one



Lílian se debateu naquelas paredes brancas, sem conseguir nada. Estavam crendo-a para louca. Ela não estava louca. <i>Aliás, sentia-se mais consciente do que antes</i>. Ninguém queria acreditar nela. Então aproveitava para tentar se livrar da sua raiva, da sua dor, se debatendo naquelas paredes. Não entendia como aquilo pudera acontecer justo quando ela decidira se acertar com James. Como ele deveria estar? Será que ele estava bem?



 



Lílian se lembrava vagamente de algo a ver com um demônio, mas não tinha certeza. Por algum motivo as suas memórias estavam embaçadas. Ela olhou em volta, irritada, e se debateu mais uma vez. Inferno. Não podia ficar parada enquanto não sabia como James estava.



 



-Chegou carta para você – Um homem vestido de branco entrou na sala e avisou-a, um tanto temeroso pela ira da ruiva. – É da sua mãe. Lembra-se dela? – Perguntou hesitante, e a ruiva assentiu firmemente com a cabeça, no rosto uma expressão de tédio. – Quer que eu leia?



 



-Vocês podem me achar louca, meu senhor, mas eu ainda sei ler, obrigada – Ela disse e tomou a carta das mãos dele, voltando para um canto e se sentando para ler. Ele saiu da sala, resmungando algo como “esses malucos” e ela rasgou logo o envelope, tentando absorver algo da carta da sua mãe. Ela deveria saber de tudo.



 



<i>        Olá meu amor



Tudo bom com você? Sério, responda para a mamãe. Eles estão de tratando bem aí? Porque o seu diretor disse que eu não posso te tirar daí e te trazer pra casa. Isso é tipo um manicômio, não é? Mas eu tenho certeza de que você não está louca. Você é forte, Lily. Sempre vai ser.



 



Essa história com o seu namorado é verdade? Ele foi levado por um demônio? E esse mesmo demônio se aproveitou de você? Oh meu Deus, sabe que eu não agüento isso. Um demônio filha! Será que não seria conveniente que eu leve o Padre Williams para te ajudar? Acho que a ala psiquiátrica de um hospital não é o lugar ideal para se curar de um demônio que ataca mocinhas indefesas.



 



Sinto muito pelo seu namorado. Eu nem sabia que você tinha um, mas a mãe dele, uma moça distinta, veio aqui em casa me contar essa história. Eu fiquei preocupada e chocada, mas ela me garantiu que ficará tudo bem. E de algum jeito eu acredito nela. Sabe como é, intuição de mãe.



 



Bom, meu amor, eu prometo que vou te buscar assim que eles me deixarem ir, ta bem? Me conte tudo que eles fazem de errado com você – além de, é claro, esse terrível equívoco que cometeram acreditando que você perdeu sua sanidade – e eu irei aí reclamar de tudo, tudo bem?



 



Com todo amor do mundo,



 



Mamãe</i>.



 



Lílian acabou de ler e sentiu uma pontada no peito. Algo estranho, como se houvesse algo tentando sair. Demonio que se aproveita de garotas? Namorado levado por um demônio? Mas ela não se lembrava de ter um namorado. E nem de nenhuma mãe distinta que tivesse conhecido. Pra dizer a verdade, não se lembrava nem do por que de terem-na levado á ala psiquiátrica do Saint-Mungus. Era ultrajante, pra dizer o mínimo.



 



De repente a pontada no peito se tornou mais forte, e algo em seu peito se rasgou, com um som e uma dor lancinantes. Lílian se contorceu e caiu no chão, perdendo os sentidos por alguns instantes. Quando acordou seu peito estava com uma fina linha sobre ele, como uma cicatriz, e havia algo do seu lado.



 



Ela se aproximou do montinho de carne negro e meio asqueroso que se contorcia ao seu lado. Será que aquilo tinha saído de dentro dela?



 



Ela tocou naquilo com um dedo, sujando-o de uma gosma estranha. Mas um sentimento estranho se apossou dela. Algo quase... <i>maternal</i>. Virou a coisinha para cima com dois dedos e pôde observar olhos levemente amarelados, quase cor de mel, observando-a um tanto... inocentes. Como os de um bebê.



 



-O que você é? – A coisinha respondeu á sua pergunta se contorcendo, mostrando patinhas minúsculas e asas malformadas. Ainda assim aquele sentimento de que devia proteger a tal coisinha não saía de seu peito.



 



Pegou-a nos braços, limpando-a com as toalhas deixadas ao canto da sala, e aninhou-a contra o peito. Embalou-a levemente até que os olhinhos fechassem, como se os de um bebe se fechariam. Sorriu.



 



-Agora você vai ser meu. Meu Atila – Ela observou mais uma vez a pele negra da coisinha e, hesitante, beijou-a. Então suspirou e adormeceu, sonhando mais uma vez com James. O que teria acontecido com ele?



 



Acordou alarmada. Tinha que achar o Potter. Tinha alguma coisa muito errada. Deu-se conta de que a porta de sua sala estava aberta. E Atila já não estava mais em seu colo. Saiu andando calmamente da sala para não levantar suspeitas, até que achou Atila caminhando atrás de uma enfermeira, sem que ela visse. Pegou-o no colo rapidamente e correu, correu o mais que pôde por aquele hospital sem nem mesmo pensar em olhar para trás. Então, quando conseguiu sair lá de dentro, aparatou.



 



-Que diabos... onde estamos? – Ela olhou em volta e viu-se em uma sala de uma masmorra, sozinha. E havia mais alguém lá. James. Ele estava preso, e todo arranhado. Não estava nada bem. E não parecia perceber sua presença.



 



De repente algo entrou pela janela, molhado de chuva. Um monstro. Pele escura, grandes chifres curvados, asas monstruosas. Mas os olhos de algum modo lembravam-na de alguma coisa.



 



-Coma – A voz surreal da coisa falou ao Potter, cuja presença só foi notada por Lily naquele momento, que cuspiu. Ele tinha mãos e braços presos por correntes pesadas à uma parede de pedra, estava muito sujo, magro e machucado.



 



-Nem morto. – O Potter respondeu bravamente, mas sua aparência não condizia com sua coragem.



 



-Então morra de fome. – O monstro jogou o prato contra a parede, e Potter de repente riu.



 



-Você não pode me deixar morrer. Não enquanto não tiver Lílian – Um rugido saiu pela garganta do bicho, que se segurou para não avançar em Potter.



 



-Isso mesmo. Mas eu posso te ver definhar, Potter. Posso te ver ficar sem água e sem comida durante muitos, muitos dias. E, talvez, você morra por acidente – O monstro ameaçou e Lílian se sentiu puxada para a vida real de um modo brutal.



 



Tivera uma visão.



 



Olhou para Atila, que estendia as mãozinhas para ela, e sentiu-se estranha. Como se fosse culpada pelo cativeiro do Potter. Como se precisasse salvá-lo.



 



Viu-se em um campo vazio, do interior da Inglaterra. Se sua mãe soubesse que havia fugido, os bruxos também saberiam. Então sentou-se embaixo de uma árvore e pôs-se a contemplar sua “cria” cuidadosamente, a imagem de James ainda martelando na cabeça.



 



-Eu ainda não sei bem como, ou do que, Atila... – Ela disse para a coisinha, que segurou o seu dedo com ambas as mãos. O vento frio cortou-lhe a face. – Mas eu sinto que tenho de salvar James. Eu tenho de salvá-lo.



 



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