O'Children
| Do Nosso Jeito |
Capítulo Seis - O'Children
"Hey little train! Wait for me! I once was blind, but now i see!”
A rua principal da Avenida Westminster, Oxford Street, costumava ser uma rua comercial e altamente movimentada, com mais de trezentas lojas para os mais variados gostos. Nessa época, as vitrines dessas ganharam cores vermelhas, brancas e verdes, as cores tradicionais do Natal, já que mais de metade da população inglesa era de orientação católica.
A essa hora da noite, as portas e vidros já estavam fechados, as atividades encerradas. As pessoas comemoravam a véspera de Natal no conforto de suas casas, longe dali.
A Oxford Street se estendia por mais de dois quilômetros e meio, e talvez o mais perto centro residencial estivesse a leste, quando ela contornava o começo do bairro trouxa Shepherd’s Bush.
Fatos que tornavam a localidade perfeita para seus planos.
Na esquina da enorme Oxford Street com a menor e arterial Rua Whitehall, encontrava-se Bellatriz Lestrange.
Ela cantarolava uma música desconhecida e sem letras, enquanto andava de um lado para o outro, a varinha rolando dentre seus dedos longos.
Ao seu lado, suspenso três metros do chão por gordas grossas que estavam amarradas a escada de incêndio de um antigo prédio cuja principal loja era uma floricultura, estava um garoto ruivo. As vestes dele estavam surradas, sua blusa manchada de sangue. Seu olho esquerdo estava baixo e sua face arroxeada.
Ele tentava respirar com dificuldade, o peito subindo e descendo rapidamente, o que não o impedia de lançar olhares de ódio em direção à mulher.
–Eu estou ainda estou esperando que você comece a falar, seu incompetente.
O garoto ruivo tentou inutilmente se livrar das amarras nos seus punhos, mexendo-se com vigor. O rosto de Bellatriz demonstrava o imenso tédio.
–Você sabe que não vai se soltar, e mesmo se conseguisse, para onde iria?
Ela iluminou com o Lumos um pedaço de chão que encontrava com o antigo prédio do centro administrativo de Londres, e o garoto pôde ver, com muito pesar, a sua varinha partida em três pedaços.
–Esse é um bom Natal, entende – comentou Bellatriz, cercando-o lentamente. –Apesar de tudo que aconteceu nesse maldito ano. É um bom Natal. Está tudo prestes a acabar, eu estou cada dia mais perto de me vingar, e, sinceramente, Natal é uma época em que nós devemos fazer o que realmente gostamos. Você sabe do que eu gosto, Sr. Langham?
O garoto virou o rosto, recursando-se a responder.
–Crucio!
Ele já sabia que aquilo viria, mas o entendimento da situação não fazia a dor diminuir. Ele berrou, enquanto milhares de facas pareciam adentrar seu crânio, castigando o seu cérebro e mandando sinais de dor para todo o seu corpo.
–Você sabe outra coisa que me dá uma incrível satisfação, Sr. Langham?
O garoto lutou para respirar, mas o ar parecia recusar-se a entrar em seus pulmões. Imagens desconexas eram formadas em sua mente, e ele entendeu que estava muito perto da dor acabar por completo.
–Já que o senhor insiste em ficar aparentemente mudo... Eu mesma respondo! – Bellatriz apontou a varinha na direção do peito do garoto. A luz da Lua iluminou seu rosto por um instante. Ela parecia ensandecida. – Torturar aqueles que não respondem as minhas perguntas!
O raio verde voou na direção dele sem mesmo que ela dissesse uma palavra. Langham tentou cerrar os dentes para não gritar, estratégia que funcionou bem nos primeiros segundos de tortura. Mas o desespero foi mais forte, e o grito arranhou sua garganta, querendo sair, e quando finalmente cedeu, ele saiu mais alto do que normalmente.
No chão, Bellatriz deu risadas e pulinhos de alegria similares aos que ela deu quando tocou fogo na cabana de Hagrid.
–Eu sei que você o viu! – Berrou ela, quando os gritos do rapaz cessaram. – Eu sei que você estava naquele grupo em Hogsmead! – O músculo do lábio superior dela tremeu de raiva. –Eu quero saber onde ele está e o que ele falou!
–Eu... já... disse... que... não... sei – arfou o rapaz chamado Langham.
–Você acha que eu sou burra? Você esteve nos arredores da casa dos Weasley’s pobretões durante dias! Um informante, é isso que você é!
Langham controlou a vontade de chorar. Desejou simplesmente estar em casa, dar um abraço em sua mãe na noite de natal, e receber o presente de seu pai...
–Um bruxinho medíocre, traidorzinho sórdido do seu próprio sangue, inútil, imprestável – continuou Bellatriz, com asco na voz. –Isso que você é!
–Sim – concordou Langham. – Admito. Eu sou isso tudo. Então por que diabos Harry Potter me confiaria como seu informante?
–É uma pergunta interessante, Langham – Bellatriz andou em círculos, parecendo ponderar. – Mas veja, Potter tem visivelmente uma capacidade mental diminuída, e simplesmente nenhuma noção – ela correu até ele perigosamente. – Agora me diga!
Num último ato corajoso, Augusto Langham cuspiu na cara de Bellatriz Lestrange, sabendo que isso seria seu movimento final nessa vida. Como num reflexo, a bruxa lançou a maldição da morte em direção ao rapaz.
A dor finalmente cessara.
–INÚTIL! – Berrou Bellatriz, o rosto corado de ódio. Com um aceno na varinha, as cordas que içavam o menino sumiram, e o corpo inerte caiu ao chão com um baque oco. Ela se aproximou, chutando várias vezes as costelas do morto. – INÚTIL, INÚTIL, INÚTIL!
Quando finalmente cansou, ela tentou se recompor. Que tempos eram esses que eles viviam, onde nem os informantes valiam a pena de se torturar?
Tirou alguns fios de cabelos do rosto, e aparatou para longe dali, deixando o corpo do rapaz que se parecia tanto com Gui Weasley desfigurado e largado no coração da Londres trouxa.
*
O frio começava a ficar insuportável, e, vez por outra, os flocos de neve precipitavam-se ao chão da floresta, cobrindo as folhas mortas e molhando a areia barrenta. Harry encontrava-se na beira de um rio, apertando os olhos para os peixes que ali nadavam lentamente. Os movimentos tornaram-se mais vagarosos por conta da temperatura da água, por tanto, mais fácil de Harry conseguir capturar algum deles.
Já estava ali algumas horas, sem sucesso. Porém, ele não estava realmente se esforçando. Não tinha pressa alguma de voltar ao acampamento, já que Hermione parecia muito mais interessada em conversar com Malfoy do que com o próprio Harry.
Apontou a varinha para um peixe particularmente gordo que arrastou as nadadeiras perto de suas canelas, e, com um aceno vertical silencioso na varinha, lançou um raio fino em sua direção. O peixe imediatamente encheu-se de ar, boiando. Harry soltou uma exclamação satisfeita, segurando o peixe que, em suas mãos, voltara ao tamanho normal, e se debatia loucamente.
Enrolou-o num pano e, com um suspiro, recomeçou a andar de volta a tenda. Durante o tempo que ele ficara sem falar com Hermione – o que se provaram dias realmente ruins – ele fizera algumas reflexões.
Iria transmitir tais reflexões para a amiga, embora o medo que ela não o seguisse em suas intenções o assombrasse.
Quando chegou a tenda, notou, para a sua atual infelicidade e irritação, que Hermione estava, mais uma vez, sentada com Draco nos arredores de uma fogueira. Cerrando os dentes, Harry passou por eles e, sem dizer uma palavra, bateu o peixe que segurava na cara de Malfoy, “sem querer”.
Malfoy soltou uma exclamação quando o cheiro ruim espalhou-se pelo seu rosto. Mas Harry nem se aplacou.
–Ah – disse ele, parando antes de adentrar na tenda. –Eu trouxe peixe.
Hermione olhou feio para ele.
Dentro da barraca, Harry controlou o impulso de aparatar para longe dali. Sabia que Hermione estava furiosa com ele, mas não entendia o motivo dela ser tão amável com Malfoy. Já esta na hora de Hermione me dar uma folga, pensou, enquanto colocava pedaços de peixe numa frigideira e agitava a varinha.
Gostaria de se sentir feliz por não ter que comer folha ou chá, mas nem isso conseguiu. Suspirou, estirando as costas, enquanto esperava pacientemente o peixe esquentar.
Agora que Ron se fora, Harry não aceitava dividir Hermione com mais ninguém. Mal podia suportar a ideia de que Hermione estava lá fora, de conversa fiada com Malfoy. Isso fazia seu sangue ferver.
Mas antes que pudesse aproveitar seu momento de raiva, ela entrou na barraca, pisando fundo.
–Harry! – Disse ela, em tom repreensor. –Não precisava jogar o peixe morto no rosto do Draco!
–Desde quando “Malfoy” se tornou “Draco”? – Ele perguntou, muito precisamente.
–Ah, tenha dó...
Harry se virou para ela, cerrando os olhos perigosamente.
–Por que você não pode simplesmente ficar feliz porque eu consegui pescar um maldito peixe para jantar? Não, agora que você arranjou um novo amigo, só quer saber de protegê-lo!
Hermione o encarou, incrédula.
–Do que você está falando, pelo amor de Mérlin?
–É disso mesmo! – Bradou Harry, as faces vermelhas de raiva. – Você agora só quer saber do Malfoy, e conversar com o Malfoy, e saber se o Malfoy está com frio, ou se está com fome! – Ele articulava brandamente com as mãos. –Cansei disso, Hermione. Eu estou aqui também, sabia?
–Bem, pelo menos ele não some, me deixando sozinha durante uma noite inteira! – Respondeu Hermione, muito irritada.
–Ah, claro que ele não foge, não é? – Falou Harry, irônico. –Afinal, ele está amarrado, não é mesmo?
Hermione soltou um palavrão na direção de Harry, e virou de costas, cruzando os braços e soltando muxoxos irritados. O coração de Harry batia acelerado, e ele já se sentia arrependido por ter gritado com a amiga. Hermione também tivera sua quota de irritação naqueles dias, mas em nenhum segundo gritou com ele.
E brigar com ela não estava mais em seus planos.
–Escute – ele falou, num tom de voz bem mais baixo. – Eu sei que você não está querendo falar comigo, mas eu acho que nós devíamos conversar.
–Conversar, Harry? – Ela virou-se para ele novamente, e Harry percebeu, com assombro, que seus olhos estavam manchados de lágrimas. –Tem dias em que nós não trocamos uma palavra, e quando o fazemos, são só farpas!
–Eu sei – sussurrou Harry, o arrependimento aplacando seu peito. Ele se aproximou um pouco. Queria tanto tocá-la. –Naquele dia em que sumi, eu... Eu só precisava espairecer um pouco. Estava nervoso, e não queria descontar em você. Sei que fui errado, estou profundamente arrependido e isso não tornará a acontecer.
Os olhos dela demonstraram tristeza.
–Então você estava assim... Por causa de Ginny?
Harry não queria falar sobre esse assunto, mas algo no seu peito gritava, querendo desesperadamente que Hermione tirasse essa ideia da cabeça.
–Não, eu só... Estava me sentindo um pouco solitário.
–Eu estava aqui o tempo todo, Harry.
–Eu nunca duvidei que não estivesse.
Hermione não falou, desviando os olhos de Harry. Ele esperou um pouco, e observou a menina sentar em uma escadinha de madeira, que separava dois níveis da barraca.
–Escute, Mione – ele falou, o mais amorosamente que pôde. – Eu estive pensando, e não posso mais ficar parado, esperando que as coisas mudem. Eu estava dando um tempo até que a ferida que a morte de Ron fez sarasse, mas, veja bem – Harry deu um sorrisinho nervoso. – Percebi que nunca irá parar de doer.
Hermione abraçou suas próprias pernas, o olhar perdendo-se numa das duas lamparinas que iluminava a tenda.
–Eu vou entender se você não quiser vir comigo – concluiu Harry, com tristeza.
Hermione demorou um pouco para responder, deixando o garoto completamente aflito. Harry podia ver o reflexo das chamas dançando pelas suas íris.
–Nós temos que encontrar Luna e Neville – ela falou, por fim, sem tirar os olhos da luz.
–Sim – disse Harry, esperançoso.
–Draco tem palpites de seus paradeiros. Acredita que eles podem estar nos arredores do St. Mungus, por causa dos pais de Neville, ou em algum local entre A Toca e a casa de Luna.
–São lugares muito vigiados – ponderou Harry.
–Sim – Hermione deu um sorriso triste. – Mas para onde mais Neville Longbottom iria?
Eles ficaram em silêncio por minutos esmagadores. O cheiro de comida invadiu nas narinas dos dois. Harry voltou à cozinha e separou a comida recém-feita em dois pratos.
–Coma alguma coisa. Vou levar alguns pedaços para o Malfoy.
Deixou um prato para Hermione perto da borda da mesa, e pegou o outro, levando-o consigo para fora da tenda. Já não sentia vontade de comer.
Do lado de fora, o vento frio atingiu-o com força, urgindo alto e fazendo seus cabelos se arrepiarem. Para a sua surpresa, Draco dormia encostado no tronco de uma árvore, os braços amarrados repousando numa posição estranha e anormal. Suspirou. Estava prestes a fazer algo que iria se arrepender mais tarde.
Chegou perto do sonserino, e desamarrou as cordas nas pernas e braços dele. Malfoy pareceu nem notar, roncando levemente. Harry abaixou-se para deixar o prato ao lado do corpo do garoto, caso esse viesse a acordar mais tarde.
Quando ergueu-se, ouviu o som de uma música.
“Temos a resposta para todos os seus medos
É curta, é simples, é clara como cristal
Ela está por aqui, em algum lugar
Perdida em meio às nossas vitórias”
Seguindo o som de volta à tenda, Hermione ainda permanecia exatamente no mesmo canto onde ele a deixara, enrolada na escada ao lado do antigo rádio onde Ron costumava ouvir o Observatório Potter, o prato com o jantar intocado.
Harry lançou-lhe um olhar que não foi retribuído, e então, resolveu sentar-se numa cadeira que estava pelo menos dois metros da menina, ao lado da segunda lamparina que servia de iluminação. A cadeira rangeu quando ele sentou, mas Hermione não demonstrou reação.
A tenda agora estava fracamente iluminada. O vento rugia, fazendo o teto balançar levemente.
Harry suspirou, suas mãos inquietas e suadas demonstrando sua imensa aflição. Hermione apertou mais o abraço em suas pernas, o rosto demonstrando cansaço.
“A felicidade pode ser encontrada mesmo em momentos difíceis, pensou Harry, se você apenas lembrar-se de acender a luz”.
Harry soltou mais um suspiro e um olhar à garota, e então, reunindo toda a sua coragem, ele levantou, andou devagar até Hermione, e simplesmente estendeu sua mão.
Era um gesto simbólico, e com isso, ele estava convidando-a a dar um mergulho profundo em sua alma, ser parte dele, sentir o que ele estava sentindo. Ele esperou ansiosamente, sem saber se Hermione iria aceitar ou não seu pedido. Eles não trocaram uma palavra, e o silêncio inundava o recinto. Tudo que precisava ser dito transitava diretamente entre seus olhos, demonstrando toda a emoção com a aparência.
Hermione não sabia o que ele queria fazer, mas, mesmo assim, aceitou sua mão, porque sabia que podia confiar nele. Harry a ajudou a levantar, e a guiou pelas mãos até o centro da tenda, onde havia um espaço livre, sempre sustentando o olhar profundo a ela. O rosto de Hermione demonstrava a dúvida, claramente sem ter ideia do que viria pela frente.
Harry, então, começou os primeiros movimentos de uma dança, balançando levemente seus braços juntos aos de Hermione.
“Ó, crianças
Ergam a sua voz, ergam a sua voz
Crianças
Alegrem-se, alegrem-se!”
É apenas uma dança. Hermione dá um sorrisinho desapontado, mas goza o momento, aproveitando-o para esquecer-se de tudo, e só para ser o que eles sempre foram: Harry e Hermione. Quando tudo havia desabado, quando o mundo parecia distante e caótico, não importava a situação, não importava o perigo, não importava a tristeza, eles estavam juntos, sempre.
E era juntos que eles estavam enfrentando essa verdadeira jornada emocional, onde cada dia era uma tela em branco, em que cada raio de sol poderia significar esperança, assim como perigo.
Eles chegaram mais perto, os passos agora um pouco mais coordenados. Hermione sorria pequeno, mas seus olhos brilhavam intensamente, seu rosto denunciando que ela desejava dizer a Harry que ele era um bobo, e depois corar, e sair de perto dele para fugir de seus olhos.
Ele balançou a cabeça no ritmo da música, prestando atenção, fechando os olhos. Era impressão dele, ou a letra cabia em tudo que ele queria lhe dizer?
Hermione tentava prestar atenção nos movimentos de Harry para acompanhá-lo, mas ele era imprevisível; ela deixou escapar uma exclamação de surpresa quando ele girou-a em seus braços duas vezes.
Harry podia ter todos os defeitos do mundo, mas, se havia uma coisa que ele não se considerava, era egoísta. Sabia que Hermione nutria antigos sentimentos por Ron, mas só queria mostrá-la que ela poderia sorrir e ser feliz. Que ele podia fazê-la feliz, que ele estava lá, acontecesse o que acontecesse.
Ele só queria sentir aquilo que estava sentindo durante dias e tentava afastar, só queria sentir o afeto da garota e demonstrar o seu através daquela simples dança.
Harry girou Hermione mais uma vez entre seus braços, abraçando-a com força no final, e o sorriso dela aumentou, alcançando finalmente seus olhos. Ele era um péssimo dançarino, fazia movimentos exagerados, e estava extremamente embaraçado, mas tentou não demonstrar. Colou seu rosto no dela, as mãos suadas grudas juntas, e dançou para frente e para trás, fazendo Hermione gargalhar.
“Ei, pequeno trem! Espere por mim!
Estive cego, mas agora consigo ver
Você guardou um assento para mim?
Será que é sonhar demais?”
Quando o som da música foi diminuindo e a letra acabando, Harry pressionou seu rosto contra o ombro de Hermione, com um pequeno sorriso e olhos fechados de satisfação. Ele a segurava com firmeza pelas costas, e Hermione suspirava perto de sua nuca. Seu cheiro era incrível, e eles estavam girando, girando, girando, com se de repente estivesse flutuando juntos, seus corpos em sintonia, seus corações batendo tão perto um do outro...
“Ei, pequeno trem! Espere por mim!
Eu estava acorrentado,
Mas agora estou livre”
Assim que a música acaba de vez, eles separam os rostos muito lentamente. Os olhos de Harry estavam fixos nos dela. Hermione abaixou o olhar até os lábios de Harry, engolindo seco, suspirando, esperando.
Eles haviam crescido, e crescido de uma maneira tão dolorosa. A ligação, o entendimento e a cumplicidade entre os dois eram tão intensos, que parecia absolutamente natural o conforto e calor nos braços um do outro.
Harry sabia que havia uma tensão física entre os dois que nunca acontecera nessa intensidade antes, sabia que, naquele momento, não havia nem sequer dois milímetros os separando.
Havia sentindo algo, e sabia que Hermione também compartilhava do mesmo. E, pela primeira vez, ele se perguntou se não poderia haver mais do que a simples amizade. Muito mais.
Mas, instantaneamente paralisado e incapaz de conter os ruídos das batidas de seu próprio coração, ele apenas ficou ali, parado, pensando, ponderando, analisando. Hermione, suspirando, se virou, e deu uma parada rápida, antes de finalmente deixar a tenda.
Os olhos de Harry estavam vazios, inexpressivos, vendo a garota ir embora.
Eles haviam chegado a o tênue limite entre amizade e amor, e facilmente poderiam ter se beijado. Ele sentia-se estranhamente desapontado por ela ter fugido daquela situação.
Harry não conseguia parar de pensar que, aquela cena que acabara de protagonizar junto a Hermione, talvez, não fosse mais a respeito de dois melhores amigos, e sim, de duas pessoas apaixonadas.
E agora, há exatamente trinta segundos desde que Hermione se retirara, Harry queria mais do que tudo beijá-la.
Mas tarde, naquela noite, o vento rugia forte, balançando o teto da tenda. Harry abraçou o próprio corpo, tentando se proteger do frio, que enregelava seus ossos. Hermione entrou na barraca, trazendo um Malfoy sonolento e de dedos roxos devido ao frio. Ela o guiou até a cama que costumava pertencer a Ron, e ele deitou, puxando as cobertas sobre si.
–Acho que vem uma nevasca por ai – ela informou. – O céu está urrando ensandecidamente.
–É melhor conjurarmos mais cobertores, então.
Hermione concordou com a cabeça, já começando a agitar a varinha. Harry deixou que ela fizesse os serviços, pois ela era infinitamente melhor em conjuração do que ele. Ela conjurou um bem grosso de lã e jogou de qualquer jeito em cima de Draco.
Depois, conjurou um para ela, deixou em cima de sua cama, e depois, conjurou um particularmente grande para Harry. Quando Hermione esticou-o para Harry, seus dedos se roçaram levemente.
–Obrigado – disse Harry, encarando-a de uma maneira incisiva.
–Por nada – Hermione virou-se para sua cama, visivelmente evitando os olhares do amigo. – Boa noite.
Harry ainda observou-a tentar se aquecer de todas as formas, antes de finalmente deitar-se. Quando a chama da última lamparina morreu, a tenda foi derramada num breu absoluto.
Mas nenhum dos dois conseguia dormir. O vento urrava alto, como se o céus estivesse de alguma maneira revoltado com a Terra, balançando precariamente os panos da tenda. Mesmo no escuro, Harry podia sentir toda a movimentação de Hermione, para lá e para cá na cama, puxando os cobertores, tapando os ouvidos quando o barulho era muito ensurdecedor.
–Harry? – Ela sussurrou, tão baixo que ele quase não ouviu. – Você pode me ouvir? Está acordado?
–Sim – ele murmurou de volta.
Ela não falou mais nada. Harry se esgueirou pela escuridão, chegando sem dificuldade à cama da amiga. Mesmo sem enxergar, Hermione sabia que era ele, e imediatamente abriu um espaço. Harry se apertou na cama pequena, deitando ao seu lado, e ela o ajudou a se cobrir, dividindo o seu cobertor.
Logo após se aprumar, Harry passou o braço pelos ombros de Hermione, abraçando-a apertado. A garota repousou a mão sobre o peito dele, fechando os olhos com força quando o vento uivou mais uma vez.
–Estou assustada – confessou Hermione.
–Shh... – Harry a puxou para mais perto. Roçou os lábios na têmpora dela, se demorando em seus cabelos. – Eu estou aqui.
Ele contou histórias de sua infância para Hermione, contando como foi receber a carta de Hogwarts, depois contou como uma vez roubou a bicicleta de seu primo Duda, ou como Hadrig fizera o garoto aparecer com um rabo de porco, fazendo com que seus tios trouxas terem que ir, secretamente, até o St. Mungus. Ele falava com calma, e sua voz abafava o ruído do vento, fazendo Hermione se esquecer de tudo, para no final, adormecessem um nos braços do outro.
Como tudo deve ser.
N/A:
Oi gente!
Ps1: A música que toca chama O’Children (a mesma que dá nome ao capítulo e aparece em versos nele) e é exatamente a música que toca no filme Relíquias da Morte parte 1 quando Harry e Hermione dançam na tenda.
Então, está ai o capítulo, e eu sei que ele demorou um pouquinho, mas eu só consegui acabar ele esses dias. O que acharam da reconciliação? Não foi uma coisa extremamente criativa, eu sei, mas, veja bem, eu achei tão absolutamente LINDA a cena da dança H/Hr no filme RdM 1, que eu pensei que seria interessante escrevê-la. Espero que gostem!
Ps2: eu mantive Draco um pouco afastado nesse capítulo apenas para poder proporcionar a Harry e Hermione esse momentinho de romance, mas no próximo capítulo eles já vão voltar a interagir mais profundamente
Ps3: Votem e comentem beeeeeem muitão! ;)
Comentários (27)
Amei, amei, amei ♥
2011-10-18Aaaah, eu adorei esse capítulo!! Muito lindo. *-* O Harry dançando com a Mione foi tão perfeito!! Haha. Lindo, lindo. E depois ele deitando na cama dela!! Aaah, amei. Só faltou o beijo! Fato. Mas espero ver muitos beijos desses dois mais para frente. Parabéns pela fic.
2011-10-18Esse capítulo ficou romântico e super fofo. Adorei ver o Harry percebendo que eles podem ser mais que amigos. Não entendi muito bem o qual foi a proposta dele, seria uma fuga? Onde eles se esconderiam? To super curiosa. Você escreve muito bem, amo o seu jeito de escrever, é super envolvente e instigante. Faz a gente querer sempre mais!!! Beijos e att assim que der. :D
2011-10-18Leitora velha, mais que só vai comentar agora aoksaposaop. Quase chorei com a ultima cena, Hermione dizendo estar com medo. Foi muito lindo. Adorei o capitulo, cada vez mais estou apaixonada pela historia. Esta realmente muito boa. Parabéns. Atualize logo. Beijos
2011-10-18A recociliação ficou perfeita. E a dança a coisa mais linda. rsrs Harry com ciumes ficou muito fofinho, amei. e a Bella esta cada vez mais doida O.O (eu comecei pelo final note O.o) Agora ele tem que achar o Neville e a Luna, e a Astória, para vicar meio igual as coisa não? (para ninguém ficar de vela u.u) rsrs Amei o capítulo, muito lindo, curiosa pela continuaçõa, att assim que der, por favor. Beijos...
2011-10-18A recociliação ficou perfeita. E a dança a coisa mais linda. rsrs Harry com ciumes ficou muito fofinho, amei. e a Bella esta cada vez mais doida O.O (eu comecei pelo final note O.o) Agora ele tem que achar o Neville e a Luna, e a Astória, para vicar meio igual as coisa não? (para ninguém ficar de vela u.u) rsrs Amei o capítulo, muito lindo, curiosa pela continuaçõa, att assim que der, por favor. Beijos...
2011-10-18Concordo com você, a dança foi uma das coisas mais lindas nesses anos de HP, e você fez tudo muito bem na reconciliação. To maluca para ver o Draco interagindo com os dois, e o clima de romance ficou muito lindo! Posta assim que der, devoro seus capítulos, guria! Não desanima que a fic tá ótima e a ideia também... Beijos!
2011-10-18