinamento e luxuosidade. As paredes levemente inclinadas davam a impressão de que a sala era maior do que ela realmente era. Nelas se encontravam estantes abarrotadas de livros sobre medicina bruxa e alguns cartazes com ilustrações mágicas do corpo humano. No centro da sala, uma polida mesa de madeira com alguns detalhes em ouro. Atrás dela uma extensa janela panorâmica revelava o céu lá fora, nesse momento tingido de um frio azul-prateado, indicando a iminente chegada do sol.


            –Sente-se, Potter – falou o curandeiro indicando a cadeira em frente a mesa – suponho que gostaria de uma xícara de chá forte?


            –Ah, sim... gostaria – falou Harry, se sentando na cadeira enquanto Grid se encaminhava a uma pequena mesinha de chá a um canto.


            Grid pegou o bule de prata e começou a servir em duas xícaras de porcelana.


            –Então, Potter... o que o senhor gostaria de tratar?


            Harry respirou fundo, como se procurasse a melhor maneira de tratar sobre aquilo. Então resolveu colocar as cartas na mesa.


            –Sr. Grid – começou Harry – eu tenho certeza que alguém dentro deste hospital está tentando atrapalhar as investigações.


            Walden Grid parou de servir no mesmo instante. Voltou-se e olhou atentamente para Harry, o espanto refletido em seus olhos.


            –Certeza?


            –Sim... foi por isso que explodiram o laboratório onde o sangue de Rony iria ser examinado.


            Grid parou por uns instantes, refletindo. Voltou-se e olhou pela janela para o céu cada vez mais claro do outro lado.


            –Vocês tem alguma idéia de quem?


            –Infelizmente... eu tenho um palpite, sim...


            –E...?


            –Eu temo que a minha colega, Cho Chang saiba mais do que disse até agora.


            Houve um minuto de silencio entre aqueles dois homens. Grid parecia estar meditando sobre as palavras de Potter enquanto terminava de servir o chá. Quando voltou-se com a bandeja em direção a mesa, foi falando:


            –É uma acusação muito séria, Potter. Afinal, ela é sua colega de trabalho.


            Potter olhou para baixo, enquanto o curandeiro sentava-se a sua frente. sentia-se um pouco envergonhado por aquilo.


            –Eu sei... e gostaria de crer que se for ela, então ela também não estaria em suas plenas funções mentais como Rony... Mas não sei...


            O curandeiro olhava atentamente para o auror a sua frente.


            –Você tem algum motivo concreto para desconfiar dela?


            Harry contou para o curandeiro sobre a misteriosa saíde de cena da auror mais cedo. Grid pareceu refletir sobre aquilo.


            –Pode ter sido apenas uma terrível coincidência. – disse o curandeiro apaziguador.


            –Eu sei, mas mesmo assim... eu acho bom ficarmos de olho nela... pelo menos por enquanto. – Harry queria evitar uma abordagem direta. Não queria cometer o mesmo erro novamente naquele dia.


            –E exatamente o que você gostaria que eu fizesse, Potter?


            Harry olhou para o médico. Estivera pensando em como ele reagiria quando contasse, por fim começou.


            –Eu gostaria que o senhor a mantivesse ocupada por alguns minutos...


            O curandeiro olhava para Harry astutamente.


            –Está planejando algo, Sr. Potter?


            Harry então começou a contar tudo. Falou do vômito de Rony, do desvio de Hermione, e da possibilidade de, nesse mesmo instante, um antídoto estar sendo preparado. O rosto do curandeiro começou a passar de curiosidade, assombro e de repente, raiva.


            –Sr. Potter, está me dizendo que pretende que um paciente em estado grave tome uma poção improvisada sem nenhuma aprovação médica??? O senhor sabe quantos protocolos está me pedindo para contornar???


            –Eu sei disso, Sr. Grid... mas por favor, eu conheço a reputação de Hermione e de Neville... fomos colegas em Hogwarts... se existe alguém que conseguiria criar uma poção milagrosa, seriam eles.


            –Não é querer menosprezar a capacidade de seus amigos, Sr. Potter, mas o St. Mungus...


            –Todas as coisas que o St. Mungus fez até agora, não trouxeram resultado algum. Precisamos de uma visão de fora, doutor.


            Grid olhou para ele, ainda indeciso. Por fim disse:


            –Está bem, avise a Sra. Weasley que poderá testar a sua poção. Desde que vocês assumam, claro, todos os riscos.


 


06:17:32


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06:17:34


 


            A sala de reuniões do QGA ficava no nível 2 do Ministério da Magia. Era uma sala pequena embora o teto fosse mais alto do que deveria e as paredes de tijolos escuros, deixavam o recinto com uma iluminação azulada, mas agradável. No centro existia uma mesa de mogno escuro, naquele momento Terencio, Ernesto e Justino escutavam atentamente o que Monique tinha a dizer. Quando a chefe terminou, Ernesto suspirou e disse:


            –Então é isso, Fudge agora está no comando.


            Um silêncio pesado encheu a sala. Os aurores estavam terrivelmente incomodados, ninguém ali gostava realmente de Cornélio Fudge.


            –Se for Fudge o culpado por tudo isso – começou Terencio – temos que arranjar uma forma de descobrir a verdade o mais rápido possível. Fudge é, acima de tudo, um político. Quanto mais tempo ele ficar no cargo, mais profundamente ele vai se enredar aqui dentro.


            –Por isso temos que agir rápido – falou Monique com eficiência – eu e você vamos ficar na cola de Fudge esta manhã. Temos que analisar e interceptar tudo que for despachado naquela sala nessa manhã. Finch-Fletchley e McMillan, eu quero que vocês investiguem o passado dele. Principalmente onde ele esteve nas últimas 24 horas se for possível.


            Justino estava relutante, parecia o único em dúvida sobre o envolvimento ou não do novo Ministro da Magia.


            –Eu não sei... La Roche, com todo o respeito... e se nós estivermos errados? E se Cornélio Fudge não tiver nada haver com isso?


            –Então pelo menos teremos certeza disso. Mas vale a pena investigar... Cornélio Fudge não é o tipo de político que joga limpo, e ele sempre fez forte oposição às decisões de Shacklebolt enquanto era presidente da Suprema Corte. Ele queria o cargo, mais do que qualquer um. E eu não duvido que ele possa ter algum envolvimento nisso.


            Terencio e Ernesto concordaram com a cabeça, enquanto Monique falava. Conheciam a velha raposa, sabia o quanto Fudge podia ser venenoso. Justino, ainda parecia na dúvida, mas não fez mais comentários.


            Após um suspiro, Monique perguntou:


            –Então, alguma notícia sobre Weasley?


            Justino que havia falado com Chang cerca de meia hora antes, suspirou. Era a sua vez de dizer más notícias.


            –Sim... e ela não é das melhores.


 


06:23:01


06:23:02


06:23:03


 


            Harry Potter sempre gostou do amanhecer. Havia sido num amanhecer como este, numa hora aproximada a esta, que a muitos anos atrás ele havia derrotado o temível bruxo das trevas Lord Voldemort. Foi com um amanhecer como este que o mundo bruxo voltou a sorrir e ter esperança novamente. Ironicamente, neste amanhecer, Harry Potter só sentia desesperança e tristeza.


            Harry estava num quarto reservado do hospital. Sozinho. A cama ao lado, impecavelmente arrumada a espera de seu ocupante. Ele estava na janela do quarto, e observava enquanto o sol se erguia por cima dos diversos prédios e construções que dominavam o horizonte, banhando a cidade de Londres de sua luz dourada. Harry fechou os olhos por um momento, sentindo o calor que era emanado por aquela luz, desejando que todos os acontecimentos das ultimas seis horas fossem apenas produto de um sonho, de um pesadelo completamente bizarro, esperando abrir os olhos e perceber que estava em sua cama no Largo Grimmauld, preparando-se para levar o filho a King’s Cross.


            Um som as suas costas, fez com que ele voltasse a terrível realidade. Voltou-se e viu Cho Chang, sendo acompanhada de perto por Carl Krane. Harry não sabia o que sentir ao vê-la. Era um misto de raiva, repulsa, descrença, mas ao mesmo tempo de afeto. Queria e fazia força para entender o que estava acontecendo. Cho, interpretando erroneamente a expressão confusa no rosto de Harry foi até ele.


            –Está tudo bem, Harry! Rony vai ser curado, tudo vai ficar bem...


            Harry olhou para ela, aturdido. Algo dentro dele tinha vontade de gritar com a auror, mas ao mesmo tempo não queria que ela soubesse que ele desconfiava dela. Em vez disso, simplesmente pegou o braço dela e trouxe-a para mais perto da janela aberta. O sol já estava todo revelado agora.


            Carl, convenientemente, começou a analisar as peculiaridades daquele quarto individual, em especial a decoração e a arrumação. Mas Harry sabia que aquele suposto interesse do auror era falso, e que ele estava atento a cada palavra de Harry e Cho.


            –Cho... eu gostaria de... eu gostaria de lhe perguntar uma coisa.


            Cho Chang olhou para ele, curiosa. Não estava entendendo muito bem.


            –Claro, Harry... o que é?


            –Eu gostaria de saber, se tem algo que você gostaria de me contar.


            O rosto da auror enrubesceu levemente e ela gaguejou.


            –H-Harry, eu...


            Cho Chang não sabia o que dizer, tanto tempo, tantos anos. E ela sempre esperara esse momento. Agora que ele finalmente chegara no entanto, parecia que ela não tinha forças.


            –...não, não tem nada não.


            Harry olhou nos olhos de Cho, os dois estavam bem próximos. Ele conhecia aquela resposta, sabia que ela estava mentindo.


            Naquele mesmo momento, a porta do quarto se abriu e vários medibruxos entraram trazendo o corpo de Rony numa maca feita de magia. Carl saiu do caminho para eles poderem passar e usando as varinhas transferiram Rony da maca para a cama.


            –Isso... com cuidado agora... – falou Walden Grid, que entrara por último, atrás do grupo. – Isso, muito bem!


            Os enfermeiros terminaram o trabalho e se retiraram do quarto. Walden Grid ficou com os aurores no quarto. Carl se dirigiu ao curandeiro enquanto Harry olhava para o amigo na cama.


            Rony tinha uma expressão calma e serena, como se estivesse apenas dormindo tranquilamente. Harry se inquietava. Será que naquele estado, o ruivo poderia sonhar? E se pudesse o que estaria sonhando? Em que limbo de sua própria mente a consciência do amigo estaria agora?


            –E então doutor? – perguntou Carl Krane, a voz do colega parecia estar vindo de muito, muito longe. Quando Harry olhou para Grid, este já estava na metade da explicação.


            –Testamos tudo o que é conhecido por nós e que poderia trazer este resultado no Sr. Weasley... infelizmente, parece que ele foi encantado por algum feitiço novo que a nossa ciência bruxa ainda desconhece. Ele entrou neste estado de coma... mas não sabemos ainda se e quando ele irá acordar. Pelo menos conseguimos injetar nele uma quantia relativamente pequena de Poção da Paz. Isso fará com que seus órgãos internos parem de atacar o seu próprio corpo.


            Harry, Cho e Carl consentiram. Enquanto Cho Chang e Carl olhavam para Rony, o olhar de Harry e Grid se encontraram e o auror fez uma leve e quase imperceptível inclinação com a cabeça.


            Grid pigarreou e disse:


            –Srta. Chang... a senhorita poderia me acompanhar um momento?


            Cho olhou para ele aturdida, e bastante confusa.


            –É claro...


            Ainda com uma cara mostrando que não estava entendendo ela saiu do quarto, acompanhada de Walden Grid. Quando enfim se viram sozinhos, Harry e Carl trocaram olhares cúmplices e tensos.


 


06:31:03


06:31:04


06:31:05


 


            Hermione e Neville estavam de joelhos, olhando para a poção dourada no pequeno frasco. Ela girava e brilhava diante deles, deixando-os meio que hipnotizados.


            –Você tem certeza? – perguntou Hermione.


            –Não – respondeu Neville prontamente – Mas esse é o meu melhor palpite.


            No momento, aquilo já era o suficiente para Hermione. Sabia que era o mais longe que poderiam ter chegado. E, com esperança, o mais perto de salvar Rony.


            Pelo menos, a aparência da poção era promissora. Dourada e brilhante, ela se assemelhava muito com ouro derretido.


            –Então é isso – falou Hermione. Pegou o frasco e se levantou. – Neville, eu nem sei como agradecer.


            –Você não precisa – disse Neville, com um sorriso jovial – apenas faça o possível pra trazer nosso amigo de volta, ok?!


            –Eu vou! Eu prometo! – respondeu Hermione e então os dois saíram da pequena sala e voltaram para o pub.


            O Caldeirão Furado agora já estava bem movimentado. Várias das mesas estavam ocupadas com bruxos que tomavam seu café da manhã. A luminosidade matutina entrava pela porta do bar começando a tornar dispensável o uso de algumas velas. O jovem empregado dos Longbotton, Remy, estava servindo os clientes entre as mesas. Era um jovem alto, ruivo de cabelos encaracolados. Hermione ao olha-lo, lembrou-se do amado à época em que começaram a namorar. Tentando ser forte e segurar a emoção, olhou para o balcão. Ana estava polindo um cálice, e olhou para Hermione com um certo desagrado.


            –Bem – falou Hermione, se virando para o amigo – eu prometo que vou manter você informado.


            –Está bem – disse Neville – qualquer coisa, você sabe onde eu estou.


            Hermione sorriu e se virou para a esposa ciumenta do amigo.


            –Tchau Ana...


            Ana Longbotton deu um sorriso amarelo e continuou polindo a taça. Assim que Hermione se virou, no entanto o sorriso se desmanchou e ela acompanhou com os olhos a mulher saindo do bar e fugindo do seu campo de visão.


            Neville ergueu a pequena barreira e entrou na área atrás do balcão, junto da esposa. O bruxo estava fazendo o esforço máximo para não deixar transparecer, mas a realidade é que estava nervoso e ansioso ao extremo. As notícias que Hermione haviam acabado de trazer não eram nada tranqüilizadoras e o serviço clandestino que os dois fizeram juntos começava a pesar na mente do estalajadeiro. Aquilo era uma insensatez, uma irresponsabilidade. E se a poção improvisada não desse certo? Afinal, nenhum deles sabiam a formula exata do terrível veneno que Rony tomara.


            Suspirando, tentando tirar aquilo da mente, voltou-se para junto de esposa. Ana continuava polindo as taças. Ele olhou para o barrigão de sua mulher. Ficava cada vez mais ansioso a cada dia que passava e que constatava o aumento de seu ventre.


            –Como ele está hoje? – perguntou Neville


            –Hm... – respondeu Ana, lustrando a última taça – Bastante agitado... – Ana respondeu lacônica e, voltando-se, passou pelas cortinas vermelhas que ocultavam a porta para a cozinha.


            Neville conhecia bem demais o humor de sua esposa para saber que o dela esta manhã estava péssimo! Com um muxoxo de impaciência e uma olhada para se certificar que Remy estava cuidando bem do bar, voltou-se e entrou na cozinha atrás dela.


            A cozinha do Caldeirão Furado era bem espaçosa. Havia duas mesas compridas no centro e em torno das paredes diversos fogões e armários. Do teto pendiam vários tachos, panelas e caldeirões que luziam brilhando. Tudo estava perfeitamente limpo, uma das exigências de Ana. Naquele momento, havia um doce vapor com aroma de amoras silvestres enchendo a cozinha, vinha de um caldeirão ao fogo em que Ana estava mexendo.


            Ele se encaminhou até ela, o bastante para poder ver a espessura vermelha e borbulhante do caldeirão, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, Ana perguntou:


            –O que ela queria?


            –Ahn... o que?


            –Hermione... o que ela queria?


            Neville hesitou. Sabia que esse momento chegaria, mas estava torcendo para que a pergunta fosse adiada um pouco mais.


            –Ah... bem... Ana, você entende... eu realmente não p...


            –Não pode contar não é? – perguntou Ana, virando-se imediatamente. Seu rosto rosado parecia estar mais corado ainda. – É sempre assim, ela vem... vocês ficam de segredinhos... e você não se dá ao trabalho de contar para a sua própria esposa!


            –Querida, por favor...


            –Não me venha com “querida”! – Ana respondeu com raiva, voltando a mexer sua poção.


            Neville suspirou.


            –A Hermione é só uma amiga e você sabe disso.


            Ana não respondeu.


            –Dessa vez é diferente... Estão acontecendo coisas muito estranhas... Coisas graves... por favor, entenda... é para o seu bem...


            Ana continuou calada. Neville olhou para os cabelos que desciam pelas costas dela e falou:


            –É você que eu amo! Você sabe disso!


            E dizendo isso, virou-se para voltar ao bar. Mas antes que desse dois passos um gemido a sua volta o fez parar.


            –Aaaaah...


            Neville virou-se novamente e o que ele viu o fez gelar.


            Ana havia se curvado levemente sobre os joelhos e colocado uma das mãos na barriga enquanto que com a outra se apoiava na parede. Seus olhos fecharam-se em uma careta de dor.


            –Ana??! – Neville correu para ela – É agora? Chegou a hora? O quê??


            Neville ficou ali olhando para a amada sem saber o que fazer durante longos segundos que pareceram séculos. E então, com a respiração um pouco arquejante, Ana abriu os olhos e falou:


            –Não é nada... foi um alarme falso, foi só...


            –Mas querida, eu acho que devemos...


            –Eu já disse – Ana cortou – Eu falei que ele estava agitado hoje... é só isso!


            Ele ficou olhando para ela, às vezes a teimosia de Ana lhe dava nos nervos.


            –Agora – Ana continuou – se você me der licença, tenho que terminar essa poção...


            Neville então, resignado, virou-se para assumir seu posto no balcão.


 


06:42:12


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06:42:14


 


            Hermione aparatou em um beco imundo, ao lado de uma lata de lixo toda pixada por vândalos trouxas. Lentamente, com o máximo de cuidado possível, começou a caminhar e entrou na rua, andando depressa em direção ao Hospital St. Mungus que ficava apenas a alguns quarteirões dali. Enquanto caminhava os pensamentos de Hermione voavam mais rápido que ela poderia conter, o destino deles, ela bem sabia era uma única pessoa: Rony!


            Levando o antídoto bem seguro por dentro da roupa, Hermione caminhava pela Londres amanhecida. O som gradual do transito ia ganhando as ruas, indicando que a cidade estava acordando num ritmo exponencial.


            Depois de algumas esquinas e de atravessar a rua no meio de um congestionamento, Hermione chegou a uma loja de departamentos, grande, antiquada, em um edifício de tijolos aparentes, chamada Purga & Sonda Ltda. O lugar tinha um aspecto malcuidado, miserável; as vitrines exibiam alguns manequins vestindo roupas antiquadas e horríveis. Grandes letreiros em todas as portas empoeiradas avisavam: “Fechado para Reformas”.


            –Oi – falou Hermione, se dirigindo a um dos manequins na vitrine, e se sentindo uma completa retardada... estou aqui para visitar Ronald Weasley.


            O manequim do outro lado deu uma piscadela amigável e ela, após olhar para os lados, atravessou o vidro. A impressão era de que estava atravessando uma cortina de água fria embora ela emergisse seca do outro lado.


            Encontrava-se em uma recepção movimentada, em que havia filas de bruxos e bruxas sentados em instáveis cadeiras de madeira. Alguns pareciam perfeitamente normais e folheavam exemplares antigos do Semanário das Bruxas, outros exibiam medonhas deformações como um bruxo que possuía a pele anormalmente azul e outro cujas unhas já estavam passando dos30 centímetrose continuavam crescendo lentamente.


            Ela não pode deixar de notar que havia um certo alvoroço na sala, alguns curandeiros iam agitados de lá para cá, e tentavam acalmar alguns pacientes que pareciam nervosos. Não dando uma maior atenção a isso, ela se encaminhou diretamente para o fundo do salão.


            Hermione se dirigiu diretamente para a bruxa na recepção. Era uma mulher pequena e gorducha, loira e com óculos redondos. Tinha os olhos inchados e vermelhos como se já estivesse acordada a noite toda.


            –Oi – falou Hermione – eu gostaria de visitar Ronald Weasley. Ele deu entrada aqui a umas duas horas mais ou menos.


            A bruxa olhou uma lista ao lado dela, e informou:


            –Oh, sim... você está com sorte... ele acabou de ser transferido para o quarto 713. Eu preciso que você assine o livro de visitantes.


            Um pouco impaciente e com a mão tremendo, Hermione preencheu os dados da folha do caderno que a recepcionista entregara a ela. Depois, ela falou:


            –Prontinho... anh, eu aconselho usar a escada, se você não tiver problema em caminhar... os elevadores estão meio... instáveis.


            –Por que? O que aconteceu?


            –Ah... bem... parece que algum curandeiro estagiário fez algum experimento maluco num laboratório lá em cima... – disse a bruxa, revirando os olhos para o teto – quase explodiu o andar inteiro.


            Hermione achou aquilo estranho, mas não fez mais perguntas. Se perguntando se aquilo deveria ter algo haver com o acontecimento que Harry mencionara mais cedo, ela se encaminhou para as escadarias. Logo, logo iria descobrir.


 


06:47:43


06:47:44


06:47:45


 


            O visor do relógio-comunicador de Harry Potter estava tomado pela imagem do rosto de Monique La Roche. A chefe dos aurores parecia estar furiosa.


            –Então quer dizer que você omitiu informações de mim, Potter??? Ah... sinceramente, dessa vez você passou dos limites...


            –Foi necessário – falou Harry – e, levando em consideração o que aconteceu agora a pouco nesse hospital, a senhora tem que concordar tem que foi uma precaução necessária!


            Monique ficou olhando para ele e Carl através da imagem, parecia estar hesitando. Não era a primeira vez que Harry Potter tinha alguns problemas de insubordinação. Na verdade, Potter sempre teve a característica um tanto irritante de tentar resolver as coisas por suas próprias maneiras. Era algo que Monique não tolerava pois gostava da idéia do trabalho em equipe mas, não podia negar, geralmente o instinto de Potter trazia bons resultados. A segurança em mandar alguém fora do hospital, investigar o que podia ter acontecido com Weasley era uma prova disso. Mesmo assim, a auror parecia irredutível.


            –Eu não sei se é aconselhável e nem ético, submeter Weasley a um tratamento improvisado as pressas por pessoas que nem formação específica possuem...


            Harry suspirou, parecia que estava tendo um dejá vú. Dessa vez no entanto, não precisou argumentar. Carl, ao seu lado, tomou as dores por ele.


            –Harry já falou com o curandeiro... o Sr. Grid consentiu e disse que poderíamos tentar essa última chance...


            Monique ficou em silêncio, pesando as palavras. Ainda estava relutante, mas o fato de um curandeiro ter concordado no plano deles pareceu aliviar um pouco a dúvida da bruxa.


            –Então está certo... testem a tal da poção milagrosa em Weasley e... Potter, assim que vocês obtiverem algum resultado, me informe I-ME-DIA-TA-MEN-TE!


            –Sim, senhora –falou Harry.


            E com aquilo a imagem da bruxa se anuviou. Harry trocou um olhar para Carl Krane. Ambos pareciam estar muito tensos com aquilo.


            Eles olharam para o corpo de Rony, ainda imóvel sobre sua cama. O sol que entrava pela janela iluminava quadrados de luz por sobre seus lençóis.Grid e Chang, como combinado, ainda não tinham voltado.


            Antes que pudessem trocar alguma palavra, ouviram batidas de leve e a porta se abriu. Hermione entrou calmamente, estudando o ambiente.


            A primeira coisa que olhou foi o seu amado, deitado naquela cama, imóvel. Sentiu um aperto e um desespero no coração, mas ao mesmo tempo sentiu um alívio. As feições de Rony tão calmas e serenas pareciam indicar claramente que o bruxo estava fora de qualquer perigo repentino.


            Olhando para o lado, Hermione encontrou Harry que havia se levantado para recebê-la. Junto com ele, estava um auror que ela não conhecia muito bem, mas conhecia-o de vista.


            –Hermione – falou Harry, aliviadíssimo em vê-la. – então, vocês conseguiram?


            –Sim... – falou Hermione, tirando o frasquinho do bolso e entregando-o a Harry. – O que aconteceu aqui? Tem curandeiros correndo para todos os lados, como se viram um fantasma...


            Harry ficou tão admirado com a poção dourada do frasquinho, que a princípio não ouvira a pergunta de Hermione. Foi Carl, quem respondeu.


            –Parece que alguém explodiu o laboratório quando foram analisar alquimicamente algumas amostras de sangue... acho que sabemos de quem era o sangue que estavam tentando impedir de ser analisado.


            Hermione olhou dele para Harry, e então, compreendendo, olhou direto para Rony.


            –Mas isso... isso quer dizer que...


            –Quer dizer que muito provavelmente tem mais gente metida nessa história do que gostaríamos – falou Harry, encaminhando-se para a cabeceira da cama de Rony – com sorte, vamos conseguir tirar uma delas agora. Você tem certeza que a poção funcionará, Hermione?


            –Foi o mais perto de um possível antídoto que eu e Neville chegamos... provavelmente não restabelecerá Rony por completo mas, deverá neutralizar alguns dos efeitos do encantamento como a perda do domínio do próprio corpo, pelo menos em teoria.


            Carl e Hermione se juntaram a cabeceira da cama junto com Harry. Ele destampou o frasco da poção.


            –Estão preparados? – perguntou.


            Hermione e Carl consentiram com a cabeça. Hermione deu um toque com a varinha na cama, para que ela se inclinasse levemente, deixando a boca de Rony acima do nível do resto do corpo. Carl abriu a boca do ruivo e tampou seu nariz. Harry, com toda a esperança do mundo, despejou o conteúdo do frasco pela garganta de Rony.


            Durante alguns segundos não aconteceu nada. Se sentindo completamente um idiota e com vontade de jogar o frasco na parede, Harry se conteve. Quando já estava virando o rosto para esconder sua frustração, porém, algo aconteceu.


            Uma leve tossida foi ouvida na cama. E como se o tempo tivesse parado naquele mesmo instante, Rony abriu os olhos, arquejando num incrível acesso de tosse. Hermione olhou para ele feliz, quase se jogando para ele e o abraçando, mas Carl teve a complacência de impedi-la por enquanto. Harry se curvou para o amigo e falou:


            –Rony? Rony está me ouvindo??


            O ruivo virou o rosto desajeitadamente na direção de Harry, como se estivesse com dificuldade de focaliza-lo com os olhos. De repente, ao parecer que conseguira centra-lo no seu campo visual, falou com uma voz fraca.


            –H-Harry......


            –Rony? Você está bem? O que está sentindo?


            Por duas vezes o ruivo abriu a boca, mas parecia que seus músculos da garganta estavam fracos demais para pronunciar algum som, então com uma terceira e decisiva tentativa, respondeu:


            –F..fome


            Harry quase caiu riu de alívio. Sim, sem dúvida alguma aquele era o Rony. Hermione se jogou sobre ele e o abraçou fortemente enquanto o ruivo tentava enlaça-la com o braço fraco. Carl não fez nada para impedi-la dessa vez. Também estava aliviado por ter o amigo de volta.


            –O que aconteceu? Onde eu estou? – perguntou Rony, se sentindo confuso.


            –No St. Mungus – respondeu Harry, ao mesmo tempo que uma leve ruga de interrogação juncou a testa do ruivo. O auror respirou fundo, estava muito aliviado por ter o amigo de volta, mas agora era hora de terem algumas respostas.


            Hermione se erguera, e Harry se curvara para o amigo.


            –Rony... você se lembra... você se lembra de alguma coisa dessa noite?


            Rony levou a mão a cabeça, parecia que ela doía só no esforço em pensar.


            –Não... muito. Tudo está tão confuso... Lembro de imagens, luzes e sons... mas nada que faça muito sentido.


            –Qual foi a última coisa da qual se lembra – perguntou Harry.


            Rony levou alguns segundos que pareceram anos e então disse:


            –Eu lembro de ter ido... no Cabeça de Javali ontem a noite... é... eu tinha... um encontro... alguém tinha marcado um encontro comigo... tinha dito que tinha algo para me mostrar.


            –Quem, Rony? Quem marcou um encontro com você?


            O ruivo levou mais alguns segundos, buscando um nome naquela sopa de letrinhas que era a sua memória. Quando enfim se lembrou, pronunciou-o olhando para Harry, e o som que saíra de seus lábios soara como uma sentença.


            –Grid... Walden Grid...


            O peso daquela afirmação assustou e pesou o coração dos três naquele quarto. Mas certamente nenhum deles fora mais atingido do que Harry, sentindo-se como se houvesse levado um pesado soco no peito, agora compreendia a verdade.


            Havia cometido um erro. Um terrível erro.


            –Oh, meu Deus – falou Harry. E sem dizer mais nada, virou as costas e saiu correndo do quarto, abrindo a porta com fúria e voando pelo corredor.


            –Harry??!! – ele ouviu o chamado da amiga atrás dele, mas não se voltou. Correu pelo corredor encerado o mais rápido que suas pernas permitiam. Chegou onde estavam os elevadores e apertou o botão de descida, mas as portas não se abriram. Ele continuou a apertar os botões fervorosamente mais nada acontecera. Um curandeiro que passava atrás dele informou:


            –Desculpe, senhor... é que os elevadores pararam de funcionar faz uns vinte minutos, você sabe... a explosão... porquê não tenta as escadas?


            Harry nem sequer deixara o pobre homem terminar. Correndo na direção das escadarias no final do corredor, sua cabeça voava a mil! A explosão, dissera o homem... a explosão... é claro... como pode ser tão cego? Grid trabalhava no St. Mungus... Grid conhecia os procedimentos e o prédio. Eles não tinham visto o homem descer para o quinto andar... mas o que ele havia dito antes mesmo?


            “Espero que você não se importe de caminhar... acho um desperdício andar de elevador.”


            Harry agora descia as escadas três degraus de cada vez. As pessoas que subiam no sentido contrário gritava assustadas e irritadas ao ver aquele bruxo doido correndo por eles.


            Ele enfim chegara a porta da sala de Grid, mas ela estava trancada. Puxando a varinha de dentro das vestes, Harry exclamou, quase gritando:


            –Alorromora!


            E a porta se abrira com um baque.


            A primeira coisa que acontecera quando Harry entrou foi a repentina cegueira. As luzes do sol refletiam diretamente no enorme arranha-céu à frente da janela panorâmica da sala de Grid, enchendo todo o cômodo com uma luz dourada e quase cegante. Quando ele conseguiu focalizar as coisas a sua volta, sentiu o terror em seu peito.


            A sala estava parcialmente destruída como se uma ferrenha batalha tivesse acabado de acontecer ali, As estantes com livros haviam caído, folhas e páginas arrancadas, algumas queimadas voavam pela sala. A mesa a qual Harry se sentara mais cedo, havia tombado de lado, quase destruída. Os modelos de corpo humano estavam quebrados e inutilizados e a mesinha com o bule de chá havia simplesmente desintegrado.


            –Cho?! – Harry chamou naquela confusão, dando uns passos naquela sala atulhada de destroços.


            Por um momento, quase caíra. Havia escorregado em um líquido no chão. Pensando que fosse apenas chá, olhou para baixo e quase sentiu seu coração parar.


            Havia uma poça de sangue no chão, uma poça que fluía por debaixo da mesa tombada. Sentindo um terrível desespero e uma vontade de não ver o que o esperava do outro lado, ele contornou a mesa e a imagem que o aguardava, jamais seria esquecida de sua mente.


            –Cho!!! Não!!!


            Cho Chang estava caída no chão, toda ensangüentada. As mãos tentando inutilmente fechar um terrível corte em seu pescoço por onde jorrava o sangue. A varinha da auror estava quebrada em pedaços ao lado dela. Ela tentava inutilmente respirar, mas cada vez que tentava apenas se afogava ainda mais em seu próprio sangue.


            –Cho...não...


            Harry se curvou e se ajoelhou para Cho. Queria fazer algo, um feitiço talvez... mas sabia que não havia mais tempo, mesmo que conseguisse fechar o corte Cho já havia perdido muito sangue.


            De repente, com um sussurro de voz, ela o chamou.


            –H...H....Harry?


            Os olhos deles se encontraram mais uma vez, Harry olhou nos olhos dela e não encontrou dor nem medo... apenas arrependimento...


            –Me perdoe...


            Harry fez força para as lágrimas não descerem pelo seus olhos.


            –E-eu... eu... eu te amo...


            O rosto de seu amado, iluminado pelo amanhecer foi a última coisa que Cho Chang vira.


 


06:59:58


06:59:59


07:00:00


           


           


           


           


 

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Comentários (1)

  • MarianaBortoletti

    Oi, desculpa demorar tanto para ler e comentar o capítulo, mas aqui estou eu! CARAMBA, que capítulo foi esse?! Mil e uma coisas acontecendo ao mesmo tempo e todas elas super tensas! Neville serve para alguma coisa, Hermione é a mesma dedicada de sempre... Adorei esse ciúme da Ana, super justificável, ainda mais estando grávida e com os nervos a flor da pele. Eu adoro esse casal, mesmo que a gente não tenha uma linha escrita sobre eles. E o Harry atirando para o lado errado? Se eu disser agora que já tinha desconfiado do Dr. antes, ninguém acredita, mas eu sempre achei ele meio estranho, principalmente por causa do nome. Não sei, mas sempre me pareceu um anagrama para Grindelwald. Não fiquei com pena da Cho, juro que não fiquei. Bem, até mais o/

    2012-01-26
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