Capítulo X



-E BEM-VINDA CORVINAL! – Sam Jordam convidava a equipe azul que entrava tímida e desordenadamente no campo, seguida pelo destemido time amarelo – E BEM-VINDA LUFA-LUFA! NÃO SE DEIXEM INTIMIDAR, CORVINAIS, CORRAM ATRÁS DELES!


O jogo estava prestes a começar quando Daniel, como sempre fizera, procurava Kimberly para o aperto de mão cordial que gostava de dar à amiga, desejando-lhe sorte. Kimberly, por sua vez, queria ver o garoto longe, e procurava misturar-se com sua equipa no bolinho que a mesma formara.


-Kim! – Daniel chamou.


-Daniel eu juro, se você fizer nesse jogo como fez no anterior, dessa vez o balaço te acerta – George não perdeu tempo em ameaçar Daniel, poucos centímetros abaixo de si.


-Tá, tá – Daniel abanou a mão dando pouco caso, mas reparando como ultimamente todo mundo brigava com ele.


-E AS BOLAS SÃO LIBERADAS! OPA, CUIDADO CAMILA, QUE TEM ALGUÉM CHEIO DE VONTADE DE MARCAR HOJE – Sam tentava ajudar uma jovem corvinal que quase levara com um colega em cima, tal era a tenacidade do segundo em lhe roubar a bola.


Daniel procurava o pomo de ouro bem como Kimberly, não estivesse ela já no encalço do objeto. O jogo com a Corvinal exigia de Daniel uma estratégia bem diferente. A equipa dos alunos brilhantes não era exatamente a mais virada para o esporte, mesmo com toda a genuína vontade dos jogadores, pelo que o fair play destes combates pedia a Daniel alguma boa vontade extra. Em pouco tempo Lufa-lufa já tinha marcado seu primeiro gol e uma corvinal do segundo ano conseguira se lesionar, mesmo em tão pouco tempo. E mesmo dando tempo ao tempo, Daniel não parecia estar achando o que quer que fosse. A atmosfera nublada também não ajudava.


-KIM! – Chamou novamente, no ponto oposto a George, não fosse o colega ouvi-lo.


Mas nada da menina. Começou por descrever elipses paralelas às bancadas, concentrando sua busca à pequena peça de ouro. Por pouco não colidiu com um novo coleguinha, ainda atordoado com seu primeiro jogo. E Lufa-lufa marcou novamente. E nada do pomo ou de Kimberly. Daniel parou.


-George!


-Que é?


-Tá vendo o pomo?!


-Eu lá sou apanhador? Isso é o seu trabalho!


-E a apanhadora deles?!


-Não vou nem responder!!


Desistindo, procurou em volta mais uma vez, achando tudo aquilo muito estranho. Quando perdia o pomo de vista no começo de jogo a coisa sempre acabava mal. Normalmente, horas mais tarde. Olhou para cima, para as nuvens peculiarmente próximas, e ocorreu-lhe que se não estava ali em baixo, só podia estar lá em cima, afinal o pomo não ia andar passeando por sabe lá Deus onde. Com a vassoura apontada para cima, ainda ouviu o cometário de Sam:


-E LÁ VAI ELE, MINHA GENTE, DESSA VEZ DEMOROU UM POUCO!


Satisfeito com a dica, adentrou nuvens claras.


-Kim! – Chamou, já sem esperança de ouvir resposta.


Procurou por mais algum tempo, enquanto ouvia pontos sendo marcados por debaixo de si, alguns certamente da própria equipa, outros de origem dúbia. Na sua frente surgiu uma pesada nuvem de chuva, pequena contudo, mas tão negra quanto podia ser. Enquanto pensava em retornar para o campo, um vulto branco parecia se mexer a alta velocidade dentro da dita nuvem. Apertando os olhos, forçou a vista, sendo capaz de vislumbrar uma forma. Parecia um felino gigantesco, maior que um cavalo, e em pouco tempo se desvaneceu, perdendo o brilho e em seguida a forma. Levado por um tiro no escuro, Daniel penetrou a nuvem.


Não dava para ver muita coisa, pelo que a nuvem era bastante densa. Tentou sair mas a nuvem mostrou-se maior do que aparentava ser.


-Gregory? – Lucy chamou quem pensou ver.


-Ah oi. Er... esqueci seu nome – o rapaz a abordou, juntando-se a ela no improvisado abrigo da chuva fina e quase imperceptível.


-Lucy. Cadê o Peter?


-Tá no banheiro.


-Ah então a gente espera por ele. Antes que ele chegue, tenho uma coisa pra te perguntar.


-Hum?


-É sobre o Peter. Hum... como colocar a questão...? Quais são os interesses dele?


-Uh, não sei... porquê?


-Eu e uns colegas estamos investigando o que aconteceu naquela sala onde você e ele costumavam ficar, aquela que não abre mais.


-Sim.


A chuva parou mas um vento forte levantou, empurrando os alunos a entrarem.


-É que apareceu o nome dele enquanto vasculhávamos umas coisas, e eu queria ter certeza de que não foi ele que lançou aquele feitiço...


-Que feitiço?


-O que impedia a porta de abrir.


-Hum. Feitiço, é? Bom isso explicaria porque ele insistia com a Mandy nos ventos que batiam ali, eu nunca dei por vento nenhum.


-Hum – Lucy empurrava a bochecha para o lado para morder o seu interior.


-Mas você acha que foi ele? Eu acho que não, eu estive com ele nesse dia antes de irmos pra lá, eu teria visto.


-Tem razão. Tenho que falar com a Mandy então. Mas isso pode ficar pra depois do jogo.


-Que jogo?


-Quadribol, Lufa-lufa com Corvinal. Já começou mas podemos pegar no meio.


-Hum. Eu não sou muito fã.


-Mas é pra ver o Daniel e a Kim.


-Ah então aí é que eu dispenso mesmo.


-Porquê?


-Porque... oi Peter – Gregory cumprimentou o amigo que aparecia. – A Lucy aqui quer arrastar a gente pra ver quadribol. Viu só?


-Qué ótima idéia. Depois talvez possamos ir à Cabana dos Gritos para uma sessão de sado-masoquismo – Peter gracejou.


-Credo – Lucy torceu o nariz.


-Nós não vemos o interesse nessas coisas – explicou Gregory, achando graça à distorção no rosto de Lucy.


-Mas se você não gosta do Daniel podemos ir ver ele se estabacar e se ferrar em geral – o rosto de Lucy se iluminou.


-Ah! Isso sim é uma boa – disse Gregory.


-E se ele não se ferrar? – Perguntou Peter.


-Pff – disse Lucy. – É quadribol, não tricô!


Daniel, exasperado, procurava uma saída da nuvem, evitando subir mais, mas pensava estar irremediavelmente preso quando, sem esperar, saiu para uma clareira dentro da nuvem. Aproveitou para descansar mas o dinamismo era muito rápido, e para se manter no buraco tinha de continuar em movimento constante. Próximo ao desespero o rapaz viu novamente o clarão branco e azulado se movendo com cautela numa parede de água gasosa. E foi quando decidiu seguir o que quer que aquilo fosse, um gigantesco puma cortou a nuvem e adentrou o espaço que começara a diminuir. Era o patrono de Kimberly. O grande animal fitou o garoto com desagrado e demonstrou hostilidade. Daniel engoliu em seco mas em pouco tempo o animal saltou novamente para dentro da nuvem, desaparecendo.


-KIM!!


A clareira estava quase menor que o espaço que Daniel ocupava no ar quando, por fim, Kimberly surgiu.


-O que você está fazendo aqui?!


-O mesmo que você, ora!


-Eu perdi o pomo!


-Porque lançou um patrono?! – Daniel gritou mas a menina já se perdera na nuvem mais uma vez.


Uma mão surgiu do molhado e agarrou o braço de Daniel que, assustado, tentou se livrar do aperto. Ao ver as vestes da equipa contrária, contudo, deixou-se agarrar. Sem demais explicações o outro braço começou a puxá-lo para baixo, estando finalmente fora da grossa nuvem em algum tempo. Chovia e ambos estavam já encharcados. A neblina ainda os impedia de verem o campo. A verdade é que nem sabiam se estava diretamente abaixo de si.


-Temos que ter cuidado, pode trovejar – disse Kimberly.


-Porque você lançou um patrono? – Daniel insistiu.


-Lux não estava sendo suficiente.


-Nem máxima?


-Não – a garota respondeu secamente sem largar o braço do outro, mantendo a cara fechada.


Lucy, Peter e Gregory espreitavam pela janela o prefessor Longbottom e a mulher, abraçados e passeando em direção ao campo de quadribol.


-Dizem que ela é pirada – disse Peter com malícia.


-Que estranho – disse Lucy. – Mas ela é bem bonita.


-Alguma razão o professor tinha que ter, né? – Riu Gregory, cativando o sorriso dos outros dois.


-Eles estam indo para o campo, vamos também?


-Sim, claro, não quero perder o outro de ponta cabeça, agora que você me aguçou o sentido mórbido – Gregory respondeu a Lucy.


-Hum... há há – Lucy soltou um sorriso e uma risada que tentava ser maquiavélica.


Gregory e Peter riram da menina com gosto, alienados do infortúnio alheio. Ela, por sua vez, encostou a cabeça rindo também, num e noutro alternadamente.


-Oh não... cuidado! – Disse Peter, puxando os dois para se esconderem num colossal pedregulho.


-O que é? – Perguntou Lucy.


-Exatamente, o quê, e não quem – Peter continuou em tom de troça.


-Ah – disse Gregory – Liliana. Salve-se quem puder.


-Quem é essa?


-Uma maluca que jura de pés juntos que é da nossa casa, e gosta de nos perseguir – Peter explicou, espreitando.


-E de que casa ela é?


-Lufa-lufa – Gregory respondeu com medo genuíno nos olhos. – Ela foi pra cima, podemos ir.


-Não a conhecia. Mas ela tem ar de ser da Sonserina mesmo.


-Ela é um monte de... sei lá, ela inventa coisas esquisitíssimas – disse Peter.


-E ela não gosta de nos perseguir – disse Gregory com nojo. – Ela gosta de me perseguir. Argh.


-Oh coitadinha, ela não parece assim tão má...


-Lucy – Peter pôs a mão no ombro da menina – ela se virou pro Greg, com o ar mais sombrio do mundo, e disse que ele era um vampiro psicológico.


Lucy não foi capaz de conter uma forte gargalhada. Os rapazes olharam por cima dos ombros para confirmar se haviam sido denunciados.


-Cuidado, ela ainda ouve! – Disse Peter.


-Vampiro psicológico, naaaaão... – Lucy continuava divertida, fingindo ter garras e ameaçando Gregory com elas.


-E depois, como se não bastasse, começou a dar em cima de mim, ou seja, aquilo foi supostamente um elogio – Gregory resmungou, indignado, fazendo o queixo de Lucy cair.


Daniel e Kimberly finalmente avistaram o campo, quase a meio caminho do castelo. E tal como o fizera antes, largou o rapaz sem aviso e disparou sem se preocupar mais com ele.


-E AQUI ESTÃO ELES, SENHORAS E SENHORES, OS DESAPARECIDOS VOLTARAM! TALVEZ AGORA ELES CONSIGAM SE CONCENTRAR NO JOGO, TAREFA APARENTEMENTE DIFÍCIL QUANDO SE JOGA COM DANIEL KNIGHT NA EQUIPE OPOSTA!! – Jordam arrancava ovações das bancadas.


Daniel procurou pelo pomo sem qualquer sucesso, passando em seguida para a estratégia roubada de Lucy. Ao distinguir Kimberly entre os colegas, se predispôs a segui-la, mas nenhum sinal do objeto que ambos deviam achar. Kimberly mantinha uma expressão emburrada e concentrada, levando Daniel a chamar por si:


-Kim, quer um taco para fingir que o Weasley é um balaço?!


Mas ao invés de obter uma resposta, Daniel recebeu apenas indiferença e aceleração. Estava complicado seguir a garota.


-Daniel! – Lara, da sua equipe, o chamou – ali! – Apontou para o chão, próximo a uma arquibancada vermelha.


Daniel vislumbrou o pomo e imediatamente mudou de direção, sendo seguido de perto pela colega que o protegia de bolas hostis.


-Ali! Olha a Kim e o safado – Lucy apontou, puxando os colegas para o lado para poderem ver.


-Temos alguma preferência? – Perguntou Gregory.


-Como assim?


-Pelo que exatamente estamos torcendo? Se é pra ele cair da vassoura, ser atingido por um raio, levar com uma bola na cabeça...


-Ora, nós não somos esquisitos! – Lucy vibrou, abrindo os braços aos céus como se apoiasse alguém jogando – torcemos por esses todos e mais alguns!


-Kim! – Daniel chamou – ainda está chateada comigo?


-O que você acha? – Kimberly deu um rasante em Daniel com uma curva apertada para cima dele.


-Desculpa! – Pediu sem ter resposta. – Kim! – Insistiu ainda.


Mas nada vinha em retorno. E o pomo parecia especialmente rápido e esquivo naquele dia. Bem como a apanhadora. E um balaço fora interceptado por Lara, que perdera Daniel de vista para discutir com George, o capitão da equipe Lufa-lufa e quem arremessara a bola.


-Eles estavam muito juntos! – Alegou George, mas Lara bem sabia que a intenção era acertar em Daniel para o manter concentrado.


-Essa não é a sua função! – Lara ripostou.


-Eu sou capitão, eu é que digo a função de cada um!!


Lara revirou os olhos antes de procurar por Daniel novamente, pensando que o rapaz precisaria bastante da sua ajuda pelo menos até ao final daquele jogo. Encontrou-o regressando para perto de si com um olhar de cachorro abandonado, seguindo Kimberly com esforço extremo.


O pomo recortava o ar com curvas apertadas e trajetos quase impossíveis de reproduzir, parecia definitivamente enfeitiçado para fazer o jogo demorar mais. Até Sam Jordam já fizera menção sobre o assunto. Daniel não podia mais. E todos sabiam que o que quer que fosse que ele normalmente fazia, naquele dia não estava fazendo. Foi quando os rumores sobre o segredo de Daniel começaram a se materializar nas bancadas, e teorias estranhas envolvendo a pélvis do garoto e as vertiginosas velocidades que ele conseguia atingir tomavam forma.


Alheios a tudo isso, Daniel e Kimberly cansaram-se um pouco, parando no meio do campo.


-O quê que aquele infeliz tá fazendo agora? – Lucy espicaçava a arquibancada corvinal – ei, Daniel! Acabou por hoje?! Já vai tarde, hein?!


E mesmo com apoio dos colegas da casa azul Lucy não era ouvida por Daniel, que fitava Kimberly com um misto de dúvida e fascínio.


-Tá olhando o quê? – Kimberly se irritou com Daniel.


-Nada – disse entrecortado; – também to cansado.


-Não tá usando a sua técnica porquê?


-Não posso. Pelo menos por agora.


-Por causa do tombo no jogo com a Lucy?


-É.


-Ô pombinhos, não pretendem jogar, não? – George cuspiu.


Daniel nem ficou para responder. Ganhou velocidade percorrendo o campo em busca do pomo. Ao encontrá-lo notou que continuava estranhamente frenético. Achou aquilo ridículo, bem como quaisquer tentativas da sua parte em pegá-lo tão cedo. Seguiu Kimberly que ainda não tinha chegado a essa conclusão com o olhar e começou a acompanhá-la numa órbita menor, mais para o centro do campo, com alguma morosidade.


-Olha só gente, agora é que ele embobou de vez – Lucy dizia, aguçada.


Prevendo os movimentos da menina, Daniel se posicionou de forma a interceptá-la quando tivesse de esquivar de uma arquibancada que, por coincidência, era uma ao lado de onde Lucy e seus novos amigos estavam.


-Lucy, você não entende, isso tudo são técnicas – brincou Peter.


Frente a Kimberly e quase em cima dos torcedores, Daniel se aproximou da garota enquanto ela freiava, roçando a ponta da sua vassoura na dela, diminuindo o espaço entre os dois até ficar com o nariz a escassos centímetros do seu. Sem entender e irreativa, Kimberly arregalou os olhos e não conseguiu fazer muito mais. Em pouco tempo o queixo de Lucy caía e por mais que tentasse desviar o olhar e se convencer que não tinha nada com aquilo, uma espécie de transe a obrigava a continuar a olhar. Daniel inspeccionava o rosto de Kimberly em alta definição e ela, por sua vez, começava a ficar vermelha. Peter e Gregory observavam Lucy achando tudo aquilo muito estranho quando um balaço surgiu do nada em direção a Daniel e Kimberly, presentemente ocupando quase o mesmo espaço. Temendo por Kimberly e possíveis aluninhas que estivessem na bancada, Daniel tentou agarrar a bola que entrou com força em seu estômago. Largando-a sem forças, olhou ainda para Kimberly antes de se deixar cair.


-Daniel! – Kimberly gritou enquanto ia buscar o colega antes que ele caísse.


-Deixa ele! – Gregory tentou, com sucesso, distrair Kimberly.


-Ah!! – Kimberly gritou em uníssono com Daniel que, como Gregory esperava, se espatifou.


-Obrigado, Lucy, você tinha razão, foi bom vir – Gregory dizia satisfeito para Lucy que parecia ter esquecido como se fecha a boca. – Cuidado!


Gregory agarrou Lucy por trás, impedindo que a garota se precipitasse o suficiente para perder o equilíbrio. Lucy ignorou a tentativa do garoto, insistindo em se debruçar.


-Daniel! – Kimberly chamava pelo garoto que julgava inconsciente.


-Kim... – Daniel disse num fio de voz, agarrando a menina pelo braço e a puxando novamente para uma proximidade constrangedora, desta vez sem exigir contacto visual por ter os olhos fechados – me promete uma coisa...


-Daniel, você v...


-Se certifica que aquela besta é expulsa do meu time...


Kimberly fechou os olhos e deixou que um sorriso lhe dominasse o rosto.


-Hah, claro – Kimberly assentiu. – O que...?


O pomo se atiçava perante Daniel, como se um animal se tratasse e pudesse cheirar o garoto com desconfiança. Achando aquilo estranho, Kimberly agarrou a pequena bola, observando-a com detalhe mas sem encontrar elementos fora do comum. Descansando, o pomo fechou as asas sobre si.


-Lucy... – Gregory pediu, mantendo-a firme nos seus braços que, apesar de finos, tinham muita força. Lucy finalmente deixou de se empuleirar para ficar estática, esperando que fosse largada. Ao acatar, Gregory perguntou: – Hum. Você quer ir vê-lo.


-O quê, eu? Não, ele vai ficar bem.


-Tem certeza? – Peter franziu a testa.


-Claro. Foi só um balaço, são ossos do ofício – Lucy falava depressa e um tanto atabalhoada. – Bom eu tenho de estudar. Porque não vamos para perto do lago. Vocês também deviam trabalhar, não vão passar o dia olhando para ontem, não é?


-Eu preciso de um piano para trabalhar – disse Gregory, ainda um pouco confuso.


-E onde tem um? – Lucy procurou se interessar.


-Onde mais? Na Sala Precisa. E na sala comum da sonserina, mas esse nem sei se tá bom, não costumo usá-lo porque faço muito barulho.


-Então vamos para a Sala Precisa! – Lucy via pelo canto do olho professores chegando em suas vassouras para socorrer Daniel.


-Não prestou atenção? Eu faço muito barulho, não vai conseguir se concentrar comigo do lado.


-Ora essa, pra que servem feitiços? Eu lanço um de surdez em mim e no Peter.


Peter abriu a boca para falar mas não lhe ocorreu como colocar em palavras o que lhe ia na cabeça.


-Bom, ok...


-Ótimo – ela vibrou. – Vamos então? – Mas enquanto os meninos se entreolhavam com um ar abobalhado e Lucy via Daniel começando a ser levado, um pensamento cortou sua mente como uma flecha – ah! Eu tenho que dar um pulinho na enfermaria antes que ela fique sobrepopulada. Vão indo na frente. Ah! E... surditas!


Peter piscou algumas vezes enquanto se acostumava, resignado, a não escutar nada.


-Não precisava... – Ele disse, num desafino baixo.


-Accio vassoura! – Lucy não o ouviu. Montada em sua vassoura, despediu-se dos colegas.


Em pouco tempo chegava à enfermaria, já cansada daquele lugar. Imaginou como Mandy estaria, se ela passava ali os dias. Sentada, pelos vistos, como estava lendo um livro.


-Lucy. Chegou a procurar pelos registros?


-Sim – Ela se atrapalhou ao entrar por causa da vassoura. Desenvencilhando-se, puxou de um pedaço de papel que tinha no bolso – aqui. Eu copiei os registos desse ano.


Mandy deu uma vista de olhos rápida ao registro, detendo-se no nome óbvio. Erguendo os olhos, apreensiva.


-O nome do June tá aqui.


-Eu sei. Eu já falei com o Gregory. Não pode ter sido ele, eles estiveram juntos esse dia e ele não viu o Peter lançar feitiço nenhum.


-Hum... – Mandy manteve a expressão pensativa intacta, como quem não está convencida – bom então vamos vendo essas outras pessoas. Não tem muita gente aqui. Você conhece alguma dessas pessoas? – Mandy esticou o papel para Lucy.


-Não... tirando essa Liliana. Eu acho.


-Acha?


-Estive com o Peter e o Gregory hoje, e eles me falaram dessa menina chamada Liliana, que pelos vistos é bem esquisita.


-Para eles acharem ela de esquisita...


-Ela disse ao Gregory que ele era um vampiro não sei o quê. E depois começou a persegui-lo e dar em cima dele.


-Hum... – Mandy semicerrou os olhos – temos que meter a mão naquele mapa da diretora.


E pelo que uma atabalhoada comitiva entrava pela enfermaria, Lucy disse rapidamente:


-Eu trato disso! – E saiu.


-Daniel? O que aconteceu?


-Ele levou com um balaço – Kimberly explicou, ajudando o professor Longbottom a carregar Daniel enfermaria adentro. – Pronto – disse uma vez que o rapaz se estirava numa cama.


Rapidamente Madame Pomfrey se apressou a prestar cuidados ao garoto como se ele estivesse se esvaindo em sangue. Contudo, nada parecia fora do lugar.


-Cadê a Lucy? – Daniel perguntou sem jeito.


-Foi tratar de uma coisa – disse Mandy.


-O quê? Ai! – Daniel se contorceu ao ser pressionado numa grande mancha amarela em sua barriga.


-Fique quieto – ordenou Madame Pomfrey.


-Foi ver se consegue arranjar aquele mapa da diretora.


-Que mapa? – Longbottom e os vários alunos que ali estavam perguntaram em uníssono.


-Er... um mapa da escola.


-O mapa dos Marotos? – Daniel perguntou ainda com uma careta no rosto.


-Como sabe disso? – O professor achou estranho, mas Daniel achou melhor ficar quieto enquanto o homem ainda ali estivesse.


-Você não sabia? Não anda mais grudado na Lucy?


-O mundo não parou quando você entrou na enfermaria – disse Kimberly com ar de pouco caso.


Mandy ahou estranha a reação de Kimberly.


Lucy esperava pacientemente que a porta da Sala Precisa surgisse. Ou pelo menos, julgava ela, quando pela décima vez que passava em frente ao lugar se apercebeu que andava em círculos freneticamente. A porta enfim apareceu, e com ela o som de um piano sendo experimentado.


-Gregory – ela chamou. O rapaz imediatamente parou de tocar e se virou para trás. Peter, absorto num livro, nem deu pela menina.


-Oi Lucy. Quer que eu ponha o feitiço em você?


-Não, pode deixar. Eu mesma faço isso – disse bufando enquanto se jogava numa cadeira como um peso morto.


-O que foi?


-Eu e a Mandy temos umas coisas para investigar, e precisávamos de uma coisa que a diretora tem, para isso.


-O quê?


-Um mapa que mostra quem está aonde dentro de Hogwarts.


Gregory arregalou os olhos. Peter ergueu os seus, e ao encontrar Lucy mesmo ao seu lado quase caiu da cadeira com o susto. Lucy tentou pedir desculpas.


-E ela deu esse mapa a você?


-Humf. Não. Basicamente ela disse que não merecemos. Como podemos investigar as pessoas se não sabemos quem elas são ou onde estão?


-Hum... – Gregory adquiriu um ar pensativo enquanto Lucy se esgueirava para dentro de sua bolsa, dela retirando um grande livro. Neste ponto Peter desistia de ler-lhes os lábios – não tem outro jeito sem esse mapa?


-Que eu saiba... se sairmos por aí perguntando pelas pessoas o culpado vai saber que andamos procurando e quando formos falar com ele... ele vai saber o que dizer.


-Hum... bom, tem uma coisa que podemos tentar – disse.


-O quê?


-Eu ganhei a sorte faz algum tempo, e como não se pode ganhar dinheiro eu sinceramente não sei o que pedir. Se você quiser eu peço esse mapa para você.


-Você faria isso? – Os olhos de Lucy brilharam.


-Claro – o rapaz sorriu.


Daniel se recostava para ficar mais confortável. Os alunos iam embora mas tanto o professor como Kimberly se deixaram ficar. Madame Pomfrey, atarantada com a atenção que tinha que dar ao novo enfermo, logo se esqueceu de Mandy e sua tradicional pergunta se já podia ir embora pelo que, quando interpelada, respondeu sem atenção que sim.


-Posso mesmo? – Mandy endireitou-se na cama.


-Sei lá, menina, faça como achar melhor. E você, rapazinho, vai ter que ficar de cama pelo menos até amanhã.


-E quando vai parar de doer? – Daniel se vitimizava.


-Só Merlim sabe.


-Não pode me dar uma poção para dor?


-Deixe de manha, menino – Madame Pomfrey retrucou, se retirando com suas pomadas.


-Se já está tudo bem então eu vou indo. As melhoras, Daniel – disse o professor enquanto Mandy se levantava.


-Já posso ir emboraa – Mandy cantarolou.


-Mandy, afinal, você estava falando do Mapa do Maroto ou não?


-Ah. Sim, estava. Você sabe o que é? – Mandy juntava as suas coisas espalhadas à volta de sua cama.


-Se sei? É um artefato! Uma relíquia que todo bom delinquente de Hogwarts almeja meter a mão!


-Nossa, não é pra tanto – disse Mandy com a testa franzida.


-Talvez nem seja, mas é claro, alguém como o Daniel não perderia a oportunidade de... Daniel?


Daniel olhava, com uma expressão intrigada quase imperceptível no rosto, um fantasma de uma menina gordinha, infinitamente triste, encostada numa janela e olhando de volta para ele, imóvel como uma estátua. Kimberly acompanhou o olhar do garoto sem entender o fascínio com uma bendita janela.


-O quê foi? – Ele se virou, tentado ignorar o fantasma que o incomodava.


-Isso pergunto eu – disse Kimberly.


-Não foi nada, não – ele retrucou, observando Mandy absorta nas suas arrumações quase completas.


-Bom, Daniel, já que eu estou aqui aproveito pra falar que eu e a Lucy não vamos esperar por você para fazermos o trabalho da detenção, vamos fazê-lo sozinhas com a Lianora, e se você quiser faça-o sozinho também.


-O quê?


-Aconteceu alguma coisa que eu não sei? Vocês não andam sempre colados? – Mandy perguntou antes que Kimberly pudesse responder.


-Não andamos mais – Daniel disse com alguma frieza. – Mas isso não é motivo pra me expulsarem de uma coisa que eu tenho que fazer!


-Nós não queremos saber como você faz, vai ter que se virar. No que depender de nós, você se ferra.


-Ah tá bom, muito obrigado – o garoto se irritou.


-Foi você que provocou essa situação, e nos arrastou pra ela; é mais que justo que se tenha que se virar sem a nossa ajuda – Kimberly mantinha o semblante frio.


-Cadê a Lucy? – A expressão de Daniel endureceu.


-...já disse, ocupada – Mandy respondeu passado algum tempo, vendo que ninguém para além dela sabia aquela resposta.


-Eu sabia que você tinha alguma coisa a ver com isso! – Daniel se virou para Mandy com raiva – passaram-se anos sem problemas até que você apareceu e estragou tudo! Porque não se mete na sua vida e pára de se intrometer na dos outros?!


-Knight – Mandy fitou o rapaz exibindo um brilho nos olhos pela primeira vez visto por Daniel, mas já conhecido por Kimberly. Temendo o que amiga pudesse fazer quando indignada, a interrompeu:


-A Mandy não teve nada a ver com isso, Daniel. Ela esteve aqui o tempo todo, lembra? – E com medo que aquilo não fosse suficiente, acrescentou – fomos eu e a Lucy que tomamos essa decisão.


-Ela nunca decidiria isso sozinha, e você sabe isso muito bem. Eu sei que foi a Malfoy que andou metendo minhocas na cabeça dela – Daniel cuspiu.


-Não, Daniel, não foi.


-Então quem foi?


-Fui eu – ela respondeu friamente, virando-se para sair.


Mandy olhava em volta um pouco atordoada. Se virou para Daniel antes que seguir a amiga:


-Que cagada que você fez, hein?


Daniel abriu a boca para responder mas um vulto espectral passou por ele sem aviso, assustando-o. Era o mesmo fantasma que saía da enfermaria.


-Lucy – Kimberly chamou a amiga antes que ela desaparecesse por uma esquina.


-Kim, consegui o mapa – os olhos de Lucy brilhavam.


-Ei – Gregory interrompeu, – eu é que consegui o mapa. Estou emprestando para vocês.


-É, tem razão – Lucy concedeu.


-Mesmo? E já descobriram como funciona?


Lucy se armou da varinha, tocando-a com gentileza no pergaminho dobrado e dizendo:


-Juro solenemente não fazer nada de bom.

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