A família de prata
Agora sim tudo aquilo parecia um sonho. Ele estava acordando em um quarto amplo, silencioso e aconchegante. Vestia uma túnica branca de linho completamente limpa e a cama em que estava deitado era quase maior que o quarto que ocupava na Rua dos Alfeneiros. Harry Potter sorriu e pensou que alguma coisa estava errada. Nos últimos anos, todas as vezes que desmaiava acordava seqüestrado, amarrado, sujo, ferido e com medo. Naquele momento ele abriu os olhos e tudo era calmo e tranquilo. Afastou as cobertas de lado e se sentou na cama observando o quarto grande e de mobília antiga.
Bem ao lado da porta, havia um porta-retratos de moldura rebuscada e cores escuras. Harry se lembrou da enormidade de molduras como aquela que existiam nas paredes da antiga sede da Ordem, aquela que havia sido a casa de seu padrinho Sirius. A única diferença era que a foto do quadro estava parada. Por toda a parede do lugar, Harry percebeu que haviam outros quadros como aquele, mas todos eram trouxas. Pelo menos as fotos eram, já que nenhuma delas acenava para o garoto.
Ao lado da cama, a maior das molduras chamou a atenção. A foto mostrava um grupo de pessoas que certamente eram uma família. Os traços de cada um se pareciam. Rostos fortes e ao mesmo tempo delicados, todos com cabelos prateados como as cores da Sonserina. O maior dos homens estava parado no meio, três mulheres de um lado, e dois homens de outro. Aos pés do homem mais velho, um tigre branco estava sentado com olhar sereno e postura imponente.
Harry levantou e caminhou pelo quarto observando cada uma das pinturas e fotografias. Havia várias de outras famílias retratadas, todas com os mesmos traços característicos, mais sem dúvidas mais antigas que a primeira.
Era estranho, mas Harry não estava assustado. Algo naquele lugar lhe transmitia paz. Devagar foi até a porta que se abriu sem que o garoto precisasse encostar na maçaneta. O corredor em que estava era amplo, repleto de bustos e estátuas de bruxos que portavam varinhas muito mais cumpridas e finas do que as que estava acostumado a ver. Em direção ao final do corredor, Harry foi observando as imagens dos bruxos expostos e saiu em uma sala imensa que mais parecia um jardim de inverno, com uma fonte no centro do aposento e bancos ao seu redor. Tudo aquilo era muito bonito. Nem Hogwarts transmitia um sentimento como o que emanava do ambiente. Harry se sentou em um dos bancos examinando cada detalhe quando um homem imenso de cabelos prateados e cumpridos presos em uma trança perfeita que caia sobre o ombro esquerdo apareceu de um dos corredores apostos.
- Até que enfim você acordou – falou com uma voz gentil o homem que sorria – apostei com o Silas uma rodada de cerveja como você ficaria desacordado por mais um dia inteiro! Mas sabe que foi bom ter acordado. O resto do pessoal não via a hora de te conhecer.
Harry se levantou e olhou confuso para o gigante. Lembrou-se de ter sido carregado por um homem como ele enquanto misturava pensamentos entre a realidade e o sonho com Dumbledore, após ter desmaiado durante o ataque a casa dos Dursley.
- Me desculpe – falou o garoto – foi você quem....foi você quem me carregou? Depois que desmaiei?
- Ah sim! Fui eu – respondeu o homem sorrindo ainda mais abertamente – mas não se preocupe com isso sabe...eu sou realmente uma pessoa muito forte. Embora você não possa ser considerado um fardo muito pesado né? Sabe Harry, eu inclusive poderia lhe passar as orientações para um treino espetacular. Você ganharia peso muito rapidamente!
- Treino? – perguntou Harry
- É claro!! Sabe, o estado físico do corpo é fundamental para que a magia se...
Enquanto falava, o homem foi interrompido por uma mulher que entrou e envolveu carinhosamente o homem em um abraço que não completava nem meia volta no corpanzil do gigante. Harry ficou encantado com a mulher que sorria. Era uma das coisas mais lindas que ele já havia visto. De cabelos curtos e também prateados, a mulher usava as mesmas vestes brancas que ele.
- Você é incrível, sabia? – falou a mulher para o homem – era só para trazer o Harry até o papai!!! Não para você explicar para ele todo o seu processo de treinamento físico.
- Ok Lana, ok! – respondeu o homem ofendido – venha Harry, por favor! Quando tivermos um tempo, faço questão de lhe mostrar os benefícios de uma vida saudável.
Os dois saíram pelo corredor que haviam aparecido e Harry se apressou em segui-los. Caminharam por entre salas e mais corredores que fizeram Harry pensar que se fosse largado ali, certamente se perderia por muito tempo. Tudo era magnífico, porém todos os aposentos se pareciam muito.
No último corredor que entraram, uma porta imensa de madeira vermelha ornamentada com entalhes de criaturas deslumbrantes aguardava no final. A mulher passou a mão delicadamente pelas gravuras entalhadas e aporta se abriu assim como a do quarto em que Harry estava.
No interior do aposento, tudo era iluminado por imensas janelas ao redor e uma única mesa redonda de pedra branca havia no centro. Na mesa já estavam sentadas outras pessoas que Harry não reconheceu.
- Harry Potter – anunciou o homem que Harry reconheceu como sendo o bruxo que estava no quadro ao lado da cama. Na verdade, agora ele percebia que todos ali eram aquela família da foto – Espero que tenha conseguido repousar em paz. Fizemos questão de zelar pelo seu descanso meu caro.
- Sim claro – respondeu Harry sorrindo educadamente – Eu gostaria muito de agradecer a todos pelo que fizeram por mim. Se não fosse vocês eu com certeza....
- Não se preocupe com isso Harry Potter – interrompeu a mulher mais velha que estava sentada ao lado do homem – Agora, por favor, sente-se e sirva-se do que desejar, vamos conversar, mas agora você deve estar faminto.
Com um aceno de mão, vários pratos e travessas repletos de frutas e tortas irromperam da mesa branca. Harry se sentou e sorriu como nunca. Aquilo lembrava Hogwarts, o lugar que tanto amava e que talvez nunca mais pudesse voltar.
Harry comeu com educação, mesmo que a fome que sentia o impelisse a devorar cada pedaço de comida daquela mesa. Enquanto comia, a família de cabelos prateados conversava animadamente, parecendo que faziam aquilo para evitar o constrangimento do visitante. Satisfeito, Harry se recostou na cadeira e no mesmo instante, a mesa se esvaziou dando lugar a algumas jarras com água e copos limpos.
- Então, Harry Potter – falou o homem com voz profunda despertando a atenção do garoto – conte-me o que está sentindo.
Harry olhou para os lados sem saber a resposta. Esperava que alguém o ajudasse, mas todos apenas o olhavam com interesse.
- Me sinto muito bem senhor – respondeu educadamente ao homem – na verdade eu...eu me sinto ótimo! Não sei o que há nesse lugar, mas é realmente incrível.
A família sorriu para Harry enquanto o homem acenava calmamente com a cabeça.
- Não há nada aqui que você não conheça Harry – continuou – você apenas nunca havia tido a oportunidade de sentir ou notar o que aqui é possível perceber com tanta clareza.
- O que eu conheço? Desculpe-me senhor, mas estou realmente confuso – o garoto notou agora que todos ficaram quietos para que o homem continuasse falando – eu não sei quem são vocês e não sei por que me ajudaram. São amidos de Dumbledore?
- Alvo Dumbledore? – perguntou o homem – Sim eu fui um grande amigo de Alvo até os últimos momentos de sua vida. Mas não é apenas por isso que você está aqui Harry. O que eu vou lhe contar em breve, uma minoria de bruxos vivos conhece, embora a maioria já tenha ouvido falar.
Harry se ajeitou na cadeira e serviu-se de um copo d’agua sobre a mesa. Bebeu devagar enquanto todos continuavam a o observar atentamente.
- Me chamo Odiel Bennedict, Harry – disse o homem que esboçava um sorriso pela primeira vez – e sou o líder desta família a pouco mais de dois séculos.
Harry olhou a todos com interesse enquanto a mulher mais velha do grupo se levantava.
- Sou Irena, é um grande prazer conhece-lo, Harry Potter – disse a mulher – sou esposa de Odiel e terceira filha dos Elementares.
O próximo foi o gigante que Harry já havia conhecido
- Eu sou Eros Bennedict! – falou o homem empolgado – o mais velho e mais forte dos herdeiros.
Eros sentou-se novamente sob o olhar reprovador do pai. Assim que se sentou, a mulher que ainda não havia falado se levantou. De cabelos muito cumpridos e com a característica cor prateada, a mulher sorriu carinhosamente para o garoto antes de falar.
- Me chamo Mali. Herdeira da luz da estrela e líder entre os meus irmãos – falou com uma voz suave que Harry reconheceu no mesmo instante. Fora ela quem falará com o garoto antes que desmaiasse na Rua dos Alfeneiros. A bela mulher se sentou novamente.
- E eu sou Ilana – disse a garota de cabelos curtos que se levantou após a irmã – a mais nova dos Bennedict, mestre avançada em poções e a mais bela do povo elementar!
Irena sorriu discretamente enquanto Odiel baixava a cabeça aparentemente constrangido.
- Desculpe-me pelos meus filhos Harry Potter – disse o homem serio novamente – eles não têm o costume de ser assim tão deselegantes.
Harry apenas sorriu abertamente em resposta ao constrangimento do homem. Havia adorado cada um deles.
- Por último, este é meu filho Silas – e apontou para o homem alto e magro que se levantou e fez uma reverência educada para Harry – ele não fala desde um incidente passado, mas lhe entende perfeitamente e poderá aprender muito com ele.
O homem cumprimentou Harry novamente com um aceno e voltou a se sentar.
- Somos uma família antiga Harry. Pertencentes a um povo ainda mais antigo e protetores de uma força que está além da imaginação de trouxas e bruxos. Você foi resgatado pelos meus filhos, por entendermos a importância do que vocês vivem atualmente – o bruxo analisava Harry profundamente enquanto falava – estamos falando de Voldemort. A influência de sua maldade chegou a um limite perigoso Harry e pela primeira vez, a família Bennedict, protetora e descendente do povo elementar, deve interferir nos assuntos do mundo para evitar o desequilíbrio desta força essencial.
Agora Harry Potter estava definitivamente confuso. Toda essa informação de família com dois séculos de idade, força essencial e povo elementar estavam o deixando realmente perdido e estes sentimentos foram facilmente identificados por Odiel e sua família.
- Vou lhe contar uma história Harry, a mais incrível de todas que já ouviu. Esta é uma história real e vai esclarecer todas as dúvidas de seu coração – o homem se levantou e tirou das vestes uma daquelas cumpridas varinhas que que as estatuas nos corredores possuíam – Vou lhe pedir que esvazie sua mente agora. O que tenho para lhe dizer foi prometido há milênios atrás que nunca seria dito em palavras. Ao menos não as que possam ser sentidas no ar.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Odiel apontou a varinha para Harry e sem nenhuma palavra, um tênue brilho acinzentado envolveu o garoto que fechou os olhos e se deixou levar pela tranquilidade que aquela luz oferecia.
Comentários (1)
Esse capítulo foi concerteza uma das coisas mais belas que eu já li.. Estou completamente empolgada (como já deu para perceber), mas enfim.. Estou ADORANDO!!
2011-10-28