Monique McFusty

- Você não tem nada melhor pra fazer? – Draco revirou os olhos, sua mão ainda apertada na pequena esfera que o animal deixara na noite passada, ele se sentia melhor quando segurava o objeto. – Sério, vai acabar perdendo as aulas da manhã, seus amigos devem estar preocupados, você deveria ter saído ontem de noite da enfermaria.
 

Monique sorriu, balançando a cabeça.
 

- Não vou perder aulas, não se preocupe, eu queria ver como você estava. – Um breve momento de silêncio. – Como você está?
 

Era uma pergunta difícil de responder.
 

Ele se sentia melhor, fisicamente, tinha recobrado uma memória parcial da noite passada, se lembrava de ter sido carregado e de ter realmente conversado com Peter, mas aquilo ficava tudo meio turvo e tinha certeza que vira algo estranho, como se visse Peter discutir com ele mesmo em algum momento enquanto estivera entre o sono e o acordar. Não podia ter certeza.
 

Mentalmente, por outro lado, ele se sentia exausto. Era como se, depois de tanto tempo fraco e cansado, quando a saúde voltou de vez ele acabasse por definhar, contra todas as expectativas. Talvez o estresse, o medo, ou, quem sabe, a loucura, estivessem jogando um jogo com ele.
 

O que importava era que conseguia fazer magia decente de novo. Poderia voltar ao jogo do pai, ele voltaria a conversar com ele. Conseguiria fazê-lo ver que poderia servi-lo também.
 

- Draco? – Monique pôs a mão por sobre a dele. – Tudo bem? Você parece fraco, ainda.
 

Ele maneou a cabeça.
 

- Estou bem. – ele retirou com rispidez a mão debaixo da dela. – É só o efeito do remédio.
 

Ele ficou quieto, as mãos juntas sobre o colo, entrelaçadas.
 

- Porque você anda com ele? – Perguntou de repente, depois de algum tempo. – Ele tem problemas, você deveria ir para o mais longe possível, antes que ele te machuque.
 

Ela sorriu, um sorriso besta... De novo.
 

- Deixa comigo, eu não tenho medo dele.
 

- Deveria.
 

- Não resolveria meu problema com ele, certo?
 

Ficou quieto, não há como discutir com pessoas insanas.
 

- Você está melhor? – Perguntou o loiro, olhando a garota mais atentamente, percebendo as marcas de cansaço no rosto, embora houvesse passado toda a noite dormindo na enfermaria. – Ouvi dizer que ele te fez mal, é verdade?
 

Ela levantou-se, aproximando-se da cama e sentando na beirada.
 

- Nada que eu não possa suportar. – Eu acho. – Você deveria se preocupar consigo, tem algo que eu possa te trazer? Falta algo?
 

Orgulho, menos pena e um café para acompanhar.
 

- Nada que você possa me servir, no fim das contas. Sério, estou bem. Meu pai vai ouvir coisas sobre esse animal. – Não que ele vá prestar atenção em algo que eu digo, depois de tudo.
 

A garota deu um leve riso, sem a intenção de irritá-lo. Pena ela não conhecer Draco e a facilidade com que ele leva para o lado pessoal.
 

- Esquece, você é que nem todo mundo. – disse, bufando e pegando uma jarra de suco de abóbora da cômoda e servindo um copo para si mesmo. – Deixa pra lá, eu estou bem, não precisa ficar se preocupando.
 

Tomou alguns goles, fazendo uma cara de nojo. Enfeitiçaram essa porcaria pra parecer suco. Repôs a jarra e o copo sobre o móvel e voltou a olhá-la, se perguntando se demoraria para que ela se fosse, a presença amigável da garota estava começando a perturbá-lo.
 

- Draco, caso você precise de qualquer coisa, pode falar comigo, ou mandarem falar. Sério, ok? Eu tenho que ir pra classe agora, mas virei novamente mais tarde pra te ver, caso você ainda esteja por aqui.
 

Ele assentiu. Era perturbador como ela conseguia ser encantadora. Preferia que fosse logo, para que ele tivesse tempo pra pensar em como contatar o pai, assim que possível.
 

A garota levantou-se, aliviando o peso que momentaneamente sentira na perna, sem a coragem de avisá-la. Ela afastava-se, virando para dar um adeus quando o rapaz moveu-se bruscamente e agarrou seu braço, trazendo-a para mais perto, aproximando o rosto dela do seu.
 

- O que você tem de errado aqui? – ele apontou para a bochecha dela. – O que é isso?
 

Pela expressão confusa da garota, ela ainda não sabia.
 

- Olha. – ele indicou um espelho de corpo que havia ao lado da maca.
 

Monique aproximou-se, tocando o rosto.
 

Voltando um pouco no tempo: Monique McFusty sempre gostou de coisas... Como eu diria? Alternativas? Bem, a questão é que, com a família dela no ramo da criação de dragões e seu amor por desenho, não demorou a se sentir atraída pela ideia de ter um desenho em seu próprio corpo. Monique têm quatro tatuagens, deixarei os desenhos de três delas e as localidades à sua pérfida imaginação, a questão principal é que nossa garotinha só possui uma única tatuagem completamente mágica, feita no mundo bruxo, que é um dragão Negro das Ilhas Hébridas e que, comumente ficaria em suas costas, que se movia de acordo com a vontade dela. Lembrando, com a vontade dela. Não demorou muito até a garota perceber que o controle sumira por completo.
 

Ali, aninhado na sua bochecha, o dragão descansava, suas escamas mudando de iluminação, enquanto respirava.
 

- Ai está o presentinho que ele deixou para mim. – Ela disse, mais para si mesma que para o loiro.
 

Tocou a bochecha e o dragão acordou, assustado, moveu-se pelo seu pescoço, caminhando pelo seu colo, até não vê-lo mais.
 

- O quê? – O loiro perguntou, confuso, ouvindo de plano de fundo o toque para o início das aulas.
 

A garota virou-se, novamente com aquele sorriso besta.
 

- Eu te conto depois, senão vou acabar me atrasando. – Deu um beijo rápido na testa de Draco e saiu rapidamente da enfermaria.
 

Draco balançou a cabeça. Às vezes ele preferia ter ido estudar na Durmstrang.
 

...
 

- Ok, tédio, volte aqui, precisamos ter uma conversa séria. – ele disse, andando em círculos pela Sala Precisa. – É sério, não dá mais, nosso relacionamento não vai dar certo, então eu vou sair por aquela porta e você vai me dizer pra nunca mais voltar, certo?
 

O barulho do nada era ensurdecedor.
 

- Eu sei que nós íamos ter um relacionamento duradouro, mas veja, eu já estou conversando com você! Tem algo que não está certo aqui, afinal, você não existe, você é alguma mulher linda que eu imagino pra não ficar aqui só. Então adeus, eu, eu, eu... – Fingiu chorar durante alguns instantes. – Tá, parei.
 

Blake estava num estado incontrolável. Ele estivera há meses parado dentro do castelo, pesquisando, estudando as defesas, conversando com Delarious que era a única alma viva que sabia que ele estava ali, a não ser Kate, mas ela não contava, e agora, ele estourara.
 

Ele precisava de companhia e iria encontrar uma, nem que para isso tivesse que encontrar um(a) cativo(a). Ele precisava de um amigo.
 

Abriu a porta da Sala Precisa e esperou ela se fechar por trás dele.
 

- Sonserina, Corvinal, Lufa-Lufa ou Grifinória? – Ele olhou para a roupa que usava e aceitou que precisava se enturmar. – Eu sou legal, então: Lufa-Lufa será.
 

Balançou a cabeça. As roupas moveram-se e mudaram, transformando-se no fardamento dos lufanos.
 

- Bom, eu sou bom.
 

E então, saiu castelo afora.
 

Chegou em pouco tempo ao pátio, o ar livre era reconfortante. Parou no centro, olhando para cima, sentindo o sol lamber sua pele. Como sentira falta de sair, do calor, do vento, de tudo que o trabalho o negava. Nunca fora de se deixar quebrar regras, não quando estava trabalhando, pelo menos, mas aquele serviço, em específico, estava deixando-o irritado.
 

Pelas manhãs, antes do sol nascer, bem antes, ele acordava e ia por entre os corredores, explorando o castelo, descobrindo passagens que pudessem levar até o interior, brechas na segurança, mas essas eram inexistentes. Posteriormente voltava aos seus aposentos, antes mesmo do sol dizer olá, e sentava-se no centro da Sala, concentrando-se, aprendendo sobre a magia que corria pelos corredores do castelo e que, por si só, geravam uma defesa que seria impenetrável se o rapaz não tivesse aprendido como lidar com ela. As defesas inatas do castelo agora haviam caído, os caçadores mais poderosos entrariam como água, mas só eles não seriam o bastante, teria de deter as outras magias que protegiam o local.
 

Para tanto, ele teve que se aventurar até as torres, ainda antes de o sol nascer, e desenhou com seu sangue uma runa mágica, que, quando terminado o ritual, anularia qualquer magia que fosse feita para impedir a entrada de seres mágicos. Ele desenhou todas, demorou um tempo, mas o fez, e agora estava cansado.
 

Ele precisava descansar. Fugir um pouco, isso sim.
 

- SOL, você é ótimo. Senti tanto sua falta. – ele disse, abrindo os braços. – Você ainda é meu amigo? Eu sei que faz tempo que a gente não se vê, mas ainda gosto de você, prometo.
 

Ele estava muito concentrado no calor e conforto que o sol o trazia para perceber que seria atropelado em segundos por uma garota desenfreada. E não percebeu mesmo.
 

Monique acertou o peito de Blake em cheio, com a força da pressa que ela estava para correr para a aula de seu pai, no campo. Mas não causou mais que um desconforto no garoto, que precisou fechar os braços, enquanto ela despencava, suas ancas de encontro com o chão de pedra.
 

Blake abaixou os olhos para a garota.
 

- Não sei se peço desculpas ou se digo mais cuidado da próxima vez. – ele ajudou-a a se levantar. – Deixa, eu digo os dois. Esquece, não digo nada. Você deveria olhar quando estiver numa corrida, sabia?
 

A garota levantou-se, segurada pelo braço e pela cintura pelo rapaz, que a aproximou num abraço.
 

- Desculpa. – Ela disse, meio quieta, próxima ao corpo dele. – Eu realmente vou me lembrar disso da próxima vez.
 

- Deveria. – Ele sorriu da forma mais feliz que poderia.
 

Ela olhou-o por um segundo, o bastante pra perceber o que ficava óbvio. Tão óbvio quanto era quando ela estava perto da família Draconiam. Os olhos de fenda amarelos dele brincaram com os seus, ela sentia o calor do corpo dele por baixo das roupas e conseguia sentir a mesma força característica de Peter em seu braço.
 

- Vai se soltar? – Ele perguntou, sem afrouxar o abraço. – Por mim eu fico aqui até de noite.
 

Ela sorri e dá um risinho, soltando-se do rapaz com um movimento rápido de dançarina, mantendo uma distância social entre suas bocas.
 

- Correndo para a aula? – ele apontou para o campo, onde, ao longe, era possível ver um grupo de alunos.
 

- Eu ia. – Ela olhou por cima do ombro dele, que tinha mais os menos a mesma altura dela. – Eu realmente ia.
 

Eles ficaram se olhando durante um tempo, os olhos dele fixos nos dela. Em algum momento, passaram-se minutos ou segundos, não saberiam dizer, ele aproximou-se dela e segurou seu braço.
 

- Vem. – Ele começou a andar, passando o braço pelos seus ombros, alisando a parte exposta da pele. – Ou pode ir.
 

Ela tomou a decisão antes mesmo de pensar. Olhou não mais que uma vez para o caminho que deveria tomar e seguiu o rapaz, o caminho que ela queria tomar.
 

- Quem é você? – Era a pergunta que ela precisava fazer enquanto andavam em direção ao lago. Ele, um pouco mais à frente, com os braços atrás da nuca. – E obrigado, por me levantar.
 

Ele virou-se, andando de costas, com um sorriso zombeteiro e a língua de fora.
 

- Você demorou um pouco pra perceber que ainda não tinha agradecido, não é. Será que sou só eu?
 

Ele parou automaticamente, fazendo-a encostar em seu peito e seus narizes se encontrarem, proximidade de centímetros entre o restante de seus rostos. Depois voltou a andar de ré, com aquele maldito sorriso que só ele sabia fazer.
 

- Você está evitando a minha pergunta. – Ela sussurrou, voltando a andar. Certo, ele mexia com ela, mas não tanto assim.
 

- Sim, estou. – Virou-se novamente, andando até chegar à margem do lago. – Uma pergunta por outra?
 

- Claro.
 

- Então responda. Será que sou só eu?
 

Ele sentou-se na margem do lago, jogando os pés na água. Ela sentou-se ao lado dele, deitando na grama, como havia feito várias vezes com Peter. Pôs a mochila como travesseiro e colocou as mãos para trás, molhando-as na água do Lago Negro.
 

- Não é todo dia que você esbarra em alguém tentando fingir ser um aluno. – Ela piscou um olho cor de âmbar para o rapaz. – Minha resposta agora. Quem é você?
 

Ele bagunçou os cabelos.
 

- Você pode guardar segredos? – Ela assentiu. – Blake Makkarios. Minha vez, O que você está fazendo aqui?
 

Ela deu de ombros.
 

- Meu pai veio trabalhar aqui, ele é o professor de quem eu estou pulando a aula nesse momento. Vim estudar aqui. E você, o que veio fazer aqui?
 

A vez dele de dar de ombros.
 

- Existe um artefato que precisa ser recuperado. Eu vim encontrá-lo.
 

Houve um silêncio em que ele ficou vendo o sol lá em cima e o balanço da água por baixo de seus pés e ela ficou observando seu rosto infantil, a pele alva e lisa, e a cicatriz que o marcava.
 

- Como aconteceu essa cicatriz? – Ela deixou escapar, por entre os lábios.
 

O sorriso dele se estendeu enquanto se levantava.
 

- Ainda está na minha vez. – Ele retirou a farda, vestia uma camisa regata preta por baixo, delineando os músculos da barriga e do peito e deixando à mostra as tatuagens em seus braços. No esquerdo, uma manga de tribais ia até o meio do braço, diversos desenhos se emaranhavam, formando um horizonte com um sol nascente e um dragão e um corpo humano, sobrepostos, dentro do astro. No outro braço, a tatuagem de um dragão descia em espiral, e onde as garras penetravam a carne haviam sido tatuadas feridas com gotas de sangue escorrendo, a cabeça do dragão negro repousava sobre seu ombro e o rabo se emaranhava até seu pulso.
 

- Ei, isso é muito bonito. – Ela disse, girando o corpo para ver melhor.
 

Ele não respondeu, apenas sorriu, enquanto tirava a camisa regata deixando à mostra o corpo definido.
 

- Nada? – Ele perguntou antes de pular no lago, molhando a calça que usava.
 

- Isso conta como pergunta. – ela gritou para o rapaz que nadava e, ao ouvir sua voz, se aproximou lentamente, com uma cara de tristonho e apenas os olhos fora da água. – Eu sei nadar, eu não vou nadar. Ao menos, não agora.
 

Ela cruzou os braços por baixo do queixo, vendo o rapaz se aproximar, ficando bem próximo.
 

- Então hoje à noite, longe dos olhares de todos, aqui, nesse mesmo lugar, meia-noite, que tal?
 

- Ainda é a minha vez, lembre-se disso. – Arqueou a sobrancelha com um sorriso fino. – Como você conseguiu essa cicatriz?
 

Ele cruzou os braços e ficou na mesma posição que ela, com o queixo apoiado nos braços, perto. Eu disse o quão perigosamente próximo era? Não? Bem, era bastante assim.
 

- Eu briguei com uma pessoa, a Pessoa número 1, porque era apaixonado por uma Pessoa número 2 e, bem, essa Pessoa número 1 não gostava muito da ideia, então houve um momento que a gente decidiu definir isso na espada. Pessoa número 1 vence de Blake por 1x0. E aí? Eu, você, hoje à noite, meia-noite, aqui?
 

A garota sorriu, a resposta era não menos sincera do que ela esperava e não mais confusa do que ela tinha esperança. Justo.
 

Levantou-se e afastou-se um pouco.
 

- Estarei aqui. Lembre-se de que a pergunta é minha.
 

Ela piscou, jogando a mochila sobre o ombro e afastando-se em direção ao castelo.
 

Estava longe quando ele se virou, deitando a cabeça fora da água enquanto submergia o corpo um pouco mais. Quem é ela? Ele ainda não havia definido isso. Mas sabia uma coisa. O cheiro de Peter nela era inconfundível.
 

- Isso vai ser interessante. – Ele nadou cada vez mais em direção ao fundo. Depois esqueceu que estava entediado.
 

Meia-noite em ponto.
 

...
 

Ele estava encostado na porta quando ela passou. Sorria cinicamente, como sempre, e não fez maior movimento do que uma torção de nariz quando ela atravessou despreocupada, com um rápido “olá Peter”.
 

- Você não toma banho? – Ele disse, seguindo-a de perto, com os braços cruzados em frente ao peito. – Sério, você está cheirando a lixo molhado.
 

Ela parou e virou-se, seu rosto impassível.
 

- Eu estava presa na enfermaria, Peter, você esperava algo melhor?
 

Ele virou a cabeça, olhando a parede e voltando para ela.
 

- Aprendeu sua lição? Eu não sou alguém com quem você quer mexer. Irrite-se comigo, me esqueça, se possível.
 

Ela voltou a andar, ignorando-o por um momento e parando passos depois, virando-se para ele e dizendo, um pouco mais alto para que ele escutasse:
 

- Eu fiz aquilo por Gina, não por você, na verdade, não tinha NADA a ver com você. – virou-se mais uma vez, mas voltou a olhá-lo. – E eu não me arrependo de nada, Peter. Nada.
 

Certo, aquilo era novo. A irritantezinha tinha garrinhas, estavam crescendo, mas ela tinha. Isso prometia ser interessante. Mas então porque era irritante que ela não o estivesse irritando?
 

Bah, esqueça isso.
 

Maleficarum, ainda tinha de encontrá-lo. Saiu andando na direção contrária à garota, no momento em que parecia ter pensado em uma resposta perfeita. Queria encontra-la apenas para dizê-la.
 

Outra hora eu baixo a bola dela. Agora, trabalho. Dominar o mundo e tudo o mais.
 

Dirigiu-se para a biblioteca, mais uma vez.
 

...
Katherine pretendia não sair do quarto até que a poção estivesse pronta, o que poderia levar algum tempo, mas aguentava esperar, a mistura já cheirava bem. Se é que SEXO cheira bem.
 

A questão é que suas outras amigas eram irritantes demais para que ela conseguisse trabalhar durante tempo o bastante pra avançar mais que dois passos na poção do James.
 

- Garotas! – Ela gritou determinado momento da noite anterior, quando elas estavam especialmente pululantes na sua cama. – Isso é uma poção importante que eu estou fazendo aqui, todo cuidado é necessário.
 

Hermione deu uma fungada no caldeirão que espirrava uma fumaça vermelha e forte.
 

- Kate, eu não sei o que você está fazendo, mas vai acabar te matando, aí tem pelo menos sete ingredientes do Veneno de Bétula. Quem você quer matar?
 

...de tesão? Ela riu.
 

- Não é veneno, não se preocupe, é só uma brincadeira, vocês vão gostar. – e continuou a trabalhar
 

Mas agora ela estava deixando a poção descansar, a receita dizia que deveria esperar três dias até o próximo passo, e isso seria um sacrifício, precisava ver a poção em ação logo.
 

- Você está avoada. – Harry disse, cutucando seu nariz.
 

- E você preocupado. – Ela pôs a mão dele sobre a testa dela.
 

Eles estavam no Salão Comunal, Harry sentado na ponta do sofá com Katherine deitada em seu colo. Hermione perdia seu quarto jogo para Rony e Gina estava deitada perto da lareira com metade da roupa autorizada nos corredores. Vestia uma camiseta listrada laranja e branca e uma jeans rasgada nos joelhos.
 

- Ela sumiu! – Harry explodiu em algum momento, levantando a varinha. – Accio Monique McFusty.
 

Todos riram.
 

- Oi, ouvi meu nome por aí.
 

Todos se viraram enquanto Monique entrava e se dirigia ao quarto feminino para o banho que merecia, sempre acompanhando os amigos com seu sorriso simpático.
 

- Assustador, ela apareceu mesmo. – Rony deixou cair um peão da mesa.
 

- Ei, ei, ei mocinha, espera. – Gina pulou por cima do sofá onde Katherine estava deitada e se pôs entre a amiga e o dormitório. – Explicações, por favor.
 

Katherine levantou-se de supetão.
 

- Como você... – Sentiu o cheiro que emanava da garota. – Passou a cheirar assim?
 

- Sério, Kate? – Harry estava de joelhos no sofá, olhando para as três garotas juntas. – Ela desaparece e a única coisa que você pergunta é do cheiro dela? Você me impressiona.
 

Estirou a língua para ela, o que ela retribuiu de mesma forma.
 

- Não, sério, onde você estava? – Harry puxou a garota, que se encostou ao sofá para que ele pudesse dar um abraço. – Não te vimos de manhã, na aula do seu pai.
 

Ela assentiu, retribuindo o abraço com carinho.
 

- Estava no jardim. Acabei me atrasando, e, já que tinha perdido a aula, fiquei por lá. – ela deu um beijo rápido na cabeça de Harry. – Mas sério, tenho que tomar um banho depois dessa noite na enfermaria, peço licença para sair, volto em cinco minutinhos.
 

Katherine assentiu, como quem concorda. Sim, vá tirar essa nhaca de dragão de você, garota. Não era problema que ela tivesse andado com dragões, seria o de menos, mas ESSE em específico poderia gerar confusão.
 

Blake, Blake, Blake, no que você tá nos metendo?
 

Monique subiu as escadas dando mais uma olhadela com seus olhos castanhos pelas janelas, em direção ao lago. Meia-noite.
 

- Alguém sabe o que deu nessa menina? – Hermione deixou o jogo de lado, já havia previsto que perderia há três rodadas. – Ela dá meias respostas e vocês caem.
 

Todos a olharam meio incrédulos, ao que a garota suspirou, lançando uma bufada e levantando-se.
 

- Raciocinem, crianças. – Disse, dirigindo-se ao retrato da mulher gorda. – Vou continuar minhas pesquisas de classe, Harry, você vem comigo?
 

O rapaz lançou-lhe um olhar entendedor.
 

- Não, hoje eu vou fazer minhas lições aqui. – Segurou a mão de Katherine, puxando-a para perto. – Você me ajuda?
 

- Não, claro que não. – Ela zombou. – Vai, eu ajudo sim, vai pegar seus cadernos.
 

O garoto se levantou e saiu, subindo ao dormitório.
...
 
O vento era frio à meia-noite, mas ele estava esperando-a exatamente no mesmo lugar em que deixara o pedido, na ponta do píer onde Hagrid ancorava seus barquinhos, estava de costas, com as mãos apertando-se atrás da cintura. Vestia uma calça jeans comum e um tênis trouxa. A camisa social preta estava dobrada até acima do cotovelo, deixando à mostra a parte inferior do dragão em seu braço direito.
 

Ela aproximou-se, usando um vestido leve e branco, braços nus, a alça sobre os ombros e, por baixo disso, um traje de banho para o caso de ele decidir alguma loucura.
 

- Você está linda. – ele disse, sem se virar.
 

- Nada mal, mas você teria melhor certeza caso se virasse. – Ela parou ao lado dele.
 

- Eu não erraria essa sentença independente do que você escolhesse vestir. – ele ficou virado para ela, colocando uma mão em seu cotovelo. Afundando seus olhos amarelos nos negros dela. – Pronta?
 

Ela riu e balançou a cabeça.
 

- A pergunta é minha, senhor Makkarios.
 

Ele levou a mão à boca e fingiu fechar um zíper sobre ela, apontando para algum lugar atrás dela.
 

Quando a garota se virou, ele segurou sua cintura, encostando a cabeça em seu ombro, apontando para um barco que estava ancorado ao píer.
 

- Não tinha cavalo branco na liquidação. – Ele sorriu, sussurrando em seu ouvido com a boca tão perto de sua orelha que ela sentia arrepios.
 

Deixando-a, o que por um instante foi, para ela, infeliz, ele desceu até o pequeno barco a remo que ali estava, tomando cuidado para que não virasse, embora o balanço ameaçasse.
 

- Confie em mim. – ele estendeu a mão para que ela se segurasse e, com ele, entrasse no barco. – Por favor.
 

A garota suspirou, sorrindo e dando-lhe a mão, descendo não tão graciosamente ao barco.
 

- Eu não vou deixar você cair. – Sem deixar de segurá-la pela cintura, ele desamarrou o barco do píer.
 

Era um simples barco a remo, dois bancos, lugares para duas pessoas, o maldito tinha pensado em tudo. Ele retirou os remos de debaixo dos assentos e os pôs em posição de remar, e assim o fez. Levando-os para longe da margem, sem nada falar, apenas observando-a.
 

Os músculos do braço do rapaz eram também definidos, como todo o resto do maldito corpo dele. Monique começava a pensar que ele era uma máquina no que fazia e que fazia muito bem. Bem demais. Não ia negar que havia sim pensado nele. Mas achava que ele estava se adiantando, e isso era engraçado. O bastante para ela rir.
 

- Você ainda não fez sua nova pergunta. Se você quiser pular, eu tenho ótimas ideias do que te perguntar.
 

Ambos riram e a garota olhou o lago tremular embaixo do barco, a calma, o frio, os arrepios de seu corpo, que já não sabia pelo que eram causados. Talvez pela atração magnética que o rapaz exercia ou pela noite fria.
 

- Qual a sua idade? – Ela perguntou, cruzando as pernas e apoiando o queixo nas mãos.
 

Ele remou com um pouco mais de força, aproximando-os do centro do lago, seus braços torneados agora possuíam veias pulsando pelo esforço repetido.
 

- Parei de contar depois dos 1500. – ele sorriu divertido. – Nem pareço tão novo assim, suponho. Peter Draconiam, você o conhece? – Nesse momento, soltou os remos e os colocou novamente no barco.
 

- Sim, conheço. – Ela se apresentou impassível, mas por baixo dessa expressão ele viu algo mais.
 

Estavam agora no centro do lago, as águas calmas rodeando-os, o frio da noite vinha junto com o vento, ao longe as árvores balançavam e o castelo, em meio a tudo isso tinha algum tipo especial de brilho, que o tornava iluminado, mesmo na noite sem lua que cobria suas cabeças.
 

- É lindo aqui. – ela disse, olhando ao redor.
 

- Fico feliz que goste. – Ele sorriu e recostou-se na lateral do barco, colocando uma mão na água e depois molhando o cabelo, a água escorreu pelo seu pescoço, molhando levemente a camisa. – Sirva-se de uma pergunta.
 

Ela pensou um pouco.
 

- De onde você conhece Peter Draconiam? – perguntou por fim.
 

- Foi ele quem fez essa cicatriz. Meio óbvio quando se conhece os dois indivíduos envolvidos. Minha vez, deixe-me ver. – Pensou por um instante. – Eles sabem da sua condição draconiana? Fica meio óbvio quando eu estou assim tão perto de você, sem contar que é mais complicado para eles entenderem algo que não vibra na mesma sintonia que eles, que são puro sangue, já nós, somos quase que únicos, temos uma sintonia própria. Eles sabem? Em especial, Katherine sabe?
 

Ela balançou a cabeça.
 

- Não sei, eu não contei. Se eles notaram, é diferente, não posso afirmar. Eles não podem saber que você está aqui, certo?
 

- Não, eu tenho ordens. Ninguém deve desconfiar que estou aqui. Não quer dizer que eu não tenha dado meus deslizes. – Ele revirou os olhos e abraçou os joelhos. – Kate me viu. Enfim, a resposta para sua pergunta é não, não podem. Eu posso confiar em você pra mentir pro Peter quanto a isso?
 

- Se for necessário, ele não saberá por mim.
 

- Eu confio em você.
 

E ficou quieto, os olhos esquadrinhando a água de forma melancólica, como se as palavras fossem fugidas de sua boca, como que tivesse uma vergonha escondida quanto a isso.
 

- E pode. – ela sorri, reafirmando a sentença.
 

Uma coruja piou em algum lugar, branca como a neve.
 

- Água. – Ele disse, desabotoando a camisa social. – Você me deve. – ele levantou-se, jogando a camisa no chão do barco, ficando seminu, e como diabos parecia que ele gostava de ficar daquele jeito. Retirou a calça, ficando com um short de praia azul por baixo. Monique percebeu que, ao redor do pescoço dele, um colar caia por sobre o peito, mas não teve tempo de ver exatamente o que era o pingente, pois o rapaz jogou-se no Lago Negro antes que ela tivesse tempo para ver qualquer outra coisa.
 

A garota esperou, o rapaz nadava e a olhava com um sorriso feliz que só uma criança poderia desferir.
 

- Você me deve. – Ele lembrou-lhe.
 

Ela levantou-se, ficando de costas para ele e tirando o vestido, deixando á mostra, em um traje de banho composto, seu corpo bem torneado, de curvas belas e suaves, e ficando ruborizada com a exposição.
 

- WOW. – ele brincou. – Belas tatuagens, branquela. Vem, entra logo, a água tá ótima!
 

Ela olhou para ele, ainda corada, e o rapaz parecia realmente divertido, sinceramente, parecia uma criança divertida, mas ela não era boba o bastante para acreditar que aquilo duraria muito além do momento em que mergulhasse. A pergunta era: ela se importaria?
 

- Mais tatuagens? Você deveria ser publicada em alguma revista em quadrinhos, sabe? – Ele riu.
 

Ela balançou a cabeça, rindo.
 

- Besta. – E pulou na água com a habilidade de quem praticava atividades físicas.
 

A água era extremamente fria, extremamente, mas quando Blake aproximou-se e segurou-a, esqueceu-se disso. O corpo quente do rapaz parecia transferir calor a todas as moléculas ao redor, como Peter, quando caíra por cima dela na sala do terceiro andar. Mas, diferente de Peter, que parecia de fato queimar, Blake apenas era... Aconchegante? Preferiu não pensar muito. No fim, quem estava no direito da pergunta era ele.
 

Ele nadava ao redor dela e conversavam sobre besteiras: onde foram criados, hobbys, amigos... O rapaz sempre se preocupava em não tocar muito no assunto Draconiam, mas explicou que quando ela estivesse pronta, diria tudo que fosse necessário. Ele brincava, perseguiam-se e jogavam água um no outro. Ficaram uma hora, aproximadamente, nisso, estreitando um laço que, embora Blake fosse inteligente o bastante pra não forçar, Monique ainda não entendia bem.
 

- Vamos? – Ele perguntou em algum momento, segurando-a pela cintura, aproximando-a de si. – Acho que está na hora de você dormir, ou não vai acordar para a aula amanhã.
 

- Não teria como concordar muito mais. – E sorriu.
 

- Ok, espera. – ele subiu no barco, sentando-se e depois se levantando, para ajudá-la, o que não foi muito difícil. – Vista-se, vou deixar você na margem.
 

Ela vestiu-se. Não podia definir se o rapaz estava resignado a aceitar o que ela ditara, ou se aquilo que via por baixo das expressões dele era frustração. De uma forma ou de outra, ele deixou-a novamente no píer, já vestida.
 

- Obrigado, foi divertido. – ela disse.
 

- Disponha. - ele disse - Estou na Sala Precisa, se precisar de mim, ou apenas chame, eu apareço. Ultimamente o tédio me faz ouvir meus próprios pensamentos em voz alta.
 

E por uma última vez naquele dia, Monique McFusty sorriu enquanto via o barco se afastar em direção ao centro do lago e sumir, em algum momento, ao longe.
 

...

Outra fanart, presente de nossa amiga e fã, Clari Cabral:

 

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