Mudança de Vida



Acordei com uma dor de cabeça infernal. Fui ver o que tinha para comer, bem, quase nada, apenas peguei uma barra de cereal e sentei-me no sofá.


 Lembrei-me de tudo o que aconteceu noite passada, uma semana atrás, um mês atrás, tudo. De que adianta viver em um lugar onde todos o conhecem e sentem pena de você? De que adianta morar em um lugar onde você não tem amigos? Pensei nisso por um bom tempo. Era a pura verdade.


 Foi quando eu percebi. Eu iria morar em Londres, no mundo trouxa. Procuraria uma casa naquele livro de lugares a venda e onde arranjar emprego. Era estranho como aqueles livros não se mexiam. Enfim, e iria recomeçar minha vida, ‘ Draco Malfoy ‘ seria um garoto, agora, que ninguém conhecia. Alguns trouxas já haviam me falado que meu nome era incomum. Mas isso não vem ao caso.


 Aparatei no Mc Donald’s, eu sabia que havia uma livraria do meu lado, era lá que eu havia visto esse livro, sim, eu folheei um pouco ela. A maioria dos funcionários de lá me conheciam, pelo modo que me olhavam... Pensavam algo como ‘ O doido que tem ciúmes da garota que tem um namorado ‘. Já havia acontecido coisas desde aquele dia, bem, digamos, impressionantes. Eu gostava de tomar café da manhã lá, chocolate quente com murffins, era o melhor que tinha lá. Enfim, eu tinha que ir à livraria.


 A loja estava completamente vazia, a não ser pelo vendedor. Não devia ser uma loja muito movimentada, apesar de ser ao lado de um Fast Food muito famoso.


 Eu conhecia Londres muito bem. Sabia perfeitamente que os subúrbios daqui era onde todos os ‘ ricos ‘ moravam. Então era lá que eu iria morar. Eu posso ter mudado um pouco, mas não tanto. É claro. O resto, como mobílias, bem, era pra isso que eu poderia transportar meu apartamento todo para lá. Comprei logo esse livro, e o folheei, procurando algo a venda exatamente onde eu queria, no subúrbio.


 Devo ter passado um bom tempo procurando uma casa, pois o vendedor achou extremamente estranho e me perguntou:


 - Você não tem isso em casa? – O homem de cabelos e olhos negros perguntou. Para mim, não era uma pergunta muito normal. O que diabos ele queria dizer com ‘ Eu não tenho isso em casa ‘? Os publicadores do livro entregavam isso em casa. Eu realmente não entendi.


 - Oi? – Perguntei, como se não tivesse escutado da primeira vez.


 - Eles não entregam isso na sua casa? – A minha pergunta foi respondida. O homem estava um pouco perto de mim, observando-me.


 - Hm, não. Eu, hm, fui expulso de casa. – Pura mentira. Abaixei a cabeça, fingindo enxugar uma lágrima de meus olhos, como se estivesse terrivelmente arrasado com aquilo.


 - Ai, Deus! Quer que eu lhe ajude a procurar uma casa barata? Quanto dinheiro você tem?! Ai, Deus! Coitadinho! – O homem falou com uma pena visível aos olhos. Os trouxas eram estranhos. Ele podia ser um cara terrivelmente mal, mas se visse algo ruim acontecendo diante de seus olhos, eles iriam ajudar. No mundo bruxo não, ou o homem é completamente mal, ou completamente bom.


 - Não precisa... Eu tenho que ir, hm, achei a casa ideal, mas, hm, obrigado. – Sai rapidamente, mas pude ver um olhar de ‘ Boa sorte, pobre garoto ‘, em seus olhos.


 Não era mentira, eu realmente havia achado a casa ideal. Não era tão longe daqui, no começo do subúrbio. Eu só precisava contatar o homem ‘ Júlio ‘, que estava vendendo a casa, e eu ofereceria um bom dinheiro pela casa, assinaria alguns contratos, e fim, depois disso, a casa seria inteiramente minha.


 Fui ao telefone público mais próximo e liguei para o homem. Não houve muito diálogo, a pessoa estava realmente empolgado de poder vender aquela casa. Só espero que não haja nenhum problema. O homem pediu-me para encontrá-lo na casa às 14:00, já eram 13:00. Bastava aparatar e pronto, eu estaria na casa.


 Como estava na hora do almoço, fui ao Mc Donald’s e pedi um refrigerante médio, com batata grande e um cheeseburger. Não estava com muita fome. Sim, eu comeria muito mais que isso, se duvidar. Esperei uns sete minutos em pé pelo meu pedido. Sentei-me numa cadeira não muito próxima da multidão que sempre ia lá almoçar antes de voltara para o trabalho.


 14:55. Por Merlin! Eu já havia acabado de comer, corri para o banheiro, onde eu sabia que não tinha ninguém, entrei em um box e aparatei para a casa. 14:59. Vi um homem um pouco mais baixo que eu, de costas para mim. Ainda bem que ele não me vira surgindo do nada. Aproximei-me dele com cautela, sabe-se lá se era realmente aquele homem.


 - Hm, Sr. Wiggens? – Júlio Wiggens. Esse era o nome do homem. Estranho.


 - Sr. Malfoy? – Concordei com a cabeça. Júlio era um homem nas faixas dos cinquenta anos, ele parecia levemente preocupado e tenso. Era baixo e um pouco magro demais, ele parecia mais um mendigo do que um homem chique que um dia teve uma casa nos subúrbios de Londres. – Pensei que o senhor fosse um pouco mais velho.


 - Todo mundo pensa. – Era verdade. As pessoas sempre pensam que eu sou mais velho do que realmente sou. O que é bastante esquisito.


 - Então você quer comprar essa casa?


 - É.


 Ele, pensei eu, fazia o tipo discreto e que não gostava muito de falar. Ele entrou naquela casa, e começou a me apresentar cada simples detalhe.


 A casa era completamente branca por fora. Não havia grades, não era necessário. Por dentro, ela me lembrava minha casa, um grande espaço no hall, a cozinha média, sala de jantar rústica, quatro quartos, nada de muito impressionante, mas, é claro, a área era muito bonita, flores por todos os lados, uma piscina grande no centro, ao lado, cadeiras de praia, havia uma churrasqueira no lado direito. Era definitivamente bonita.


 Depois de um tempo, conversei com o homem e enfim, consegui a casa. Já era umas sete horas da noite. O homem já havia ido embora. Fechei os olhos e chamei todos os meus móveis. Não era necessário movê-los, apenas fechar os olhos e pensar no melhor lugar onde posicioná-las e elas, automaticamente iriam para lá.


 Tomei um banho em meu novo quarto, era do tamanho da cozinha, com um closet, desnecessário, claro. Homens não precisam de closet. Coloquei apenas uma bermuda, e fui conhecer melhor a casa, quando a campainha tocou. Quem seria a pessoa que que queriam me ver às 8 horas da noite. Ninguém me conhecia.


 Fui atender a porta. Era duas crianças aparentemente adoráveis.


 - Olá! A gente é sobrinho dos adultos aqui do lado! Você é novo aqui?! Porque eu venho aqui todos os dias e nunca lhe vejo!! Quer um doce? – A garota, com uns 5 anos, era um pouco mais velha que o garoto ao seu lado. Ela tinha cabelos louros e olhos azuis. Totalmente adorável.


 - Acabei de chegar! E não, querida, não quero um doce, acabei de jantar. Quem sabe amanhã? – Na verdade, eu não tinha jantado, mas e daí? Tinha certeza que o doce era da criança, não ia fazer com que a garota abrisse mão de seu doce para me dar. Era estranho, mas todos me diziam que eu tinha um dom para falar com crianças.


 - Então tá bom! Amanhã eu volto aqui, ok?! – Concordei, sorrindo. – Qual o seu nome? O meu é Gabrielle!


 - Ah, olá Gabrielle! Meu nome é Draco! – Falei empolgado, estava com muita vontade de rir, nunca imaginei que minha primeira amiga trouxa seria uma criança de cinco anos.


 - Posso lhe dar um abraço de boas-vindas?


 Ela não precisava pedir. Ajoelhei-me para ficar da sua altura e a abracei. Não tão forte e nem tão fraco, ela era apenas uma criança.


 - Gabrielle! Volte para cá, agora! – Ouvi a mulher do lado gritar, provavelmente era sua tia. Olhei-a melhor, ela tinha os cabelos castanhos volumosos e os olhos igualmente castanhos. Parecia ter uns quarenta e cinco anos.


 Ela não estava me olhando com uma cara, digamos, agradável, para mim. Eu não entendi direito, mas olhando bem para ela, a mulher me lembrava Hermione Granger. Isso era só uma alucinação. Pensei.


 Me despedi da garotinha e entrei em casa. Fui direto para a cama, não estava tarde. Mas, e daí? Eu não havia feito nada a não ser dormir e comer mesmo.


 *****


 Hoje o dia foi perfeito. Trabalhei até as 5 da tarde no Ministério. Junto com Rony e Gina. Sim, arranjei um trabalho lá. Nós podemos não trabalhar juntos, mas é mesmo que nada. Harry era auror. Ele não trabalhava conosco.


 Depois do trabalho, nós fomos para casa de Harry, e ficamos lá, falando sobre trabalho, besteiras, e, enfim, nós éramos os antigos melhores amigos.


 Apenas a noite fui para casa e me lembrei de Draco Malfoy. Mas, se eu pude passar um dia completo em pensar nele, apenas me preocupando com toda a família Weasley e Harry. Era apenas uma questão de tempo para esquecer Draco, eu espero.

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