Capítulo 17
Passou-se um mês.
Merlin voltara não dois dias depois como Rowena imaginara, mas dez. Porém retornou com ótimas notícias sobre o futuro governo bruxo que instituiriam na Britânia e em breve entraria em vigor.
É claro que não seria algo simples, mas pelo menos meio caminho já havia sido andado.
Assim que Merlin pisou na floresta, os quatro fundadores contaram tudo que havia acontecido em sua ausência e informaram sobre os duendes. O ancião concordou prontamente em acompanhar Godric e partiram para montanhas distantes onde os duendes gostavam de viver.
Duende é uma espécie do mundo mágico que adora ouro, pedras preciosas e construir, principalmente, armas diversas. Há histórias que foi graças a um deles que surgiu a varinha. Contudo não há provas precisas.
Além de armas também são ótimos com qualquer coisa que se relaciona a feitos manuais. Esculturas, prédios, monumentos.
Nos últimos anos, os bruxos desistiram de usar a mão-de-obra assalariada de trouxas e usar os duendes que se submetem - com medo do poder dos bruxos que se expandiu e se diversificou com a conquista de diversos territórios por bárbaros de países diferentes - às suas mais esdrúxulas ordens.
Merlin, no entanto, possuía boas relações com todo tipo de criatura, mágica ou não, e conquistara a confiança desses seres que aceitavam fazer trabalho escravo para ele sem o menor problema.
Ficaram ainda mais satisfeitos quando Godric informou que seriam pagos e em menos de três dias já estavam nos terrenos da futura Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Eles mesmos traziam os materiais e instrumentos que seriam usados.
- Bem eficientes esses duendes, não? – Salazar comentou olhando a base, que já havia sido formada no alto de uma colina.
- Muito! E eles vão se dividir em dois grupos grandes para fazer a vila de Hogsmeade também. – Godric verificava as plantas do castelo, pensativo. – Como Rowena conseguiu desenhar cada cômodo? É muita coisa...acho que teve ajuda do Hangist.
Salazar, porém, não prestava atenção. Admirava a obra e se perguntava qual seria o chefe dos construtores. Resolveu fazer tal questionamento a Godric que apontou para um duende singularmente baixo. Suas orelhas eram tão grandes que poderiam confundir-se com um morcego de cada lado. Tinha uma expressão de poucos amigos, e com finos e longos dedos apontava para um amontoado de pedras a um trabalhador.
- Por que quer saber? – perguntou ainda focalizando os pergaminhos.
- Para ter conhecimento de com quem terei de tratar, caso seja necessário.
Esperou o homem afastar-se, para resolver outras coisas, e andou até o duende anão. (Algo que não se vê todos os dias...)
- Boa tarde, chefe.
O serzinho olhou para cima e sorriu de forma incômoda. Os duendes sempre davam esse sorriso enigmático que deixava os bruxos desconfiados.
- Bom dia, senhor Slytherin, certo?
- Afirmativo. Vamos dar uma volta? – ofereceu de forma simpática.
O duende fez que sim com a cabeça e começaram a circular pela obra.
- Vocês trabalham rápido. Parabéns. – o chefe sorriu novamente e agradeceu com a cabeça. – Espero que o trabalho seja tão bom quanto à velocidade.
Fez-se um silêncio em que o pequeno ficou sério.
- Pode ter certeza que fazemos ótimos trabalhos! – falou ofendido com sua vozinha ainda mais fina que o normal. – Principalmente por Merlin e... – sorriu ganancioso. – porque receberemos.
- Hum...quanto a isso...
- Não está querendo voltar atrás com o combinando, não é mesmo? – o duende parou e seu rosto estava ficando vermelho e suas sobrancelhas finas se juntando no meio da testa.
- Absolutamente! – fingiu indignação. – Queria saber quanto foi o combinado.
- Por que? – perguntou desconfiado.
- Porque eu ofereço o dobro – abaixou a voz – para fazer um trabalho especial para mim. Só – sublinhou bem a palavra – para mim.
- Hum... – a fina sobrancelha direita ergueu-se com o entendimento.
- Gostaria que fizesse um salão secreto. Um tipo de câmara.
- Teremos que saber onde ficaria, as medidas... um desenho bem explicado, sabe?
- Sem problemas. Mas lembre-se! Ninguém mais pode saber sobre isso. Muito menos os outros três donos.
O duende fez que sim com a cabeça de novo e sorriu.
- Não se preocupe, sabemos ser discretos.
- Ótimo. – virou-se caminhando para longe, deixando o duende coçando o queixo pensativo.
- Espera. – o duende andou de forma rápida até o homem e seu semblante era sério, porém seus olhos brilhavam de cobiça. – Eu quero algo a mais do que apenas o dobro.
Salazar ergueu a sobrancelha direita e perguntou indignado com a audácia:
- Apenas? Você sabe que normalmente seus trabalhos não são pagos, não é mesmo? Sabe também que, além do pagamento, estou oferecendo o dobro e ainda quer mais?
- Que eu saiba essa câmara é algum segredo seu que provavelmente não seria bem vista pelos outros fundadores. – o duende sorriu. – E está me pedindo que faça isso. Acho que eu posso pedir a quantia que eu bem entender já que você precisa dessa...sala.
O homem segurou seu ódio àquele espécime abusado. Quem ele pensava que era para chantagear um bruxo poderoso como ele?
Refreou sua fúria, no entanto, e tentou sorrir amigavelmente.
- Claro. O que propõe?
- Quero a espada do seu amigo. O senhor Gryffindor. – o sorriso do duende se intensificou.
- Desculpe, - falou friamente. – não posso oferecer o que não é meu. A espada é de Godric.
- Não, não é! – o sorriso tinha sumido e parecia prestes a pular no pescoço do bruxo. – Aquela arma foi forjada por meu povo! Os bruxos, como sempre, roubam nossas coisas! – Salazar ignorou o último comentário.
- Godric não roubaria nunca, qualquer coisa, de ser algum. – falou em tom de desprezo e conclusivo. – Ele disse que foi um presente.
- Pois sim. – o duende cuspiu no chão. – Então não faço coisa alguma.
- Tudo bem. Eu dou-lhe a espada.
Salazar voltou até o acampamento e encontrou a situação perfeita a qual esperava.
Rowena estava desenhando e fazendo mais alguns cálculos de um cômodo. Acima do papel lia-se o título: "Sétimo Andar".
- Oi. – Salazar sorriu e fez Rowena sobressaltar-se.
- Ai que susto! Estava concentrada. Olá!
Sentou-se ao lado dela verificando o desenho.
- O que é?
- Ah! Que bom que perguntou! É uma sala muito especial. Mas bem complicada também.
- Por que? – franziu o cenho. – Não me parece diferente de uma pequena sala de aula.
- Bem, é que ela não será um cômodo qualquer. Terá feitiços bem interessantes. Será para quando a pessoa estiver bem necessitada de algo, sabe? Como o sétimo andar não possui muitas coisas, fica longe de tudo (biblioteca, banheiro, cozinha e etcs...) ela será bem essencial. Qualquer coisa que a pessoa desejar terá aqui dentro!
- Nossa! Todos vão querer ficar aí.
- Mas aí é que está. – seu sorriso expandiu-se. – A porta ficará escondida. Tudo que verão será uma parede. E só passando por ela três vezes pensando no que deseja, é que conseguirá achá-la!
- Uau! Você é mesmo genial!
- Obrigada. – a garota corou. – Mas...não sei se dará certo. É mesmo bem difícil. – amassou o papel em que estava desenhando e jogou para trás.
- Não desista! Você é realmente boa nessas coisas. Quero dizer, eu não faço idéia de como calcular essas medidas. Muito menos sei desenhar. – riu de forma boba.
- Ah eu também não sabia calcular! Hangist que me ensinou isso. Ele já foi um arquiteto importante para a nobreza. Criava castelos e fortalezas. Ele me ajudou bastante. Para a nossa sorte e acho que azar dele, descobriram que ele é bruxo e nunca mais ninguém quis saber dos serviços do pobre...
Salazar pouco se importava sobre a vida e aventuras do velho, mas fingiu estar bastante impressionado.
- Que legal! Poderia me mostrar como é? Quem sabe posso até ajudar...
- Bom...não há necessidade de ajuda, mas se quer mesmo aprender, tudo bem. – ela pegou um pergaminho em branco, molhou a pena na tinta e perguntou: - O que quer que eu desenhe como exemplo?
- Hum...quem sabe um tipo de câmara, sabe. Uma sala bem grande com teto alto.
- Ok. Assim? – desenhou e parou pensativa mordendo a lateral da pena. – Vejamos as medias...se você quiser uma câmara desse porte, que caberiam, o que? Umas 100 pessoas?
- Mais.
- Uau! Ta bem...umas quinhentas! – ela riu. – Vai dar alguma festa? Bem, seria quadrangular, retangular?
- Deixo isso a seu gosto. – sorriu.
- Ok. Retangular então. Teto mais alto que a distância entre as paredes...
- Ótimo!
A garota começou a fazer cálculos e escrever medidas em pró da proporcionalidade e enquanto escrevia ia falando e mostrando para Salazar que não absorvia uma única palavra.
- Entendeu?
- Sim! Muito obrigado. – ele deu um beijo na testa dela o que a fez ruborizar novamente. – Posso levar o papel para ir treinando e recapitulando?
- Claro. – ela entregou a ele o desenho e voltou ao seu trabalho satisfeita.
Salazar sorriu e esperou anoitecer.
Enquanto aguardava, a história sobre o roubo do artefato que Godric tão orgulhosamente embainhava o deixava curioso. Será possível que o tão nobre e correto Godric havia enganado aquela raça inferior? Resolveu perguntar ao próprio.
- Sempre achei essa espada interessante. – aproximou-se, sem rodeios, do outro.
Godric olhou para Salazar e sorriu.
- É linda não é mesmo?
- Aham... nem parece algo feito pelas mãos humanas. – fingiu admiração.
- Ahhh e não é. Um duende a fez especialmente para mim! – falou orgulhoso apanhando a arma e admirando seu brilho metálico.
- Mesmo? Nunca imaginei duendes fazendo nada de graça para bruxos. O que você deu em troca? – sorriu zombeteiro o que foi acompanhado pelo amigo.
- Ah...eu salvei a vida dele e de toda a cidade das montanhas.
- Como?
- Havia um dragão, enorme e extremamente perigoso, que estava ameaçando a vida dos duendes. Dragões gostam de guardar tesouros.
- Então é de se imaginar que sejam inimigos mortais de duendes mesmo. – sorriu lembrando o brilho ganancioso do chefe de obras.
- Verdade, bem...eu o matei. E o pequeno rei Ragunk, o Primeiro, mandou seus melhores artesões a forjarem como agradecimento.
- Que interessante. Mas parece que os duendes esqueceram desse seu pequeno favor a eles e acham que você roubou a espada.
- Ah sim. – falou desgostoso. – Esse é um defeito imutável dessa raça. Eles sempre acham que o que eles constroem, pertence eternamente aos seus. Não me admiraria se daqui a muitos anos eles não proclamassem que Hogwarts pertence a eles.
- Eles que ousem... – falou Salazar irritado e passaram a conversar sobre outras coisas mais amenas.
Os duendes agora estavam recolhendo-se para descansar para o dia seguinte. Godric dava boa noite a todos e dizia que logo levaria a comida.
Salazar esperou que o amigo voltasse para a floresta e chamou o chefe dos duendes em um canto escondido das vistas.
- Aqui está a planta. Tudo que necessita, acredito que tenha aí.
O duende assoviou.
- É um cômodo grande para ser escondido.
- Ponha para ficar abaixo de alguma coisa. – pensou. – Talvez no subterrâneo de uma cozinha?
- É muito movimentada, uma cozinha. Esse castelo terá vários banheiros. Porque não usa o encanamento como passagem? Posso fazer uma das pias com defeito. Não sairá água, em vez disso, com algum feitiço que será sua responsabilidade, ela será um tipo de porta para um cano que passe uma pessoa deitada, levando-a até essa câmara.
- Faça mais largo que o necessário para uma pessoa. Faça com o diâmetro de um metro.
- Tudo bem. Como irá subir de volta?
- Com magia é claro. – indicou a varinha. O duende a olhou retesado. – Agora...junte um pequeno grupo para não chamar atenção. E se for preciso, trabalhem à noite! Não quero saber de um grande número de vocês sabendo disso. Não façam barulho algum.
- Já entendi, senhor Slytherin. – o duende sorriu. – Já disse que meus serviços são ótimos.
- Se fizerem exatamente como desejo, seus ajudantes receberão o dobro e você...o quádruplo como provavelmente vale aquela espada.
Apertaram as mãos, com um leve dobrar de joelhos de Salazar e um esgar de repugnância, e voltaram cada um para seu canto.
***
Hey! Espero que tenham gostado desse capítulo. Os planejamentos para a Câmara Secreta estão sendo feitos!
Vou responder ao review de Neuzimar de Faria:
Amei seu review *.* Bem estimulante, obrigada! Foi realmente um tema bem difícil, porque eu tinha que tomar cuidado para não esquecer nenhum detalhe que a JK já havia fornecido, como o criador de Hogsmeade que se chama Hangist e o nome do duende que deu a espada para Godric. Eu criei uma short fic contando essa aventura de Godric. Assim que terminar essa, eu posto a outra ^^
Obrigada de novo! Fico muito feliz por você e outras pessoas estarem gostando e espero que eu não decepcione as expectativas também.
Beijos!
Comentários (1)
Você escreve muito bem, é um prazer ler o que você escreve! Sem chance de me decepcionar!
2011-11-25