Entre conversas e profecias
Respiro fundo novamente enquanto desço para o salão. Acho que, depois das minhas súbitas reflexões, estou mais segura. Eu sou completamente apaixonada por aquele garoto, e, incrível, inexplicável e surpreendentemente, ele parece gostar de mim também.
Sorrio, como sempre, ao lembrar disso, enquanto observo a festa.
Hermione está sentada perto de Rony novamente, o que me leva a crer que, infelizmente, eles continuam terrivelmente empatados. Suspiro. Eu realmente já não sei o que fazer com eles.
Minhas colegas de quarto me acenam, claramente escrito em seus olharem que querem saber detalhadamente o que está acontecendo entre eu e Harry – é óbvio que elas não esqueceriam o abraço no café da manhã.
Murmuro um “depois” para elas, que suspiram frustradas. Merlim sabe o que falarei mais tarde.
A festa continua animada. A taça está passando de mão em mão, sendo admirada, beijada e venerada enquanto gira por aí. Copos e mais copos de cerveja amanteigada espalhados por quase todos os cantos e, claro, um surpreendente número de grifinórios extremamente animados, falando em um nível incrivelmente alto, entre inúmeros cartazes e bandeiras como “vai, vai, Grifinória!”, “Os leões são demais”, “Espetinho de águia, aqui, hoje!”, “Somos inteligentes e bons jogadores”, “Hoje o tempo não está para voo”, “Aberta a temporada de caça a aves”, “Escondam os ninhos, porque os leões estão a solta!”, entre outros extremamente criativos, tenho que admitir.
Vou cumprimentar o resto do time, que está sentado conversando animadamente com um grande número de torcedores à volta. Sou recebida com aplausos e gritos.
Demelza imediatamente me abraça.
-Parabéns, Gina! –exclama feliz- Apanhada muito boa!
Sorrio –E não é? – os outros riem – Mas sabe, acho que não fui só eu não, o time todo jogou muito! Houve horas que tive que chegar a parar de procurar o pomo para poder te admirar, Demelza –cutuco a garota- O que é que foi aquele giro em torno dos três artilheiros, hein? E ainda marcou o ponto! – exclamo, e ela cora.
-Aquilo foi sorte, nada demais.
Rimos incredulamente dela, e Dino se manifesta.
-Claro, não é? Também foi sorte eu ter visto você ensaiando e fazendo várias jogadas desse tipo? – indaga.
Ela cora ainda mais profundamente, enquanto nos manda ir bem longe.
-Mas a Gina falou sério pessoal, eu mesma me surpreendi com o nosso jogo – declara Kátia – Nós realmente jogamos demais.
Segue-se aí uma não tão modesta e animada conversa sobre o jogo, que se exalta mais ainda com a chegada de um entusiasmado Rony, recebendo muitos elogios, entre entusiasmados comentários gerais.
[...]“- E aquela hora que o Jaquito foi rebater e deu na bunda daquele loiro da Corvinal?” [...]
[...]“Eu gostei mesmo foi de fazer aquela jogada em que todos fingiam que estavam recuando e então atacavam de repente. Aquele batedor grandão quase caiu de susto quando a Kátia foi pra cima dele” [...]
Inexplicavelmente, eu não estou totalmente concentrada na conversa. Enquanto os outros falam sobre o último ponto, deixo meus olhos vagarem pela sala.
Kátia nota a minha distração, e sorri levemente.
-Não se preocupe –sussurra perto de mim- logo ele estará aqui.
Me viro surpresa para ela, sentindo o meu traidor rosto esquentar. Malditos genes Weasley.
-Do que você está falando?
Ela ri.
-Do Harry, é claro.
-E o que tem eu e ele? – pergunto defensivamente, me recusando a encara-la, e amaldiçoando meu rosto, que está um forno. Não me admiraria se estivesse brilhando.
-Me diga você- declara sugestivamente- Estou somente fazendo uma observação.
-Não.. Não há nada entre eu e ele – respondo, rápido demais. Ela sorri levemente, no que parece ser dúvida e espanto.
-Não? – Ela parece claramente surpresa. O que é que andam dizendo por aí, meu Deus?
-Não – confirmo a olhando, embora deseje ardentemente que isso mude, e de preferência logo.
-Oh – ergue as sobrancelhas- Não esperava por isso – completa concentrada, tomando um gole de cerveja.
A assisto interrogativamente, e ela limpa a boca antes de prosseguir.
-Quero dizer, está claro que você gosta dele, e óbvio que ele está completamente louco por você – sorri sugestivamente- Até porque, a não ser que ele realmente admire a sua vassoura, tenho a impressão que ele passa grande parte dos treinos te observando.
Balanço a cabeça negativamente, embora não tenha completa certeza.
-Impressão sua.
Ela ri –Acho que não, Gina. Harry não levou uma quantidade sem fim de balaços nos treinos por nada. Eu sou companheira de time dele há anos, e ele sempre foi um jogador centrado. Harry Potter não se deixaria levar um balaço, a não ser que estivesse extremamente distraído para notá-lo, pode ter certeza.
Após completar, ela me observa quietamente, tomando sua cerveja.
-O que você quer que eu diga? – pergunto, levemente frustrada. Ela desejava que eu fizesse uma explanação dos meus sentimentos?
Ela sorri levemente – Nada. Eu quero que você cuide dele, quando ele se aproximar, e eu sei que vai. Ele merece.
Sorrio para ela, mesmo que ainda envergonhada – Sim, ele merece – concordo, antes de olhar novamente para a entrada, fazendo uma leve careta quando alguns pensamentos não tão bons me assaltam – Mas, Kátia –indago um pouco insegura- e se eu não for o melhor para ele?
-Bem, e porque você não deixa ele decidir isso? – pergunta de volta. Esperta essa menina- Ele gosta de você, e pelo visto, gosta muito; E Harry sempre parece saber fazer o que é certo – completa calmamente.
Sorrio levemente, as palavras dela ecoando na minha cabeça.
-Desde quando você é tão boa em conselhos sentimentais?
Ela ri alto – Desde nunca, sem dúvidas! – exclama divertida – Mas isto não foram conselhos – pisca para mim – Foram constatações. Além do mais, vocês formam um casal tão lindo, que eu me sentiria péssima se não desse uma ajudinha – completa marota.
-Você não vale nada, Kátia Bell! – exclamo entre divertida e envergonhada.
-Se você pensa assim – dá de ombros, de brincadeira – Mas não se esqueça de cuidar bem dele, certo? Harry merece a melhor garota do mundo, e você parece ser a melhor candidata ao cargo – completa, novamente voltando à descontração.
Assinto para ela, me sentindo um pouco corada. Ainda.
-E é bom que você saiba desde já o quanto tem sorte; Harry é um dos garotos mais especiais que eu já conheci, e não estou dizendo isso como propaganda para o “escolhido”. Não é preciso nenhum substantivo para notar o quanto ele é incrível - completa levemente.
-Eu sei. Realmente, eu sei – assinto séria, antes de sorrir levemente – Mas desse jeito, eu é que pensarei que você está gostando dele – termino séria, a encarando com as sobrancelhas levantadas.
Ela se engasga com a cerveja, tossindo fortemente.
-Óh, não! Você entendeu mal, Gina, eu realmente não gosto de Harry assi...
Começo a rir.
-Eu sei, Kátia! – exclamo divertida- Mas você tinha que ver a sua cara!
-Há, há – responde um pouco emburrada, embora com clara vontade de rir – Muito engraçadinha. Saiba que você também não vale nada, Weasley.
-Quem falando, não, Bell? – retruco, e então a imito agudamente- “eu me sentiria péssima se não desse uma ajudinha”, “tão lindos”.
-Querida, aceite a realidade – dá de ombros, com um sorriso- Além do mais – ela estanca rapidamente, com o olhar perdido, antes de voltar a falar com uma voz rouca e etérea, segurando em meu ombro, estranhamente parecida com... Sibila Trelawney – “Ó querida... estou tendo uma visão... – aperta os dedos em meu ombro- O garoto fica com a garota. O garoto e a garota estão destinados, e a junção de Vênus na 15° casa, alinhado com Netuno em seu 8° ciclo de luz e escuridão, traz a solução ao casal. Mas tomem cuidado... Essa junção é especialmente favorável a acidentes com hipogrifos , lulas gigantes, chapéus cor de rosa e cuecas voadoras”.
Então ela simplesmente larga o meu ombro, como se nada tivesse acontecido.
-Chapéus cor de rosa? Cuecas voadoras? – pergunto, sentindo a voz tremer por conta do riso reprimido.
-Não conteste a visão – aponta, erguendo as sobrancelhas.
Não consigo mais me conter, e estouro em uma gargalhada muito alta, seguida por Kátia.
Ali sim estava uma aluna com futuro em adivinhação.
Pelo menos na aula da Trelawney.
Aí está! :D
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