O diário de Lilian Evans!
Harry não podia acreditar no que tinha em suas mãos. Um diário. O diário de sua mãe. Bem, como Sirius mesmo havia especificado, não era "o diário", mas algumas partes dele. O que passava na cabeça de Sirius por não ter contato a ele antes? Por toda a sua vida, jamais soubera de seus pais. Por onze anos acreditara ter saído vivo de um acidente de carro. Subitamente, ele então descobriu que seus pais eram bruxos, assim como ele, mortos pelo maior bruxo das Trevas de todos os tempos.
Não se lembrava deles. Suas lembranças de resumiam ao álbum de fotos que guardava sempre com ele, presente de Harry em seu primeiro ano em Hogwarts. Desde então, alguns casos fortuitos o fizeram deparar com lembranças vivas de seus pais. Primeiro o espelho de Ojesed, depois a ligação entre sua varinha e de Voldemort e por último a imagem na Penseira de Snape. Era mais do que ele achasse possível conhecer devido a tantos segredos que ele sabia que guardavam dele. E, então, sem nunca imaginar que fosse possível, tinha em suas mãos aquele que Sirius intitulara "O Diário de Lílian Potter". Tudo o que sua mãe pensara, escrevera, achara, sentira, estava ali. Ou melhor, quase tudo! Uma explosiva raiva invadiu seu peito. Ele não estava completo. Não passava de folhas de pergaminhos destacadas e unidas novamente com um novo feitiço.
Desejou que Sirius estivesse ao seu lado. Com certeza lhe ralharia por não entregá-lo o diário por inteiro. Não que essa fosse a única razão que fosse querer a sua presença. Imaginou-se sentado junto a ele e o professor Lupin para que pudessem comentar cada momento registrado nas páginas. Mas Sirius não estava ali e Lupin havia deixado-o sozinho para que pudesse desfrutar desse momento. Harry imaginou que ele pudesse se sentir intruso, já que era Sirius que deveria estar ali e não ele. Seria um momento perfeito, infelizmente, impossível de acontecer.
Muito tempo se passou até que Harry tivesse realmente coragem de seguir a página. Até então, continuava a encarar a letra quase indecifrável de Sirius. Quando finalmente conseguiu vencer a inundação de pensamentos que o invadiram, Harry partiu para o pergaminho seguinte. Dessa vez, o garrancho do padrinho deu lugar a uma letra que não conhecia. Delicadamente bela, feita com visível cuidado. Percebeu com entusiasmo que se tratava da letra de sua mãe.
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25 de Dezembro de 1972
Como começar a escrever em um diário? "Querido Diário?". Isso me faz lembrar meu primeiro diário, aos nove anos de idade. Um caderninho que ganhei de aniversário da minha mãe. Eu o matinha trancado à chave por causa da abelhuda da minha irmã, mas não demorou muito até que ela pegasse as ferramentas que meu pai guardava na garagem e assassinasse o cadeado. Não sobrou muita coisa. Não que eu tivesse algo a esconder, mas, depois daquilo, nunca mais me atrevi a escrever uma só palavra nele.
Como o primeiro diário, esse eu também ganhei de presente. Marlenne me deu de natal. Aliás, hoje é Natal e há pouco voltei do banquete. Depois de dois anos voltando para casa fielmente para o feriado de fim de ano, eu aprendi que encontrar Petúnia durante as férias de verão, no final do ano letivo, era suficiente. Ela não é o modelo de irmã. Aliás, ainda me surpreendo por ainda chamá-la de irmã. Petúnia é simplesmente o oposto da minha pessoa e tem uma terrível aversão ao que sou hoje. Por mais que eu sinta falta de estar com meus pais nessa época do ano, ter que aturar Petúnia resmungar "Aberração" sempre que cruza comigo dentro de casa deixou de ser engraçado. No fundo eu ainda acho que esse comportamento dela é resultado de uma frustração por não ter recebido a carta de Hogwarts assim como eu.
Voltando ao diário, eu o ganhei, como já disse, de Marlenne McKinnon, que, além de dividir o dormitório, é a minha melhor amiga. Ela, como a maioria dos alunos, está passando o feriado com a família. Ao acordar essa manhã, me deparei com seu presente em cima da cama dela junto com um cartão desejando feliz Natal e sugerindo que eu começasse a escrever nele, pois eu precisava descarregar meus sentimentos. O que será que ela quis dizer com isso? Ah, como seu eu não soubesse!
Acho que, depois dessa pequena introdução, cabe agora a minha apresentação. Meu nome é Lílian Evans, tenho 16 anos e estou no sexto ano em Hogwarts. Além dos meus compromissos de aluna, ainda me tornei monitora da minha casa, a Grifinória. Apesar de ter aumentado as minhas responsabilidades, o cargo de monitora passou a me proporcionar momentos de muito prazer. Não que eu seja uma chata que adora sair distribuindo detenções e tirando pontos das casas (a não ser que a história envolva algum sonserino), mas as rondas se tornam extremamente interessantes quando terminam com Potter e Black encarregados de mais uma detenção.
Potter e Black fazem parte de um grupinho chamado por eles próprios de marotos. Vivem aprontando pelos corredores de Hogwarts acumulando detenções diariamente por saírem azarando aqueles que tiverem o azar de cruzar na frente deles em um dia que estejam realmente entediados. Com eles ainda andam Pettigrew e Lupin. Esse último, pasmem, embora membro dos marotos, também se tornou monitor no quinto ano comigo. Imagino que tenha sido uma tática falha de que pudesse impor limites aos amigos. O distintivo que Lupin carrega no peito jamais influenciou nas brincadeiras de Potter e Black e eu imagino que, sempre que os outros escapam de serem pegos aprontando alguma por aí, têm definitivamente a ajudinha do monitor. Porém, se enganam se acreditam que Lupin seja tão encrenqueiro quanto os outros. Apesar de eu saber que ele deve aprontar das suas (afinal de contas ele é um maroto), Lupin é extremamente estudioso e responsável. Black é de uma família puro sangue das mais tradicionais no mundo mágico. Lembro-me bem da confusão que surgiu na cerimônia da seleção de Casas (embora sem entender a razão) quando Black foi designado à Grifinória sendo que nenhum Black jamais saiu da Sonserina. Quanto a Pettigrew, ele é a razão pelo ego inflado de Sirius e Potter. Vive como uma sombra atrás dos outros. Imagino que só tome detenções por andar naquela turma, caso contrário, não imagino que ele se tornasse um problema. E por último, o pior de todos, o mais arrogante, o mais detestável dos marotos: Potter. Tudo nele me soa superficial. O seu sorriso exagerado, a forma incansável de que passa as mãos nos cabelos (como se eles não fossem suficientemente revoltados), a pose com que anda, sempre estufando o peito, sempre que está vestido com o uniforme de quadribol da casa como se fosse o ser mais importante da Terra. Ele é o apanhador do time. Quando Grifinória vence uma partida, (e principalmente quando Potter é a razão por terem vencido), é melhor manter-se numa distância segura de Potter, afinal, ele ainda vai explodir com um ego tão inflado.
Há uns dois anos, Potter e Black descobriram algo mais interessante além de azarar as pessoas. Não que eles tenham abdicado desse último hobby, mas foi por causa dele e da conseqüente fama que criaram dentro de Hogwarts que os dois aprenderam a praticar um novo joguinho e isso inclui 60% das garotas dessa escola. Desde então carregam essa fama de conquistadores, se achando no direito de destruir tantos corações quanto fossem as garotas que encontrassem pela frente. Para minha infelicidade, Potter já tentou me incluir na vasta lista de garotas que ele coleciona. Está certo que eu não aceitei, mas não deixei de apreciar o convite de Potter, afinal, não era sempre que se conseguia deixar o maroto metido com a cara no chão sem que pudesse ao menos disfarçar com seu sorriso, de orelha a orelha, exageradamente irritante. Com muito orgulho posso dizer que devo ter sido a primeira garota na lista de foras de Potter e eu realmente não estaria exagerando se fosse a única. Mas as coisas tenderam a se tornarem extremamente irritantes depois do décimo convite de Potter. Ele ainda está disposto a me riscar da lista de foras dele e acredito que seja esse o motivo de ele atropelar o seu orgulho e insistir, até hoje, que eu saia com ele. Vai sonhando, Potter... vai sonhando!
Eu estou realmente começando a gostar dessa história de escrever em um diário. Não é nada infantil como eu imaginava (Marlenne não pode imaginar que eu tenha tido um pensamento desse ao abrir o seu presente). Posso considerar isso como um tratamento terapêutico. Marlenne estava certa. Eu realmente ando precisando desestressar. Ultimamente tem acontecido uma coisa atrás da outra. Ando tendo que me virar em quantas Lílian exigem. A aluna, a monitora e principalmente a conselheira, função que tenho exercido com bastante freqüência desde que Liza, minha outra amiga com a qual eu divido o dormitório, teve a insânia idéia de aceitar ser o par de Black no último baile de Halloween. Só Merlim sabe o que aquele ser nada confiável deve ter colocado na bebida de Liza para que ela passasse a agir dessa forma. Doía ver como ela se desmanchava sempre que o via com uma nova garota e isso não era nada raro. Aliás, a agilidade com que Sirius e Potter trocam de garota equipara-se à necessidade de se trocar as roupas íntimas diariamente.
Ah, olha só para isso. Primeira vez que escrevo no diário e ele já está infectado com tantos Potter e Black. Será que não consigo levar um assunto sequer sem que me desvie a essas duas figuras? Chega! Recuso-me totalmente a citar esses nomes novamente nessa folha.
Já está ficando tarde. Por essas horas, a Sala Comunal estaria lotada de alunos, mas hoje ela está deserta. Se não me falha a memória, dois ou três alunos da casa permaneceram no castelo assim como eu. Não deixa de ser solitário, mas eu tive a oportunidade de atualizar algumas leituras pendentes e adiantar a maioria das lições. Felizmente, nessa época do ano eu fico livre dos relatórios da monitoria, afinal, não há muito o que se aprontar nesse castelo deserto. Ou melhor, não há quem apronte por aqui. Essa paz só se estende até amanhã, quando, no final da tarde, os alunos voltarem de suas breves férias e, antes que eu comece a falar que meu sossego estará em risco com a presença dos marotos de volta a Hogwarts, prefiro parar por aqui, pois, como já havia dito, está ficando bastante repetitivo o rumo que tomam os meus assuntos.
...
"E essa era a Lílian. Eu imaginava que, de início, ela não era muito fã minha e de Tiago, mas eu jamais podia imaginar que causávamos tanto efeito nela desde cedo. Queria ver como Lily se sentia ao ler essas mesmas palavras que escrevera tanto tempo atrás. Conhecendo ela, deveria se morder de raiva por ter se contradizer tanto nessa vida, afinal, ela se casou com o "mais arrogante, o mais detestável dos marotos". Eu me lembro de como ela era metida a certinha e várias vezes perguntei a Tiago o que passava pela cabeça dele insistir em sair com aquela ruiva mal-humorada e mandona. "Questão de honra", ele sempre se desculpava. Honra... sei! Podia até acreditar de início, mas ver Pontas levando o quadragésimo novo fora de uma mesma pessoa não me parecia mais uma questão de princípios. "
(Sirius)
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Muitas informações para um período muito curto de tempo. Até onde podia raciocinar, sua mãe odiava o seu pai, com razão já que Harry já presenciara seu comportamento infantil na lembrança de Snape. Seu pai e seu padrinho eram os conquistadores de Hogwarts, o que já não era segredo para ele, mas não passava pela sua cabeça a forma com que tratavam as garotas. Era impossível de imaginar como toda a indiferença por parte da mãe havia se transformado, de uma hora para outra, a ponto de ela aceitar a sair com seu pai.
Harry estava por demais interessado em continuar a ler as folhas seguintes, mas o barulho de passos se aproximando fez com que ele jogasse a pasta para debaixo do travesseiro rapidamente a tempo de tirar seus óculos e fingir um sono profundo. Antes mesmo que pudesse recompor a respiração acelerada, a porta se abriu e Harry ouviu os sussurros de Rony e Hermione às suas costas.
"Ele ainda dorme?", perguntou Hermione.
"Acho que sim", certificou-se Rony.
"Ele devia estar realmente cansado. Amanhã conversamos com ele. Também vou dormir. Boa noite, Rony".
"Boa noite, Mione", respondeu.
"E não se atreva acordar Harry", a garota o fuzilou com o olhar como se previsse tal comportamento do ruivo.
Rony assentiu sem responder, fechando a porta e voltando-se a sua cama. Desrespeitando o pedido de Mione, segundos antes, Rony ainda insistiu com um "Está acordado, Harry?" sem obter resposta alguma. Foi o suficiente para que se virasse e caísse no sono.
O ronco alto de Rony foi o atestado que Harry aguardava para se certificar de que o amigo realmente adormecera. Silenciosamente voltou a se sentar na cama. Tateou a cabeceira no escuro a fim de encontrar os óculos, que estavam ao seu alcance, e a varinha. O silêncio por parte de Rony o preocupou por alguns segundos. "Vamos, volte a dormir, Rony", desejou silenciosamente. E mais um ronco invadiu o quarto dando a Harry um ânimo a mais naquele dia. Retirou o livro debaixo do travesseiro, sem tirar os olhos de Rony, que sibilava palavras que lembravam a canção "Weasley é o nosso rei". Cobrindo a cabeça com o lençol fino, sussurrou um "Lumus" com a varinha para iluminar o seu refúgio enquanto, com a outra mão, voltava a folhear as páginas de pergaminho.
Na folha seguinte Harry pôde ler: 05 de Janeiro de 1973
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