Porta para o Inferno

A relva molhada sob seus pés definhava à medida que atravessava a clareira, aproximando-se das árvores mal espaçadas que beiravam o pequeno acampamento.

As roupas de couro que vestia eram próprias para a batalha, mas o frio intenso que acometia a noite, agora que o inverno se aproximava, parecia não se importar com as barreiras artificiais que ele impunha entre sua pele e o ar fresco lá fora.

- Sem sono? – Lux aproximou-se, saindo das sombras que cobriam seu rosto.

Demétrius tocou-a no ombro, sorrindo.

- Sem sono algum, minha cara. – Esquadrinhou o rosto da morena, seu cabelo encaracolado descendo pelos ombros, a pele escura oleada da garota refletia as lâminas de lua que tocavam sua pele, tornando-a brilhante ao anoitecer. – Pensei em fazer uma visita a uma velha amiga.

A negra desvencilhou-se do toque dele, segurando seu braço e apertando com força, enquanto jogava de lado o arco e a aljava que carregava, as flechas caindo aos solavancos no chão. Fitou os olhos vermelhos sobre o rosto do rapaz.

- Você tem problemas com nostalgia, sabia? – Ela beijou-o nos lábios rapidamente, seus olhos descendo pelo corpo do rapaz. – Fique, estou com frio, esquentemos um ao outro.

Ele balançou a cabeça. Seria difícil para a garota entender que nada eram, além de amigos? Lux sempre fora apaixonada pelo irmão do rapaz, tinham tido diversos casos, e seus temperamentos e gostos eram extremamente parecidos. Desde que Peter se fora, ela voltara os olhos para Demétrius, idealizando no rapaz uma nova paixão, ardente como o ferro em brasa.

- A minha amiga ficaria decepcionada se eu não a visitasse hoje. – Ele afastou-a gentilmente, abrindo espaço até a árvore. – Sinto muito, pequena, eu não sou aquele que procura.

Ela abaixou a cabeça e suspirou, chamas vermelhas como sangue esquentaram seu corpo enquanto transformavam a grama em cinzas à medida que desciam por sua boca.

- Não precisa ser, precisava apenas fingir que o é. – Ela balbuciou, enquanto o rapaz riscava a árvore com a unha do dedo indicador.

Demétrius recostou-se, deixando que a casca arranhasse suas costas enquanto se deixava cair e espreguiçar-se na grama. A sensação do verde entre seus dedos quando se apoiou, a terra tocando suas extremidades, sujando suas roupas, enquanto suas costas estalavam ante ao pouco esforço que vinha fazendo. Encostou a cabeça na árvore, sentindo os raios de sol tentarem alcançar sua pele por entre as nuvens.

Aspirou o cheiro do fim do outono, o marrom das árvores nuas, a neve que cairia e os sons dos movimentos sutis dos animais viventes ao seu redor. O crepitar da chama embalou-o de longe.

- Fique com o próximo turno de vigília. – Ele disse à garota que se sentara próxima as chamas. – Eu posso vir a demorar. – E fechou os olhos.

A garota bufou, esticando as mãos para as chamas, deixando-as lamber seus dedos e brincar pelo seu braço.

- Vá dormir, ainda estarei aqui quando acordar. – E virou-se, uma adaga em mãos, em estado de vigília.

... 

- Eu esperava você mais tarde. Muito mais tarde, mas não tão tarde. – A garota estava deitada em um divã de mármore com um colchão por sobre. Seu olhar vagava pelas estrelas, o céu aberto acima de suas cabeças. Sua mão direita repousava sobre os seios desnudos, de modo a guardar o pudor, enquanto sua mão esquerda segurava uma taça de prata. – Néctar?

Ele balançou a cabeça negativamente.

- Gostei do que fez com o lugar. – Olhou ao redor, reparando nas colunas coríntias que se espalhavam pelo átrio da ágora em que se encontravam. Ao longe as montanhas que separavam os Elíseos do restante do Hades eram nada mais que simples sombras no horizonte. Ao lado dela e à frente dele, um lago incrustado no piso de mármore branco se estendia, mantendo distância entre os dois. – Me lembra de casa.

Ela olhou-o, e, embora seus lábios parecessem apáticos, seus olhos sorriam, com todas as variadas cores que podiam ter. Demétrius segurou o ar para não perdê-lo. Os olhos dela. Dois berilos furta-cores cravados na pele leitosa. Quando viva, seus olhos mudavam a cor de acordo com a iluminação e o ambiente. Ali, eram como se todas as cores dançassem numa dança perfeita. Com e sem cores ao mesmo tempo.

- É um prazer revê-lo, Demy. – A garota levantou-se de seu descanso, a túnica que vestia caiu pelo seu corpo, como se não houvesse atrito ali. Ela ficou seminua, apenas amarrada pela cintura, embora a transparência do tecido tornasse-o quase inútil.

O rapaz assentiu, enquanto ela circundava o lago, aproximando-se dele com o braço a cobrir os seios, os cabelos morenos e ondulados caindo por sobre os ombros, cheios. Ela tomou o último gole de sua taça, jogando-a no lago, onde afundou.

- Você parece bem. Como está? – Ele perguntou, andando a meio passo em sua direção.

Ela maneou a cabeça como que ponderando.

- Eu estou morta. É isso que importa. – Encontraram-se, ela abaixou o braço, revelando os seios fartos. – E você? Além de confuso, preocupado e temeroso? – Ela maneou rapidamente a mão, em direção a poltronas de veludo negro que não estavam ali, anteriormente.

O rapaz sentou-se, o veludo roçando sua pele exposta dava-lhe comichões, mas ele ainda assim tentou parecer o mais confortável possível. Inútil.

- Você sabe.

- Sim, sei. – Sentou-se também, cruzando as pernas torneadas. – Mas se você quiser manter uma conversa, ignore esse fato.

Ele riu, encostando os braços nos apoios do cadeirão.

- O mundo está em uma guerra iminente e Peter é o maior problema, como sempre. – Ele respirou fundo. – O Maleficarum é a razão de tudo e o Ministério Bruxo já está pensando em se meter.

Ela assentiu, indicando que o rapaz deveria prosseguir.

- Fudge, o atual ministro, ele não sabe da operação que está sendo montada pelos assessores internos, que possuem mais informações, eles o ludibriam a apenas assinar contratos com Ordens Mercenárias, enquanto os Caçadores estão junto com Voldemort e meu pai mantém apenas uma trégua sadia com ele.

Ela estendeu a mão, a qual o rapaz segurou. Ela estava fria, mas a pele sedosa ainda mantinha o mesmo aroma de maçã que ele se lembrava. Ela roçou os dedos em seu pulso, sentindo na veia dele o sangue correr, ao contrário do dela, coagulado dentro de seu corpo. Ela pode não ter mudado fisicamente, mas seu coração não bate e seus sentimentos caíram por terra.

- E você, meu caro, de que lado está? – Era difícil encarar os olhos dela, assim daquela forma, o roxo passava para amarelo e para verde enquanto ele tentava se focar.

Então, de que lado estava? Se ao menos soubesse, poderia dar uma resposta possível. Mas esses últimos dias ele vinha repensando se queria estar onde estava, se era aquilo que deveria fazer. Sabia que não queria precisar lutar, sabia que se fizesse, estaria pondo vidas inocentes em risco. Ele não admitia isso, mas não tinha opção.

- Não tenho que ter lado. Estou apenas servindo meu pai.

A garota afastou a mão dela da dele, de forma ríspida.

- E foi por isso que eu escolhi seu irmão.

E eu, o que escolhi? Tentava se convencer. Não admitia as ordens de seu pai e se enganava dizendo que não tinha escolha. Eu escolhi ser submisso.

- Sim, escolheu sim. – A garota sorriu, como se a sua indecisão fosse engraçada. – Eu estou aqui para te ajudar, Demy, conversemos.

O rapaz esfregou as mãos. Então é isso. Estava ficando frio, como se até no Hades o inverno pudesse segui-lo.

- Me diga novamente a profecia. – Ele olhou para seu rosto, sem deixar de delinear o corpo seminu. Os olhos dela não desgrudaram dos seus. – Me diga novamente como eu vou morrer.

Ela procurou uma posição mais confortável naquela poltrona, deitando-se no braço, fixando os olhos em algum lugar além dele.

- Dragão tolo. – ela sussurrou. – Não confirmo sua teoria. Quando era viva eu disse: das partes gêmeas uma morrerá, pela espada do espelho, sangrará até a morte. Você ou Peter, não me faz diferença, belas companhias serão minhas, aqui.

Ele balançou a cabeça, resignado. Como era fácil para ela. Sim, estava morta, mas parecia que tinha morrido por dentro também. A garota fora assim, em vida, mas tinha um sorriso, um calor na alma. Talvez aquele frio que os cercava não fosse apenas o inverno.

- Tudo é tão simples para você, tão efêmero.

Ela levantou-se, aproximando seus corpos, sentando em seu colo, suas bochechas se tocaram enquanto ela sussurrava em seu ouvido:

- Eu estou morta. – Beijou-lhe o lóbulo. – Tudo que poderia passar, já está terminado. Tudo foi efêmero. Já não importa, apenas o aqui e o agora. Todas as oportunidades me devem ser aproveitadas. Quem é você, Demétrius Draconiam? Um servo de seu pai? Um homem com medo de seu próprio destino? Deixe-me lembrá-lo de algo, você não pode evitá-lo. Tem medo disso? Não tema, no fim, não dói, não é injusto e não é seletivo. Você é aquilo que faz, quem escolhe ser. Seu destino é feito de suas escolhas, o fim está acertado, mas quais serão seus caminhos para chegar até ele? Decida por si só, são respostas que só você pode dar.

Descendo do colo dele, caminhou vagarosamente para a beira do lago, seu corpo maneando voluptuosamente.

- Vá embora, Demétrius. – Ela disse, suas mãos agilmente desfazendo-se da túnica, deixando-a nua. – Não há mais nada para você aqui. – Deu um passo adentro da água.

Demétrius aproximou-se rapidamente dela.

- Você ainda o ama? – Perguntou, à beira do lago. – Você ainda o quer?

Ela parou, abaixou-se e apanhou um punhado d’água. Levantando-a acima de sua cabeça, deixou que caísse pelo corpo, molhando os cabelos, a pele, a boca.

- Desejar e amar são dois sentimentos diferentes. Eu alimento o amor que sentia por ele a cada dia, com a intenção de nunca deixá-lo morrer. Não o culpo pela minha morte, sabia que aconteceria e deixei que ocorresse, ele precisava disso, precisava que fosse daquela forma. Não se iluda ao acreditar que eu o odiaria por aquilo, ele fez a escolha dele, eu fiz a minha, sou tão culpada da minha morte quanto ele. – Ela virou-se, seu corpo nu era uma escultura, branco como mármore à luz da lua, agora que jazia no submundo, mas, ainda assim, macio como sempre foi. – Quanto ao desejo... Responda-me você se eu o desejo. Assim pareço?

Ela abriu os braços, como que em total entrega. Demétrius se permitiu olhá-la, senti-la de longe, decorar cada pedaço dela, desejá-la. Deu mais um passo, afundando sua bota na água fria e mais um segundo e um terceiro. Estou louco? Quatro passos foram o bastante. Com a água em seus joelhos estava frente de frente à garota.

Ela respirava debilmente, ainda um reflexo do que fora em vida.

- Você tem razão. – Ele deu dois passos para trás. – Eu não tenho mais nada a ver aqui. – E virou-se, ouvindo o som da garota se afundando no lago e, em sua mente, ela sorria. Por cima do ombro gritou, embora não precisasse: - Até mais, Temíscira. Que os bons guardiões a protejam.

- Espero você aqui. Sei que nos veremos novamente. Mas será cedo ou tarde? – E se calou.

Esqueça. Ele fechou os olhos e quando abrisse estaria novamente na clareira, longe do Hades e da tentação. Eu não sou meu irmão, não posso fingir sê-lo.

E não era.

No fim, apenas um dos dois poderia ficar vivo. 

...

- Milord. – Lucius Ajoelhou-se, Voldemort avaliou o rosto do seu lacaio. – O acordo foi completado. Meu filho não mais é uma arma contra nós. O dragão cumpriu o trato.

- Enfim. – Lord Voldemort sussurrou, estendendo o que se aproximaria de um sorriso em seu rosto deformado. O rapaz era uma ameaça enquanto possuísse uma ligação com o Draconiam. – Foi melhor assim, Lucius, seu filho ainda me será útil, perder uma peça assim, bruscamente, não seria interessante.

Malfoy assentiu. Sua mulher debulhara-se em lágrimas no momento em que o Lorde das Trevas sugeriu o assassinato do garoto. “Não há outra escolha... O rapaz morre”. Ainda sentia calafrios quando ouvia em sua mente o sibilar de Nagini.

Tentara fugir. Se afastar do filho parecia o bastante pra impedir que informações fossem repassadas. Mas era inútil. Enquanto o rapaz tivesse lembranças, Peter Draconiam poderia alcançá-lo. Foi o que fez, poucos dias antes, enquanto o comensal tentava iludir o Ministro.

- Senhor, grupos de comensais, que acreditam na volta do Lorde das Trevas estão cada vez mais próximos de Londres. – Dissera ele, numa reunião. – Você conhece-me, o rapaz infiltrado fala de ataques ao mundo trouxa, com força total. É inegável que não podemos deixar isso prosseguir.

O Ministro parecia inquieto. Andava de um lado para o outro no gabinete. Reunira seus conselheiros, assessores e todos que pudessem lidar com aquela conturbação que parecia assolar o mundo bruxo.

- Aquele-que-não-deve-ser-Nomeado não está de volta, senhor Malfoy! – disse a gorda com cara de sapo à esquerda do Ministro. – Acreditar nesse movimento infantil de grupos pseudo-terroristas é dar crédito ao falatório que vem conturbando a população.

Lucius suspirou, olhando cada um dos presentes delicadamente, até parar na Secretária Sênior, Dolores Umbridge.

- Você-Sabe-Quem pode não estar de volta, Dolores, mas seus lacaios estão à solta. Não sei se lembra, mas, recentemente, houve uma fuga prodigiosa de Azakaban. Engano-me?

A mulher pigarreou, ou, em sua concepção, soltou um risinho.

- Mas é claro que não. – Aqui ela rearrumou o bule de chá rosa à sua frente, girando-o 360 graus. – Devo lembrá-lo, Lucius, que temos aurores caçando esses medonhos seres?

Malfoy levantou uma sobrancelha.

- Lembrar-me? Eu sugeri que o fizessem. Ministro, o que quero dizer, embora a senhora Umbridge esteja se esforçando em não deixar, é: Com os aurores atrás da escória, Londres e outras cidades da Bretanha ficam desprotegidas. Vilas foram pilhadas antes que conseguíssemos chegar a dez quilômetros do local, está-se começando a perder fé no ministério.

Dolores Umbridge guinchou como um porco no abate.

- Perdendo-se fé? Como se pode perder fé num homem como o Ministro? Óbvio que deve haver um mal enten...

- Quieta, Dolores! – O ministro enfureceu-se, jogando o punho contra a mesa. – Lucius está certo! Dezenas de pequenos vilarejos foram saqueados e estão se aproximando de Londres. Não importa se Aquele-que-Não-Deve-Ser-Nomeado voltou ou não, o perigo é real! – Acalmando-se, o ministro perguntou: - O que você sugere, Lucius?

O loiro segurou um sorriso, era aqui que ele queria chegar.

- É arriscado e perigoso o que vou sugerir, mas, com o investimento certo, podemos conseguir a lealdade das Ordens Mercenárias. – Ele esperou a reação negativa que veio a seguir. – Acalmem-se. Sem nenhuma ligação com o governo, falei com Mors, líder das Adagas de Cristal.

Um pequeno adendo: as Adagas de Cristal é um grupo de sete bruxos das trevas que se “converteram”. Eles eram acusados de alta traição ao ministério, mas, após um julgamento não completamente justo, o grupo foi absolvido, mediante uma única condição, está sujeito a rastreamento dos aurores. Após a libertação, os sete agora agem na surdina, espiões do ministério, mas não autorizados e com métodos questionáveis. Depois de alguns anos parados, abriram as portas para serviços por encomenda. Qualquer um que possa pagar o preço poderá contratar as Adagas.

- Seria muita irresponsabilidade do ministério se aliar com uma gangue de crimino... – Tentou argumentar a senhora com cara de sapo.

- Supostos criminosos, Dolores. Sim, eles de fato tiveram seus altos e baixos e agiram de formas ilegais antes do julgamento, mas, depois de serem absolvidos, estão sendo rastreados e nenhum indício foi encontrado de que estiverem metidos com atos ilegais. São, sim, uma Ordem Mercenária, mas possuem conhecimentos úteis.

O silêncio pairou na sala. Era absurdo o que Lucius sugeria. Nenhum ministério aprovaria o uso de Ordens Mercenárias em qualquer empreitada que fosse, quanto mais para a proteção de cidades trouxas.

- Lucius, não posso autorizar isso. – O Ministro passou a mão no rosto, cansado. – Não posso fazer a guarda da cidade com mercenários, muito menos arriscar mandá-los atrás dos Comensais. Não poderia garantir sua lealdade de forma alguma.

Convença-o. Precisamos das Ordens. A voz do Lorde ressoou em sua mente. Com as Ordens sobre nosso controle, os dragões se tornam obsoletos, poderemos invadir Hogwarts e encontrar o livro.

Mentalmente, Lucius assentiu. Como milorde desejar.

- Ministro, eu entendo o seu repúdio... – Ele tossiu. – Mas, toda ajuda é bem vinda. Não é de simples alunos que estamos falando. – Use o medo que ele tem de Dumbledore. Use isso, Lucius. – Se você preferir, poderíamos pedir a Dumbledore para...

O Ministro estancou, sua mão apertou com força a mesa, onde se apoiava, sua cabeça baixa. Sussurrou palavras que ninguém ouviu, e levantou o olhar para Malfoy.

- Dumbledore... O perfeito Ministro da Magia. – ele deu uma risada nervosa. – Sim, todos adorariam, salvos por Dumbledore, o homem que derrotou Grindelwald. – Um suspiro foi ouvido pelos presentes. – Você está certo, Lucius, precisamos de toda a força que pudermos.

Umbridge limpou o rosto com um pano rosa. Parecia que ela iria derreter a qualquer momento.

- Ministro, não é pruden... – Começou Douglas Solem, assessor de Interesses Trouxas.

Cornelius lançou-lhe um olhar fulminante.

- Para o inferno com a prudência! Nenhuma das nossas famílias estará a salvo enquanto esses porcos imundos andarem pela Inglaterra. Lucius está certo! Precisamos agir, mas não temos forças. Não disporei de parte de meus aurores para guardar a cidade, eles são necessários na caça dos Comensais. Está decidido. Contate as Ordens, Lucius, mas saiba, elas estão sobre o seu controle, erre apenas uma vez e terei certeza que você não errará mais.

Muito bem, muito bem. Disse o Lorde das Trevas, enquanto ele se distanciava na sala, apressado, seu sobretudo esvoaçando e o sapato social escorregando no chão lustroso. Será magnífi...

E então parou. Como se seu mestre houvesse sido cortado de sua mente, ele não conseguia encontrá-lo. Parou, sentindo um frio incontrolável.

Ele não está aqui. Disse a voz em sua cabeça, um sibilar de lagarto acompanhava os ecos mentais. Você está só. Ordens Mercanárias não vão impedi-los de queimar pelo meu fogo, bruxo.

Lucius sentiu-se fraco por um instante. Saia da minha mente. E tentou forçá-lo, mas era como mover uma montanha: quem se cansava era ele.  SAIA DAÍ!!!!!!

Por enquanto. Disse mais uma vez o dragão, antes que a presença se tornasse névoa. Por enquanto. Permaneceu o eco.

- Está me ouvindo, Lucius? – Perguntou Lord Voldemort, trazendo-o de volta para o presente. – Ou prefere ignorar minha ordens, Malfoy?

O bruxo passou a mão no rosto, limpando o suor que escorria de sua testa.

- Mil descul... – Começou Lucius.

O Lorde das Trevas maneou a mão, mandando-o calar-se.

- Leve o Greyback com você, faça-o útil. Coloquem o Sektor contra a parede, aquele meio sangue nojento ainda não moveu os bruxos para a escócia. Precisamos assegurar que nosso refúgio ainda está seguro. Na volta, descubra se os homens que temos nos limites de Londres estão prontos e comprados, vamos precisar que alguns homens vão ao Beco Diagonal.

Lucius fez uma reverência, virando-se para a saída e andando imponente. Ele seria altivo, seria imponente e seria poderoso. Mas jamais esqueceria as palavras que ecoavam no seu inconsciente como o sibilar de uma cobra.

Por enquanto.

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