07:00 - 08:00
OS EVENTOS A SEGUIR OCORREM ENTRE SETE E OITO DA MANHÃ.
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Harry estava arrasado.
Ainda curvado sobre o corpo da colega, olhava-a fixamente no rosto. Tentava negar toda aquela cena. Uma parte dele torcia em acreditar que tudo aquilo era um sonho, apenas um sonho maluco.
Mas não. A verdade estava ali, nua e crua a sua frente. Sem nenhum mistério, sem nenhum segredo.
Cho Chang estava morta. Walden Grid era o assassino.
Demorou alguns segundos para perceber que não estava sozinho na sala. Olhando para os lados vira Carl e Hermione que haviam seguido o auror no momento em que saíra em carreira desembestada pelo hospital. Se virando para eles, percebeu que a reação dos dois não era muito diferente da dele. Tanto Carl e Hermione olhavam para o corpo de Cho, estupefatos. Carl estava com os olhos marejados e Hermione tinha a mão na boca, parecendo muito assustada.
–Hermione... – pediu Harry – não há... não há nenhuma maneira...?
Hermione virou o rosto para encara-lo. Havia piedade em seu olhar.
–Harry, lamento mas... ela se foi!
Harry já sabia disso é claro. Apenas fazia esforço para enxergar uma pequena, ínfima, réstia de esperança. Mas sabia que não havia. Tentava colocar os pensamentos em ordem. Se lembrar do porque de tudo aquilo. Se lembrar do porque de estar em uma sala destruída do Hospital St. Mungus olhando para o cadáver de uma amiga. De repente, como se tivesse tomado um tônico, ele ergueu-se. Tinha um novo objetivo: Dr. Grid!
–Quem ficou com o Rony?
Hermione e Carl se entreolharam.
–Eu... eu pensei que você iria ficar com ele – falou Carl para Hermione.
–Eu... eu ia... mas o grito do Harry me assustou e... eu não soube o que fazer... Rony já parecia recuperado e....
–Peraí... – Harry estava tentando entender aquele surrealismo – Rony ficou sozinho no quarto???
Harry não esperou pela resposta dos dois, passou por eles tão rápido que nem sequer ouvira a muda tentativa de resposta de Hermione, voltando a correr pelo corredor do hospital, desviando das pessoas que olhavam assustadas para ele. O medo e a apreensão tomando conta dele. Ele ainda não acreditava como pudera ser tão cego toda aquela madrugada. Subindo a escada tão rápido como minutos antes havia descido, quase atropelou uma senhora que vinha descendo claudicante com uma estranha tromba de elefante pendendo em vez de nariz. Voltando para o corredor do quarto de Rony, sentia seu coração ribombar no peito dolorosamente. O sangue pulsante em seus ouvidos. Quase nem deu pelo pobre zelador desdentado que limpava o chão com um esfregão a um canto. Chegou a porta do quarto e a abriu com violência, a varinha segura na outra mão. Rezando para que não fosse o pior que esperasse naquela além da porta.
Mas a sorte, que não o estava ajudando até então, continuava a zombar dele.
O quarto que antes estivera Rony, agora estava vazio. A cama onde antes repousara o corpo do auror, estava bagunçada e vazia.
Os companheiros entraram logo depois dele e dessa vez suas reações foram diversas.
–Que me... – xingou Carl Krane, enquanto Hermione não conseguiu segurar mais as lágrimas que teimavam em brotar-lhe dos olhos.
–Oh não... é minha culpa, tudo minha culpa, eu não deveria ter feito isso... ele levou Rony... ele o levou...
Antes que ela continuasse, Carl se adiantou e fez algo que, mesmo com toda aquela situação espantou Harry. Parou na frente dela e lhe deu um forte tapa no rosto.
O tapa parecia ter despertado Hermione. Ofegante, ela olhou para o rosto do auror e colocou a mão por sobre o local onde ele desferira o golpe. Soluçando, disse:
–O-obrigada.
Carl respirou fundo e voltou-se para os dois.
–Não é o momento para histeria. Temos que manter a cabeça fria. – dirigiu-se para Harry. – Nós não ficamos fora nem sequer dez minutos... e é impossível aparatar aqui dentro... ele ainda tem que estar no prédio!!!
Harry considerou o que o auror acabara de dizer e então saiu do quarto para o corredor além. Olhou para os lados, mas estava vazio exceto pelo velho zelador que limpava o chão a um canto.
–Ei! – chamou Harry, o zelador ergueu a cabeça – o senhor viu um curandeiro sair deste quarto com um paciente agora a pouco?
O velho homem inclinou a cabeça.
–Sim... claro que vi... na verdade foi meio estranho...
–Como assim meio estranho?
–Ele saiu do quarto com o paciente numa maca – falou o zelador – parecia realmente transtornado... o jovem estava desacordado, sei lá... parecia estuporado! Então ele o levou direto para o elevador... eu tentei impedi-lo dizendo que eles haviam proibido o uso do elevadores por enquanto... mas ele não me ouviu... as portas se fecharam e ele sumiu de vista.
–Você viu para que andar ele foi??? – perguntou Harry ao mesmo tempo que Hermione e Carl saíam do quarto.
–Sim... e isso foi ainda mais estranho... o elevador subiu direto... direto para o terraço...
Harry ficou olhando para o zelador por alguns momentos.
–O terraço? Mas não tem nada lá a não ser... – e então a compreensão tomou conta dele. – Ó não!!!
Harry voltou-se em direção para os elevadores, Hermione e Carl em sua cola.
–Harry... espere... – Hermione começava a ficar sem fôlego.
–O que houve? – perguntou Carl quando emparelharam com ele.
Harry ficou vendo as luzinhas no alto da porta se acenderem e apagarem enquanto dizia:
–Vai... vai... vai... não podemos deixar ele partir...
Então as portas se abriram, revelando um elevador que balançava sinistramente. O zelador atrás dele gritou:
–Ei, moço!!! O senhor não ouviu o que eu disse??? Os elevadores foram interditad...
Eles não ouviram o resto da frase. Pulando para dentro do elevador, as portas se fecharam e eles começaram a subir vertiginosamente.
Quando chegaram enfim ao seu destino. As portas se abriram revelando um terraço banhado pelo sol nascente que brilhava sobre os arranha-céus de Londres. A um canto, os maiores temores de Harry se concretizando. O Dillys I, o potente helicóptero mágico que os havia trazido até ali, girava seus rotores já na velocidade máxima, planando a uns dois metros do chão. Fixando o olhar na cabine do piloto, Harry conseguiu distinguir por alguns segundos uma figura familiar, antes que o helicóptero girasse e o reflexo do sol no vidro o fizesse virar o rosto instintivamente. Mas fora o suficiente.
Grid!
Erguendo a varinha começou a correr em direção ao helicóptero lançando feitiços, mas a potente lataria mágica do transporte era encantada com um potente feitiço refletor que ricocheteou o feitiço deixando uma marca cinza no terraço.
Quando os três chegaram ao ponto onde estava antes o helicóptero, ele já havia transpassado o pequeno muro e começava a voar em toda velocidade para o norte, invisível aos olhos da Londres dos trouxas.
Os três, abismados, ficaram olhando enquanto o helicóptero passava entre os prédios da cidade.
–Harry... – Hermione começou – o que vamos fazer???
Harry suspirou fundo.
–Você, Hermione... vá diretamente ao Ministério! Conte a Monique o que acabou de acontecer, diga que precisamos de qualquer informação a respeito de Grid... de onde ele veio... onde ele mora... tudo!
Hermione enxugou uma lágrima com a manga, respirando para tomar força respondeu.
–Está bem!
–Carl, imagino que... imagino que Cho não deve ficar aqui sozinha como se tivéssemos a abandonado... fique aqui... pelo menos até a família dela for informada...
Carl não respondeu, não precisava...
–E quanto a você, Harry? – perguntou Hermione.
–Eu? – disse Harry, voltando-se e encaminhando direto para o elevador – eu vou atrás de uma vassoura!!!
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Gina Weasley tomava o seu café da manhã solitária. Há muitos anos não tinha uma noite tão péssima. Demorara muito para pegar no sono e, quando enfim conseguiu, os pesadelos foram tenebrosos o suficiente para corre-la da cama. Primeiro sonhara que Harry desaparecia em uma coluna de fumaça... depois que tentava em vão segurar o irmão, prestes a cair num desfiladeiro, que o engolia com sua escuridão... depois sonhara que estava presa dentro de um labirinto escuro ela corria... corria... corria... enquanto olhos sinistros a vigiavam das sombras, chamando por ela...
Por fim, desistira de tentar dormir, e descera para a cozinha do Largo Grimmauld onde tomava um café com alguns ingredientes mágicos para mantê-la acordada... tentando desviar os pensamentos da terrível noite pela qual passara começou a se concentrar nas coisas que tinha para fazer naquele dia.
Logo iria subir para acordar Tiago. O garoto certamente já estaria com boa parte do malão pronto (ou pelo menos ela assim esperava!). E então, logo mais, eles iriam para King’s Cross onde ele embarcaria para o seu primeiro ano em Hogwarts. Tiago estava animado para ir, há dias que não falava em outra coisa. Havia até mesmo uma certa arrogância na forma que dizia com toda a certeza que seria um grifinório.
Ela começou a se perguntar se Harry chegaria a tempo de leva-lo até a estação... e se aquela altura o irmão já estaria bem... olhou para o relógio... já haviam se passado sete horas desde aquele terrível chamado e ele ainda não voltara. Desviou seus pensamentos para Rony e, com mais uma preocupação a lhe sobrepujar o coração começou a se perguntar o que havia acontecido com o irmão. Porque ele agira daquela forma? Até que ponto ele estaria envolvido?
Leves batidas na janela a acordou daquela divagação. Virando-se reconheceu a pequena coruja das torres que diariamente aparecia ali para entregar o Profeta Diário. Gina se levantou e andou até a janela abrindo o vidro e sorrindo para a ave.
–Olá, pequenina – disse enquanto pegava o jornal e pagava com cinco nuques na bolsinha de couro que ela trazia pendurada ao pescoço. – Quer um biscoito? Ahn? – dizia enquanto afagava a cabeça da coruja.
Gina esperou a coruja comer o biscoito e voar pela janela para voltar sua atenção para o jornal. Fazia idéia de qual seria a reportagem de capa e não se surpreendeu.
Na capa do Profeta Diário daquela manhã de domingo, havia uma foto de corpo inteiro que ocupava praticamente a página inteira. Kingsley Shacklebolt olhava tristemente para o leitor, sobre as manchetes escritas em uma coluna lateral:
O MUNDO BRUXO SOFRE UMA IRREMEDIÁVEL PERDA!!!
KINGSLEY SHACKLEBOLT, NOSSO HONRADO MINISTRO DA MAGIA DESDE O FIM DA SEGUNDA GRANDE GUERRA BRUXA FALECEU À CERCA DE MEIA-NOITE DE ONTEM.
DECLARAÇÕES DE ALGUNS REPRESENTANTES DO MINISTÉRIO, CONVERGEM SEMPRE PARA UMA MESMA CAUSA: ASSASSINATO!!!
O QUE HOUVE REALMENTE? QUEM PODERIA TER COMETIDO TAL ATROCIDADE? QUAL O FUTURO POSSÍVEL PARA NOSSA SOCIEDADE DIANTE DE TAL HORIZONTE NEGRO?
OS MISTÉRIOS DIANTE DA MORTE DO MINISTRO SHACKLEBOLT, pp. 3 e 4
O QUE HÁ DE VERDADE E MENTIRA NAQUILO QUE NOS FOI DIVULGADO PELO MINISTÉRIO? p. 5
O BRUXO POR TRÁS DO MINISTRO: UMA BREVE TRAJETÓRIA DE VIDA DE KINGSLEY SHACKLEBOLT, pp. 6, 7 e 8
O ESQUADRÃO ALPHA DOS AURORES: ESTARÃO ELES DE FATO PREPARADOS PARA GARANTIR A SEGURANÇA DA SOCIEDADE BRUXA?pp. 9 e 10
Gina leu a última linha com desdém. Imaginava que deveria sobrar para o Esquadrão Alpha a culpa pelo assassinato do Ministro... provavelmente o Profeta Diário atacaria sua inépcia e total falta de responsabilidade na noite anterior. Assassinatos de Ministros só podiam acontecer se houvessem infiltrações malignas dentro das fileiras do Ministério, e o Esquadrão Alpha, tendo a fama de ser incorruptível, seria o primeiro a ter que prestar contas.
“É engraçado como as coisas são” pensou Gina, o fato era que se fosse a alguns anos, o Profeta Diário jamais ousaria atacar de forma direta a instituição suprema. Ministros como Fudge e Scrimgeour usavam o poder da imprensa a seu favor. No entanto, depois que o próprio Shacklebolt assumiu o Ministério, houve certa cisão entre o Ministério e o Profeta Diário. O Ministro criticou publicamente certas posições do jornal, chegando a chamar o editor-chefe do jornal, Barnabás Cuffe, de pelúcio extremamente inconveniente durante um jantar beneficiente do Hospital St. Mungus. Desde então, Cuffe, não encarava o Ministério da mesma forma que antes em seus editoriais.
Gina não se surpreendeu ao se ver pensando “bando de hipócritas” enquanto lia os pomposos e suntuosos elogios a Kingsley Shackelbolt na biografia improvisada. Foi só quando chegou na página 9 que ela parou imediatamente. Ao ler o cabeçalho da notícia, congelara.
O título da reportagem era o mesmo da capa: “O ESQUADRÃO ALPHA DOS AURORES: ESTARÃO ELES DE FATO PREPARADOS PARA GARANTIR A SEGURANÇA DA SOCIEDADE BRUXA?”. O subtítulo, porém, é que causava calafrios: COMPORTAMENTOS E DECISÕES CONTRADITÓRIAS DO PRÓPRIO ESQUADRÃO ALPHA NA NOITE DA MORTE DO MINISTRO INDICAM A POSSÍVEL PARTICIPAÇÃO DE AURORES EM SEU ASSASSINATO.
Gina Weasley congelara ao ler aquela frase. Uma única palavra ecoando em sua cabeça: “Rony”.
–Como... como eles souberam?
No entanto, as surpresas não terminariam por aí... quanto mais Gina lia a reportagem, mais um peso morto lhe desceria pela garganta...
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–E por isso, mesmo com a terrível dor que eu assumo este cargo em um momento tão difícil como este, darei tudo de mim para honrar daquele homem digno e justo que nos deixou... darei prosseguimento ao seu trabalho com todo o afinco que possuo durante o tempo em que ficarei como Ministro Interino...
Cornélio Fudge estava quase terminando seu discurso de posse como Ministro da Magia, no átrio do Ministério. O ostentoso saguão estava atulhado de pessoas, na sua maioria funcionários do próprio Ministério que, embora fosse uma manhã de domingo, foram as pressas ao trabalho ao saberem da infeliz novidade. Havia ali também repórteres, que tirava fotos estonteantes e cegavam alguns bruxos. Outros eram apenas curiosos, avisados de última hora pelo Profeta Diário que estava noticiando para toda a Grã-Bretanha naquele momento o acontecimento da última noite.
Foi esse ambiente que Hermione avistara quando irrompeu das chamas verde-esmeralda de uma das lareiras de mármore negro. Olhou em volta, um pouco assustada ainda com aquela turba de pessoas que preenchiam quase todo o enorme saguão. Sendo mais uma funcionária do Ministério, sua chegada ali não pareceu ser estranha ou inoportuna. Hermione começou a olhar em volta procurando por Monique La Roche ou algum outro dos aurores. Ela avistou muitos conhecidos como Amos Diggory, Mafalda Hopkins, Miguel Corner... mas não conhecia avista-la. Olhando ansiosa na direção para aonde todos estavam olhando, ela respirou aliviada.
Cornélio Fudge discursava a frente de uma imensa fonte de ouro maciço que mostrava um bruxo e um trouxa de mãos dadas, uma das primeiras aquisições de Kingsley Shacklebolt. A água jorrava constantemente sobre os corpos das duas estátuas como uma segunda pele.
O que e porquê Fudge estava discursando naquele momento era desconhecido de Hermione naquele momento, na verdade a sua atenção fora captada pela bruxa que estava bem perto dele no momento. Na primeira fila da multidão, a apenas alguns passos de distância de Fudge, Monique olhava atentamente para ele, bebendo cada palavra do seu discurso. Ernesto, Justino e Terencio estavam logo atrás dela.
–Com licença... – pedia Hermione, ao tentar passar pelos vários bruxos que enchiam o saguão – ah... me desculpe... com licença...
Levou alguns minutos até Hermione conseguir chegar onde Monique La Roche estava. Enquanto isso, Cornélio Fudge prosseguia em seu discurso.
–E faremos ver – bradava ele com um vigor quase milagroso para os seus já muitos anos – aquele que porventura seja culpado desse crime, o sabor amargo das nossas mais rigorosas leis! Não deixaremos impune, causador de tamanha mancha na historia de nosso povo!!!
Os bruxos em volta sussurravam em favor as palavras de Fudge como se aprovando o que o velho homem dizia. Hermione realmente não conseguia prestar atenção, empenhada que estava em conseguir atravessar aquela multidão. Quando enfim, conseguira chegar até ela, pegou-a no braço e a auror, assustada, se virou. Quando viu quem era porém, sua expressão se tornara menos rígida e ela falou:
–Sra. Weasley?? O que está fazendo aqui?? Você não deveria estar no St. Mungus??
Antes que Hermione pudesse responder, uma salva de palmas ensurdecedora encheu o salão e ecoou no teto abobadado no alto, multiplicando a intensidade do som inúmeras vezes. O sinal indicava que Cornélio Fudge enfim terminara seu discurso, e algumas pessoas mais próximas se aproximavam para cumprimenta-lo. Quando o eco das palmas cessou, Monique voltou a carga.
–Então? Vocês conseguiram trazer Weasley de volta?
–Sim... – falou Hermione para a auror. Os outros membros do Esquadrão estava atrás da chefe e ouviam atentamente – mas aconteceu uma tragédia!
–O quê? – perguntou Monique.
Hermione hesitou. Não sabia por onde começar. Pensou em falar de Cho... mas já não havia mais nada que pudessem fazer no momento. O lamentável assunto poderia esperar um pouco mais. Rony e Grid era mais urgente.
–Ele conseguira dizer o nome de quem o enfeitiçara!
O rosto de Monique paralisou-se. Hermione podia sentir a tensão em cada rosto dos aurores.
–E então? – perguntou Monique.
–É um dos curandeiros do St. Mungus... o curandeiro que estava no estádio ontem a noite com a gente... Dr. Grid.
–O quê??? – perguntou Ernesto estupefato. As bocas de Justino e Terencio caíram.
Monique La Roche estava inabalável. Uma rocha, como sempre.
–E então? – perguntou.
–E aí vem o pior – começou Hermione, lutando para não chorar de novo começou – Grid seqüestrou Rony e conseguiu fugir usando o Dillys I, o helicóptero bruxo. Nesse exato momento, Harry está o perseguindo o suspeito com uma vassoura em algum lugar da Inglaterra.
A notícia colocou eles em choque, antes que qualquer um deles pudesse dizer algo porém, uma voz atrás dela fez Hermione se virar.
–O quê?! Potter, está perseguindo um suspeito??
Cornélio Fudge havia se aproximado do Esquadrão Alpha em meio a multidão e ouvira a última frase de Hermione.
Hermione ficou indecisa. Mas Cornélio Fudge era um dos seus patrões diretos, e de qualquer forma, imaginava que aquilo não ficaria mais em segredo por muito tempo.
–Sim, senhor. O suspeito fugiu do St. Mungus usando o helicóptero bruxo.
O olhar de Monique fuzilou Hermione. Os olhos do novo Ministro se apertaram como uma raposa astuta, parecia estar refletindo longamente sobre algo. Então, se voltou para a chefe dos aurores.
–Você não me falou nada sobre possíveis suspeitos...
–Eu não sabia – falou Monique – A Sra. Weasley acabou de me atualizar sobre a informação!
Fudge ainda olhava fixamente para Monique. De certa forma, o desafio visual que os dois travavam naquele momento chegava a ter o clima de um verdadeiro duelo de titãs.
–Venha comigo, La Roche! – disse Fudge por fim – Vamos conversar no meu escritório!
E os dois se separaram da multidão, se encaminhando para os elevadores. O esquadrão Alpha ficou para trás, olhando-os junto com Hermione.
–Eu... eu não entendo – disse Hermione.
Ernesto balançou a cabeça e se aproximou para fechar a roda da conversa. Os outros tiveram que se inclinar para ouvir o que o auror dizia no meio dos murmúrios do átrio.
–Você fez mal, Hermione! Muito mal...
–Por quê?! – perguntou Hermione confusa.
–Cornélio Fudge – começou Ernesto – foi eleito esta madrugada como Ministro da Magia Interino para substituir Shacklebolt.
Hermione assimilou a informação. Isso explicava o porque do discurso e o porque da necessidade de La Roche se reportar a Fudge.
–Só que acontece – falou Terencio – que Monique não confia em Fudge... na verdade tem mais razões pra desconfiar do que confiar...
Hermione olhou para Terencio, e então seu supercérebro voltou milagrosamente a funcionar.
–Ela acha que ele está envolvido nisso, de alguma forma?
–Envolvido? – perguntou Terencio – ela acha que ele está muito mais do que envolvido!
Hermione olhou para ele durante algum tempo, entendendo o que o auror queria dizer, depois olhou para os outros dois dizendo:
–Monique suspeita que Fudge mandou matar Shacklebolt?
Ninguém respondeu aquela pergunta. Um clima tenso de conspiração complementou o silêncio do grupo.
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Os verdejantes campos do Surrey tremulavam a brisa fresca da manhã. Muito acima deles, veloz como uma bala, Harry Potter voava montado em uma vassoura olhando diretamente em frente. A vassoura em que ele estava montado era uma Comet 260 que ele havia conseguido emprestada do velho zelador. Não era nem de longe tão potente quanto a sua Firebolt, mas servia por ora.
Ele levara alguns minutos para conseguir rastrear a direção que o helicóptero tomara, mas enfim conseguira localiza-lo e agora voava rapidamente em seu encalço. Infelizmente, Jorge Weasley havia caprichado como nunca antes ao ter projetado o Dillys I. O helicóptero era a máquina bruxa mais rápida criada até o momento e Harry lutava contra a sua vassoura, buscando acelera-la até o limite, mas no momento... o máximo que conseguia era não tirar o helicóptero de vista.
O auror ergueu a varinha e lançou uma rajada de feitiços no helicóptero diante dele, inutilmente, pois os feitiços ricochetearam na lataria do helicóptero e suas centelhas perderam-se rumo ao chão. Harry sabia que nada iria penetrar a grossa defesa do metal mágico do helicóptero e de seu vidro anti-feitiço. E ele temia tomar uma atitude mais ofensiva, pois sabia que isto poderia causar problemas para Rony também.
À direita de Harry, pouco acima da linha do horizonte, o Sol começava a incidir seus raios sobre a lente dos óculos do garoto, começando a incomodá-lo. A visão do garoto já estava começando a ficar prejudicada, dificultando a perseguição. Harry se manteve durante vários minutos atrás do helicóptero, sem se render. Não iria permitir que aquele maluco além de matar o ministro da magia e Cho Chang, e possuir seu amigo, ainda o raptasse!
O garoto olhou para os rotores do helicóptero que giravam numa velocidade estonteante. Talvez um feitiço de retardamento conseguiria pelo menos desacelera-los. Sabia que os sistemas de defesa do Dillys I não permitiriam que a azaração agisse por muito tempo. Concentrando toda a sua mira, dificultada pelo sol nascente, nos rotores do helicóptero, gritou:
–Impedimenta!!!
Foi como se algo invisível houvesse interferido na rotação das pás mecânicas puxando o helicóptero rapidamente para trás. Embora logo depois o helicóptero voltasse a voar em sua velocidade normal, Harry conseguira diminuir bastante a distancia entre os dois, pelo menos por ora...
Já estava se preparando para lançar um segundo feitiço, quando o helicóptero fez algo inesperado, inclinando o seus rotores para o lado, o helicóptero começou a fazer uma curva para a direita até conseguir ficar exatamente ao lado do auror, em uma circunferência imaginária. Harry, olhando para o lado, viu a porta do helicóptero aberta e nela o Dr. Grid. Grid estava bastante descabelado e com alguns cortes no rosto, frutos possivelmente do seu recente duelo com Chang. No entanto, no átimo de segundo em que Harry conseguiu visualiza-lo, percebeu que ele concentrava uma enorme bola de energia azul nas mãos.
Ele não teve muito tempo para se preparar, ao tentar erguer a varinha para bloquear o encantamento, o feitiço do homem voou para ele como um míssil. Harry ainda conseguiu lançar um feitiço de contra-ataque, mas tarde demais. Os dois feitiços se encontraram muito próximos de onde Harry estava, e ocorreu uma enorme explosão que o impulsionou para trás, ele ainda tentou se segurar firmemente nos dois pedaços de madeira que segurava: a vassoura e a varinha, mas foi inútil. A força do impacto da explosão fora forte o suficiente para partir a vassoura em dois pedaços. E ele só se deu conta disso, quando já era tarde.
Harry Potter caía em queda livre pelos céus da Inglaterra.
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–Cho está morta???!!!
Justino não conseguia assimilar aquilo que acabara de ouvir. Ele, Ernesto, Terencio e Hermione estavam de volta a sala de reuniões do Quartel General dos Aurores. Hermione estava os colocando a par dos últimos acontecimentos. Os aurores ficaram chocados ao ouvir a história.
–Sim... – falou Hermione com tristeza. – Krane ficou por lá... para cuidar do corpo.
Justino Finch-Fletchley deixou-se desabar na cadeira. Seus olhos fixos na lareira acesa ao lado dele. Terencio e Ernesto pareciam querer resistir aquela informação. Mas não havia nada a fazer...
–E Harry... Harry foi atrás do Grid, sozinho?? – perguntou Ernesto.
–Sim – respondeu Hermione, ainda com um semblante triste.
Terencio Boot levantou-se de um salto. Como se estivesse determinado a fazer alguma coisa.
–Precisamos ir ajuda-lo!!
Olhou para os dois a sua frente com energia. No entanto, foi a voz abafada de Justino no canto da sala que se fez ouvir.
–É inútil... Não fazemos a mínima idéia de onde o helicóptero está agora... ele foi enfeitiçado de forma que fosse impossível de rastrear.
Terencio e Ernesto olharam para Hermione, certamente ela saberia bem mais sobre os dispositivos do transporte do que eles.
Hermione, que por alguns instantes se viu empolgada em fazer algo teve que admitir desapontada.
–Está certo... nem os radares trouxas conseguem captar o sinal de Dillys I.
–Isso não é problema – falou Terencio, puxando o relógio-comunicador do bolso. Durante alguns segundos ficou apertando e girando os botões.
–Harry... Harry!
O pequeno vidro do mostrador do relógio se esfumaçou, mas em vez de mostrar o rosto de Harry a fumaça se escureceu e relampeou. Como se uma pequena tempestade estivesse ocorrendo dentro do relógio.
–Que estranho... Ele não está respondendo!!
Os outros se entreolharam, tensos.
–Talvez ele não esteja sentindo o chamado... – falou Ernesto para acalma-los. Embora houvesse a possibilidade de que isso fosse verdade. Havia uma sensação de urgência no ambiente compartilhada por todos.
–Então... o que faremos? – perguntou Hermione.
Ninguém respondeu por algum tempo. Então novamente a voz de Justino se fez ouvir nas sombras.
–Esse Grid... Ele não pode ter aparecido do nada. Ele deve vir de algum lugar... família, amigos, ele tem que ter uma moradia... – Justino saiu das sombras. Uma nova energia nascida da idéia de pegar o assassino de Cho havia nascido dentro dele – esse sobrenome, Grid... não me parece ser britânico...
–De fato – falou Terencio concordando – ele tinha um sotaque estranho... alemão ou húngaro, talvez...
Justino assentiu.
–Precisamos achar a ficha dele!
Uma pequena risada se fez ouvir do outro lado da mesa. Ernesto parecia olhar para eles, orgulhoso.
–Sei exatamente onde procurar!
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Grid estava tão ocupado no comando do helicóptero que não pode reparar na mão que se apoiava na entrada aberta da lateral do transporte. Com um esforço e tentando fazer silêncio, Harry Potter se ergueu para conseguir subir no interior do Dillys I. Quando conseguiu, respirou fundo algumas vezes, ainda deitado no carpete que forrava o chão. Há poucos minutos atrás, esteve prestes a ver a morte.
Quando Harry estava caindo em alta velocidade em direção ao chão. Não teve outra saída se não apelar para aquela que tanto poderia ser a sua salvação, como também poderia ser uma loucura completa. Se desvencilhando dos restos da vassoura quebrada, Harry segurou firme a varinha na sua mão e rodopiou pelo ar, aparatando a algumas centenas de metros do solo.
Embora aparatar e desaparatar em movimento fosse profundamente desaconselhável pelo Ministério da Magia (as chances de estrunchamento eram de quase 60%), Harry conseguiu reaparecer no trem de pouso do helicóptero em formas de pranchas de esqui. E teve que se segurar firmemente nelas para não cair por causa da velocidade em que estavam voando. Ele passara os últimos minutos, tentando uma manobra quase suicida, tentando se equilibrar no trem de pouso e conseguir se içar para cima.
Agora, ele se arrastava pelo chão do helicóptero, tomando cuidado para que Grid não se desse pela sua presença. Olhou para o lado e viu, bem perto dele, o corpo de Rony deitado por cima do mesmo banco onde ele havia se sentado horas mais cedo. O ruivo estava desacordado, o que fez passar um arrepio de medo pelo seu corpo.
Se aproximando, sempre abaixado, ele colocou os dedos no pescoço do amigo e uma onda de alívio o percorreu. Havia pulso. Rony estava vivo, apenas desacordado. Estuporado, talvez?
Olhou para o peito do amigo e viu que ele estava preso ao banco pelo mesmo tipo de algema mágica que ele havia conjurado antes. Já estava pronto para desfazer aquele feitiço quando sentiu uma rajada quente correr pelas suas costas em linha reta. Ganindo de dor, ele se virou.
Grid havia colocado o helicóptero no piloto automático novamente e agora se levantara para encarar Harry, firmemente. Não havia mais compreensão naqueles olhos azuis. Havia frustração e estresse, como se o homem estivesse passando por um dia onde nada que ele houvesse planejado tivesse dado certo.
–Sua insistência está começando a me irritar, Potter!
Ele ergueu a varinha, e Harry ergueu a sua também ao mesmo tempo que se levantava. De repente eles começaram um duelo furioso, faíscas saíam da varinha e se encontravam ricocheteando. A fúria do duelo era tanta que as vezes o helicóptero se inclinava levemente perdendo estabilidade.
Harry tinha que reconhecer que Grid era um duelista fenomenal. Era rápido e conseguia concentrar feitiços de grande poder num pequeno período de tempo. Aos poucos, ele foi percebendo que estava praticamente se defendendo todo o tempo pois o médico simplesmente não lhe dava oportunidade para contra-atacar.
Grid então criou uma grande esfera de energia laranja e a lançou para Harry. O auror também havia conseguido concentrar um grande poder azul para bloquear o feitiço do curandeiro. Os dois feitiços bateram em cheio um no outro e ricochetearam. O de Harry voou pela porta aberta. E o de Grid acertou em cheio o painel de comando do helicóptero, explodindo-o. Uma nuvem de fumaça começou a se erguer e eles sentiram como se estivessem sendo empurrados para cima pela inércia, quando o Helicóptero começou cair vertiginosamente.
A explosão havia distraído os dois duelistas por um tempo, quando Harry se recuperou no entanto, Grid já estava preparado.
–Incarcerous Argentum! – Um grande raio azul saiu da varinha do medico que logo se converteu em uma grosssa corrente de prata. Harry não teve tempo de contra-atacar, a corrente viva se enrolou em seu corpo com tanta força que quase esmagou seus ossos. A pressão em seus músculos forçou a sua mão a largar a varinha, que caiu no chão e rolou para baixo do banco defronte a Rony. Tentando desesperadamente se soltar, ele caíra sentado no mesmo banco, lutando contra as grossas correntes que o prendiam.
Olhou para cima e viu Grid, com um olhar sádico no rosto. Apesar da crise, ele aparentava estar calmo. Havia guardado a varinha e carregava o corpo de Rony nos braços.
–Solte-o! – engasgou Harry.
–Lamento, Potter!!! – Grid respondeu – ele é minha cobaia, preciso dele.
Harry ainda tentava inutilmente lutar contra as correntes.
–Boa-Viagem Potter!!! – e dizendo isso aparatou com o corpo de Rony.
Harry ficou olhando espantado para o ponto onde os bruxos haviam acabado de desaparecer, olhou para trás, para o para-brisa do helicóptero, e viu os campos verdes iluminados pela manhã no Surrey cada vez mais próximos.
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Oi Thiago! Desculpa a demora para comentar, mas aqui estou eu, atrasada e presente. Esse capítulo me deixou sem fôlego, juro. Adorei o desenvolvimento da trama e o mais incrível é que o papel de cada um desses personagens é super importante. E eu acho que as coisas estão caminhando para a minha desconfiança inicial... Será?
2012-03-09Ok vamos lá esperei até o ultimo capitulo para comentar! Sua FIC está excelente! Muito boa mesmo! Parabéns! Estou ansiosa para o proximo capitulo.
2012-02-26