Capítulo IX
-“Esqueçam a detenção” – Daniel resmungou, lembrando a frase dita algumas horas atrás e procurando se camuflar nas infindáveis estantes negras que se empilhavam de maneira instável. – Esqueçam aquela detenção.
-É o quê? – Lucy sussurrou de volta para o menino, reagindo como se ele a tivesse ofendido.
-Lucy – Kimberly deu uma cotovelada na amiga. – Aqui não.
-Aqui não o quê? – Lianora perguntou nervosa e hesitante, temendo a chegada da Diretora como a morte.
-Lianora por amor de Merlim se acalma – Daniel ripostou irritado do fundo do gabinete. – O outro zé mané não ia pegar detenção com a gente? – Resmungou.
-Não tem como saber – Kimberly rispostou, – mas se a Diretora não perguntar a gente também não precisa encrencar o outro. Já é suficiente estarmos aqui sem merecer por sua causa. Mania de encrencar as pessoas.
-Já pedi desculpas...
-E nós já recusamos – Lucy regressou ao tom que usava especialmente para discutir com Daniel, levando uma segunda cotovelada.
O som de pedra raspando em pedra anunciou a chegada da Diretora, culminando com a viragem da estátua que à mulher dava lugar. Passando os olhos pelos alunos com uma irritação leve, deixou-se ficar em Lucy com um ar tão desapontado que inundou a menina de tristeza e vergonha. O silêncio constrangedor se compunha com o tique nervoso nas mãos de Lianora, Lucy evitando contacto visual com a Diretora, Daniel se escondendo como melhor podia entre livros e pergaminhos bolorentos e Kimberly transbordando irritação.
-Eu esperava que esse tipo de coisas já tivesse acabado, vocês já não têm mais idade para essas coisas. Não sei se já repararam mas vocês são quase finalistas. Em menos de dois anos estarão enfronhados, estudando e estagiando para os vossos futuros empregos e não pensem que o sentido de responsabilidade vai aparecer espontaneamente da noite para o dia. Regras existem para alguma razão.
-Mas... – Lucy começou, se lembrando das histórias contadas à lareira e se arrependendo de abrir a boca conforme as palavras lhe saíam – tia... achei que a senhora, melhor que ninguém, concordaria que as regras existem para, às vezes, serem quebradas...
-E porque, na sua opinião, Lucy, isso é verdade?
Mas Lucy já tinha gasto todos os cartuchos de coragem por aquele dia.
-Porque às vezes as regras têm que ser quebradas para... dar graça às coisas – Daniel quebrou o silêncio.
Hermione olhou para os quatro com pena, seguidamente para as mãos enquanto a mente recuava alguns anos.
-As regras não existem para serem quebradas, circunstâncias é que podem surgir e exigir que se quebrem regras. Em ciscunstâncias normais não são as regras que têm que se curvar às vossas necessidades, são vocês que devem se moldar e arranjar maneiras de se divertirem. E vocês vão me desculpar mas aquela brincadeira foi de muito mau gosto; apelar à diversão para justificar aquilo não é o mais inteligente a fazer.
-Mas Diretora, não fomos nós... – Daniel começou.
-Então porque o senhor tem esse ar de culpado estampado no rosto? – A mulher interrompeu o rapaz, prosseguindo sem esperar que a sua atrapalhação passasse – acho que vocês podiam ter uma melhor noção da sorte que têm, compreender para que servem as regras... e distinguir contextos em que infrações se justifiquem de contextos em que adolescentes bobos e aborrecidos decidem que podem fazer o que querem sem ter consequências.
-Diretora... nós já estamos no Sh... quer dizer, no Exército de Dumbledore... – disse Kimberly, a medo, já prevendo uma detenção que exigisse mais trabalho.
-E parece que não é suficiente para manter essas cabeças de vento ocupadas – Hermione pousou as mãos na cintura. – Quero um ensaio sobre tudo o que se passou nesta escola, desde a altura de Tom Riddle até ao desaparecimento de Harry Potter. Quando eu digo tudo, eu quero dizer tudo o que conseguirem encontrar, mas tenham em mente que eu própria tenho certas premissas que espero que encontrem, entendam e exponham.
-Então não vamos poder fazer perguntas à senhora? – Lucy, como todos os outros, exasperava.
-Eu não sou a única aqui que era daquela época. Vocês vão pesquisar sobre isso por uma hora em cada dia da semana, e duas horas a cada sábado e domingo, obrigatóriamente de tarde. Vão continuar trabalhando neste projeto até me dizerem tudo o que eu quero ouvir. E não quero que descuidem suas obrigações escolares nem da vossa investigação.
-Investigação...? – Lianora perguntou, exasperada.
-Seus colegas têm outras obrigações – a Diretora explicou.
-Er... e a Diretora... vai falar com os nossos pais...? – Lianora ainda interveio, a medo.
-Ou os vossos pais são informados, ou os vossos registros permanentes, eu pensei na primeira opção, sendo menos prejudicial para a vossa carreira... – E pelo que ninguém objetava, concluiu – podem ir.
Cada aluno percorria caminhos destintos de pensamentos ao descer a helocoidal escadaria de pedra, partilhando as caras fechadas.
-Porque você se preocupa tanto com o que os seus pais fcam sabendo? – Lucy interrogou Lianora, achando tal comportamento caricato, tendo em mente as inconvencionais condutas da garota.
-Devem ficar umas feras – Lianora mantinha a expressão desesperada. – Pode me colocar de castigo, me obrigarem a ir pra casa em todas as férias, e isso se não inventarem de comprar uma propriedade em Hogsmeade para me controlar de perto... oh-meu-deus-não-quero-nem-pensar-nisso! – Terminou a alta velocidade.
“Hum, aí seus planos ficariam arruinados” Lucy a olhava, achando aquilo tudo esquisito.
-Você está preocupada com o que os seus pais vão fazer? Então e nós? Como é que a gente vai fazer? – Kimberly ripostou – eu não quero nem saber que tipo de feitiço ela deve estar colocando em cada um para se certificar que nós gastamos uma hora de cada dia pesquisando História!
-História! – Lianora lembrou – não tem um livro chamado Hogwarts, Uma História?
-Gente, o que nós vamos fazer é o de menos. Eu não sei quanto a vocês, mas por mais estudiosa que eu seja, eu preciso de descanço de vez em quando! – Kimberly continuava.
-Ué, cadê o Daniel? – Lucy interrompeu.
-Lucy, o quê que nós concordamos? – Kimberly ripostou.
-Eu sei, mas precisamos dele para as duas obrigações! – Lucy abriu os braços.
-Ai Merlim, dai-me paciência – Kimberly resmungou.
-Que outra coisa é essa que vocês têm que fazer, afinal?
-Umas coisas estranhas acontecendo numa torre da ala... este? – Lucy se virou para Kim para confirmar.
-Este? Eu achava que era perto da ala Norte.
-Bom... – Lucy fez um trejeito com a boca, desistindo – numa torre esquisita algures aqui no castelo, e a Diretora nos incumbiu de descobrirmos o que aconteceu lá.
-Hum... – Lianora resmungou em resposta, as outras duas pensando em como, se não estivesse tão preocupada com seus pais, teria reagido mais entusiasta e interessadamente.
-Já que temos que ter um horário fixo podíamos combinar uma hora, não? – Kimberly sugeriu.
-E o Daniel?
-Valha-me São Bento a gente precisa desesperadamente de sair com mais pessoas. O Daniel que se dane, Lucy! Ele só arranja confusão pra gente.
-É verdade, nem foi ele que fez aquilo e ele conseguiu armar essa pra gente. Ainda bem que o garoto não é da minha Casa porque não quero vê-lo pela frente tão cedo – Lianora aumentou o tom de voz ligeiramnte mas se mantendo monocórdica.
-Então não foi mesmo ele? – Kimberly insistiu.
-Não. Eu tinha acabado de achá-lo no corredor, estávamos esperando que os professores passassem pra sair quando aquilo aconteceu e ele não conseguiu parar de rir. Eu até bati nele mas o idiota parecia enfeitiçado. Quem dá risada quando uma coisa daquelas acontece enquanto os professores ainda estão ali?
-É que eles nem merecem, são todos queridos... – Lucy se deixava levar gradualmente pela opinião das duas – se bem que não sei se aquele homem era um professor.
-Não, era um senhor do ministério – sentenciou Lianora, – se é que eu vi direito, tava espreitando pela estátua...
-O que vocês estavam fazendo ali? – Lucy perguntou.
-É um atalho para Hogsmeade. Eu não sei como o Daniel conhece aquilo, na Sonserina é conhecimento geral, quase.
-Esse menino tem um dom pra se meter em confusão, sabe lá Merlim os esconderijos que ele não conhece! – Kimberly resmungou. – Por mim já tá bom de tamanho.
-O quê? – As duas perguntaram em uníssono.
-A quantidade de encrenca em que eu já me meti por causa dele. Aliás, estou ponderando apenas me comunicar com ele através de cartas para fazer esse trabalho agora. Arrh que raiva, quanto mais depressa acabar esse negócio melhor.
-Cartas? Você ainda consegue ver cartas pela frente? Eu ainda não me recuperei do ano passado – Lianora bufou.
-Ah eu já – disse Lucy ainda absorta no assunto anterior. – Já to ansiosa pelos Jogos de novo, e nem chegou a metade do ano.
-Eu nunca me canso de cartas – Kimberly largou um pequeno sorriso, – nem dos Jogos. E diga-se de passagem, são o que fazem o segundo período interessante. O primeiro tem o halloween e a espectativa do Natal. O segundo tem os Jogos.
-Vocês são nerds demais pra mim – disse Lianora. – Vamos ter hora marcada, então, é melhor. Logo depois da última aula, sim? Pra despachar? Fim-de-semana a gente vê depois.
-Sim, depois do último bloco tá ótimo – disse Kimberly, sorrindo a Lianora que era deixada na porta para as masmorras.
-É, último bloco – Lucy repetiu em modo automático.
-O que tá rolando nessa cabecinha despenteada? – Kimberly interpelou a amiga que sobrava.
-Ãh? Tô despenteada?
-Não, aluada. Tô só perguntando onde você está, aqui é que não é com certeza.
-Ah. To pensando no Daniel e como ele só traz problemas... – Lucy deixava transparecer, com discreção, pena e indecisão.
-Hum. E daí?
-E daí que temos que fazer alguma coisa em relação a isso! – Cruzou os braços.
Kimberly, com um olhar de complacência, meteu as mãos nos bolsos e inquiriu:
-É? O que “vamos” fazer em relação a isso?
-Não sei – respondeu a custo, passado algum tempo, e fazendo beicinho de olhos no chão.
-Se você quiser eu faço de pombo-correio pra vocês enquanto você não decide – Kimberly sorriu levemente, rolando os olhos.
-Hum – Lucy empurrava a bochecha para o lado com o indicador. – Mas você também faz parte do plano de conhecer novas pessoas, entenda-se aqueles dois sonserinos.
-Sim mas eu não tenho nenhuma compulsão relacionada com o Daniel, você tem.
-Comp- que compulsão? – Lucy reclamou, mordendo a parede bucal.
-Você sabe, bater em geral, seja física ou verbalmente.
-Hum – resmungou baixinho, agarrada à bochecha dolorida.
-Vou tomar isso como um “sim” – disse antes de desaparecer pela porta da aula seguinte, deixando Lucy a sós com sua dor.
-Ai... – Mandy resmungou e se contorceu no catre hospitalar.
-Isso já é manha, menina Malfoy – Madame Pomfrey ajeitava um curativo no nariz da garota. – Agora não é hora da visita, menino, não está tendo aula?
-É claro que não, se estivesse não estaria aqui – Peter respondeu com sarcasmo sutil enquanto a enfermeira se retirava.
-Peter. Andando por aí sem seu apêndice? – Mandy gracejou.
-Hum? – Perguntou o rapaz, sentando numa cadeira ao lado da enferma.
-O Gregory.
-Ah. Porque ele é meu apêndice?
-Porque vocês andam sempre juntos. E que eu saiba não são namorados...
-Cruz credo.
-He he – a menina riu, sentando. – E aí?
-Finalmente arranjei tempo de passar por aqui. Tem uma coisa que ando pra te falar mas faltou chance.
-O que é?
-Outro dia, não sei se suas amigas comentaram com você, mas um gritador endereçado a você fez o maior escândalo no refeitório...
-Ué. Elas não disseram nada. Devem ter esquecido. O que dizia?
-Não dizia nada, era só um barulho ensurdecedor de porco.
-Porco? Porco... porque isso não me é estranho...?
-O que te aconteceu...? Quer dizer, antes.
-Claro, a avalanche de porcos. Mas acho que ela não está relacionada com o que me aconteceu.
-Não foi uma azaração?
-Foi um pouco mais complicado que isso, prefiro não ir por aí... mas com que então... porco?
-E depois o gritador, em vez de se desfazer, se transformou numa rosa ou nota musical.
-Ahá! – Mandy se levantou com brusquidão, seguidamente se agarrando à cara – aii...!
-Boboca, tem calma. Ahá o quê?
-Pensei que conhecesse o Logan.
-Ah... e conheço. Mais ou menos, mas sim. Acha que foi ele, então?
-As coisas com os porcos, só pode. Ele tinha mania de amassar papel de forma a que não se distinguisse entre uma rosa ou uma colcheia. Mas aposto que não foi ele que enfeitiçou o gritador, ele não é assim tão inteligente.
-Não é mesmo, ele é só garganta.
-Mas como você sabe disso?
-Eu estava lá.
-Obrigada, isso eu sou capaz de deduzir. Tô perguntando se você se dá com elas. Você nunca está no refeitório.
-Ah. Eu não, não as conheço bem, não. Eu não estava era... à vista.
Mandy não conteve o sobrolho. Em resposta houve um rápido movimento de mão, como se se apoderasse de algo com o mínimo de movimento possível.
-Quando eu precisar... – Mandy sorriu maliciosamente.
-Ué. Peter? – Lucy estranhou ao abrir a porta da enfermaria, ao que o menino arqueou as sobrancelhas em inquisição. – Sem o outro menino?
-Nós não somos gémeos siameses! – Peter se envergonhava.
-Eu ainda não o vi sem você. E você sem ele é hoje a primeira vez – disse Mandy.
-Já entendi. Querem assim tanto que o chame?
-O quê? Não, não! – Disse Lucy.
-Nossa, ele também não morde – Peter respondeu, achando graça.
-Bom, ele parece um Snape de cara mais larga, pra falar a verdade – opinou Mandy.
-Um Snape que lavou a cabeça – disse Lucy com ar sério, cativando o sorriso dos outros dois.
-Lucy, mudando de assunto... – começou Mandy – Pet... er, ouvi dizer que um gritador endereçado a mim foi encontrado no refeitório.
-Ah é.
-Como se esquece de uma coisa dessas?
-É que nós queríamos que você ajudasse a entender de que escola era um feitiço...
-Você tem ele aí?
-Não sei, espera... – Lucy começou por escafunchar a diminuta bolsa que trazia consigo – tá aqui – disse por fim, entregando o pergaminho à amiga.
-Tenho que falar com a Kim – Madison disse após algum tempo tentando ler o feitiço e seus componentes. – Também não tenho a certeza. Bom. E aí?
-E aí que acabei de ouvir a minha sentença – Lucy bufou e rolou os olhos.
-A Granger insistiu em colocar vocês de castigo? – Perguntou Mandy.
-E que castigo! Acho que vou acabar decorando Hogwarts, Uma História – continuou seu lamento, acrescentando ao olhar inquisitor dos dois. – Temos que escrever um ensaio sobre tudo o que aconteceu aqui desde Tom Riddle até Harry Potter. Vamos andar por aí enchendo o saco dos professores e pesquisando bolor.
-Eu ajudo vocês – Mandy sorriu. – O Snape deve saber bastante e ele é um pouco inacessível... se bem que enquanto eu estiver aqui não vou poder fazer muita coisa.
-Ei, você não tinha que estar na detenção com a gente – Lucy se virou de súbito para Peter.
-Eu acho que não – Peter encolheu os ombros. – Pelo menos a professora não me disse nada.
-Humpf. Sortudo – Lucy fez beicinho.
Um momento de silêncio se passou com um olhar entre Peter e Mandy que Lucy não pôde decifrar.
-Bom, eu vou indo – Peter começou.
-Tem coisas para fazer? – Mandy incentivou.
-É – comentou com desânimo, e saiu.
Lucy ainda olhava para a porta com ar de estranheza quando Mandy a interpelou:
-O que foi?
-É esquisitinho, ele. Parece que tá sempre com sono.
-Hehe, sim, sono. – E pelo que a amiga a questionava com o olhar, continuou – ele tem ar é de outra coisa.
-O quê?
-Ora Lucy, você sabe.
-Não, não sei, o que é?
-Sempre inocentinha, né?
-Fala logo, mala.
-Drogado – Mandy riu baixinho.
-Ah – a outra disse prontamente. – Hum.
-Que foi?
-Nada, é que... eu e a Kim pretendíamos começar a sair com pessoas novas, e ele e o amigo dele eram os primeiros da lista. Mas se você acha que ele faz isso não sei...
-Oh, bobinha, é claro que ele não se droga, até parece que não existe um feitiço em Hogwarts que previna isso.
-Como você sabe? – Lucy se preocupou.
-Quando se tem uma diretora com as capacidades da nossa, é bom se esperar de tudo.
-Ah.
-Não, não, eu nunca fui disso. Mas com que então, você e a Kim, e os sonserinos hein?
-Não é nada disso. É só que a Kim disse que era melhor a gente se dar com outras pessoas...
-Outras pessoas para além de quem? Não querem mais se dar comigo? – Mandy ficou séria.
-Naaaão, não, não é você. É o Daniel.
-A Kim te convenceu a se dar menos com ele?
-Mais ou menos.
-Você ainda tá no processo de se convencer?
-É... mais ou menos.
-A Kim cansar de vocês dois brigando o tempo todo eu até entendo mas você...
-É que ele só arranja problema pra gente. E chegou a um ponto que... já chega.
-A detenção?
-A tia Hermione ficou mesmo chateada com a gente, e isso foi demais.
-Você gosta dela, né?
-É mais que simplesmente gostar. Ela não pode ter filhos, ou o tio não pode, não entendo bem a situação, mas ela é como uma segunda mãe pra mim, e o tio então, como eu não conheço o meu pai...
-Não sabia que vocês eram tão chegadas. Quer dizer, a esse ponto. Para falar a verdade nem sabia que ela era sua tia.
E Lucy deu a conhecer a Mandy um pouco da sua árvore genealógica.
-E é isso... – disse Lucy em tom de conlcusão.
-Tá bom, tá bom. Deve estar sendo difícil – disse Mandy, para surpresa da outra.
-Como assim?
-Você gosta muito do Daniel.
-Gostar? Se gostar é ter ódio de morte então sim.
Mandy apenas sorriu sem a olhar nos olhos.
-Eu acho bom que vocês se dêm com os meninos, eu também acho eles legais. Podem me incluir nos programas com eles.
E no que o silêncio envolveu as duas, a enferma pegou novamente no feitiço misterioso.
-Não tem nem uma pista aqui sobre quem escreveu isso.
-Eu acho que isso é muito velho para que quem escreveu ainda esteja vivo – Lucy arqueou as sobrancelhas.
-Que exagero. De qualquer forma, eu acho, não tenho a certeza mas acho, que esse feitiço tem duração relativamente curta.
-Claro, alguém tem que ter colocado isso recentemente, se não os sonserinos não tinham como entrar.
-E se alguém recentemente o usou, esse alguém recentemente teve acesso ao livro onde esse feitiço estava guardado.
-E daí?
-Daí que podemos ver nos registros da biblioteca quem consultou esse livro nos últimos tempos. Eu ainda tenho que calcular a duração do feitiço e me lembrar que dia foi que a gente esteve lá, mas deve ser uma questão de poucos dias no máximo.
-Registros da biblioteca? Mas se não tem nem bibliotecário.
-De novo, Lucy. Com alguém como a Granger...
-E se não existirem? E mesmo que existam, como podemos encontrá-los?
-Lucy, Lucy, Lucy. Nós somos detetives. Essas perguntas nem se colocam.
-Ah tá, brigado – Lucy achou graça mas não levou fé.
-A Madame Pomfrey não vai me deixar sair daqui tão cedo – disse Mandy baixinho; – então vamos ter que fazer isso na hora do jantar, quando ela estiver no refeitório.
-Ah não, eu não posso me meter noutra furada.
-Tá bom, eu vou sozinha.
-Mas espera aí, porque simplesmente não pedimos à diretora que nos deixe ver os registros? Quer dizer, foi ela que disse para nós investigarmos isso tudo.
-Podemos tentar – disse Mandy sem vontade. – Vai fazer isso agora então.
-Tá bom – disse Lucy, se levantando e saindo.
Lucy percorreu os corredores de pedra devagar para não tropeçar na corrente de pensamentos que a perturbavam. E ao chegar perto do gabinete onde se destinava, vozes a pararm antes de virar a esquina.
-O Longbottom?! – A voz de Snape ecoou - você já me empurra pra poções como sempre e nem quando aquela infeliz não pode dar a aula você não me coloca para a substituir? Você quer realmente me humilhar?
-Por favor, professor Snape – Hermione pediu, – eu tratei dessa substituição com ele porque não sabia onde o senhor estava. O professor Longbottom foi solícito e veio falar diretamente comigo...
-Agora é uma questão de ser solícito? – O fantasma se enfurecia, passando a um tom cínico – claro, claro... eu não pensei que fosse se agarrar tanto a uma coisa que aconteceu há quase duas décadas...
-Desculpe?
-Se eu soubesse que aquilo apenas a incentivaria a lutar pelos direitos de sabe-tudo compulsivos eu teria me deixado ficar por tirar pontos por falar fora da sua vez.
-Isto não tem nada a ver com aquele dia! E mesmo que o seu comentário tivesse tido tal efeito eu nunca comprometeria a nossa relação profissional com... coisas do género.
-A senhorita não deixa nada comprometer relação nenhuma, afinal.
-Senhora.
-Claro, claro, com certeza.
-Professor Snape, não admito que fale assim comigo.
-Poupe-me Granger.
-Se o senhor quer continuar a dar aulas em Hogwarts tem que respeitar a diretora, não acho que seja uma coisa discutível sequer.
-Vai me tirar daqui, é? Depois de tantos anos confiando cegamente nas palavras de um espectro caquético, de repente decide pensar por si própria? Isso nunca funcionou muito bem para si, não foi? No que lhe diz respeito, claro.
-Talvez se o senhor me contar porque é tão importante ficar aqui, o que está fazendo, eu consiga dar um jeito de fazê-lo sem a sua ajuda.
-Ah... – A voz de Snape cortou o ritmo frenético da discussão com um tom de quem compreende tudo com condescência – não – disse ainda enquanto se dirigia na direção de Lucy. A menina ainda tentou disfarçar, mas foi em vão. Como se se tratasse de algo sem solução, Snape ainda suspirou – como o pai, avô...
Lucy se irritou com o comentário, quase perdendo de vista a diretora.
-Tia! – Chamou.
-Lucy?
-Tenho uma coisa a pedir para a senhora. Er... existem registros de quem consulta os livros da biblioteca?
-Sim, porquê?
-É para a nossa investigação. Achamos que quem consultou um certo livro pelo menos esse ano possa estar envolvido com o que quer que aconteceu naquela sala.
-Muito bem, vem comigo. Qual é o nome do livro?
As duas adentraram o gabinete da diretora, detendo-se logo na entrada enquanto a mulher apontava a varinha para cima, espectante.
-Abjuração Intermédia III.
Um feitiço mudo foi pronunciado, e a ponta da varinha se iluminou de um azul claro e algumas folhas se desprenderam da estante, flutuando às mãos da diretora.
-Aqui. Esse ano, é? – Entregou o conjunto de folhas, embora apenas a primeira página interessasse.
-Sim... – Lucy disse a meio gás, não reconhecendo outro nome antes do de Kimberly para além do de Peter June.
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