Rituais funcionam
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Após Kátia ir falar com Demelza, me sento em uma poltrona, comendo um salgadinho, e observando desatentamente o time brincar e gritar em volta da taça.
Levanto, meio que rindo, quando as meninas vêm me puxar para o meio da roda, me empurrando a taça. A levanto, incrivelmente feliz, enquanto o resto da sala aplaude e grita.
Após me afastar um pouco novamente, rindo, do grupo saltitante, me apoio na parede, observando a alegria contagiante.
E é tão bom ver todos assim... despreocupados.
Desde que a volta de Voldemort foi confirmada pelo ministério, todos parecem estar vivendo com uma fina – mas constante – camada de medo, pânico, sobre as cabeças.
Todos na sala sabem o quanto Voldemort é perigoso. Seja porque foram criados ouvindo relatos assombrados, em geral com parentes falecidos envolvidos, seja porque leram e descobriram o quanto um bruxo pode se tornar perverso, todos tem consciência do que a volta dele representa.
E têm medo disso.
Dor, mortes, sofrimento, desespero, angústia... todos os sentimentos que estavam lentamente sendo enterrados, foram brutalmente reavivados.
E ninguém sabe quando eles irão embora novamente.
Talvez seja isso o que mais assuste. A perspectiva de saber que não poderá viver em paz. De que será obrigado a sofrer, a perder.
Apesar de estar uma agradável tarde, sinto meu corpo gelar com esses pensamentos.
Meu Deus, como as pessoas viviam com essas sensações? A resposta é tão simples quanto dura, na verdade.
Elas tinham que viver.
Penso em Harry, em tudo o que ele já passou e provavelmente passará, e sinto uma faca gelada sendo enfiada no meu estômago.
Ah meu Deus... Harry. Eu sempre procuro não pensar sobre isso, mas os pensamentos estão em um rodopio incessante na minha mente.
Harry... Aquele garoto fantástico, que já sofreu provavelmente mais do que todas as pessoas na sala reunidas, e que tem o mais maníaco, perverso e poderoso bruxo do mundo a sua espreita.
A faca se contorce lentamente.
Procuro uma poltrona, e me enrolo com as mãos em volta das pernas. Eu não deveria estar pensando nisso, eu não deveria, mas é impossível. Eu simplesmente não posso me ajudar. Quando me dou por conta estou ofegando como se procurasse ar.
Tenho um ritual para quando estou entrando em pânico, na verdade. Eu fecho os olhos e penso sobre coisas boas. Penso somente em coisas felizes, situações alegres, qualquer coisa boa, enquanto conto minha respiração.
É o que começo a fazer. Respirando fundo. 1,2,3. Coisas Boas. Minha família, amigos e Harry invadem meus pensamentos, nas mais diversas situações. Tenho um pouco de vergonha de admitir, mas Harry está aparecendo em um número significativamente maior do que os outros. Eu sou realmente uma filha e amiga péssima.
Lentamente, me sinto acalmar. Meu Deus, há quanto tempo eu não tinha um desses ataques de pânico? Eles eram muito frequentes, principalmente no ano seguinte a câmara secreta. Eu constantemente acordava a noite, desesperada, após um sonho, em geral muito vívido, no qual Tom me arrastava, me forçava a fazer as pessoas que amo sofrer, me obrigando a ser um monstro.
Desenvolver esta técnica foi uma defesa natural aos constantes colapsos que minha mente me fornecia. Felizmente eles foram gradativamente parando após meu segundo ano, enquanto a lembrança de Tom ia se tornando mais nebulosa.
E agora ele está de volta. Ameaçando todos os que eu amo, ameaçando todo o mundo bruxo. Ameaçando Harry.
Alias, claro que Harry iria desencadear um ataque de pânico em mim. Porque a simples e maldita possibilidade dele não sobreviver já me desespera de uma maneira devastadora.
É como se tudo fosse um daqueles meus pesadelos, só que agora é mais cruel. E é real. Talvez por isso minha mente já não os forneça mais. Já estou vivendo em um.
E estou tão positiva quanto a Murta que Geme. Faço o ritual novamente. 1,2,3 ...
Volto os meus olhos novamente para o salão, feliz que ninguém percebeu meu pequeno colapso. Quero dizer, quase ninguém. Hermione me observa do outro lado da sala. Claro. Sorrio levemente para ela, acenando que está tudo bem, e ela se vira lentamente de volta.
Ufa. Essa foi por pouco.
Me recomponho, decidida a aproveitar a festa. Tudo bem entrar em pânico, mas não logo depois de ganhar o campeonato! Faça-me um favor, Gina Weasley – brigo mentalmente comigo mesmo- Cria vergonha nessa cara e levanta esse astral. Você capturou o pomo, ganhou da Chang, ganhou por Harry, é campeã da taça. O que você quer mais, agora?
Levanto decidida. Por hora, tudo está bem. E por mais que tudo esteja lentamente desmoronando, ataques de pânico não resolverão nada.
Penso novamente em Harry, e decido deixar o futuro para ser lidado no futuro. Por enquanto, então, foda-se tudo. Caminho em direção a uma mesa e pego uma caneca de cerveja amanteigada.
O melhor é afogar os males.
N/A: Bem, acho que devo falar um pouco sobre essa parte. Bem, eu notei que a fic -apesar de ser claramente comédia/romance- não tinha quase nenhuma referencia a esse momento que todos estão vivendo. Lord Voldemort voltou, há uma guerra eminente, todos estão sob pressão. Eu não poderia simplesmente excluir isso da história. Então, aí está. Gina realmente está temerosa sobre tudo. Todos os que ela amam, de uma forma ou outra, estão envolvidos com isso. Ela mantém a pose de descontração a maior parte do tempo, até porque é realmente forte, mas claro que há momentos em que ela se questiona sobre tudo. Em que ela teme. Relacionei também com a sua experiencia com o diário, já que Lord Voldemort está por trás daquilo também, e foi realmente traumatizante para Gina ter passado por aquilo. Ela foi possuída, afinal. Espero ter colocado isso de uma maneira boa.
Comentários?
Ah, e corram para o próximo capitulo, se é que vcs me entendem ;)
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