Capítulo VI



Um dos olhos não aguentava mais o sono e fechava-se repetidas vezes, camuflado na bochecha comprimida pela mão de apoio. Foi quando a pálpebra direita se aliou à outra que Daniel se apercebeu da figura que Mandy estava fazendo.



-Mandy, acorda - ele sussurrou antes que o professor reparasse.



-Ahn...? - Mandy ergueu a cabeça, virando-a para Daniel, mas esquecendo a mão no meio do ar.



-Madison Malfoy - a voz do professor Longbotton atrás de si deixou Mandy gelada, seguidamente perplexa e incrédula, sempre com esquerdo sobrolho levantado, - quer se casar comigo?



Ela voltou o rosto hesitante para o professor que, com o joelho direito no chão, estendia as mãos para a sua, ainda pendente, como se esperasse para apoiar o rosto novamente.



Se mais gaguejava, ou se mais pestanejava, impossível dizer; Mandy não sabia se acordava ou se simplesmente ria da situação como se estivesse vendo de fora.



-Tudo bem, já entendi que não quer. De qualquer forma eu sou velho de mais pra você, e já sou casado - ele avançou, levantando-se. A turma permanecia perturbadoramente silenciosa quando se voltou, de forma repentina - Não quer, né?



A boca de Mandy finalmente se fechou num sorriso, ao olhar para baixo e abrir as mãos em sinal de rendição:



-Não faço essa questão, professor.



-E dar continuidade à matéria de que eu estava falando, quer? - Ele piscou o olho de forma estranha.



-Parece que hoje estou numa onda irremediável de negação... - ela respondeu prontamente, com um sorriso amarelo.



-As respostas na ponta da língua de Mandy já voltaram ao ativo, o mundo volta a rodar - Longbotton concluiu, substituindo o silêncio ainda assustado por risos murmurados.



-Esse professor é engraçado demais – Daniel comentou no fim da aula, enquanto os alunos arrumavam as coisas.



-Ah, eu adoro ele – Mandy respondeu, tinha mais a acrescentar, mas o seu adorado a interpelou do outro lado da secretária, a alguns metros de distância. – É só um instante, professor.



-Agora ele deve perguntar se te pode adotar, já que mulher dele você não quer ser – Daniel disse ainda.



-Boboca – Mandy retrucou. – Não precisa esperar por mim.



-Madison, a Diretora tem um assunto importante para falar com você, e queria saber se você pode disponibilizar o seu tempo livre pelo menos este semestre.



-Uh... em princípio sim, mas... qual é o problema?



-É sobre a sua varinha... a diretora gostaria da sua colaboração para saber mais sobre o assunto, e claro, te ajudar – o professor começou por explicar, parando com um sorriso afável, ao ver que o colega de Madison ainda os observava.



-Uhm... claro, com certeza – Mandy respondeu ainda achando aquilo estranho.



-Porque você precisa da ajuda da diretora para arranjar uma varinha nova? – Daniel indagou enquanto saíam da sala – e pra que ela precisa do seu tempo livre durante todo o semestre para te dar uma varinha? – acrescentou, dando ênfase na palavra “todo”.



Mandy parou no corredor, fitando Daniel com uma expressão que parecia duvidar das capacidades do colega de compreender aritmética básica, mas rapidamente baixando a guarda e consultando, furtiva, por ouvidos próximos que pudessem estar prestando atenção.



-É claro que não se trata simplesmente de uma varinha, né, Knight?



E ao que dava a parecer que não iria dizer mais nada, o rapaz ainda tentou, puxando-a pelo braço com gentileza e acrescentando num tom condizente.



-Quer que eu conte como eu voo tão rápido? – Tentou, com o rosto baixo mas de olhos em Mandy, de quem automaticamente arrancou um sorriso dela característico; de um lado só.



Os olhos semicerraram ligeiramente, com o aumento efémero do esgar. E dando lugar a um trejeito em concordância, deu de costas e seguiu em direção ao gabinete da Diretora ponderando até que ponto poderia confiar no rapaz, e se valeria a pena.



Ainda a observou por alguns instantes, pensando em como devia ser bom ter um nariz tão em pé, tudo parecia simplificado, descomplicado, linear, fácil. Era difícil ter alguém assim em boa conta, pensou, a garota devia ser mimada como tudo, sem a mínima noção do que era ter de lutar pelo que quer que fosse. Sem a mínima noção do que era ter que esconder...



-Daniel? – A voz de Kimberly ecoou por detrás dele.



-Uh? – Daniel se voltou para a amiga – oh, oi, Kim. Você não deveria estar com o Hubert agora?



-Nós terminámos, poço de sensibilidade – ripostou lentamente.



-Não terminaram nada – recuou o tronco, um trejeito confuso lhe assolou o rosto por um instante.



-Terminámos sim – resmungou baixo, irritada. – Não me faça insistir, não quero nem pensar no assunto.



-Aquele...



-Sim, aquele – rolou os olhos, e pegou o amigo pelo braço se dirigindo ao pátio interno.



-Mas-



-Eu sei, é o que me deixa pior, andei esse tempo todo achando que ele era de um jeito... para no final ele dar a entender que era só uma tentativa de ir comigo para a cama. Eu entendo perfeitamente que ele queira isso, mas credo... – deixou o colega abraçá-la de lado enquanto andavam – encenação tem limite... ele não sentia nada daquilo que mostrava.



-Kimberly, minha querida, não posso dizer que esteja surpreendido; pra mim, qualquer homem é capaz de fazer o que o Hubert fez, com mais ou menos perícia – Daniel começou por discursar, mão em riste e as sobrancelhas para o alto, se detendo a meio, ao notar um soluço do ser em seus braços. – Oh, Kimmie, pára com isso, não vale a pena – e decidiu parar, agarrar a garota pelos braços e se concentrar em seus olhos – ei! Olha pra mim. Que besteira. Todo mundo sabe que ele não é o amor da sua vida.



-É claro que todo mundo sabe – soluçou num tom quase inaudível.



-Vamos, eu sei exatamente do que você precisa – largou os braços da morena e, recuando, ofereceu um dos seus.



-Aquele traste... como ele ousa?! – Lucy se irritava, em tom sussurrado, oculta por um arco, observando os amigos que se perdiam de vista que murmuravam alguma coisa que ela não conseguia ouvir – se aproveitando da Kimberly! Caramba o garoto não perde tempo, ela acabou de acabar com o Weasley. Tenho que fazer alguma coisa, não posso deixar que-



-Não pode deixar o quê – Lucy ouviu a voz arrastada de Snape vindo por detrás de si, passando diretamente por onde a menina estava e sem lhe tirar os olhos de cima – senhorita Potter?



-A- eu – Lucy começou por gaguejar, ainda arrepiada pela impressão causada pelo fantasma ao a ter atravessado – não posso deixar, nada, professor, nada.



O fantasma, bastante mais alto que Lucy mesmo se tivesse os pés assentes no chão, a fitava com ar intimidador.



-Hereditariedade é uma coisa incrível – o professor fantasma comentou com morosidade e uma ponta de escárneo. – Menina Potter, quero a sua opinião... sendo a senhorita uma pessoa de fora. Como sabe, eu continuo sendo Diretor da Sonserina, e devo admitir que a minha casa fica, portanto, à mercê do monitor chefe. Você por acaso não saberá nada sobre umas certas... congregações ilegais na minha sala comum? – falando já sem escárneo, em tom agora ameaçador.



Lucy engoliu em seco antes mesmo de assimilar a pergunta. Sua mãe lhe contara que o professor já era assustador enquanto vivo, a situação sendo ilustrada com um episódio contado pelo tio, Ronald, em que o hoje professor Longbotton tinha como maior medo a mítica figura de Snape, como criatura etérea certamente era ainda pior. A menina se deu conta então do que lhe fora perguntado e procurou formular uma resposta.



-Congregações? O que... n- não, não sei de congregações nenhumas – disse, e para acrescentar veracidade ao depoimento enrugou a testa.



Snape ainda abanou a cabeça, dizendo ainda rapidamente antes de ir embora:



-Gaguejar menos também é uma boa técnica, menina Potter.



Lucy respirou em alívio, seguidamente olhando em volta, em busca de alguém que tivesse visto a cena, mas ninguém parecia interessado. De fato, os corredores pareciam vazios demais para a hora, tendo em conta que era intervalo... tomou a esquerda em busca  do lugar onde as pessoas estariam se escondendo.



Ao se aproximar do refeitório, quase foi diretamente contra Peter, que como ela não desacelerou na curva.



-Ai! Desculpa.



-Não tem problema – Peter desculpou, cabisbaixo.



-Ei, você por acaso não sabe onde se meteu todo mundo em plena hora de intervalo?



-Não... – o rapaz respondeu, levantando os olhos, absorto e um tanto preocupado com o que via atrás de Lucy.



-O que foi?



-Nada, não – disse rapidamente se voltando para ela mais uma vez, antes de desaparecer pelo caminho de onde viera.



-Ô carinha estranho.



-Lucy? – A voz da Diretora de Hogwarts soou atrás da menina.



-Ah, Diretora – Lucy respondeu, sorrindo nervosa à tia e pensando no que comera de manhã, ou no dia anterior de noite, procurando lembrar um sabor estranho que explicasse uma pequena maldição em forma de trote, cortesia do amigo lufa-lufa, que tivesse como efeito atrair professores para as suas costas a tempo de a observarem em momentos cronstrangedores. Ao se virar notou Madison com a professora. – Oh, e oi Mandy – completou, ganhando em resposta apenas um sorriso da amiga.



-Pode nos acompanhar ao meu gabinete, por favor? – A Diretora perguntou, achando graça a ter Lucy a tratando como tal.



-Com certeza – Lucy as acompanhou, seguidamente sussurrando para a amiga: – porque você está com a Diretora?



Ao que Madison exibiu uma varinha quase branca e porosa.



-Ela me ajudou com a minha falta de varinha, olha que beleza. Madeira de bétula com verniz de mármore...



-Verniz de mármore? – Lucy interrompeu, em resposta obtendo apenas sobrancelhas erguidas e satisfeitas.



-Inquebrável.



-Parece que tem um furinhos... e o núcleo?



-É... – Mandy procurou se lembrar – acho que é fio de unicórnio, alguma coisa de unicórnio, já não lembro direito.



-Como você se esquece do que é feita a sua varinha? – Lucy reclamou em frente à estátua da fênix, seguindo-as pelas escadas após a estranha pronunciação da Diretora da sua senha: Armogência Cárgatus. – Diretora, que mal me pergunte, mas o que é isso?



-A minha senha? – A Diretora ainda disse antes de adotar um tom de complacência – ah, essa juventude... é um componente importante da poção de Canegírio.



-Ah, claro... – Lucy arqueou as sobrancelhas, achando melhor fingir que sabia de que poção se tratava, e ao cruzar o olhar com Mandy, a amiga gesticulou em troça como se foleasse um enorme livro, e o estudasse como se fosse um ratinho eléctrico.



-Eu e a menina Malfoy estávamos procurando por você. Estou consciente de que a biblioteca oculta foi descoberta, bem como uma outra sala sobre a qual eu desconhecia a sua existência... não sei onde estão os seus outros amigos que viram o lugar e a... evidência-



-Evidência? – Lucy interrompeu.



A Diretora fez uma careta de desagrado e tristeza, respondendo:



-Os órgãos acorrentados...



-Porque disse evidência? – Madison perguntou.



-Er... faça de conta que não disse. Bom, o fato dos senhores estarem ali é uma infração às regras, todos sabem que aquela parte do castelo está fora dos limites dos alunos, mas estou disposta a ignorar essa infração se ingressarem numa de duas ordens antigas que estou trazendo de volta à luz do dia, a que vos diz respeito é o Exército de Dumbledore. Basicamente o que espero de vocês é que investiguem o que se passou naquela sala. Pelo menos, essa é a vossa missão mais imediata.



-Como a senhora...? – Lucy começou.



-Sabia que vocês estavam lá? Ser Diretora tem suas benesses – respondeu sorrindo, tirando do bolso um pergaminho várias vezes dobrado e nele tocando com a ponta da varinha murmurou palavras que as meninas não conseguiram ouvir, para então abri-lo com cuidado sobre a secretária. – Acho que será boa ideia tentar fazer uma cópia deste mapa para vocês, vou ver se consigo. – E pondo a mão na cintura e mudando o peso do corpo de uma perna para a outra, completou, intrigada – onde estão aqueles meninos...?



-Quem? – Lucy perguntou.



-O Daniel, claro, e quem mais estava com vocês; não disse que estava dando esta oportunidade a vocês para não castigá-los? Mas convém que eles concordem... – disse, percorrendo o mapa com os olhos, se detendo num ponto e sorrindo com ternura – ah claro. – Mas seguidamente ficando séria e um tanto vermelha, levantando o olhar – vão buscar seus amigos na Sala Precisa.



Lucy arregalou os olhos.



-O quê? Onde eles estão? – reclamou, avançando em direção ao pergaminho mas sendo detida pela Diretora que a agarrou pela barriga, respondendo de forma ríspida:



-Eles não vão aparecer aí, quem está na Sala Precisa não aparece no mapa – e seguidamente largando a garota, continuou – vão lá chamá-los, por favor, e não façam muita confusão.



-Ohhh aquele... – Lucy rosnava escadas abaixo com Mandy atrás dela.



-Lucy! Calma, eles não devem estar fazendo nada de mais – disse Mandy, tentando acompanhar a amiga. – Credo, até parece que não conhece a Kim.



-E você até parece que não conhece o Daniel!



E antes que fizessem mais uma curva, Mandy puxou a menina pelo braço, devolvendo num tom irritado, mas controlado:



-Então você acha mesmo que ela não fez nada com o namorado durante meses e agora vai ter uma sessão picante com o Daniel só porque sim?



Lucy deu um safanão com o braço preso, libertando-se e fitando Mandy.



-Não é só porque sim!



-Ah claro, agora vai dizer que ele gosta dela?



-Não, claro que não!



-Então o quê? Tem medo das capacidades de persuasão do menino, é? Que estresse estúpido, pára de falar assim deles, aposto que não gostariam de saber o que você está dizendo, principalmente nas costas deles.



-Oh não vai ser só nas costas, vou confrontar aquele safado assim que o encontrar, se você não parar de me agarrar. – E semicerrando os olhos por um instante, desacelerou o discurso – você... Você tá protegendo aquele anormal! Eu sabia que você-



Mas mandy interrompeu com um pequeno tapa que sabia não doer, apenas para chamar a atenção da outra para as bobagens que estava dizendo.



-Pensar antes de falar é boa ideia, Potter.



Mas Lucy apenas olhou a garota por mais alguns instantes, logo se virando  para continuar a marcha agora o mais rápida que conseguia alcançar sem correr.



-Grunh... aquela nariz empinado, como se o outro já não fosse instável o suficiente ela ainda por cima dá corda e não ajuda, ah se não tivéssemos controle de maldições dentro do castelo... – Lucy resmungava num tom que deixava o seu discurso impossível de percepção até parar, especada, frente à enorme porta que os dois nem haviam se dignado a esconder. Abriu-a com violência, gritando: - DANIEL!



A sala, transfigurada num pequeno ginásio oval com um aro de quadribol em cada extremo, acolhia o par de amigos em trajes de desporto e empuleirados em suas vassouras, o rapaz com uma bola debaixo do braço e a outra voando atrás dele, ambos rindo às gargalhadas, descrevendo piruetas e contracurvas angulosas e arriscadas. Lucy, paralisada e de boca entreaberta, seguia-os com os olhos.



-O quê que eu disse, mal-educada? – Madison apareceu por trás de Lucy, batendo de leve no seu cucuruto. – Porque me deixou falando sozinha no meio do caminho?



-Ah se eu pego o estrupício que me aprontou essa... – Lucy resmungou entredentes.



-Quem te aprontou o quê? – Madison ergueu o sobrolho esquerdo.



-Parece que é moda hoje as pessoas aparecerem por trás de mim e me darem um sabão! – Lucy abriu os braços em indignação, se virando para Mandy que tomava sua esquerda.



-Eu tinha um comentário tão bom pra isso... – Daniel riu do cimo da sua vassoura, dimiuindo a velocidade e complexidade da corrida mas sem a parar.



-Você é bom que fique na sua! – Lucy lhe apontou o dedo em riste, mas os dois não pareciam assim tão interessados na conversa, parecendo a brincadeira infinitamente mais agradável.



-Quem mais fez isso? – Mandy procurava insistir em ignorar os conflitos entre aqueles dois, na esperança de que isso os desencorajasse; pelo menos na sua frente.



-A Granger...



-Granger?



-Sim, a Diretora.



-Eu pensei que ela se tivesse casado com um Weasley.



-E casou – Lucy resmungou, dando de ombros – mas não mudou o nome, que mal tem?



-Bom, ok – Mandy levantou ambas as sobrancelhas, minimamente perplexa. – Mas ok, isso eu vi. Quem mais?



-O Snape.



-O que o Snape queria com você?



-Er... – Lucy finalmente pareceu se acalmar, indecisa sobre exatamente o que queria dizer – eu acho que ele veio me perguntar se eu sabia de reuniões ilegais na casa dele.



Foi a vez de Mandy arregalar os olhos.



-Reuniões ile... não existem reuniões ilegais em Hogwarts, os alunos podem se juntar quando e onde quiserem...



-Hum...



-Tem a certeza que ele disse reuniões?



-Ele não usou essa palavra, mas...



-Então o que ele usou?



-Sei lá, não me lembro.



Mandy fitou os pés da amiga por algum tempo.



-De certeza que ele não estava falando das festas do Logan?



-Talvez. Quando ele falou não usou essa palavra, já não sei direito o que ele disse. Fiquei em dúvida e preferi não me meter, disse que não sabia de nada. Se bem que ele não ficou muito convencido... – Lucy pareceu preocupada, passando a mão pela nuca.



-Mas porque ele perguntaria uma coisa dessas... – Mandy começou, mirando o rosto de Lucy como se tivesse a resposta escrita, esperando ser decifrada – ele não tem controlado a nossa Casa...?



-Como é que eu vou saber? – Lucy começou, logo sendo interrompida.



-É claro, eu nunca o vejo nas masmorras, ele não precisa dormir então não fica lá por perto, por isso que aquela última festa deve ter sido cancelada na última da hora, ele deve ter ido lá por alguma razão e alguém avisou o Logan... É isso!



-É isso o quê? – Lucy perguntou.



-Ele não sabe das festas! – Mandy pegou nas mãos de Lucy, felicíssima, rapidamente a largando e dando meia volta para correr o caminho de onde haviam vindo.



-Mas que diacho... – Lucy quase fez uma careta ao ver a colega desaparecendo por uma arcada – Vocês dois, venham aqui um instante. Sim sim, já tá de bom tamanho os dois aí em cima gastando as vassouras – Ao que os amigos desceram com calma em frente a Lucy, esta pôs as mãos na cintura e explicou o que a eles era devido.



-Isso inclui aqueles dois sonserinos mais velhos? – Kimberly perguntou no fim.



-Não sei – Lucy respondeu após um trejeito.



-Como sabia que nós estávamos aqui? – Daniel se aproximou da amiga com ar maroto – andou nos seguindo?



-É claro que não! – Lucy respondeu prontamente, algo atrapalhada, de seguida mais calma – é que a Diretora tem um mapa...



-É ela que tem o mapa? – Os olhos de Daniel brilharam.



-Que mapa é esse? – Kimberly se virou para Daniel, estranhando a reação do rapaz.



-Eu simplesmente preciso passar a mão nesse mapa – Daniel respondeu simplesmente, esfregando as mãos e abrindo um sorriso expondo cobiça no seu estado mais puro.



-Que mapa é esse? – Kimberly insistiu, empurrando o amigo.



-Ai pára! Já desci da vassoura, já chega. – E perante os olhares espectantes das amigas, completou: – só pode ser o mapa dos Marotos. É um mapa de Hogwarts que mostra a posição exata de cada pessoa e os últimos passos. Também tem passagens secretas; é tudo que eu preciso.



-Oh... – Kimberly apontou as sobrancelhas pra cima.



-Foi assim que ela ficou sabendo que estivémos lá.



-É claro – os olhos de Daniel continuavam a se excitar só de pensar no objecto. – Eu tenho que dar um jeito de ficar com ele!



-Ô criatura obsessiva – Lucy reclamou. – Que mania de ter tudo.



-Qual o quê, eu sou é exigente, só quero do bom e do melhor – Daniel baixou a cabeça com um trejeito, fitando Lucy que em resposta lhe fez uma careta e abria a boca, pronta a ripostar.



-Olhem com licença, podem parar aí mesmo que eu não faço questão de estar no meio quando vocês começam a fazer sexo mental em público! Façam de conta que eu ainda estou aqui, por favor.



-O quê?! – Lucy ficou violentamente vermelha – eu e ele! Nunca! Cruz credo!



-Claro, Lucy, claro – Kimberly revirava os olhos enquanto Daniel apenas ria da reação da outra.



-Tá rindo do quê, metido?



-Não não, metida é a Mandy – Daniel devolveu automaticamente, ainda divertido.



-Você não fica muito atrás!



-Depende da pessoa – ripostou, cínico.



-Eca. Porque tudo com você tem que dar nesse assunto?



-Você é que só repara qundo eu falo nessas coisas.



-Você nunca fala nada que preste quando não está falando sobre... isso. Acha que eu não reparo?



-Então você acha que esses assuntos são assuntos de jeito – riu.



-Você é que não é um assunto de jeito – disse Lucy, semicerrando os olhos e ignorando o comentário de Kimberly que saía, bufando e amaldiçoando as manias dos amigos.



“Mas que malas sem alça” Kimberly pensava ao se dirigir para o balneário. Durante o caminho e enquanto se trocava reparou o leve estado de espírito em que se encontrava, incrivelmente graças a Daniel. Interessante como ele era o oposto de Hubert, que parecia recetivo e amoroso, no fundo só querendo uma coisa... e Daniel, que fazia do assunto piada de cada dia, esse sim sabia cuidar das amigas. Era normal Lucy gostar do menino, que mesmo com suas faltas de desconfiómetro era uma pessoa sensível e que prezava por elas. Mesmo assim a relação que os dois tinham era cansativa, mesmo para quem era de fora. Na opinião de Kim, a frase que acabara de usar e encabulara Lucy era o mais adequada à realidade possível. “Porque eles simplesmente não perdem a vergonha?”



-Porque o senhor não tem nada com isso, não faça perguntas às quais não lhe compete saber a resposta; o que um professor faz com o seu tempo livre tem única e exclusivamente a ver com o dito professor – Snape respondeu com com uma pontada de irritação, observando o rapaz com uma expressão que parecia até conter pena. – Mas o que o senhor tem a ver com é sua obrigação e responsabilidade para com a Casa, principalmente quando eu não estou presente. O senhor não só se mostrou incapaz de tal responsabilidade, como também um infrator – silabando em diante – e infrações têm limites. E consequências.



-Professor eu prometo que nunca mais faço festa nenhuma! Juro, pela-



-Não amaldiçoe ninguém, Vanglor, faça-me o favor – o professor cortou, sem paciência. – A sua palavra é de tanta confiança quanto a de um rato esfomeado.



-Não é verdade, senhor, eu prometo-



-Não o aconselho a fazer promessas que ambos sabemos que não vai cumprir – Snape adotou uma expressão de nojo, falando entredentes. – O senhor não poderá ficar em Hogwarts nem mais uma noite, sendo eu o seu Diretor eu decido da sua sentença, sendo esta expulsão imediata, sem recurso, e nem tente ir pedinchar à Granger ou terá ainda mais problemas. O senhor deverá se dirigir à estação de Hogsmeade a pé. Suas malas lá estarão o esperando.



-Não posso ser transferido...?



-Considere-se com sorte por eu não ter informado as escolas de magia mais próximas que o senhor foi expulso.



E como o professor não mostrava quaisquer intenções de sair ou mesmo mudar de idéias, Logan engoliu em seco, e num meio sorriso nervoso, ainda pediu:



-Será que posso me despedir de duas ou três pessoas?



-Desde que não cause confusão. Nem demore muito tempo, quem?



-Greg, Peter – Mandy reparou nos colegas que ocupavam os lugares à frente do que tomava para si. – Vocês não costumam comer aqui. Dando uma de sociais, agora?



-É a primeira sexta-feira de loteria – Peter comentou, sem sequer dar atenção ao prato que, por magia, lhe apresentava uma deliciosa opção.



-Hum? Vocês gastam dinheiro com isso? As probabilidades de saírem uma combinação específica são minúsculas, não compensa, e o prémio nem é metade do que os alunos apostam. É exploração pura daquele idiota, todo mundo sabe que foi idéia do Logan.



-Não tem importância. Quem ganha pode pedir o que quiser à Granger, e eu sei exatamente o que vou pedir quando ganhar. Se ganhar, é claro... – Peter respondeu com morosidade, melancolicamente quase, de olhos na mesa de professores.



-Ah mas não é você que vai ganhar hoje – Mandy exibiu um sorrisinho de lado, erguendo o queixo ligeiramente, e olhando em volta, parando em Gregory e apontando, o cotovelo dramaticamente apoiado quase no meio da mesa; – quem vai ganhar hoje é o Greg.



-É claro que eu vou ganhar – Gregory achou graça, dando corda e sorrindo.



No final da refeição, antes da sobremesa, a Diretora tomou o púlpito e anunciou que o sorteio teria início. Uma fênix surgiu da porta e sobrevoou sete vezes sobre a cabeça da Diretora, a cada vez que o fazia deixando cair um pequeno pedaço de pergaminho com as pontas queimadas e um número inscrito. Cada número foi anunciado com drama e suspense, mas, e não para surpresa de pessoas como Madison, ninguém se exaltou na declaração do último número. Ninguém, como vinha acontecendo desde o início do ano, se levantara para reclamar o prémio, e Mandy começava a achar que o responsável por recolher as apostas tivesse alguma coisa a ver com isso. Ao se virar para os colegas, começou:



-Viu? O quê que eu falei? Raramente alguém ganha. Devia ser ilegal extorquir dinheiro dessa forma a guris de 11, 12, e 13 anos.



-Você falou que o Greg ia ganhar – Peter devolveu o pequeno sorriso de lado. – E porquê só até aos treze anos?



-A partir dos 14 já deviam ter juízo para-



-Mas eu ganhei – Gregory murmurou, olhando para uma curta linha de rabiscos num rasgo de papel pautado.



-O quê? – Mandy e Peter perguntaram em uníssono.



-Eu ganhei – Gregory repetiu, não muito mais alto sem tirar os olhos do bilhete.



-Então vai lá reclamar o prémio – Mandy sorriu.



-Mas eu não sei se posso...



-Porque não?! – Peter o pressionou, quase se zangando.



-Tecnicamente, eu já não sou aluno...



-Que bobagem – disse Mandy. – O que você faz aqui afinal? Não faz parte da equipa de auxiliares?



-Eu ajudo o professor Lingert com o coro, faço umas coisas, tenho uns projetos... – o rapaz dizia devagar, sem dar importância nem tirar os olhos da sua aposta premiada.



-Então você faz parte de Hogwarts da mesma forma – Mandy disse, baixando a voz e a cabeça e finalizando com um sorriso que lembrava malícia. – Vai lá! O pior que pode acontecer é dizerem que você não tem direito. O que eu duvido, sinceramente.



-Talvez seja melhor eu ir tratar disso amanhã, pra não chamar tanta atenção... com a sorte que eu tenho – Gregory respondeu, o rosto inexpressivo e um pouco sério.



-Credo, nem ao menos um sorrisinho? – Mandy começou a achar estranho, olhando o rapaz com pena, esse por sua vez sem se interessar em devolver o olhar.



-Bom, tem razão – Gregory começou por sorrir, endireitando as costas, k – mas não adianta ir lá agora, nem pensei ainda no que vou fazer com esse prémio... e ele não vai fugir nem nada – completou o sorriso, mas logo tendo a atenção, como a dos demais, desviada por Logan que entrava pelo refeitório com determinação e raiva.



-QUEM FOI? – Logan começou por berrar, se detendo ao ver Mandy – foi você! Sua peste! Eu-



-O senhor vai se retirar, senhor Vanglor – Snape surgiu atrás, em igual velocidade, deslizando por entre as capas de grifinórios e corvinais, parando a escassos centímetros do rosto de Logan com uma expressão ameaçadora. – E pare de me obrigar a impedi-lo de dizer o que não deve. – e ainda silabou as palavras seguintes com áscuo: – Suas malas o esperam na estação de Hogsmeade.



Logan ainda se virou para lançar um olhar mortífero a Mandy, recebendo apenas um minúsculo sorriso de satisfação. Sorriso cortado por Peter que lhe batia no braço e a chamava de volta para a mesa.



-Como você fez aquilo?



-Aquilo o quê?



-Você adivinhou que o Greg ia ganhar, ora. Quero saber quando é que eu vou ganhar. É que se você disser que não vou ganhar nunca então eu paro de jogar.



-Assim é que você não ganha mesmo, né idiota? – Gregory sorriu a Peter em jeito de troça.



Mandy esperava que os dois lhe dessem atenção novamente com um ar sério de sobrolho em riste.



-Se é pra isso digo logo a combinação premiada, né? Eu não adivinho nada; odeio Adivinhação.



-Ah. Então você achando ruim no outro dia quando eu disse que não passei...



-Porque é Adivinhação, credo, como o próprio nome diz, basta adivinhar uns negócios... uma coisa é não gostar, outra é não conseguir passar, mesmo que seja em cima do joelho. Pra falar a verdade sou péssima em tudo que seja necessário estudar, mas tudo bem. É assim: eu volta e meia faço isso e acerto, é uma questão de sorte, muita sorte eu sei, mas... não – explicou, abanando a cabeça.



-Não? – Peter brincou, inclinando-se para a frente e notando Gregory absorto novamente.



-Não – Mandy devolveu o sorriso.

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