Entre prisioneiros e prisões



Eles estavam parados na mesma posição há mais de 2 horas. Quando o grupo de comensais entrou no galpão, o sol ia se pondo no horizonte e eles acharam que seria rápido. Só era preciso vigiar a entrada e saída dos seguidores de Voldemort e assim que fossem embora, entrariam para verificar se era ali que mantinham as vítimas sequestradas dos últimos meses.


Tonks era inquieta por natureza. Formara-se com méritos na escola de aurores do Ministério, mas ainda possuía deficiências graves para a profissão, como a impaciência e extrema falta de tato em manter-se discreta, característica que fazia questão de evidenciar através da escolha de cores que usava nos cabelos. Como metamorfa, Ninfandora Tonks era tudo, menos discreta.


Naquela noite, Lupin se ofereceu para fazer a espionagem do lugar junto com a garota. O líder da Ordem há muito não saia da velha sede do grupo e precisava se distrair. Quando viu que os comensais aparataram logo na entrada do destruído e antigo galpão, sentiu que aquele era um lugar que certamente seria ideal para algumas das tramas de Voldemort. Há tempos a Ordem da Fênix vinha se preocupando em manter vigilância em locais onde a concentração de magia negra era constante. Uma vez que o trabalho desse grupo de resistência estivesse sendo cada vez mais minado pelas ações do Ministério, Lupin sabia que ao menos poderiam localizar e tentar resgatar o maior número possível de mestiços e trouxas que Voldemort estivesse sequestrando para suas experiências monstruosas.


 Tonks observou quando um dos comensais foi até a porta do galpão e olhou atentamente para os lados. Tudo estava quieto e os dois bruxos permaneciam em silencio absoluto, abaixados por baixo de uma pilha de caixotes de madeira. O comensal grande e de ombros largos olhou mais um pouco e satisfeito com a análise, tirou a varinha das vestes e descreveu com fogo um largo círculo no ar. A esfera de fogo subiu aos céus rapidamente e quando parou, brilhou forte antes de se apagar. O homem guardou novamente as vestes e no mesmo instante, um grupo de cerca de 15 pessoas aparatou bem em frente ao galpão. Quatro indivíduos dos que aparataram, certamente eram comensais assim como o guarda do galpão, os outros, eram mais prisioneiros sequestrados. Estavam todos acorrentados e encapuzados, alguns muito feridos eram carregados pelos companheiros.


Tonks se remexeu ansiosa embaixo das caixas. Estava irritada e precisava agir. Iria estuporar todos aqueles bastardos antes que eles pudessem perceber de onde vinham os feitiços. Lupin olhou impaciente para a garota e balançou a cabeça em negação.


- Por Merlin garota! – resmungou Remo o mais baixo que pode – nunca participou de uma vigília como essa? Se toda vez que vir alguma coisa injusta e cruel você se apavorar dessa maneira, essa guerra vai estar perdida.


 - Me desculpe – respondeu a auror com um sussurro constrangido – Mas assim que puder eu vou aniquilar esses malditos.


Remo voltou a olhar para o grupo de comensais que agora levavam para dentro os sequestrados de Voldemort.


Conforme foram entrando, um a um o comensal de ombros largo foi retirando os capuzes de cada prisioneiro para que entrassem dentro do prédio. Tonks e Lupin analisavam cada um deles quando um quase berro de espanto de Tonks foi instantaneamente calado por um movimento rápido da varinha de Lupin. Ele próprio parecia ter se segurado para não se manifestar. O penúltimo dos prisioneiros a entrar, tinha aquele peculiar e conhecido jeito de andar irreverente e destrambelhado, tinha porte de homem, mas com as feições ainda adolescentes e despreocupadas que eram tão típicas dos Weasley.


Rony abriu os olhos quando o capuz saiu de sua cabeça. Com a visão ainda desfocada, foi empurrado para dentro e então Tonks e Lupin não virão mais nada. A porta se fechou e os dois puderam se mover lentamente para detrás dos caixotes de madeira.


- O que foi aquilo Remo? – Tonks se abaixou ao lado das caixas já com a varinha em punho – o que o Rony está fazendo lá? Sequestrado como se fosse um mestiço ou um trouxa?


- Eu não sei – respondeu analisando todos os pontos daquele galpão – ele deveria estar na ordem junto com a Hermione. Eles estavam me ajudando a fazer o levantamento dos pontos de Londres onde ainda poderia haver esconderijos e bases secretas dos comensais.


- É, ele certamente não esta! – falou a garota – mas se o Rony foi sequestrado e está aqui, onde é que está a Hermione?


Remo baixou a cabeça cansada pensando em todas as possibilidades e imaginando que certamente deveria ter previsto que os dois não ficariam parados por muito tempo enquanto o amigo estava desaparecido e nas mãos de um grupo ainda pouco conhecido.


Levantou novamente a cabeça fixando o olhar no ponto acima da grande porta do  galpão onde havia reparado poucos segundos antes.


- Acredito que sua resposta esteja parada ali no telhado, pensando em um plano engenhoso para entrar e resgatar todos lá dentro – Remo falou posicionando-se melhor atrás dos caixotes.


Tonks olhou para onde Remo havia apontado e viu uma pessoa pequena vestida com uma longa capa preta e vastos cabelos castanhos que escapavam para fora do capuz. Hermione caminhava de joelhos muito lentamente pelo telhado do galpão.


- Por Merlin – falou Tonks nervosa – O que ela está fazendo lá em cima? Remo, precisamos ir até lá. Se a Mione entrar, a coisa vai ficar feia.


Remo analisou a situação com calma. a rua do prédio estava deserta e silenciosa. Ele poderia aparatar direto até o telhado, mas o estampido da aparatação poderia facilmente chamar a atenção dos comensais dentro do galpão, ou ainda mais grave, Hermione poderia se assustar e tentar alguma coisa impulsivamente. O único jeito era tentar sinalizar algo para Hermione, mostrar que eles estavam ali.


O líder da Ordem da Fênix saiu do esconderijo e foi até o meio da rua tentar ser visto pela garota que permanecia no telhado, olhando para dentro do galpão pelo que parecia ser uma claraboia aberta. Pegou a varinha pensando no que fazer e a fez brilhar intensamente. Lupin começou a fazer movimentos amplos com a carinha iluminada, descrevendo grandes arcos de luz que poderiam ser vistos pela garota, caso ela olhasse para baixo. 


- Não está funcionando – falou Remo – Precisamos ir até lá.


No momento em que preparavam-se para uma corrida até as escadas laterais que davam acesso ao telhado, a porta se abriu e três comensais saíram do interior do prédio, olhando para os lados, com as varinhas em punho e em alerta.


Tonks e Lupin precisaram se atirar para baixo dos caixotes novamente e por pouco não foram notados pelos três bruxos. Um deles agora fazia o mesmo sinal que anteriormente o companheiro havia feito e como da primeira vez, um estampido agudo irrompeu no silencio e mais um grupo de prisioneiros surgiu na rua deserta, porém agora, escoltados apenas por Bellatrix Lestrange.


- Boa noite Sra. Lestrange! – saudou o menor dos comensais – que bom termos a senhora aqui conosco.


- É realmente um prazer para você Herzius – respondeu a comensal forçando que os prisioneiros encapuzados entrassem – O Lorde estava realmente preocupado com vocês amadores cuidando de tantos trouxas e mestiços.


O comensal afirmou com a cabeça, mesmo com a máscara prateada dos seguidores de Voldemort, parecia que o homem havia ficado constrangido com o comentário de Bellatrix.


A bruxa entrou com os encapuzados e logo foi seguido pelo trio que havia saído do galpão. Assim que a porta se fechou, Tonks saiu rápido do meio das caixas e olhou desesperada para o telhado onde Hermione estava parada.


- Ela entrou! – disse Remo.


- Agora a coisa vai ficar complicada...


 



 


Rony e Hermione haviam saído da ‘Toca assim que a reunião terminou. Depois da conversa que tiveram junto com Gina, decidiram procurar por Harry, mas lógico que não sabiam por onde começar e para isso, Hermione precisava pesquisar e pensar, duas das coisas que a garota fazia eximiamente.


Decidiram deixar Gina em casa e quando ela descobrisse, certamente isso seria motivo para uma briga daquelas, mas não havia o que fazer. A garota era talentosa e muito capaz, uma das melhores desde a época da extinta Armada de Dumbledore, mas ainda era menor de idade e se algo acontecesse a ela, Molly Weasley não descansaria até encontrá-la e logo a família toda estaria em perigo.


Os dois saíram escondidos de casa e foram diretos para a Ordem, onde poderiam investigar nos materiais que tinham na casa para pesquisa. Quando chegaram, aquilo parecia que seria ainda mais simples do que Rony havia previsto.


Remo Lupin, Tonks e Arthur, o patriarca dos Weasley, conversavam no escritório com a porta entreaberta e isso foi suficiente para que os dois garotos armassem um plano mudo, apenas ouvindo a conversa dos adultos.


- Basicamente é isso – falou Remo finalizando a conversa – Alguns de nós já estão posicionados nos pontos onde os mestiços e trouxas estão sendo aprisionados. Não sabemos exatamente quais as experiências que Voldemort está tramando com os que ele tem sequestrado, mas precisamos continuar a vigilância e assim estabelecer uma estratégia de resgate efetiva.


Arthur afirmou com a cabeça, analisando atenciosamente o papel sob a mesa. O mapa marcava os pontos onde os prisioneiros estavam sendo mantidos, e os lugares onde haviam membros da Ordem de guarda.


- Certo Arthur, eu e Tonks vamos ficar aqui esta noite – Lupin apontou para um ponto no mapa que Rony e Hermione não conseguiam ver – Pegue Carlinhos e vá até esta fazenda. Fica a algumas horas da Toca, então para vocês é mais simples. Vocês já sabem o que precisamos fazer, certo? Kim nos disse sob a informação que as fontes do Ministério contaram aos aurores. Estes locais onde os prisioneiros estão, são apenas temporários. Assim que Voldemort tiver o numero certo de pessoas, irá reuni-los em um local só.


- Entendi Remo – confirmou Arthur – Vamos estar posicionados e descobrir qual será esse ponto central de Voldemort.


Remo concordou e sorriu para o amigo.


- Vamos conseguir Arthur! Nosso esforço terá resultados. Não podemos desanimar.


- Nunca!


Quando os três saíram da sala, Hermione e Rony se esconderam embaixo da escada e momentos após, já estavam debruçados sobre o mapa que apontava os locais onde Voldemort vinha mantendo prisioneiros. Pessoas comuns que cada dia mais sumiam de suas casas e se perdiam de suas famílias. O Ministério da Magia fazia o que podia, mas infelizmente não tinham condições de atender a todos os males que Voldemort vinha causando a comunidade bruxa e mesmo assim, o Ministro insistia em repreender as ações da Ordem.


- E agora? – perguntou Rony olhando confuso para o mapa a sua frente – Qual o plano?


- Eu também não sei muito bem – respondeu Hermione parecendo indignada. Todos esses anos, parecia ser sempre ela quem encontrava as melhores saídas para os problemas que tinham – Mas acho que não devemos ficar parado.


Rony caminhou de um lado para o outro da sala tentando lembrar-se de algo que o ajudasse a encontrar Harry. O escritório de Remo estava sempre sob a mais perfeita ordem. Lupin havia tomado para ser o escritório da Ordem, a antiga biblioteca do patriarca dos Black, enquanto a família ainda habitava a Mui antiga e nobre casa dos Black. Por uma questão de ética, Remo fez questão de não mudar nada de lugar, apenas colocou no aposento uma grande mesa onde podia despejar todas as suas anotações, livros e listas da Ordem. De certa forma havia sido bom, os livro e pergaminhos que os Black haviam juntado ali durante décadas, ensinavam muito a Remo sobre magia negra, arte das trevas e outras manipulações que podiam ser uteis ao se tratar de Voldemort e seus comensais.


Rony pensava e olhava ao longo de todas as prateleiras, até que um estalo misterioso veio a mente do ruivo que por um momento não acreditou que havia pensado e conseguido chegar a uma conclusão. Mesmo que estivesse errado, aquilo havia partido dele e apenas esse motivo já foi suficiente para que Rony soltasse uma gargalhada incontida no meio da sala.


- O que foi? – perguntou Hermione dando um pulo de susto com a reação do garoto – Você é louco Ron?


- Não – respondeu ele com um largo sorriso no lábio – mas acho q talvez tenha pensado em alguma coisa que pode ajudar.


Hermione se sentou na grande cadeira reclinável de Remo e olhou atentamente para Rony, esperando que ele falasse o que de tão brilhante ele havia pensado.


- Olha só! – Rony sorriu novamente e se sentou em cima da mesa repleta de mapas e cadernos de anotações – Esse grupo Mione! Esses tais bruxos da magia elementar e não sei mais o quê. Eles estão com o Harry e tudo indica que também são contra Voldemort e tudo o que ele esta fazendo, certo? Senão, não teria muito sentido em se revelar para proteger ele, não é?


- Hum – Hermione resmungou, tentando não dar muita bola para o raciocínio de Rony.


- Pois é isso Mione! Eles estão do nosso lado e consequentemente estão contra Voldemort. E por isso, pode ser que os encontremos vigiando ou até mesmo atacando os lugares que a Ordem está de olho! Esses esconderijos onde o Você-Sabe-Quem faz as experiências mágicas com trouxas e mestiços.  


- Você só pode estar brincando! – Hermione sorriu irônica quando Rony concluiu o raciocínio.


- Claro que não. Você tem ideia melhor? – berrou o garoto sentindo-se ofendido.


- Rony querido – Hermione se levantou falando igual a mãe de Rony, coisa que o irritava profundamente – Muito simples esse seu plano! Basta nós copiarmos esse mapa do Remo, e sairmos eu e você secretamente pela noite, visitando os quase 60 pontos de esconderijo marcados pelo Remo como supostos locais onde Voldemort vem mantendo prisioneiros, certo?


Rony olhou para a porta esperando que alguém entrasse nesse momento e colocasse Hermione Granger dentro de um saco de batata com destino ao Himalaia.


 - E aí fica simples, né Rony? – continuou – Acho que se fizermos tudo muito rápido, levando em consideração que temos que ficar um certo tempo em cada lugar para garantir que o grupo secreto não está lá, acho que levaríamos talvez um ou dois meses para concluir? O que acha? Começamos hoje?


Rony parecia que iria explodir quando a garota terminou o discurso e permaneceu imóvel, olhando para o garoto que ficava cada vez mais vermelho. Hermione percebeu que passou da conta. Rony estava se esforçando ao máximo para encontrar Harry. Dentro todos, ele era o que mais parecia sentir a falta do amigo. Quando se preparou para aguentar a represália de Rony que parecia se acalmar um pouco, o garoto simplesmente sorriu, sentou-se a mesa de Remo puxando os mapas para perto, e passou analisa-los caprichosamente.


Hermione não conseguia entender nada daquilo. Aquele não era o Rony que ela conhecia tão bem. Certamente a situação normal, seria ele explodindo de raiva, berrando que ela nunca dava valor as ideias dele, e que apenas ela era inteligente o bastante para bolar um plano. Confusa, a garota foi até perto de Rony para ver se o garoto esboçava alguma reação.


- Ei! – falou baixinho no ouvido de Rony que não tirava os olhos do mapa – você não vai dizer nada? Sabe? Gritar comigo e tudo mais.


Rony puxou um pedaço de pergaminho para junto de si e passou a fazer anotações sobre cada ponto marcado na mapa.


- Não – respondeu ainda sem deixar de olhar para os papeis sob a mesa


- Como assim não Rony? Sabe, me desculpe por ter falado desse jeito


Rony finalmente largou a pena que anotava sob o pergaminho e olhou carinhosamente para uma perturbada e nervosa Hermione.


- Sabe Mione – começou tranquilo olhando atentamente para a garota que tanto amava – Eu as vezes sinto um pouco de pena de você. Eu entendo o que acontece. Sabe, desde que éramos muito pequeno, era você quem nos tirava de todo o tipo de confusão. Sua inteligência e sua capacidade de raciocinar é superior a minha e a do Harry e claro que nós sabemos disso. Mas isso também não significa que sejamos trasgos incapazes de pensar em alguma coisa, ou que você não esteja sujeita a falhas, ou a um momento em que nenhuma ideia venha na cabeça, como agora por exemplo. Admita você não faz ideia de como podemos começar a procurar pelo Harry.


Agora fora a vez de Hermione se sentir extremamente ofendida. Ninguém podia em hipótese alguma, colocar em prova a capacidade da bruxa de sair de situações drásticas.


- Como você ousa Ronald Weasley! – berrou Hermione pouco se importando se ainda haveria alguém na casa que pudesse denunciá-los – você não tem o direito de falar assim comigo.


Rony não faz nada além de voltar o olhar para os mapas e prosseguir com as anotações. Ao notar o silêncio na sala pelos momentos que se seguiram, o garoto olhou novamente para Hermione que permanecia sentada na cadeira posta na sala para convidados, de braços cruzados e com o mesmo olhar mortal que o garoto sempre vira a amiga fazer em situações onde era contrariada.


- Ok Hermione, olhe... Seja sincera. Você realmente não faz ideia de como podemos começar as buscas por Harry, e resolveu me insultar e me rebaixar só porque eu pensei em alguma coisa. Tudo bem, o meu plano tem falhas, eu sei que não podemos cobrir todos os esconderijos, mas ainda assim é melhor do que ficarmos aqui parados. Harry pode estar em perigo e não sabemos por quanto tempo ele ainda consegue aguentar. Se escolhermos os maiores pontos, as chances serão mais concretas. Se você ainda acha meu plano uma coisa sem sentido e tola Mione, ok. Então fique aqui até que tenha uma ideia melhor, mas eu vou selecionar alguns lugares e vou atrás desses bruxos misteriosos para que eles devolvam o meu amigo.


Hermione permanecia imóvel, sentada de braços cruzados na cadeira com o rosto muito vermelho. Quando Rony terminou o discurso, não esperou da garota uma resposta. Apenas baixou novamente os olhos para o trabalho e no instante seguinte, uma juba espessa de cabelos castanhos cobriam sua visão e o corpo que se seguia aos longos cabelos de Hermione, estavam de atravessado no colo do garoto que ruborizou de vez.


- Você é um herói Ronald! Eu deveria ter a mesma coragem que você. Se não fosse por sua causa, nunca iriamos encontrar o Harry a tempo. Me desculpe! Vamos escolher os maiores esconderijos e encontrar o Harry.


Ronald sorriu com o canto da boca e pensou que essa era a primeira vez que vencia a amada em uma discussão. Depois de calma, Hermione puxou a cadeira para perto do garoto e passaram mais uma hora inteira discutindo todos os pontos marcados no mapa de Remo. Quando terminaram, arrumaram suas mochilas e 5 minutos depois, estavam apartando em uma viela escura e úmida, três quadras do ponto onde deveria ser uma loja de conveniências abandonadas, um dos locais onde os comensais vinham trazendo prisioneiros.


Rony e Hermione caminhavam com uma lentidão digna de espiões. Observavam, tudo ao redor, seus movimentos pareciam sempre em sincronia e as varinhas prontas para qualquer sinal de problema. O treinamento que vinham tendo com alguns aurores membros da Ordem, parecia fazer realmente efeito naqueles dois.


Da esquina, Hermione se abaixou e conseguiu ver a fachada da antiga loja. O letreiro piscava descompassadamente e as pequenas faíscas que saiam do luminoso violeta que formavam o nome “Flor de amoreira”, se apagava, nas poças d’agua que se formavam no piso, dois metros abaixo.


Tudo estava quieto e nem sinal de nenhum comensal de guarda na entrada. Hermione apontou a varinha para o lugar e murmurou Incantu di primus. Rony olhou para a garota confuso.


A principio nada aconteceu. Hermione permaneceu com a varinha postada a frente, com os olhos fechados parecendo bem concentrada. Quando abriu os olhos, sorriu e viu que uma pequena e quase imperceptível névoa branca se formava sobre o lugar. A garota interrompeu o feitiço e baixou a varinha parecendo cansada.


- O que foi isso? – perguntou Rony abaixado e ainda olhando para a antiga loja – estava querendo fazer chover em cima do lugar?


- É um feitiço de reconhecimento seu trasgo! – respondeu ela sem nem ao menos olhar para o rapaz – se passasse mais do seu tempo estudando e praticando coisas novas, teria mais para mostrar do que feitiços de desarmar e azarações de coceira.


- A Hermione paciente não ia durar muito tempo né? O que era aquilo?


- Harry estava praticando com Remo e eu aprendi um pouco também. É um feitiço que localiza dentro de um lugar qualquer, alguma energia que você esteja querendo localizar. Na verdade ele localiza tudo, mas energias são mais fáceis de conseguir encontrar. Pelos menos no nível de prática que eu estou.


Rony fez cara de bobo e olhou para ela como se não tivesse entendido muita coisa.


- Eu faço o feitiço e aponto para o lugar Rony. Então eu mentalizo o que eu quero encontrar e se naquele lugar houver o que estou procurando, o feitiço se manifesta e eu sou avisada. Claro que dependendo da experiência da pessoa com o feitiço, outras coisas são possíveis como determinar quanto daquilo existe no lugar.


- Certo. Isso é realmente magnífico. E o que sua fumacinha te contou? – perguntou com o mesmo sorriso que fazia quando queria irritar a menina.


- Existem realmente pessoas lá dentro. Não sei exatamente quantas porque ainda não estou tão familiarizada assim com o feitiço, mas identifiquei energias positivas e negativas. São comensais e estão com prisioneiros.


 - E agora? – perguntou novamente


- Esperamos por uma movimentação. Não podemos entrar sozinhos, Rony.


O garoto aceitou mesmo inconformado e conjurou um pequeno tapete onde pode se sentar no chão úmido junto com a garota.


O tempo passou e eles permaneceram imóveis. Não conversaram em momento algum. O clima era pesado e essa de qualquer maneira era a primeira vez que faziam algo perigoso sozinhos, mesmo sem Harry ao lado. Querendo ou não, o amigo sempre transmitia confiança aonde fossem.


Duas horas se passaram desde que haviam se instalado no esconderijo. Rony estava sonolento e Hermione sem querer já havia se entregado e cochilado com a cabeça encostada no ombro do menino. Pouco a pouco, os olhos de Rony também começaram a se fechar e nesse instante, quando o silêncio pairava absoluto na rua escura e deserta, um estouro surdo ecoou de dentro da antiga construção e um clarão irrompeu das janelas tapadas com tábuas de madeira velha.


Rony despertou assustado e se levantou com a varinha em punho. Hermione, sem saber o que havia acontecido, já pensava em gritar com o garoto quando a porta da frente da Flor de Amoreira explodiu em chamas e saíram de dentro dela três pessoas. As três pareciam desesperadas, olharam ao redor e ao identificar a viela onde Rony e Hermione se escondiam, correram em direção ao beco. Dois comensais não demoraram a aparecer na porta que ainda pegava fogo e no momento seguinte, feitiços intermináveis choveram sobre os três desesperados que tentavam alcançar proteção. Rony olhou para Hermione procurando orientação, mas a garota só observava o movimento, certamente tentando encontrar um saída para aquele dilema. Um feitiço estuporante acertou as pernas da mulher do trio que soltou um berro doloroso e caiu no chão se contorcendo. Um dos homens que corria ao lado da mulher parou e na tentativa de ajudá-la enquanto se recuperava, passou a despejar feitiços contra o bando mascarado que tentava alcançá-los.


- Ele é um bruxo Mione! – falou o garoto sem tirar os olhos do que acontecia – nós precisamos ajudá-los.


- Dever ser um mestiço – respondeu ela apertando o ombro de Rony – Voldemort também esta sequestrando os “sangue ruins” além dos trouxas.


O outro homem que continuou correndo parou ao ver que o amigo tentava ajudar a mulher que ainda permanecia no chão e voltou para tentar fazê-la se levantar. Ele puxou a mulher sem piedade pelas roupas em direção ao beco, enquanto o bruxo mestiço continuava a lançar feitiços contra o grupo que retribuía em maior quantidade.


Faltava pouco mais de 6 metros para alcançarem a proteção da rua quando o bruxo que defendia os amigos foi atingido e caiu no chão. Rony viu o faixo de luz roxa percorrendo o ar e esperou de todo o coração que a maldição no o acertasse, mas quando a luz mortal acertou o peito do homem em cheio, Rony fechou os olhos enquanto um corpo sem vida tombava no asfalto gelado da rua.


Agora o homem que puxava a mulher estava sem defesa e não ia durar muito. Os comensais se aproximavam lentamente gargalhando enquanto o homem se esforçava para arrastar pela rua um corpo que não ajudava.


Rony ouviu um estalo seco já conhecido e outro comensal aparatou ao lado dos dois que caminhavam em direção ao casal.


- Terminem logo com isso – falou o homem e nesse momento, Rony e Hermione identificaram imediatamente a voz arrastada e fria de Lucius Malfoy – os três vermes fugiram. Matem-nos e procuramos outros para compensar a perda.


Os dois comensais confirmaram com a cabeça e levantaram as varinhas. O homem que ainda puxava a mulher que agora parecia ter desmaiado, desistiu do esforço e se largou ao chão a espera do destino que certamente viria na forma rápida da maldição da morte. Uma única lágrima surgiu nos olhos do homem que os fechou lentamente, esperando o fim. Um lampejo rápido rompeu o ar por cima dele e quando voltou a abrir os olhos, um dos comensais foi lançado dois metros para trás, batendo com força a cabeça no chão.  


Rony saiu do beco com a varinha em punho e com uma fúria terrível nos olhos. Lançou o feitiço contra um dos comensais e já proclamava o segundo antes que o primeiro houvesse atingido seu alvo. Hermione o acompanhou no susto e evocou um poderoso escudo da rainha que pairou azulado sob o casal que permanecia no chão. O feitiço estuporante de Rony foi defendido por Lucius Malfoy que revidou e quando menos esperou, Rony duelava selvagemente com o bruxo das trevas, mesmo sabendo que logo seria derrotado. Hermione derrubou o outro comensal com uma maldição rápida que explodiu faíscas quando atingiu o homem e fez com que toda a sua roupa se queimasse. O homem agonizou de dor e a garota se espantou com a violência do que havia feito. O homem desfaleceu sob a calçada enquanto tentava apagar as chamas que o consumiam. Hermione encerrou o feitiço e o comensal permaneceu desmaiado e levemente queimado.


Rony duelava furiosamente com Lucius Malfoy que sorria enquanto dispersava sem esforço os feitiços lançados pelo garoto. Hermione se juntou a Rony na tentativa de acabar de vez com um dos mais terríveis comensais de Voldemort, quando outros 3 apartaram ao redor da dupla. Rony se desesperou ao perceber que estava cercado. Aproximou-se ainda mais de Hermione para que tentassem aparatar antes que fossem desarmados, e então Lucius resolveu acabar com o esforço dos dois.


- Cruciu! – bradou o bruxo com violência com a varinha apontada para Rony que não foi capaz de se defender por completo.


O garoto caiu no chão contorcendo-se de dor. A agonia que aquilo lhe causava era tamanha, que olhava ao redor e não distinguia nada do que acontecia. Lucius permaneceu com a varinha apontada para um agonizante Rony estatelado no chão.


Um dos comensais lançou uma sequência frenética de feitiços contra Hermione que os defendeu habilmente. Em um momento de desespero e medo, a magia parece ter se manifestado intensamente de dentro da menina.


- Bombarda! – falou com a varinha apontada para o grupo a sua frente.


A explosão foi impressionante. No momento em que o feitiço irrompeu da ponta da varinha da garota, o comensal que a havia atacado revidou ao invés de se defender. A magia das trevas se chocou contra o jorro de luz alaranjado de Hermione e explodiu em uma massa uniforme de magia que envolveu todo o grupo. Hermione sentiu seu corpo ser tirado do chão com a força do impacto, o clarão de luz cegou a garota e tudo se perturbou em sua cabeça.


Quando abriu os olhos, Hermione estava estirada entre duas latas de lixo, uns 3 metros de onde havia conjurado o feitiço. Abriu os olhos devagar e tudo pareceu rodar ao redor. Forçou a concentração a tempo de ver que Lucius Malfoy estava de pé e sem máscara. Ao seu lado, dois dos quatro comensais que haviam aparatado estavam sendo levitando desfalecidos, sob o comando da varinha do bruxo loiro, enquanto Rony, amordaçado e parecendo inconsciente, era carregado por um outro homem alto que permanecia mascarado.


- Onde está a sangue ruim? – perguntou o homem que carregava Rony nos ombros.


- Abor, fique aqui e procure-a – respondeu Lucius – nós vamos na frente e nos encontramos no porto. Não saia daqui enquanto não a encontrar. Não podemos correr o risco de alertar os malditos de Dumbledore.


- Fique tranquilo Lucius – falou Abor – eu só volto com a sangue ruim.


 Na sequência, os comensais aparataram com Rony, deixando apenas o homem rouco que imediatamente levantou a varinha e começou a andar pela rua a procura de Hermione.


Silenciosamente a garota rastejou por entre os sacos de lixo espalhados. Teve sorte pela rua ainda estar bastante enevoada em consequência da explosão de momento atrás, e assim pode se camuflar naturalmente enquanto procurava outro lugar para se esconder.


O corpo todo doía. O impacto dos feitiços havia sido realmente poderoso e Hermione nunca havia sentido tamanha pressão mágica dentro de si. A magia parece que afeta tudo. Estava tonta, dolorida, sozinha e sendo procurada por um comensal que certamente não estava feliz com o resultado daquela breve batalha.


Ela sabia que seja lá como aquilo terminasse, só teria uma chance de pegar o homem e precisava conseguir. Rony fora sequestrado e ninguém sabia que eles estavam lá. Se ela falhasse, ele certamente seria morto, ou utilizado como moeda de troca, uma vez que era filho de um dos membros que comandavam a Ordem da Fênix.


O homem se aproximava sem conseguir enxergar um palmo a sua frente. O faixo de luz da varinha tornava ainda pior a visualização do que estava a frente e por isso o comensal a apagou.


- Avada Kedavra – a maldição irrompeu da varinha do bruxo quando vislumbrou ainda meio embaçado, o monte de lixo onde Hermione havia estado pouco tempo atrás. O feitiço fez com que sacos e latões explodissem pelo ar e uma enorme fenda foi marcada na calçada molhada da rua.


- Sua praga de sangue impuro – falou o bruxo irritado ao ver que era apenas lixo – apareça e duele. Não tenho paciência para brincadeira de procurar.


- Avada Kedavra – berrou com ainda mais fúria enquanto outro monte de lixo se despedaçava junto com um pedaço de cimento da rua.


- Anda garota! – falou alto – isto tudo só fará com que você sofra ainda mais quando eu encontrá-la.


Assim que os últimos pedaços de lixo que voaram com a força da maldição aterrissaram, um pequeno e luminoso vulto passou pelas costas do homem que se virou rápido disparando mais um feitiço mortal. Irritado, o comensal correu direto para o ponto de onde o vulto de luz havia surgido e no primeiro passo, sentiu as pernas travarem e o corpo sendo levado ao chão sem que ele tivesse qualquer controle.


O bruxo bateu com força o rosto no chão, quebrando a máscara e abrindo um corte profundo no maxilar que começou a sangrar instantaneamente. A varinha em punho, interrompeu o que certamente fora um feitiço do corpo preso lançado em suas pernas e levantou pronto para esmigalhar com aquela menina insolente, mas ainda de joelhos, ele percebeu que não estava sozinho.


Hermione lançou o patrono nas costas do comensal e se abaixou no pouco que ainda sobrava da névoa da noite misturada à espessa fumaça do feitiço. Quando o homem percebeu que era um álibi, agiu exatamente da forma como a garota esperava e correu. Mione esperou que o comensal se aproximasse e com um feitiço mental perfeito e bem executado, derrubou o homem no chão.


Ela não viu que havia machucado de verdade o comensal apenas com a queda, mas quando ele se ajoelhou com a varinha em punho, ela já estava parada em pé a sua frente, com o rosto sério e varinha apontada para o rosto ensanguentado do grandalhão.


- Você matou aquelas pessoas! Seu verme! – os olhos de Hermione brilhavam de um jeito incrível. Era uma mistura de lágrimas e raiva contida que agora ela deixava extravasar.


- Sangue ruim estúp....


- Cruciu – proferiu Hermione com calma enquanto olhava o homem que desabava novamente no chão e tentava a todo custo segurar a vontade gritar incontrolavelmente.


A garota manteve o feitiço por mais alguns segundos e quando parou. Sentiu o alívio do comensal que tentou em vão se levantar.


- Você não vai! Assassino – berrou – estupefaça!


Hermione praticamente encostou a varinha no peito do comensal estuporado, que rolou com violência pelo chão, por mais de 4 metros. Desmaiou antes que o corpo parasse e quando parou, Hermione já caminhava a seu encontro.


 



No sede da Ordem da Fênix. Monstro estava sentado na escada principal da mansão. Polia com calma um candelabro de prata da antiga família Black quando a porta da frente se abriu e Hermione entrou arrastando para dentro um homem grande, ensanguentado e inconsciente.


- O que é isso? – gralhou Monstro enquanto corria de encontro à garota – Porque a sangue-ruim está trazendo pessoas desconhecidas para dentro da casa de minha senhora?


- Cale-se Monstro. Não tenho tempo para você agora. Seu senhor é Harry Potter e ele ordenou a você que obedecesse a todos os membros da Ordem sem questionar.


Monstro alfinetou Hermione com um olhar mortífero e então assentiu com a cabeça.


- Preciso que amarre esse homem com magia e o prenda no porão da mansão. Verifique se não há nenhuma maneira de ele escapar e então o vigie de perto Monstro. Assim que os Weasley, Remo, Kim ou Tonks aparecerem, mostre a eles e diga que é um comensal que capturei. Diga que Rony foi sequestrado e fui atrás dele em um dos esconderijos de Voldemort, próximo ao porto.


- Como desejar – concordou Monstro sem nenhum interesse.


Hermione correu até a porta e antes que pudesse aparatar, virou-se novamente para o elfo doméstico que havia tirado um garfo de dentro das vestes puídas e espetava o comensal com força.


- E Monstro! – falou nervosa – Mais ninguém deve saber que este homem está aqui! Você me ouviu? Ninguém! Você não tem permissão de contar para nenhuma pessoa e não tem permissão de soltá-lo em nenhuma circunstância.


Dizendo isso, Hermione aparatou direto para o porto que ouvira Lucius dizer ser o ponto de encontro de um dos locais onde estavam concentrando os prisioneiros. Rezou a Merlin para que Rony ainda estivesse vivo e principalmente, para que alguém recebesse seu recado com Monstro e fosse a seu auxílio. Senão, era hora de mostrar que havia crescido de verdade.


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N/A.  Olá!


Está aqui mais um capítulo! O maior até agora, mas não garanto que será o maior dentre todos. eu esperava fazer dessa história, uma fic com realmente muitas cenas de ação. Faz parte do meu jeito e especialmente, eu acho surpreendente escrever cenas assim, embora eu ainda esteja aprimorando o jeito de fazer isso.

Mais uma vez, as minhas desculpas pela demora. O lado bom é que o próximo eu já estou terminando porque escrevi ao mesmo tempo que escrevia esse. Até porque, trata-se da continuação

É isso....por favor comentem, é a melhor maneira de eu saber que caminho seguir e se a forma como estou fazendo está do jeito que vocês gostam.

Grande Abraço.

Matheus

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