Capítulo VII
Mandy esperava pela hora das carruagens arrancarem, acariciando as criaturas equestres quando não respondia a Lucy e se encolhendo, como se isso de fato fizesse com que ela se comprimisse, tendo assim menos área a ser coberta pela neve que caía fraca e rala.
Lucy se espantava através do telemóvel com a maneira como Madison explicava saber dos esquemas de Logan, por trás de toda a pequena corrupção dentro da própria Casa permitida pelas ausências irregulares e inexplicáveis do fantasma que insistia em chefiar Sonserina e pela facilidade como sonserinos conseguiam ser comprados, impossibilitando tentativas de encontrar provas suficientes para expôr onde a linha de pressões começava. Mandy então disse que as festas, por serem uma coisa tão simples em comparação com as outras que Logan fazia, tinha sido descuidada. Ela não sabia disso, mas podia prever, conhecendo o rapaz e percebendo que as festas eram um risco que ele tinha que correr para se sentir superior. Lucy lhe perguntara como Mandy soubera das confusões de Logan, ao que ela respondeu que “bom, parece que o Sherlock nessa escola sou eu”, esquecendo mais uma vez a ignorância que Lucy tinha sobre Sir Arthur Conan Doyle.
-Tenho pena que você também os possa ver – uma mulher de cabelo platinado tomou seu lado, falando com serenidade.
Mandy se virou com alguma brusquidão, mas a mulher parecia flutuar numa dimensão paralela, abafadora e retardatária da realidade, pelo que mal reagiu.
-Eu a conheço? É professora?
-Não, mas o meu marido é – a leve criatura sorriu com ternura. – Talvez você o conheça, Neville Longbottom.
-Ah, sim, é meu professor de Herbologia.
-Esse mesmo – sorriu com os olhos, segiudamente se apresentando; – eu me chamo Luna.
Madison apertou os olhos, reagindo à familiaridade do nome mas incapaz de apontar de onde ela vinha.
-Prazer, Madison Malfoy.
-Eu sei – ela respondeu, acenando com a cabeça. – Você é parecida com seus pais.
-Ah, a senhora também foi colega deles? – Madison sorriu.
-Eu era mais nova, mas sim, fomos colegas. Era engraçado ver seu pai brincando de gato e rato com Harry Potter.
-Certamente a senhora está fazendo um eufemismo.
Mas antes de responder a boca de Luna largou o sorriso mas não fechou, se detendo num entreaberto que parecia ajudar o próprio cérebro a pensar, e os olhos, depois de procurar alguma coisa em Mandy e não demonstrar se tinha encontrado ou não, se viraram para o à sua frente como se fosse uma peça de arte.
-Sim, um eufemismo. – E enquanto Madison se constrangia um pouco com a linguagem corporal de Luna, esta última finalizou com um sorriso: – acho que eles estão prontos para ir.
-Foi um prazer – Mandy cumprimentou, entrando na carruagem.
-Igualmente – Luna a observava de fora.
As rodas da carruagem testavam o terreno, estalando por cima de ínfimas pedrinhas escondidas no macio da neve, com o restante da paisagem hibernando sob a cobertura quase hermética que resguardava o desanso das coisas. O som crocante se sobrepunha ao vento trazido da floresta, gélido, como tudo nesta altura do ano, e esguio e traiçoeiro, fazendo das últimas folhas redemoinhos baixios. Algumas dessas folhas, contudo, tinham força suficiente para virem se espalmar contra as janelas o tempo que levasse até outra corrente de lá as tirar. Enquanto isso cumprimentava quem estava do lado de dentro, como que ansiosas por entrar, desesperadas até, em fugir do frio e aproveitar um instante que fosse de calor humano.
Mas as janelas permaneciam sólidas. Translúcidas, mas mesmo assim sólidas. Quase rachavam com o frio que vinha de fora, mal se aguentando em suas molduras finas de ferro negro e trabalhado, entalhes delicados e curvos, mas deixava-se condensar por dentro a ponto de embaciar e em certos pontos até pingar. O vapor estava na dose certa para aguentar desenhos a dedo por tempo suficiente para que Kimberly tivesse vontade de fazer outro coração. Ela não tinha culpa de sentir a falta dele, talvez nem fosse dele necessariamente se a pessoa de quem tinha saudades não existia exatamente, do carinho simplesmente, do apoio que achava que estava lá, da companhia básica. Mas aquilo não era jeito de se passar o sábado. Já tinha terminado com o rapaz há uma semana e já estava na hora de seguir em frente. “Estou atrasada, até!”
E nem era o caso de não ter o que fazer; antes pelo contrário.
Perguntou antes para os amigos onde estavam, e se não queriam parar de adiar uma certa investigação que tinham de fazer.
-Por onde começamos? – Lucy perguntou.
-Cadê a Mandy? – Daniel interveio antes que Kimberly respondesse.
-Deve ter ido pra Hogsmeade. E podiamos tentar abrir aquela porta de novo, ou tentar entender porque ela não abre...
-Começar pela porta, sim, é um bom princípio – Lucy sorriu. – Afinal, é para fazermos isso com aqueles dois ou não? Esquecemos completamente essa parte.
-Você devia ter perguntado.
-Você também podia-
-Quietos! Eu me recuso a passar mais um minuto com vocês discutindo. Foi muito engraçado mas já cansei – Kimberly interrompeu. – Vamos parar pra pensar. A Diretora disse que estamos fazendo isso para compensar termos estado lá em cima. Se ela soube que nós estivémos lá, então também sabe que eles estiveram. Obviamente que eles também devem participar nisso.
-Ok, tá certo – Lucy concordou.
-Como achar aqueles dois? – Reclamou Daniel.
-Eles disseram que costumam ir pra lá – Kim lembrou.
Mas não estavam.
-Ótimo, e agora?
-Mas você tem que reclamar de tudo? Até parece que a culpa é da Kim.
-Eu acho que um de vocês devia ir embora – Kimberly resmungou, se munindo do telefone. – A Mandy é da Casa deles, vai ver ela sabe.
-É, Daniel, vai embora.
-Ela não disse para eu ir embora.
Mas antes que Lucy fosse ripostar, e ela parecia bastante pronta para isso, Kimberly deu um tapa a cada um em simultâneo.
-Controlem-se! Isso é ridículo. Daniel, vai embora e sem reclamar. E você fica quieta e não comenta nada enquanto ele ainda estiver no meu campo de visão.
-Credo, todo mundo anda batendo em mim... – Lucy passou a mão onde a de Kimberly ainda ardia de leve.
Daniel abriu a boca mas dela não saiu nenhum som, a varinha de Kimberly encostando no seu nariz.
-Mas que malas! Eu não sou mãe de ninguém! – E quando Daniel já perdera de vista, acrescentou: – vocês estão muito piores esse ano. – E, do nada, disse como se se tratasse de uma epifania – você tem que arranjar amigos novos – ao que Lucy franziu a testa para o que achava absurdo; – nós as duas temos que arranjar amigos novos!
-Bom, ok – Lucy concedeu, baixando a guarda – realmente era capaz de te fazer bem parar de pensar no Hubert o tempo. Essa cara não adianta de nada, a gente sabe no que você pensa quando faz essa cara de peixe fora d’água. Onde vamos arranjar amigos novos? – Perguntou pondo as mãos na cintura.
-Quando eu digo amigos eu realmente quero dizer amigos, não pretendentes.
-Claro, claro, eu lá ia sugerir uma coisa dessas assim? De qualquer forma, onde?
-Sei lá, nos corredores, num clube de estudo ou de alguma outra coisa.
-Clube de estudo, Kim?
-Ok, ok, não tem que ser. Você também pode dar idéias.
-Bom, não pode ser do nosso ano, da nossa Casa, começar a se interessar por alguém que a gente já conhece há anos assim do nada é esquisito.
-Porquê que é esquisito?
-Como você reagiria se de repente o Brad te chamasse para dar uma volta em Hogsmeade? – Lucy ergueu as sobrancelhas.
-Eh... – Kimberly expressou um misto de medo e confusão – outra casa. Mais velhos são complicados, mais novos seria estranho.
-Na verdade, nós já temos duas opções: o par de sonserinos que a Mandy achou?
-Foi a Mandy que os achou? Falando nela... – baixou os olhos para o aparelho que acendia uma luzinha.
-Não foi? Não sei, eu não estava lá quando vocês os conheceram – comentou, olhando em volta.
-Acho que não... bom parece que ela achou o Peter, pelo menos, e já falou com ele sobre o que temos que fazer, ele disse que a Diretora não tinha dito nada, mas o Snape sim...
-Ah! – Lucy apontou para o telefone – nem temos que dar desculpa, estamos sendo obrigadas a conviver com eles, é perfeito.
-É, você gosta de uma desculpa para tirar o seu da reta... – Kimberly murmurou entredentes a uma velocidade incrível.
-O quê?
-É isso mesmo, nem temos que fazer esforço – respondeu no mesmo tom, mas de forma compreensível. – Bom acho que vou pedir para as donzelas pararem de namorar e virem ajudar a gente.
-As donzelas estão namorando? – Lucy arregalou os olhos.
-Sei lá, provavelmente não – Kimberly resmungou.
-Ah, achei que tivesse falando sério.
-He, não – soltou um pequeno sorriso, guardando o objeto e voltando a atenção para a porta. – Devíamos pedir ao Daniel que procurasse alguma coisa na biblioteca, feitiços mais complexos, avançados, simplesmente mais antigos...
-O Daniel, achar alguma coisa na biblioteca? – Lucy pôs uma mão na cintura e adotou um ar de pena – já vai com sorte se ele achar a biblioteca.
Kimberly grunhiu um pouco enquanto acabava de escrever uma mensagem a Madison e guardava o objecto com violência. Fitou a porta com desagrado, até um sorriso imerso em malícia se virar para Lucy.
-Porque você não tenta uma bombarda?
-Porque a minha seria diferente?
Mas um trejeito maroto foi suficiente para estabelecer entendimento. Contudo, o feitiço causou um enorme estrondo, projetando ambas as meninas para trás, as duas por pouco não caindo escadas abaixo, mas a porta se mantinha intacta.
-Ok deixa pra lá. Vamos nós à biblioteca, então.
-Humf, não quero voltar já, acabei de chegar – Mandy reclamou, respondendo relutante e positivamente.
-Ora essa, já tivémos tempo de comparar cicatrizes de guerra... – Peter começou.
-Sair na porrada com o primo não é bem uma guerra – Mdison riu.
-... ver quem sabe mais sobre tecnologia muggle...
-Obviamente que sou eu.
-Você pode entender de mais geringonças, mas não é melhor do que eu em frente a um computador, certamente. Pelo menos, pelo que eu pude ver do que você entende de um...
-Quantidade versus qualidade. Neste caso, quantidade é melhor.
-Uh... não, não é.
-É, porque eu digo que é – ergueu o queixo em presunção, do rapaz arrancando uma discreta risada. – Eu concedo a vitória dessa vez, já que as minhas cicatrizes superam os seus cortezinhos.
-E ambos falamos serpentês.
-Empatados – manteve a presunção no sorriso, baixando o rosto. – Ignorando, claro, o fato de que eu sou simplesmente melhor.
-Obviamente – retribuiu com um sorriso educado e discreto. – Sua amiga tem razão, temos que fazer alguma coisa em relação à porta ou a Diretora vai cobrar – Peter balançou o corpo em direção à saída da vila.
-É só que... acabei de sair da carruagem, praticamente, e não sou assim tão fã delas...
-Então vamos por dentro, a pé.
-O quê?
Mas Peter apenas juntou o indicador aos lábios, tomando uma postura reta e entrando na Dedosdemel como se fosse alguém importante e cheio de vontade de comprar doce. A lojinha, entupida de pequenos alunos exibia um não costumeiro cheiro a gente misturado com cheiro de doce, resultando num ar impregnado de um aroma enjoativo, clientes que faziam caretas e um elfo doméstico correndo de um lado para o outro com ar assustado, como se a culpa fosse dele, balbuciando algo sobre alguma coisa que só podia estar fazendo pouco dele, insistindo em não funcionar. A confusão inabitual permitiu aos clandestinos que rapidamente chegassem às traseiras do edifício e desaparecessem num alçapão.
Durante o passeio por túneis sinuosos Mandy tentou enviar uma mensagem a Kimberly perguntando onde ela estaria, estranhando constatar que não tinha rede. Guardou o telefone reparando que era observada por quem parecia não ter nada a dizer.
-Então e... – procurou um assunto ainda não abordado naquele dia – a sua namorada? Como ela se chama, mesmo? Abby?
-Sally – corrigiu. – Mas não somos mais namorados.
-Oh, sinto muito.
-Não faz mal, você não sabia.
O pensamento de Mandy correu o mais que pôde para encontrar o que dizer; manter uma conversa acesa com aquele rapaz era difícil, mas encravar naquele assunto era ainda mais constrangedor.
-Bom então e de onde você sabe desse caminho?
-Só ter uma disciplina para fazer dá muito tempo livre – sorriu, olhando a menina de soslaio. – Tem outros túneis como este, recentemente reconstruídos. Ficaram um pouco intransitáveis na altura em que Voldemort e os comensais andaram destruindo o castelo aos poucos, e há dois anos eu e uns colegas que obviamente já graduaram descobrimos uma folha perdida na biblioteca com notas sobre essas passagens e, claro, achamos geniais e resolvemos fazer alguma coisa em relação a isso.
-Sim, suponho que seja bom, principalmente quando não se tem autorização... – Mandy sorriu às paredes.
-E pode ser usado em qualquer altura.
-Mandy! O que você está fazendo aqui? – Lianora se assustou, empurrando o rapaz para longe de si com brusquidão.
-Pode pegar o menino de novo, Lianora, sou só eu – Mandy achou graça, pegando Peter pelo braço para passar pelos dois.
O túnel não tinha qualquer iluminação para além dos pequenos lumus das duas varinhas que não se importavam em serem vistas, mas mesmo assim um brilho claro pareceu cintilar em familiaridade. Madison ainda se deteve, os dois já se agarravam novamente e se afastavam lentamente, se arrastando pela parede na direção oposta ao castelo, mas Peter logo a cutucou. E quando achou estarem longe o suficiente, disse:
-Queria perticipar, é?
-Não, não era isso... – falou baixo. – Teve tempo de ver quem era?
-O cara? Não. Olha é aqui, espera um pouco. Dissendium – e ao espreitar pela estátua da bruxa zarolha dar a costa como livre, fez sinal para que o seguisse. – Tem certeza que não quer voltar? Eu consigo me orientar bem no castelo...
-Ha ha – os lábios de Mandy se contraíram em seu jeito costumeiro de combinar com o olhar gélido. – Vai ver e você é que queria ter ficado pra espreitar.
Um pequeno esgar surgiu em resposta, desaparecendo com a chegada de Lucy.
-Ué. Vocês dois aqui? Não estavam em Hogsmeade?
-Vocês não pediram pra gente vir? – Mandy insistiu.
-Achei que fossem demorar mais tempo...
-O que você tá fazendo aqui? Não deviam estar lá em cima? E a Kim?
-Ela foi ver se achava alguma coisa na biblioteca, eu vim procurar o Daniel e o outro rapaz. Não sabem onde ele tá, por acaso?
-Não, mas também não temos que estar todos juntos pra isso. E alguém pode ajudar a Kim, também, ela não tem que fazer o trabalho todo... Ah! Olha quem é ele. Greg! – Mandy reparou no rapaz através de um coluna.
-Ah olá – Gregory se aproximou.
-Temos que resolver aquele problema da sala acima da biblioteca, sim? –Mandy confirmou – Peter disse que Snape falou com vocês...
-Ah sim. Eh – fez uma careta em desagrado. – Vocês iam fazer isso agora...?
-Sim, já deixamos passar uma semana depois de nos ter sido pedido...
Mas Mandy parou, centrando os olhos num pomo de ouro a menos de três centímetros do seu nariz, hesitando se ali ficava ou se ia diretamente contra a cara da garota, descrevendo movimentos curtos e nervosos num espaço reduzido.
-Que raio...? – Lucy falou baixinho.
E quando enfim o pomo se decidiu pela esquerda da estátua, ainda rondou, a escassos metros dos jovens, a cabeça de Luna que surgia com a Diretora e um homem franzino e pálido de tal forma que aparentava doença, desconhecido para os alunos presentes. Simultaneamente, um estranho som agitado provinha do lado do corredor oposto aos adultos, ganhando atenção progressiva por ordem de proximidade.
-Meninos? – Hermione chamou – quem soltou o pomo?
Mas ninguém respondeu pois o barulho aumentou exponencialmente numa questão de frações de segundo, se assemelhou ao som de uma tempestade e se materializou em milhares de porquinhos etéreos que surgiram em avalanche praticamente em cima dos alunos. Madison, ainda junto à estátua conseguiu se esconder nesta e não levou com nenhum fantasma em cima, bem como Lucy e Peter que se comprimiram cada qual contra uma parede. Gregory, bem no meio do corredor e da crista da onda de pequenos animais, se sentiu como que preso numa teia seca e gelada que por mais que se contorcesse, nada acontecia. Os porcos avançaram a uma velocidade impossível contra os adultos; Luna, com um encantamento reflexo e inaudível, igualou as criaturas tornando-se etérea, Hermione e o homem ainda tentaram fugir mas nem tempo para virar tiveram, logo se juntaram a Gregory no contorcionismo. Rapidamente a gorda onda desapareceu sem deixar vestígio, libertando quem havia restringido. Os três afetados olharam em volta, a medo, se voltando depois para os próprios membros, procurando rastos do feitiço, mas nada visível ou paupável restara. Chateada, Hermione abriu a boca para protestar mas um guincho saiu em lugar de qualquer som humano. A mulher, reconhecendo o ruído suíno, corou violentamente levando uma mão à boca. Gregory tentou pronunciar o que quer que fosse mas da mesma forma não conseguiu falar, da sua boca apenas saindo pequenos guinchos que o enrubesciam ligeiramente e lhe davam notória irritação. Assim que a Diretora levantou o olhar exasperado para os demais uma gargalhada abafada ecoou pelo corredor. Nenhum dos presentes soube distinguir, a princípio, se era uma reminiscência do feitiço, se se tratava da própria estátua da bruxa se entretera com a situação ou se apenas soava em suas próprias cabeças como um eco mudo de pensamento.
-Allegro supero! – Luna apontou com a varinha para a frente com mão mole, essa a dirigindo para a estátua e libertando um feixe de luz amarela que entrava na boca do túnel. A gargalhada, mesmo claramente coberta pela mão de alguém, ficou estranhamente mais sonora a ponto de se tornar reconhecível.
-Daniel? – Lucy tentou.
Quem quer que fosse não se deixou revelar e conseguiu conter o riso. Mesmo assim a sua respiração era tão alta quanto um tom de voz exaltado.
Hermione tentou lançar um feitiço mas o guincho de porco forçou sua varinha a causar uma pequena explosão roxa. As meninas achavam, neste ponto, ser fisicamente impossível a Diretora ficar mais irritada e frustrada do que já estava. Prestes a explodir, a mulher lançou um feitiço silencioso em direção à estátua, expelindo Daniel e Lianora com violência do esconderijo para o chão.
Os rostos de Lucy e Madison se contraíram, o desta última denegrindo em seriedade e algum transtorno.
-Hermione... – Luna pousou a mão no ombro da amiga.
Como que contendo uma erupção com todas as suas forças, a Diretora rasgou o ar com a varinha a traços curtos e precisos que soletravam DETENÇÃO PARA TODOS em fogo, no segundo seguinte desaparecendo em fumo braco que viajava vertiginosamente pelos corredores.
Luna ainda lançou um olhar reprovador a Daniel e Lianora antes de levar consigo o desconhecido senhor para, provavelmente, a enfermaria. E foi quando desapareceram que Daniel novamente caiu na gargalhada, desta vez com a desenvoltura que podia.
-Daniel! Você tem quantos tipos de excremento na cabeça? – Lucy avançou para o rapaz com irritação.
-Desculpem, mas foi bom demais – Daniel se agarrava à própria barriga.
-Então era ele – Madison pareceu ignorar os dois, se dirigindo a Lianora.
-Não, não era. Ele eu achei agora.
-Então quem era o outro?
-Um grifinório.
-O quê? Do que vocês estão falando? – Lucy se virou para as duas sem mudar de expressão ou tom.
-Não interessa – Mandy respondeu ainda algo cética, olhando Daniel de alto a baixo.
Um pequeno ronco surgiu involuntário da boca de Gregory, arrancando de Daniel mais riso automaticamente.
-Seu imbecil, não tem graça – Lucy bateu na cabeça de Daniel, seguidamente se virando para o enfeitiçado. – Não liga não, você devia ir à enfermaria – se aproximou do rapaz para o acompanhar mas um olhar de irritação e frustração lhe meteu medo e antecipou uma saída apressada, permitindo a Lucy que continuasse a se chatear com Daniel – que encantamento foi aquele?!
-Não sei – Daniel deixou sair entre lágrimas.
-Você não sabe? – Lucy se escandalizou – você... seu...
-Ah Lucy por tudo que é mais sagrado, será que você pode relaxar uma vez na vida?
-Você é o único que achou graça, Knight – Mandy cortou, reparando na figura de Peter de mãos nos bolsos, preguiçosamente olhando na direção onde Gregory tinha ido, e na de Lianora, aterrorizada.
-Ah... vocês são um bando de sem graças – reclamou, se acalmando e limpando os olhos.
-E você é um desmiolado! Eu não acredito que vou ter que passar por detenção por sua culpa!
-Lia – Mandy chamou. – O que foi?
-E- eu não posso ter detenção – a garota gaguejou com uma expressão de súplica no olhar. – Meus pais me matam se sabem disso.
-Tá vendo o que você fez, imbecil?! – Lucy bateu em Daniel mais uma vez.
-Mas eu não fiz nada...
-É claro que não, Daniel, todo mundo sabe que Hogwarts é assombrada por porquinhos – Mandy semicerrou os olhos.
-Ha ha... – Daniel ainda riu mais um pouco – desculpem, mas foi bom demais... e a professora falando língua de porco... impagável.
-Expeliarmus! – Lucy berrou a Daniel, arremessando sua varinha pela janela – eu devia fazer alguma coisa aqui e agora! Já estou em detenção mesmo.
-Lucy, afasta essa varinha do meu pescoço – Daniel pediu em tom baixo. – Estou dizendo que não fui eu.
-Então quem foi, Daniel – Mandy se juntou a Lucy, – o namorado incógnito da Lianora?
-Não sei quem foi! Podem ficar chateadas comigo por ter dado risada, mas não fui eu que fiz aquilo à Granger e ao Gregory.
-Porquê que a varinha do Danny voou janela afora e não foi parar na sua mão? – Mandy rolou os olhos, se virando de lado para Lucy e de costas para Daniel e Lianora.
-Seu traste! Pensa que eu não sei? Eu devia... – mas a irritação de Lucy se acalmou um pouco dando lugar a confusão causada pelo pomo que decidira voltar e se deter em frente ao seu nariz – ... devia... o quê que esse trequinho tá fazendo aqui?
Mas ao que tentou agarrar a pequena bola esta fugiu em direção a Peter e Mandy, sendo agarrada por esta última, claro, sendo ela uma apanhadora e o rapaz não.
-O que raios um pomo de ouro está fazendo aqui? – Mandy perguntou, aproximando o objecto do olhar. – Será que é o mesmo que passou por aqui há pouco? – E abrindo a palma da mão este se abriu com uma pequena explosão de fumo negro que sujou o rosto de Madison como uma poção falhada.
-Hah! – Daniel não se conteve e voltou a rir. Mandy o observou com mais atenção, achando que o próprio rapaz estivesse enfeitiçado pois por mais graça que tudo aquilo pudesse ter, era o único que ria tanto e de forma tão incontrolável.
Mandy largou o pomo que, mesmo de asas em riste, não quis ir embora. Começou a limpar o rosto quando Lucy tornou a berrar com Daniel, Lianora voltou a se preocupar com possíveis reações dos seus pais, e Peter iniciou marcha dali para fora.
-Baixa a varinha, Lucy! – Daniel agarrou a ponta da varinha em riste, puxando-a para si.
-Ah! Larga!! – Lucy começou a rodar a varinha para que Daniel a deixasse escorregar, com parcos resultados
-Não, larga você! – O rapaz usou a força de Lucy para se levantar – quer me matar?
-Daniel – Lucy cerrou os dentes – larga a minha varinha.
-Madison? – Peter chamou.
-Larga você! Pensa que eu não sei que vai lançar sabe lá Merlim o quê se eu largar?
-O quê que ela tem...? – Lianora se aproximou de Peter e Mandy.
-Solta! – Lucy berrou.
-Larga! – Ripostou Daniel.
-Mandy – Lianora chamou novamente.
Mas Madison não respondia. De cabeça baixa a menina permaneceu imóvel até inclinar o pescoço para um lado de cada vez com lentidão, os ossos estalando ruidosamente.
De dentro do bolso das calças de Daniel o seu telefone vibrou e lhe roubou a atenção, largando a varinha de Lucy e a projetando para o chão.
-Ai! – Lucy resmungou enquanto embatia contra a pedra fria do castelo.
Mandy observou o próprio corpo, detendo-se nas próprias mãos com um esgar estranho. Ergueu então o rosto inexpressivo para Lianora, fitando a menina como se a visse pela primeira vez na vida e se tratasse de uma visão incrível e arrebatadora.
-O que foi...? – Lianora falou a medo.
-Seu desastrado! – Lucy apntou a varinha para Daniel mas nenhum feitiço saiu – aaargh! Agora não!!
Mandy se muniu da própria varinha e a apontou para Lianora, maravilhada e intrigada.
-Pera aí, a Kimberly quer encher o meu saco – Daniel tentou ler a mensagem mas logo tinha Lucy tentando lançar o que quer que fosse que sua varinha se recusava a acatar.
-Mandy o que você está fazendo? – Lianora não sabia se estranhava ou se de facto ficava com medo.
-Mandy baixa a varinha – disse Peter, calando-se ao ver a varinha branca com mira em si.
-Funciona, porcaria! – Lucy se debatia.
-A Kimberly realmente acha que eu sou capaz de achar o que quer que seja na biblioteca? – Daniel tinha os olhos fixos no aparelho – pirou de vez, coitada.
-Mandy! – Peter gritou ao ver a varinha sendo agitada em jeito de feitiço sem nada sair da sua ponta, apagando o sorriso da dona.
-Quê que tá rolando aí? – Daniel começou por levar os olhos em direção a Peter – Ai! Você é louca, criatura – mas a varinha de Lucy começara a bater freneticamente em sua cabeça.
No rosto de Mandy floresceu um esgar estranho e perturbado quando achou melhor simplesmente largar a varinha e apontar a mão aberta e estendida para o rapaz que engolia em seco. Começou a anunciar um feitiço num tom incrivelmente baixo para o seu timbre habitual, interrompendo-se num espasmo de contorcionismo e mudança de expressão. De onde antes estava um rosto calmo e fascinado agora surgia um esgar sinistro e rasgado que tanto podia transparecer a felicidade de uma epifania como o histerismo comum do terror, e os olhos esbugalhados não ajudavam a decidir.
-Me larga – Lucy resmungou entredentes, se contorcendo nos braços de Daniel – seu gorila!
Peter começou a recuar e Lianora estendeu a mão ao braço de Mandy.
-Só se você parar de me – Daniel começou, sendo interrompido pelo corpo inconsciente de Lianora que embatia violentamente contra o seu.
-O que...? – Lucy se aterrorizou ao ver a expressão maníaca de Mandy que rapidamente se acalmava.
-Lucy – Daniel sussurrou – imobiliza.
-A varinha não tá funcionando – Lucy deixou sair num fio de voz ao ver as feições de Mandy se descontrolando novamente.
-Peter! – Daniel pediu – faz alguma coisa!
Mas Peter continuava se afastando, e Madison continuava se interessanto em apontar o braço direito ao trio que se estatelara no chão.
-Mandy!! – Lucy gritou.
E viu nos olhos da amiga um brilho de reconhecimento antes de correr em direção à parede mais próxima como se a sua vida dependesse disso.
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