Luto
Capítulo Dois - Luto
Dumbledore saiu do quarto onde se encontrava Líllian e fechou a porta atrás de si. Não podia acreditar no que estava acontecendo. Ela havia sobrevivido, mas é como se estivesse morta. Não se lembrava de nada, nem de ninguém, nem de si mesma. Sua mente estava voltada ao presente apenas. É como se ela tivesse acabado de nascer. Como se estivesse começando a vida agora.
O velho não sabia se considerava isso uma boa coisa, ou não. Por um lado, era uma verdadeira catástrofe que Líllian não se lembrasse de nada. Por outro lado, era ótimo, pois se algum Comensal vier retirar informações dela - como onde estava Harry, ou onde ficava a base da Ordem da Fênix -, não consiguiria nada.
Uma situação irônica. Merlin devia seus parabéns à conveniência.
Ele se dirigiu até a doutora Parker, que esperava em sua sala para saber os resultados da primeira conversa com a pasciente internada. Dumbledore bateu na porta três vezes seguidas, sem intervalos calculados.
- Entre. - disse uma voz feminina do outro lado da porta. O homem entrou e fechou a porta atras de si. Dumbledore se sentou na cadeira em frente a mesa . Do outro lado desta, estava a doutora Parker. Ele olhou em volta e constatou que a sala emanava organização. A mesa de madeira continha uma grande quantidade de papéis, porém estavam todos muito bem organizados. Havia um armário para armazenamento de arquivos importantes, dois sofás para as visitas demoradas com uma mesa de chá no meio. As paredes eram brancas e as janelas tinham cortinas vermelhas, para combinar com as almofadas dos sofás e com o tapete. Era tão organizado, que não aparentava ser o local de trabalho para um praticante do que eles chamavam de medicina. - Como foi? - a doutora perguntou, apoiando os cotovelos na mesa.
Profissional, pensou Dumbledore. Ela não se dedicava ao entrosamento pessoal. Estava ali para falar dos problemas de uma pasciente, por isso ia direto ao assunto. Dumbledore sorriu tristemente para ela.
- Eu diria que ela está bem. - respondeu. - Fisicamente. - acrescentou.
- Fisicamente? - perguntou a Dra. Parker, confusa com a resposta.
- Sim. Apenas fisicamente. - confirmou. - Mentalmente falando, ela esta péssima.
A Dra. Parker suspirou pesadamente. Ela retirou um óculos do bolso do jaleco e o colocou, retirando alguns pápeis da pilha que se encontrava em sua mesa e examinou-os. Dumbledore a observou, esperando a resposta que ela certamente daria à ele. Quando a Dra. terminou de ler os papéis, ela suspirou de novo e retirou os óculos, antes de dizer:
- Não posso dizer que é uma surpresa, porque fui avisada de que poderia acontecer algo assim. Os exames comprovaram uma possível perda de memória, em outras palavras, um sério risco de amnésia.
Dumbledore franziu a testa em confusão.
- Sério a que ponto?
A mulher estendeu um papel em frente à ele.
- Ah, sim; infelizmente os exames apontaram um risco de 80%. - ela disse e apontou um dado no papel. - Era quase certeza que aconteceria. Mas, ainda assim, sobrou uma porcentagem de 20%. O que nos resta fazer é esperar e ajudar essa porcentagem a reerguer o resto do cerébro que foi afetado. Ou seja, uma amnésia temporária que pode ser curada se tiver a ajuda correta.
- Que tipo de ajuda?
- Alguém que tenha vivido grande parte da vida com ela ou com as pessoas que a cercavam para a ajudar a se lembrar. - explicou.
Dumbledore pareceu pensar nas informações. Uma parte de seu cérebro se perguntava como os trouxas faziam para saber de tantas coisas sem magia e fez uma nota mental de perguntar mais sobre a medicina para a professora de Estudo dos Trouxas que trabalhava em Hogwarts. A outra parte se perguntava como faria para ajudar Líllian a recuperar a memória perdida.
Ele era o diretor da escola onde seu marido e ela própria estudara, mas era apenas isso. Mal se falaram fora das reuniões da Ordem. Não tinha convivido o suficiente no dia-a-dia deles para que suas memórias fossem ajudá-la. Pensou que poderia pedir ajuda aos amigos antigos da escola. Mas quem? Pettigrew estava morto. Sirius Black estava preso. Marlene McKinnon era a única amiga de Líllian que não fora assassinada.
E se perguntou o porque de estar pensando nisso. A sobrevivência de Líllian era um segredo: apenas a Ordem e o Ministro tinham conhecimento deste segredo. Não podiam dizer à ninguém.
- O que causou isso? - perguntou para a doutora.
- O que quer dizer?
- Por que isso aconteceu com ela? - modificou a pergunta para que a mulher entendesse.
- Bem, pelos exames que realizamos quando ela estava desacordada, posso lhe dizer que não sabemos ainda se foi por causa dos ferimentos ou não. A amnésia, no caso de Líllian, pode ter acontecido como proteção para o corpo. Tudo o que ela viveu foi traumático, por isso, como defesa, o corpo não deixou que se lembrasse. - ela disse.
- Não estou entendendo...
A Dra. Parker respirou fundo e tentou achar um meio de explicar seu raciocínio.
- O cérebro funciona de forma a nos manter vivos. Ele nos protege daquilo que é perigoso e nos expõe àquilo que nos possibilita a melhora. Tudo o que Líllian passou foi perigoso, difícil e triste. Por isso, como defesa, o corpo se isentou de qualquer lembrança do ocorrido. - explicou.
- Como proteção... - refletiu Dumbledore.
- Sim, mas isso é o que os exames dizem... - começou a Dra. Parker, mas pareceu pensar melhor e não terminou seu pensamento.
Dumbledore, percebendo a hesitação da médica, se portou de forma inesperada e disse:
- Doutora. Nós dois temos uma relação profissional e apenas isso, embora eu ache que o que vou lhe pedir agora seja estranhamente íntimo, pelo menos de minha parte. - ele pausou. - Mas acho que a senhora entenderia se eu lhe pedisse para não omitir detalhes. Líllian é uma pessoa especial para mim e eu quero saber de todos os problemas dela. Do contrário, não poderei ajudá-la. Quero... espero que me diga tudo o que lhe passar pela sua mente, mesmo que sejam meros delírios. - finalizou.
A mulher o encarou com firmeza. Ela recolocou os óculos. Pareceu pensar melhor e retirou-os de novo. Ela estava visivelmente nervosa.
- Certo. - cedeu, pousando os óculos na mesa. - Bem, quando nós a encontramos, ela estava desacordada. Deitada no chão em meio a cacos de vidro. Sua perna estava dobrada em um ângulo impossível, por isso achamos melhor introduzir uma tala antes a levarmos. Mas, quando estávamos na metade do procedimento, ela acordou. Começou a gritar como uma louca e a dizer coisas como 'onde esta meu bebê?', 'o que aconteceu com meu marido?'. Depois ela olhou em volta e acho que percebeu onde estava, porque começou a chorar e perguntar para mim se um tal de Voldemort havia deixado os corpos. - ela balançou a cabeça, como que tentando afastar a lembrança. - Me desculpe, Dumbledore, mas ela parecia se lembrar de tudo o que havia acontecido, diferente de agora.
- O que quer dizer? - perguntou Dumbledore.
- Quero dizer que os exames dizem que seria normal se houvesse mudanças na memória dela. Mas quando nós a encontramos, ela parecia se lembrar de tudo. E mais tarde, quando ela acordou, estava em um quarto igual ao que ocupa agora. Porém isso pareceu perturbá-la. Ela ficou violenta e atacou os enfermeiros, com o pretexto de fazê-los libertá-la para que fosse salvar alguém chamado Harry, como ela mesma dizia. Foi introduzida uma quantidade média de morfina para que ela dormisse. - a Dra. Parker apoiou o indicador e o polegar na ponte do nariz. - O efeito não foi satisfatório. O corpo reagiu mal e ela teve de ir diretamente para a Emergência. Ficou desacordada tempo suficiente para a perna se curar e agora acorda com a memória alterada.
- Foi pelo fato de ela estar violenta que a colocaram naquele quarto? - perguntou o homem, com o olhar fixo na mulher à sua frente.
- Sim. - a doutora respirou fundo antes de perguntar: - Dumbledore, haveria algum motivo para ela estar fingindo uma perda de memória?
O velho arregalou os olhos diante de tal afirmação e se perguntou se haveria algum motivo para que Líllian fingisse uma perda de memória. Não que ele soubesse.
- Fingindo? Creio que não.
- Tem certeza?
Dumbledore se recusava a acreditar que ela estivesse lhe perguntando uma coisa desse caráter. Faze-lo duvidar de Líllian Potter era, definitivamente, uma coisa ruim. Ele não tinha tempo para dúvidas e em hipótese alguma podia desconfiar da sinceridade dela.
- Não há a hipótese de ter sido o uso da morfina a causa do problema? - perguntou, mudando de assunto.
- Pode acontecer, mas é uma chance remota demais para ser considerada útil...
- Porque envolve sua competência como médica. Se fosse hipótese de erro de algum outro consultório, você não descartaria a idéia, não é mesmo? - desafiou.
A Dra. Parker abriu a boca uma ou duas vezes para retrucar, mas acabou desistindo. Fez uma nota mental de que Dumbledore não era dado à contradições.
- Estou apenas dizendo que ela acordou duas vezes com a memória intocada. Por isso acho estranho que não se lembre de nada agora. - ela se defendeu.
- Como aconteceu não vem ao caso. Temos de nos empenhar em ajudá-la agora e não em contrariá-la.
- O que podemos fazer é simples: contratar um psicológo para conversar com ela. - disse a doutora, mudando de assunto.
- Um psicológo pode ajudá-la? - o homem não fazia a menor a idéia do que era um psicológo, mas aprendera que se perguntasse, a médica poderia achar estranho.
- Existem casos em que a ajuda de um psicológo foi vital para a recuperação do pasciente. - ela disse. - Acho que pode ser um passo andado para a recuperação dela, sem falar que poderemos acompanhar a melhora mental e quais são suas emoções em tempo real.
- Vai ajudar? - ele repetiu a pergunta.
- Basicamente, sim. - respondeu a doutora, toda a hospitalidade estava esquecida.
Dumbledore balançou a cabeça afirmativamente, declarando que havia entendido.
- Faça isso. - pediu cordialmente.
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Líllian Potter se encontrava sentada em frente à uma mesa de madeira velha e cheia de lascas. Estava no pátio do centro de recuperação. Ela esperava alguém, mas não sabia quem era. Haviam posto uma camisa de força nela, mas não tinha importância.
Ela olhou para o teto do pátio e ficou escutando o som da chuva que caia sem parar. O som era aconchegante e ela sentia vontade de se molhar na água que caia. Nunca tinha sentido a chuva na pele e se sentia boba por desejar algo tão simples. Líllian sentiu a mesma vontade quando ouviu a água que caia do chuveiro antes de tomar seu primeiro banho e havia adorado a experiência. Será que ter a chuva batendo na pele daria a mesma sensação de quando se toma um banho?
Não tinha liberdade. Nunca mais tinham posto agulhas em seu corpo. Nunca mais a mandaram para o quarto branco. Eles deixavam que ela andasse pelo pátio quando Dumbledore estava por perto, mas isso estava longe de ser liberdade. Fazia duas semanas que estava trancafiada no centro de recupeção e ainda não havia se acostumado com a idéia.
Perguntou a si mesma se algum dia chegaria a aturar aquele lugar. A comida era aceitável, as acomodações eram boas e ela era tratada com respeito. Até demais. Sim, porque todos os enfermeiros a tratavam com uma cordialidade absurda, como se a garota fosse perigosa. Mas ela nada havia feito de perigoso. Olhou para a camisa que a prendia e achou que talvez eles pensassem que era violenta. Sorriu tristemente.
Ela notou quando um homem se aproximou e se sentou do outro lado da mesa. Líllian levantou seus olhos para observar seu novo visitante. Era um homem interessante, o que o tornava bonito; tinha cabelos escuros e cacheados, sua pele era rosada e ele não parecia ter mais de trinta anos. Seus olhos eram cinzentos e ele usava óculos. Como todos por ali, ele estava de branco. Líllian se perguntou como conseguiam não enlouquecer naquele lugar, cuja cor que dominava era o branco. O homem era incrivelmente simpático e emanava segurança.
- Como vai? - perguntou, sorrindo amigavelmente. Ele depositou uma pasta preta de couro em cima da mesa, mas não a abriu nem retirou nada de lá. - Sou o doutor Albert McCanzey. Sou psicólogo. - ele se apresentou. Líllian permaneceu calada e impassível. - Você deve ser Líllian Potter. - Albert estendeu a mão, esperando que ela o cumprimentasse. A mulher apenas encarou a mão que ele estendia. Como poderia cumprimentá-lo se estava presa à uma camisa de força? Mas ela sabia que mesmo se não estivesse presa, nada faria com relação à mão que ele estendia.
Depois da conversa que ela tivera com Dumbledore, Líllian se fechou em volta de si mesma, se concentrando apenas em existir e mais nada. Ela ainda comia, fazia suas caminhadas, tomava seu banho. Mas não se dignava a abrir a boca para falar, não correspondia mais às tentativas de Dumbledore para se lembrar de mais nada. Estava em depressão. Depressão... essa não era a palavra certa. O correto era afirmar que ela estava de luto. Sim, estava lamentando as perdas que tivera.
- Ah, desculpe. - Albert finalmente descobrira que ela estava amarrada à uma camisa de força e recolheu a mão. Ele corou fortemente. Líllian se deixou divertir com aquilo: um psicólogo atrapalhado. - Bem, por onde eu começo? - ele meditou. - Estou aqui para conversar com você. Para te ajudar a descobrir o que aconteceu com você e para que se lembre de sua vida, Líllian... Posso chamá-la assim? - ela não respondeu. Apenas continuou a observa-lo. Albert não pareceu notar. - Então, me diga: qual a última de que se lembra?
Líllian nada disse e nem ao menos se deu ao trabalho de prestar atenção à pergunta. Era tão dificil assim entender que ela não queria se lembrar? Seu marido estava morto; seu filho sobrevivera, mas ela não se lembrava dele. Sua vida parecia tão assustadora, que ela preferia não se lembrar. Não queria reviver o horror que aquilo lhe parecia.
Albert suspirou.
- Não vai falar comigo, não é? - perguntou com um sorriso cansado. - Tudo bem. Eu entendo.
Ele definitivamente não entendia, pelo simples fato de pensar que podia compreender.
- Quer sair daqui. - ele continuou. - Você quer ir embora. Está se sentindo confusa com as pessoas que vem te visitar, dizendo que são seus parentes, mas você não se lembra deles, por mais que tente. É dificil. Chega a ser doloroso também.
Certo. Ela tinha que admitir que tudo fazia sentido. Aquele era o resumo de seus sentimentos. Mas era um resumo generalizado. Ele sabia quais eram seus sentimentos, mas estava longe de entende-los. E talvez ele não soubesse que a única pessoa que vinha visitá-la era um velho que ela ainda não sabia quem era.
- Mas, quero que saiba, para sair daqui, você precisa estar recuperada. Tem que saber para onde vai, o que vai fazer, como vai viver. Embora eu duvide que vão te deixar sair antes que terminem as investigações do que houve com você. - Albert continuava falando.
Líllian sentiu carinho pelo homem. Ela o continuava ignorando, mas ele se recusava a deixá-la sozinha. Diferente de Dumbledore, que depois de dois dias sem que Líllian falasse, foi embora. E não voltou mais. Líllian percebeu que havia paciência em sua voz, como se Albert estivesse acostumado com estas situações.
- Saiba que, por mais que possa parecer o fim do mundo, há uma chance... eu mais que ninguém sei disso. - ele pausou. - Sabe, meu irmão desenvolveu esquizofrênia quando ainda tinha cinco anos. Ele andava pela casa correndo de sombras que o perseguiam. Minha mãe se recusava a aceitar o fato de que seu filho tinha um problema e não o levou para se tratar. Então, eu passava todos os dias com ele, cuidando para que se curasse. Dois meses depois, ele se jogou da janela do terceiro andar e morreu. Prometi a mim mesmo não deixar que isso acontecesse com mais ninguém e tentei entender como funcionava a mente de pessoas com estes tipos de problemas... Me formei em psicologia e agora estou aqui. Me especializei em pessoas com depressão, ilusões, e perda de memória recente. Por isso estou aqui.
Ela continuou quieta, fitando Albert com indiferença. Tudo o que ele dizia era captado por seu cérebro como algo completamente difuso e ela não se dava ao trabalho de tentar entender. Líllian fitou a mesa como se houvesse algo de extremamente interessante nela. Albert continuou:
- Não vai falar comigo? - perguntou novamente e quando Líllian nada disse, ele sorriu compreensivamente. - Certo. Vou vir aqui todos os dias para falar com você. Ou para conversar, se você permitir-se falar comigo. Sei que as coisas parecem estar indo muito ruim para você. Sei que quer sair daqui e sei que está confusa. Mas tudo muda, sabe? Desde as roupas, até a vida. E não será diferente com você. Muito pelo contrário. - ele pausou, retirou os óculos e limpou-os na barra do jaleco que usava. Recolocou-os e se voltou para Líllian. - Essas mudanças só vão acontecer se você quiser. Ninguém pode mudar por você. As pessoas mudam tanto que as vezes a frase 'quem sou eu' não se encaixa na sociedade.
Líllian tentou ignorar a curiosidade que aquela última frase lhe causou e fechou bem os lábios para não perguntar o que ele queria dizer com aquilo. Seu rosto não demonstrou interesse algum, embora ela quisesse desesperadamente que ele continuasse falando. Para a felicidade e alívio de seu interior, Albert voltou a falar, acomodando-se na cadeira e falando, ignorando completamente o silêncio dela.
- Para mim, 'quem sou eu' deveria ser substituido por 'quais são as minhas mudanças'. Por que você muda de opinião, muda de roupa, muda de lado, muda o corte de cabelo, muda o estilo de vida, muda de marido, muda de mulher, muda de amigos, muda de inimigos, muda de casa, muda de cidade... são tantas mudanças que depois de um tempo você para de perceber que esta mudando. Você esquece. - mais uma pausa. - O que eu quero dizer é... - ele pareceu procurar um modo de explicar seu raciocínio para ela. - ... você pode mudar. Se sua vida parece uma verdadeira merda agora, não significa que você não possa mudá-la para melhor. Ou para pior, dependendo do ponto de vista. Se quer ajuda para isso ou não, vai ter que nos dizer, por que não podemos adivinhar.
Albert deixou que ela absorvesse as informações antes de continuar:
- Enfim, se sua vida vai 'mal', ou de 'mal à pior', fique tranquila. - disse. - Pois a única coisa que não tem possibilidade de mudança é o que está abaixo de 'pior'. - completou.
Para finalizar, ele se levantou e pegou suas coisas. Líllian o observou ajeitar o jaleco e sair dali sem dizer mais nada. Se perguntou por momento qual era o objetivo dele ali, porque se fosse para deixá-la confusa ou adimirada, havia conseguido.
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Sirius Black foi jogado na cela de Azkaban sem nenhuma delicadeza. Estava branco e ofegante por causa das varias horas passadas em meio aos Dementadores, tendo suas lembranças sugadas por aqueles imprestáveis. Estava com frio, mas suava como nunca. Seu corpo doía demais para que se levantasse, ou se encolhesse para que esquentasse a si mesmo.
Por Merlin, qual fora a última vez em que estivera encrencado? Em Hogwarts, em uma de suas brincadeiras com Ranhoso e que terminou em uma detenção de duas semanas. Fazia muito tempo, mas ele se lembrava bem. E Tiago estava junto com ele nesta ocasião. Líllian havia ficado muito brava com ele no dia em que aquilo acontecera. Esses problemas, que lhe pareciam enormes na época, eram pequenos demais se comparados ao que ele estava vivendo agora.
Líllian e Tiago estavam mortos. Pedigrew foi um traidor e estava foragido, deixando a culpa para Sirius carregar. O que ninguém entedia era que ele jamais traíria seu melhor amigo. Mas isso não tirava o fato de que ele nada podia fazer, pois estava preso por um crime que não cometera.
- Ora, veja só... - ouviu uma voz rouca e baixa de tão gasta vindo da cela ao lado da sua. Olhou para o lado e viu um dos Comensais da Morte de Voldemort e soltou um gemido de desgosto. Pelo menos os aurores estavam prendendo gente que merecia. - Sirius Black. O amiguinho do Potter.
- Cale a boca, Belatriz. - resmungou.
- Você continua tolo. - Belatriz continuou, ignorando a ordem de se calar. - Se tivesse se juntado ao Lorde das Trevas, pelo menos estaria preso por algo que valeu a pena.
- Mas estaria preso da mesma maneira.
- E aqui esta você... preso por causa da traição do Pedigrew. Sabe que ele foi bem útil? Pena que o rato escapou, ou estaria aqui para lhe fazer companhia. - ela riu escancaradamente.
- Cale a boca, Belatriz. - repetiu. - Use sua existência inútil para algo que realmente valha a pena. - ironizou.
Belatriz voltou a gargalhar histericamente. Estava ficando louca e Sirius podia perceber isso a cada mísero segundo que passava ao lado da mulher.
- Valeu a pena se arriscar pelo Potter, Sirius? - ela voltou a rir.
- Valeu a pena se arriscar por alguém que foi derrotado por uma criança de um ano de idade? - retrucou, fazendo a mulher se calar instantaneamente. - Você serviria melhor à Voldemort se estivesse calada. - murmurou.
Sirius se levantou e postou-se sentado. Examinou o local: era escuro, sujo e tinha o cheiro podre de fezes e urina. Era mais frio do que se estivesse mergulhado em um lago de gelo. Em sua cela, havia um colchão velho e fino, cheirando à vomito; havia uma pequena privada em uma canto afastado, que estava indiscutivelmente com os restos dos últimos prisioneiros.
Ele não pode deixar de notar que as celas não eram limpadas havia anos. Percebeu que os Dementadores eram uma presença constante no lugar, o que não o assustou. Sirius poderia assumir sua forma de cachorro assim que eles viessem, para que não fosse vítima deles. Se lembrou do motivo de ter virado um animago e constatou que Lupin estava louco para bater nele, pois Lupin, assim como todos, acreditava que ele fosse um traidor.
Belatriz viu que Sirius examinava o lugar.
- É bem pior do que nós imaginávamos na escola, não? - comentou, se encolhendo ao olhar para a própria cela. - Nunca pensei que fosse vir parar aqui.
Sirius riu amargamente.
- Talvez pudesse ter tentado deduzir. Afinal, seus atos não foram os mais honestos nos últimos anos. - zombou.
Belatriz não respondeu, apenas fez um gesto obsceno com as mãos na direção de Sirius e se voltou para seu próprio colchão, se encolhendo quando um Dementador passou pela sua cela.
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N/A: adivinhem... sim, aqui estou eu, sentada no sofá relendo o cap. com aquela cara de idiota que todo autor faz quando fica feliz com seu trabalho. O que não é o meu caso... Achei o cap. pequeno demais e com poucas informações interessantes, mas podem esperar um resultado melhor do next.
Enfim, desculpem se eu deixei passar algum erro de português inaceitável, mas não aguento mais reler isso aqui...
Comentem.
- Entre. - disse uma voz feminina do outro lado da porta. O homem entrou e fechou a porta atras de si. Dumbledore se sentou na cadeira em frente a mesa . Do outro lado desta, estava a doutora Parker. Ele olhou em volta e constatou que a sala emanava organização. A mesa de madeira continha uma grande quantidade de papéis, porém estavam todos muito bem organizados. Havia um armário para armazenamento de arquivos importantes, dois sofás para as visitas demoradas com uma mesa de chá no meio. As paredes eram brancas e as janelas tinham cortinas vermelhas, para combinar com as almofadas dos sofás e com o tapete. Era tão organizado, que não aparentava ser o local de trabalho para um praticante do que eles chamavam de medicina. - Como foi? - a doutora perguntou, apoiando os cotovelos na mesa.
Profissional, pensou Dumbledore. Ela não se dedicava ao entrosamento pessoal. Estava ali para falar dos problemas de uma pasciente, por isso ia direto ao assunto. Dumbledore sorriu tristemente para ela.
- Eu diria que ela está bem. - respondeu. - Fisicamente. - acrescentou.
- Fisicamente? - perguntou a Dra. Parker, confusa com a resposta.
- Sim. Apenas fisicamente. - confirmou. - Mentalmente falando, ela esta péssima.
A Dra. Parker suspirou pesadamente. Ela retirou um óculos do bolso do jaleco e o colocou, retirando alguns pápeis da pilha que se encontrava em sua mesa e examinou-os. Dumbledore a observou, esperando a resposta que ela certamente daria à ele. Quando a Dra. terminou de ler os papéis, ela suspirou de novo e retirou os óculos, antes de dizer:
- Não posso dizer que é uma surpresa, porque fui avisada de que poderia acontecer algo assim. Os exames comprovaram uma possível perda de memória, em outras palavras, um sério risco de amnésia.
Dumbledore franziu a testa em confusão.
- Sério a que ponto?
A mulher estendeu um papel em frente à ele.
- Ah, sim; infelizmente os exames apontaram um risco de 80%. - ela disse e apontou um dado no papel. - Era quase certeza que aconteceria. Mas, ainda assim, sobrou uma porcentagem de 20%. O que nos resta fazer é esperar e ajudar essa porcentagem a reerguer o resto do cerébro que foi afetado. Ou seja, uma amnésia temporária que pode ser curada se tiver a ajuda correta.
- Que tipo de ajuda?
- Alguém que tenha vivido grande parte da vida com ela ou com as pessoas que a cercavam para a ajudar a se lembrar. - explicou.
Dumbledore pareceu pensar nas informações. Uma parte de seu cérebro se perguntava como os trouxas faziam para saber de tantas coisas sem magia e fez uma nota mental de perguntar mais sobre a medicina para a professora de Estudo dos Trouxas que trabalhava em Hogwarts. A outra parte se perguntava como faria para ajudar Líllian a recuperar a memória perdida.
Ele era o diretor da escola onde seu marido e ela própria estudara, mas era apenas isso. Mal se falaram fora das reuniões da Ordem. Não tinha convivido o suficiente no dia-a-dia deles para que suas memórias fossem ajudá-la. Pensou que poderia pedir ajuda aos amigos antigos da escola. Mas quem? Pettigrew estava morto. Sirius Black estava preso. Marlene McKinnon era a única amiga de Líllian que não fora assassinada.
E se perguntou o porque de estar pensando nisso. A sobrevivência de Líllian era um segredo: apenas a Ordem e o Ministro tinham conhecimento deste segredo. Não podiam dizer à ninguém.
- O que causou isso? - perguntou para a doutora.
- O que quer dizer?
- Por que isso aconteceu com ela? - modificou a pergunta para que a mulher entendesse.
- Bem, pelos exames que realizamos quando ela estava desacordada, posso lhe dizer que não sabemos ainda se foi por causa dos ferimentos ou não. A amnésia, no caso de Líllian, pode ter acontecido como proteção para o corpo. Tudo o que ela viveu foi traumático, por isso, como defesa, o corpo não deixou que se lembrasse. - ela disse.
- Não estou entendendo...
A Dra. Parker respirou fundo e tentou achar um meio de explicar seu raciocínio.
- O cérebro funciona de forma a nos manter vivos. Ele nos protege daquilo que é perigoso e nos expõe àquilo que nos possibilita a melhora. Tudo o que Líllian passou foi perigoso, difícil e triste. Por isso, como defesa, o corpo se isentou de qualquer lembrança do ocorrido. - explicou.
- Como proteção... - refletiu Dumbledore.
- Sim, mas isso é o que os exames dizem... - começou a Dra. Parker, mas pareceu pensar melhor e não terminou seu pensamento.
Dumbledore, percebendo a hesitação da médica, se portou de forma inesperada e disse:
- Doutora. Nós dois temos uma relação profissional e apenas isso, embora eu ache que o que vou lhe pedir agora seja estranhamente íntimo, pelo menos de minha parte. - ele pausou. - Mas acho que a senhora entenderia se eu lhe pedisse para não omitir detalhes. Líllian é uma pessoa especial para mim e eu quero saber de todos os problemas dela. Do contrário, não poderei ajudá-la. Quero... espero que me diga tudo o que lhe passar pela sua mente, mesmo que sejam meros delírios. - finalizou.
A mulher o encarou com firmeza. Ela recolocou os óculos. Pareceu pensar melhor e retirou-os de novo. Ela estava visivelmente nervosa.
- Certo. - cedeu, pousando os óculos na mesa. - Bem, quando nós a encontramos, ela estava desacordada. Deitada no chão em meio a cacos de vidro. Sua perna estava dobrada em um ângulo impossível, por isso achamos melhor introduzir uma tala antes a levarmos. Mas, quando estávamos na metade do procedimento, ela acordou. Começou a gritar como uma louca e a dizer coisas como 'onde esta meu bebê?', 'o que aconteceu com meu marido?'. Depois ela olhou em volta e acho que percebeu onde estava, porque começou a chorar e perguntar para mim se um tal de Voldemort havia deixado os corpos. - ela balançou a cabeça, como que tentando afastar a lembrança. - Me desculpe, Dumbledore, mas ela parecia se lembrar de tudo o que havia acontecido, diferente de agora.
- O que quer dizer? - perguntou Dumbledore.
- Quero dizer que os exames dizem que seria normal se houvesse mudanças na memória dela. Mas quando nós a encontramos, ela parecia se lembrar de tudo. E mais tarde, quando ela acordou, estava em um quarto igual ao que ocupa agora. Porém isso pareceu perturbá-la. Ela ficou violenta e atacou os enfermeiros, com o pretexto de fazê-los libertá-la para que fosse salvar alguém chamado Harry, como ela mesma dizia. Foi introduzida uma quantidade média de morfina para que ela dormisse. - a Dra. Parker apoiou o indicador e o polegar na ponte do nariz. - O efeito não foi satisfatório. O corpo reagiu mal e ela teve de ir diretamente para a Emergência. Ficou desacordada tempo suficiente para a perna se curar e agora acorda com a memória alterada.
- Foi pelo fato de ela estar violenta que a colocaram naquele quarto? - perguntou o homem, com o olhar fixo na mulher à sua frente.
- Sim. - a doutora respirou fundo antes de perguntar: - Dumbledore, haveria algum motivo para ela estar fingindo uma perda de memória?
O velho arregalou os olhos diante de tal afirmação e se perguntou se haveria algum motivo para que Líllian fingisse uma perda de memória. Não que ele soubesse.
- Fingindo? Creio que não.
- Tem certeza?
Dumbledore se recusava a acreditar que ela estivesse lhe perguntando uma coisa desse caráter. Faze-lo duvidar de Líllian Potter era, definitivamente, uma coisa ruim. Ele não tinha tempo para dúvidas e em hipótese alguma podia desconfiar da sinceridade dela.
- Não há a hipótese de ter sido o uso da morfina a causa do problema? - perguntou, mudando de assunto.
- Pode acontecer, mas é uma chance remota demais para ser considerada útil...
- Porque envolve sua competência como médica. Se fosse hipótese de erro de algum outro consultório, você não descartaria a idéia, não é mesmo? - desafiou.
A Dra. Parker abriu a boca uma ou duas vezes para retrucar, mas acabou desistindo. Fez uma nota mental de que Dumbledore não era dado à contradições.
- Estou apenas dizendo que ela acordou duas vezes com a memória intocada. Por isso acho estranho que não se lembre de nada agora. - ela se defendeu.
- Como aconteceu não vem ao caso. Temos de nos empenhar em ajudá-la agora e não em contrariá-la.
- O que podemos fazer é simples: contratar um psicológo para conversar com ela. - disse a doutora, mudando de assunto.
- Um psicológo pode ajudá-la? - o homem não fazia a menor a idéia do que era um psicológo, mas aprendera que se perguntasse, a médica poderia achar estranho.
- Existem casos em que a ajuda de um psicológo foi vital para a recuperação do pasciente. - ela disse. - Acho que pode ser um passo andado para a recuperação dela, sem falar que poderemos acompanhar a melhora mental e quais são suas emoções em tempo real.
- Vai ajudar? - ele repetiu a pergunta.
- Basicamente, sim. - respondeu a doutora, toda a hospitalidade estava esquecida.
Dumbledore balançou a cabeça afirmativamente, declarando que havia entendido.
- Faça isso. - pediu cordialmente.
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Líllian Potter se encontrava sentada em frente à uma mesa de madeira velha e cheia de lascas. Estava no pátio do centro de recuperação. Ela esperava alguém, mas não sabia quem era. Haviam posto uma camisa de força nela, mas não tinha importância.
Ela olhou para o teto do pátio e ficou escutando o som da chuva que caia sem parar. O som era aconchegante e ela sentia vontade de se molhar na água que caia. Nunca tinha sentido a chuva na pele e se sentia boba por desejar algo tão simples. Líllian sentiu a mesma vontade quando ouviu a água que caia do chuveiro antes de tomar seu primeiro banho e havia adorado a experiência. Será que ter a chuva batendo na pele daria a mesma sensação de quando se toma um banho?
Não tinha liberdade. Nunca mais tinham posto agulhas em seu corpo. Nunca mais a mandaram para o quarto branco. Eles deixavam que ela andasse pelo pátio quando Dumbledore estava por perto, mas isso estava longe de ser liberdade. Fazia duas semanas que estava trancafiada no centro de recupeção e ainda não havia se acostumado com a idéia.
Perguntou a si mesma se algum dia chegaria a aturar aquele lugar. A comida era aceitável, as acomodações eram boas e ela era tratada com respeito. Até demais. Sim, porque todos os enfermeiros a tratavam com uma cordialidade absurda, como se a garota fosse perigosa. Mas ela nada havia feito de perigoso. Olhou para a camisa que a prendia e achou que talvez eles pensassem que era violenta. Sorriu tristemente.
Ela notou quando um homem se aproximou e se sentou do outro lado da mesa. Líllian levantou seus olhos para observar seu novo visitante. Era um homem interessante, o que o tornava bonito; tinha cabelos escuros e cacheados, sua pele era rosada e ele não parecia ter mais de trinta anos. Seus olhos eram cinzentos e ele usava óculos. Como todos por ali, ele estava de branco. Líllian se perguntou como conseguiam não enlouquecer naquele lugar, cuja cor que dominava era o branco. O homem era incrivelmente simpático e emanava segurança.
- Como vai? - perguntou, sorrindo amigavelmente. Ele depositou uma pasta preta de couro em cima da mesa, mas não a abriu nem retirou nada de lá. - Sou o doutor Albert McCanzey. Sou psicólogo. - ele se apresentou. Líllian permaneceu calada e impassível. - Você deve ser Líllian Potter. - Albert estendeu a mão, esperando que ela o cumprimentasse. A mulher apenas encarou a mão que ele estendia. Como poderia cumprimentá-lo se estava presa à uma camisa de força? Mas ela sabia que mesmo se não estivesse presa, nada faria com relação à mão que ele estendia.
Depois da conversa que ela tivera com Dumbledore, Líllian se fechou em volta de si mesma, se concentrando apenas em existir e mais nada. Ela ainda comia, fazia suas caminhadas, tomava seu banho. Mas não se dignava a abrir a boca para falar, não correspondia mais às tentativas de Dumbledore para se lembrar de mais nada. Estava em depressão. Depressão... essa não era a palavra certa. O correto era afirmar que ela estava de luto. Sim, estava lamentando as perdas que tivera.
- Ah, desculpe. - Albert finalmente descobrira que ela estava amarrada à uma camisa de força e recolheu a mão. Ele corou fortemente. Líllian se deixou divertir com aquilo: um psicólogo atrapalhado. - Bem, por onde eu começo? - ele meditou. - Estou aqui para conversar com você. Para te ajudar a descobrir o que aconteceu com você e para que se lembre de sua vida, Líllian... Posso chamá-la assim? - ela não respondeu. Apenas continuou a observa-lo. Albert não pareceu notar. - Então, me diga: qual a última de que se lembra?
Líllian nada disse e nem ao menos se deu ao trabalho de prestar atenção à pergunta. Era tão dificil assim entender que ela não queria se lembrar? Seu marido estava morto; seu filho sobrevivera, mas ela não se lembrava dele. Sua vida parecia tão assustadora, que ela preferia não se lembrar. Não queria reviver o horror que aquilo lhe parecia.
Albert suspirou.
- Não vai falar comigo, não é? - perguntou com um sorriso cansado. - Tudo bem. Eu entendo.
Ele definitivamente não entendia, pelo simples fato de pensar que podia compreender.
- Quer sair daqui. - ele continuou. - Você quer ir embora. Está se sentindo confusa com as pessoas que vem te visitar, dizendo que são seus parentes, mas você não se lembra deles, por mais que tente. É dificil. Chega a ser doloroso também.
Certo. Ela tinha que admitir que tudo fazia sentido. Aquele era o resumo de seus sentimentos. Mas era um resumo generalizado. Ele sabia quais eram seus sentimentos, mas estava longe de entende-los. E talvez ele não soubesse que a única pessoa que vinha visitá-la era um velho que ela ainda não sabia quem era.
- Mas, quero que saiba, para sair daqui, você precisa estar recuperada. Tem que saber para onde vai, o que vai fazer, como vai viver. Embora eu duvide que vão te deixar sair antes que terminem as investigações do que houve com você. - Albert continuava falando.
Líllian sentiu carinho pelo homem. Ela o continuava ignorando, mas ele se recusava a deixá-la sozinha. Diferente de Dumbledore, que depois de dois dias sem que Líllian falasse, foi embora. E não voltou mais. Líllian percebeu que havia paciência em sua voz, como se Albert estivesse acostumado com estas situações.
- Saiba que, por mais que possa parecer o fim do mundo, há uma chance... eu mais que ninguém sei disso. - ele pausou. - Sabe, meu irmão desenvolveu esquizofrênia quando ainda tinha cinco anos. Ele andava pela casa correndo de sombras que o perseguiam. Minha mãe se recusava a aceitar o fato de que seu filho tinha um problema e não o levou para se tratar. Então, eu passava todos os dias com ele, cuidando para que se curasse. Dois meses depois, ele se jogou da janela do terceiro andar e morreu. Prometi a mim mesmo não deixar que isso acontecesse com mais ninguém e tentei entender como funcionava a mente de pessoas com estes tipos de problemas... Me formei em psicologia e agora estou aqui. Me especializei em pessoas com depressão, ilusões, e perda de memória recente. Por isso estou aqui.
Ela continuou quieta, fitando Albert com indiferença. Tudo o que ele dizia era captado por seu cérebro como algo completamente difuso e ela não se dava ao trabalho de tentar entender. Líllian fitou a mesa como se houvesse algo de extremamente interessante nela. Albert continuou:
- Não vai falar comigo? - perguntou novamente e quando Líllian nada disse, ele sorriu compreensivamente. - Certo. Vou vir aqui todos os dias para falar com você. Ou para conversar, se você permitir-se falar comigo. Sei que as coisas parecem estar indo muito ruim para você. Sei que quer sair daqui e sei que está confusa. Mas tudo muda, sabe? Desde as roupas, até a vida. E não será diferente com você. Muito pelo contrário. - ele pausou, retirou os óculos e limpou-os na barra do jaleco que usava. Recolocou-os e se voltou para Líllian. - Essas mudanças só vão acontecer se você quiser. Ninguém pode mudar por você. As pessoas mudam tanto que as vezes a frase 'quem sou eu' não se encaixa na sociedade.
Líllian tentou ignorar a curiosidade que aquela última frase lhe causou e fechou bem os lábios para não perguntar o que ele queria dizer com aquilo. Seu rosto não demonstrou interesse algum, embora ela quisesse desesperadamente que ele continuasse falando. Para a felicidade e alívio de seu interior, Albert voltou a falar, acomodando-se na cadeira e falando, ignorando completamente o silêncio dela.
- Para mim, 'quem sou eu' deveria ser substituido por 'quais são as minhas mudanças'. Por que você muda de opinião, muda de roupa, muda de lado, muda o corte de cabelo, muda o estilo de vida, muda de marido, muda de mulher, muda de amigos, muda de inimigos, muda de casa, muda de cidade... são tantas mudanças que depois de um tempo você para de perceber que esta mudando. Você esquece. - mais uma pausa. - O que eu quero dizer é... - ele pareceu procurar um modo de explicar seu raciocínio para ela. - ... você pode mudar. Se sua vida parece uma verdadeira merda agora, não significa que você não possa mudá-la para melhor. Ou para pior, dependendo do ponto de vista. Se quer ajuda para isso ou não, vai ter que nos dizer, por que não podemos adivinhar.
Albert deixou que ela absorvesse as informações antes de continuar:
- Enfim, se sua vida vai 'mal', ou de 'mal à pior', fique tranquila. - disse. - Pois a única coisa que não tem possibilidade de mudança é o que está abaixo de 'pior'. - completou.
Para finalizar, ele se levantou e pegou suas coisas. Líllian o observou ajeitar o jaleco e sair dali sem dizer mais nada. Se perguntou por momento qual era o objetivo dele ali, porque se fosse para deixá-la confusa ou adimirada, havia conseguido.
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Sirius Black foi jogado na cela de Azkaban sem nenhuma delicadeza. Estava branco e ofegante por causa das varias horas passadas em meio aos Dementadores, tendo suas lembranças sugadas por aqueles imprestáveis. Estava com frio, mas suava como nunca. Seu corpo doía demais para que se levantasse, ou se encolhesse para que esquentasse a si mesmo.
Por Merlin, qual fora a última vez em que estivera encrencado? Em Hogwarts, em uma de suas brincadeiras com Ranhoso e que terminou em uma detenção de duas semanas. Fazia muito tempo, mas ele se lembrava bem. E Tiago estava junto com ele nesta ocasião. Líllian havia ficado muito brava com ele no dia em que aquilo acontecera. Esses problemas, que lhe pareciam enormes na época, eram pequenos demais se comparados ao que ele estava vivendo agora.
Líllian e Tiago estavam mortos. Pedigrew foi um traidor e estava foragido, deixando a culpa para Sirius carregar. O que ninguém entedia era que ele jamais traíria seu melhor amigo. Mas isso não tirava o fato de que ele nada podia fazer, pois estava preso por um crime que não cometera.
- Ora, veja só... - ouviu uma voz rouca e baixa de tão gasta vindo da cela ao lado da sua. Olhou para o lado e viu um dos Comensais da Morte de Voldemort e soltou um gemido de desgosto. Pelo menos os aurores estavam prendendo gente que merecia. - Sirius Black. O amiguinho do Potter.
- Cale a boca, Belatriz. - resmungou.
- Você continua tolo. - Belatriz continuou, ignorando a ordem de se calar. - Se tivesse se juntado ao Lorde das Trevas, pelo menos estaria preso por algo que valeu a pena.
- Mas estaria preso da mesma maneira.
- E aqui esta você... preso por causa da traição do Pedigrew. Sabe que ele foi bem útil? Pena que o rato escapou, ou estaria aqui para lhe fazer companhia. - ela riu escancaradamente.
- Cale a boca, Belatriz. - repetiu. - Use sua existência inútil para algo que realmente valha a pena. - ironizou.
Belatriz voltou a gargalhar histericamente. Estava ficando louca e Sirius podia perceber isso a cada mísero segundo que passava ao lado da mulher.
- Valeu a pena se arriscar pelo Potter, Sirius? - ela voltou a rir.
- Valeu a pena se arriscar por alguém que foi derrotado por uma criança de um ano de idade? - retrucou, fazendo a mulher se calar instantaneamente. - Você serviria melhor à Voldemort se estivesse calada. - murmurou.
Sirius se levantou e postou-se sentado. Examinou o local: era escuro, sujo e tinha o cheiro podre de fezes e urina. Era mais frio do que se estivesse mergulhado em um lago de gelo. Em sua cela, havia um colchão velho e fino, cheirando à vomito; havia uma pequena privada em uma canto afastado, que estava indiscutivelmente com os restos dos últimos prisioneiros.
Ele não pode deixar de notar que as celas não eram limpadas havia anos. Percebeu que os Dementadores eram uma presença constante no lugar, o que não o assustou. Sirius poderia assumir sua forma de cachorro assim que eles viessem, para que não fosse vítima deles. Se lembrou do motivo de ter virado um animago e constatou que Lupin estava louco para bater nele, pois Lupin, assim como todos, acreditava que ele fosse um traidor.
Belatriz viu que Sirius examinava o lugar.
- É bem pior do que nós imaginávamos na escola, não? - comentou, se encolhendo ao olhar para a própria cela. - Nunca pensei que fosse vir parar aqui.
Sirius riu amargamente.
- Talvez pudesse ter tentado deduzir. Afinal, seus atos não foram os mais honestos nos últimos anos. - zombou.
Belatriz não respondeu, apenas fez um gesto obsceno com as mãos na direção de Sirius e se voltou para seu próprio colchão, se encolhendo quando um Dementador passou pela sua cela.
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N/A: adivinhem... sim, aqui estou eu, sentada no sofá relendo o cap. com aquela cara de idiota que todo autor faz quando fica feliz com seu trabalho. O que não é o meu caso... Achei o cap. pequeno demais e com poucas informações interessantes, mas podem esperar um resultado melhor do next.
Enfim, desculpem se eu deixei passar algum erro de português inaceitável, mas não aguento mais reler isso aqui...
Comentem.
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