Tempestade
Uma vez disseram-me que cada vida é como que uma sinfonia. Eu julgo que devo ser a melodia de uma tempestade.
Agora dormíamos juntos e abraçados depois de noites escaldantes. Noites em que eu me sentia verdadeiramente mulher, realizada e completa. E só regressava ao meu tempo, quando as aulas dele começavam.
Harry sofria, cada vez mais distante e frio. Eu sabia que ele queria continuar sozinho, eu sabia que ele nos queria afastar, a mim e a Ronald. E a culpa era do rapaz com quem eu dormia. Sempre que vivia na minha era, aumentava a minha vontade de matar Tom. Sempre que voltava atrás no tempo e Hugo me beijava, eu perdoava os erros que ele ainda não cometera.
No meu tempo, vivia por entre culpa e lágrimas, interrogando-me, onde estava a famosa coragem dos Gryffindor. No tempo de Tom, a minha coragem era relembrada por entre os mais dolorosos treinos de feitiçaria e sentia-me desejada enquanto e como mulher. Cheguei a desejar ter nascido numa época diferente, a época de Voldemort.
Eu era a amante do mais poderoso feiticeiro das trevas que o mundo conhecera. Um homem frio, arrogante e impetuoso. Um homem que apenas me desejava e não me amava… Eu que sempre sonhara com um namorado romântico e gentil, entregara-me a ele. Como fora capaz? Como fora capaz de trair Harry?
Ele quase que me fazia feliz, quando estava com ele…mas tudo mudou…
Nesse dia, cheguei à sala e retirei o espelho do meu bolso, vi o queixo de Voldemort no espelho e uma varinha apontada para ele. Vi folhas das árvores por cima e percebi que ele estava em perigo algures nos terrenos de Hogwarts. Saí da sala sem pensar. Sem me interessar se alguém me via ou não. Espreitei na primeira janela e vi-o, por mísera sorte do destino. Encostado a uma árvore com as mãos erguidas, o espelho caído a seus pés e a varinha de um homem encapuzado apontada ao seu pescoço. Estava a escurecer e ninguém os parecia estar a ver. Corri. Só sei que corri.
- Últimas palavras, Riddle. – O homem sibilou com uma voz rouca e cavernosa.
Vi Tom engolir o seco e gritei “Não” sem pensar, enquanto o homem se virava e eu convocava um “expelliarmus” não-verbal. Mas ele reagiu rápido e o meu feitiço fez ricochete. E eu caí no chão desamparada.
O homem riu-se.
- E quem és tu? - Murmurou agora de varinha apontada para mim.
- Alguém que veio para o salvar. – Encarei-o determinada, apoiada nos cotovelos. Apontei-lhe a varinha e gritei – Avada Kedrava.
A luz verde emergiu, o clarão da morte que lhe roubou o ar dos pulmões e o homem morreu ainda com o sorriso estampado na cara. Ambos ficámos mudos por um momento, fora tudo demasiado rápido. E eu começei a sentir-me tremer, a minha mente parecia falhar e o meu coração explodir, parecia que as emoções chegavam depois dos actos. Que só agora começava a sentir o que fizera, a vida que tirara, a possibilidade de o perder, enquanto momentos antes apenas a adrenalina me movera, o puro instinto.
- Tu…tu…salvaste-me. – Tom ergueu-me do chão e abraçou-me.
Quando os seus braços me envolveram, eu senti-me voltar a respirar. Recordarei para sempre a sensação de matar e... aquela noite. O formigueiro de adrenalina. A adrenalina do medo de o perder, a simples probabilidade de perder Hugo fizera-me reagir, enlouquecer. A adrenalina de matar, a frieza de matar que ainda me atravessava. O poder de matar, a sensação de terrível crueldade e força... que me dominaram. Era bom sentir o calor dos braços dele, a sua respiração próximo da minha, o coração palpintante no seu peito, a sensação de conforto e segurança. A calma que retornou com os seus braços. Ele era o meu rochedo, a minha fonte de energia, como demorara eu tanto tempo a perceber isso? Eu conhecia-o e ele a mim, mais profundamente do que duas pessoas deveriam conhecer-se. Ele era o meu oposto, tudo o que me atraía. Como fora preciso eu chegar, realmente, a matar para compreender quem ele se tornara para mim. Como fora possível demorar sete meses para alcançar a profundidade da nossa relação?
Arruinara o meu próprio objectivo naquela noite. Destruira a tarefa que me incubira a mim mesma...salvara a vida do mais negro feiticeiro e a verdade é que estava feliz por isso, não pensava na guerra, no sofrimento do meu tempo. Naquele momento, quando o salvara, apenas não suportara a dor da possibilidade de perdê-lo. Não fora racional, mas nunca nada me pareceu tão certo. Nós éramos um paradoxo da natureza e fora em mais um paradoxo que o meu salvamente se tornara. Tudo estava certo.
- Como poderia não te salvar, Hugo? - Suspirei com a cabeça encostada ao seu peito, sentido as suas mãos nas minhas costas, acarinhando-me. - Quem era este homem?
- Um dos servos de Gridenwald que o queria libertar da prisão… queria a minha ajuda...eu recusei...um homem que eu traí... Mas tu mataste-o…o que significa.... que já me podes matar a mim…- Ele olhou-me nos olhos.
E então a realidade caiu em mim..Sempre achara que depois da primeira morte me encaminharia para ele sem hesitar, consumida pelo ódio de quem ele se tornaria, pensando na dor que a guerra me causava, pensando no que ele faria...mas agora era incapaz de o fazer...gostava demasiado dele para o fazer. Fechei os olhos e saboreiei as festas que ele me dava nas costas, quando os abri os meus olhos castanhos encontraram os verdes:
- Foste um bom professor, Hugo Slytherin..eu...consegui...consegui...matar. - Limitei-me a dizer com um sorriso no meu rosto.
- Foste uma excelente aluna, Hermione…- Ele abraçou-me ainda mais carinhosamente. E nesse momento ouviram-se passos.
Afástámo-nos ligeiramente, ambos em alerta. E ambos nos fintámos em silêncio por uns breves segundos, o terror espelhado nos nossos rostos, a nova sensação de perigo que nos paralisava, tal era a nossa insistência mental para não aceitar a realidade...e então ele reagiu!
- Tens de ir…Tens de voltar ao teu tempo! Eles vão revistar o local, logo depois de analisarem a minha varinha…- Tom arfava. - Não é uma opção esconderes--te! E não conseguimos alcançar a sala das necessidades sem que nos vejam…O vira tempo! Rápido!
Eu acenei e preparei-me para tirar o vira tempo do bolso. Eu creio que o meu coração parou por uns breves instantes. Sei que não consegui respirar. Apetecia-me gritar, mas não saiu nenhum som, tal era o pânico que me governava. Estava partido. O ponteiro danificado. Não conseguiria regressar.
- Está…está…partido. – Eu gaguejei, enquanto passava os dedos pelo vira-tempo desesperada, como se ele pudesse sequer voltar a funcionar e os vira-tempos não eram objectos que pudessem ser concertados. - Deve ter sido...quando...quando caí...Desculpa-me...oh! Desculpa-me.
Colocou-me dois dedos nos lábios...O seu olhar estava carregado de dor, quando levantei os olhos do vira-tempo. Passou as mãos pelo meu rosto, colocou uma madeixa que me caía sobre o rosto atrás da orelha e comtemplou-me com os olhos inundados de lágrimas, antes de me apontar a sua varinha:
- Está tudo bem, Hermione. Tu salvaste-me...és a criatura mais corajosoa e enigmática que eu alguma vez conheci...Eu...eu...Há uma maneira…se eu te...se eu te matar…tu, automaticamente, regressas ao teu tempo…- A voz rouca carregada de sofrimento, não o tom frio e indiferente que costumava exibir. Uma voz profunda cheia de emoção que eu raramente ouvia e me fazia tremer a cada sílaba.
- Mas não te conseguiria voltar a ver…não poderia regressar...não pode ser...
tem de haver outra solução... Hugo.... – Eu agarrei-me a ele, os corações batiam em uníssoo, senti-me lacrimejar e um nó na garganta...e ouvia-mos os passos cada vez mais próximos.
- Sabes que não há...Prefiro saber que estás em segurança…do que…ver eles levarem-te e interrogarem-te…seres encerrada em Azkaban...destruires o presente e o futuro, quando os outros te virem, destruíres o teu futuro e quem és por mais uns minutos comigo…não há escolha, Hermione Não há maneira de ficarmos juntos...e pelo menos tu ficas em segurança. – Ele chorava. Lord Voldemort chorou por mim.
- Hugo…eu não quero segurança sem ti. Tu és a minha segurança, o meu conforto. Eu pertenço mais ao teu tempo do que ao meu...deixa-me ficar...- Eu olhava para ele e sentia os olhos cheios de lágrimas.
- Hermione...eu jamais deixarei que não estejas em segurança. Todo eu quero que tu fiques, quero estar contigo todos os dias a ver a lua e o pôr de sol, quero beijar-te e abraçar-te todas as manhãs, quero ter o lar que nunca tive contigo a meu lado, quero fazer-te feliz e sorrir todos os momentos...e nem por um segundo te quero ter longe de vista...isto é tudo o que eu desejo e tenho desejado...tu marcaste-me Hermione Granger, como nunca ninguém me marcou antes...Mas o meu desejo não acontecerá...e ambos sabemos que é inevitável...E tudo o que eu mais quero, neste momento...é que pelo menos tu fiques em segurança...eu tenho de te pôr em segurança, mesmo que isso signifique nunca mais te ver, mesmo que isso signifique que nos separaremos. – Ele agarrou a minha mão. - E apesar de eu nem conseguir imaginar a minha vida sem ti, sei que é o que tenho de fazer...por ti.
- Se…me matares com essa varinha…eles acusam de teres morto aquele homem…verão que o últimos feitiço foi a maldição da morte...usa…usa a minha. – Eu consegui formular, atordoada com o o discurso dele dei-lhe a minha varina sem hesitar.- E depois livra-te dela.
- Eu…Hermione…eu…Obrigada...por tudo.- Ele calou-se e agarrou-me à volta da cintura, encostou a que eu lhe estendera ao meu coração e beijou-me, um beijo intenso cheio de dor sofrimento e angústia, um beijo cheio de paixão. Depois encostou a sua boca ao meu ouvido e sussurrou com a voz rouca. – Eu amo-te, Hermione…
- E eu a ti, Hugo…- E ambos sabíamos que era verdade, a atracção há muito que originara amor, nós éramos ambos orgulhosos demais para o admitir e era muito mais fácil para ambos nega-lo, porque seriamos sempre inimigos declarados…mas o orgulho parecia medíocre, quando a separação era inevitável...quando tudo acaba.
- Avada Kedrava. – Ele sussurrou. E eu senti um frio na barriga, os lábios juntos num último momento, largar os seus ombros e o corpo leve. E soube que estava a regressar à minha época.
***
Espero que tenham gostado. Se conseguirem comentem. Obrigado por lerem.
Comentários (1)
UAU! Esse foi o ultimo capitulo? Foi tao... emocionante. Tao...perfeito. Sua fic é incrivel. Você é incrivel.
2012-01-29