Sinais de vida
Capítulo Três - Sinais de Vida
Albert McCanzey andava calmamente pelos corredores do centro de recuperação. Havia acabado de ter com Líllian Evans sua terceira consulta. E ela ainda se recusava a falar. Ele fazia uma visita a cada semana para tentar obter resultados, mas absolutamente nenhuma mudança acontecia no comportamento de Líllian. De acordo com os enfermeiros do local - com quem Albert já conversara para obter informações sobre a pasciente - Líllian tinha o mesmo comportamento. Não falava, nem dava sinais de emoção. Ela apenas vivia. Albert tinha plena consciência que fazia cerca de um mês que Líllian estava no local. E faziam três semanas que ele falava com ela toda quarta feira.
Mas ele não conseguira nenhum resultado. Dedicava duas horas, de cada quarta feira, para falar com ela. Ou sozinho, afinal, Líllian mal abria a boca para soltar sequer um bocejo. Então, Albert começou a apelar: procurou conversar com todos os enfermeiros; perguntou quem vinha visitá-la. Os informantes por sua vez lhe disseram que a única pessoa que vinha visitá-la era o tal Dumbledore, mas que ele nunca mais veio depois que Líllian começou a se consultar com o psicólogo toda semana.
Procurou mudar o rumo da conversa para coisas banais e perguntas normais para que ela não se sentisse obrigada a expor suas poucas lembranças e seus poucos sentimentos. Mesmo resultado. Líllian permanecia impassível e nada dizia.
Albert suspirou pesadamente ao chegar à sala da Dra. Parker, a médica responsável pelo tratamento de Líllian Evans. A Dra. queria um relatório das últimas consultas e ele se perguntava o que diria à ela. Não havia o que afirmar, apenas o que questionar. Ainda assim, ele bateu na porta.
- Entre. - disse a mesma voz feminina que ele sempre ouvia antes de entrar na sala dela. Não era sua primeira visita ao escritório da Dra. Muito pelo contrário. Ele a visitava cerca de três ou quatro vezes por semana para discutir os resultados dos exames de Líllian.
O psicólogo entrou no escritório e fechou a porta com um estrondo atrás de si. Hoje estava sendo um dia ruim. Brigara com sua mulher de manhã por ter que sair para trabalhar no dia da festa de aniversário da filha. Ele se sentou na cadeira de frente para a mesa bem organizada da mulher, que o fitou, como se perguntasse o porque de tanta violência.
- Bom dia, Dra. Parker. - ele cumprimentou, sem humor e forçando um sorriso.
- Você esta bem, Dr. McCanzey? - ela perguntou, juntando as sobrancelhas. Preocupação? Não. Troca de favores entre iguais.
- O que esta em jogo aqui é o bem estar de Líllian e não o meu. - ele retrucou.
A médica arregalou os olhos com tal afirmação, mas sorriu compreensivamente, mesmo não entendendo de imediato o motivo do mal humor do psicólogo.
- Muito bem. - disse a Dra. Parker. - Vamos direto ao assunto. - ela retirou os óculos do bolço do jaleco branco e os vestiu, como se estivesse se preparando para ler algo. - Onde está o relatório? - pediu, com a mão estendida.
Albert revirou os olhos e se perguntou se ele pouparia tempo se tivesse escrito um relatório para ela.
- Eu não trouxe o relatório. - disse.
- Não? - perguntou, se certificando de que havia escutado corretamente. O homem balançou negativamente a cabeça. - Bem, e porque não?
- Pelo fato de não ter absolutamente nada a relatar. - respondeu, inclinando-se sobre sua cadeira.
- O que quer dizer? - perguntou a Dra., confusa com a resposta.
Albert suspirou pesadamente. As poucas coisas que ele tinha a dizer pouco ajudariam a médica. Ele sabia perfeitamente que tudo o que acontecia aqui era de total conhecimento dos policiais que se empanhavam em investigar o que aconteceu com Líllian. Ele bem sabia que os policiais não tinham nada nas mãos. O autor daquilo tudo não deixara pistas. E a única sobrevivente era uma mulher que tinha amnésia. Por isso, eles estavam pressionando o diretor do centro de recuperação, que pressionava a médica responsável por Líllian - Dra. Parker -, que por sua vez pressionava Albert.
Mas ninguém chegou a se perguntar porque o tal Dumbledore vinha visitar Líllian. Obviamente era porque a conhecia, porque tinha algum contato com ela, porque sabia de sua história mais do que ela mesma. Mas ninguém se atraveu a questioná-lo apenas por ele ser o protegido do Ministro. (N/A: protegido do Ministro trouxa, que fique bem claro.) E ninguém se importou com o fato de ele parar de vir visitar a mulher.
E agora, os malditos policiais queriam usar Líllian para descobrir a verdade. Queriam usar uma pessoa que até mês passado não sabia seu próprio nome. Albert sentia que ela tinha o direito de dizer se queria ou não ajudar na investigação. Mas desde quando o que as pessoas acham é relevante para os policiais?
- Quero dizer, doutora, que ela não diz nada.
- Líllian não diz nada?
- Não. - ele disse. - Ela mal deixa transparecer sentimentos. O pouco que tenho a falar são suposições e meras hipóteses.
A Dra. Parker fechou a cara, visivelmente irritada e decepcionada.
- Diga. - pediu que ele continuasse.
Albert ascentiu e começou a falar:
- Bem, pelo que pude observar, vocês colocam uma camisa de força nela todas as vezes que ela sai do quarto. - observou ele. - Retirem. Todas as vezes que ela for sair, deixe que realmente saia. Que fique livre, mesmo que for para andar pelo pátio. Porque eu percebi o olhar cobiçoso que ela lança às vezes pelos muros que a cercam e seria bom também se parassem de lhe tratar como se ela fosse perigosa...
- Como? - perguntou a médica brutalmente, interrompendo o relato do doutor. - Soltá-la da camisa de força?! Só pode estar louco.
- Porque louco?
- Ora, você não viu o que eu vi. Essa mulher é capaz de mais coisas do que o senhor pode imaginar! - ela exclamou.
- A que, exatamente, a senhora se refere? - ele perguntou.
- Quando a encontramos ela se debatia furiosamente quando meus enfermeiros a seguravam. Depois que a acomodamos no mesmo quarto que ela esta agora, ela atacava todos os enfermeiros que tentavam cuidar dela. Por causa desses comportamentos, nós a mudamos para um quarto mais seguro, para observação. Mas ela conseguiu sair usando uma agulha! - disse exasperada. - Se o alarme não tivesse soado, eu nem sei aonde ela teria ido!
- Vocês a assustaram! - retrucou Albert. - Mal tiveram o trabalho de explicar a ela o que estava acontecendo, para que se acalmasse.
- Terei que explicar a você o que esta acontecendo, doutor? - perguntou a médica, retirando os óculos e baixando o tom de voz ameaçadoramente.
- Acho que é ao contrário. - revidou ele. - Vocês querem que eu retire informações dela, não? Um pasciente não se abre com um médico se não sentir que pode confiar nele, e vice-versa.
- Dispensar o uso da camisa de força é um gesto que demonstra confiância? - ironizou a Dra. Parker.
- Mas é claro! - ele bateu com a mão na mesa, fazendo alguns papéis sairem do lugar. - Mostraremos à ela que pode confiar em nós e que também podemos confiar nela.
- E se ela tentar fugir?
- Não creio que ela conseguirá ir muito longe dentro de um centro tão bem patrulhado como esse. - disse Albert, sorrindo de sua bajulação falsa.
A verdade é que aquele centro nunca seria bem patrulhado. Por que ele havia visitado o quarto de observação de onde Líllian havia escapado e descobriu quase que imediatamente que fora por descuido deles que ela conseguira fugir. Afinal, no quarto havia um espelho de dois lados: o lado espelhado dava para o quarto e o outro lado dava em uma sala aonde ficavam pessoas observando o pasciente.
Albert checou as câmeras de vídeo e assistiu a fuga de Líllian, assim como assistiu as câmeras de vídeo da sala de observação e descobriu que não havia ninguém observando-a no dia da fuga.
- Mas e se ela ferir alguém? - perguntou a Dra. Parker, feliz com a pequena bajulação.
- Duvido que faça isso.
A Dra. Parker pareceu meditar sobre o assunto. Os policias estavam cada vez mais impacientes. Se ela não conseguisse fazer Líllian falar, as coisas começariam a piorar.
- Certo. - disse ela. - Mas ela só ficará sem a camisa de força quando estiver em sua companhia, ou seja, para circular pelo centro, exijo a camisa de força. - continuou.
- Obrigado.
- Mais alguma coisa? - perguntou.
- Sim. - respondeu Albert. - Eu gostaria de falar com Dumbledore.
A Dra. franziu a testa.
- Porque?
- Quero lhe falar sobre Líllian. Pedir que ele volte a visitá-la. Sabe, ela precisa de companhia.
- Tudo bem. Entrarei em contato com ele. - respondeu.
Albert se levantou e se encaminhou para a porta, afim de sair logo dali e ir para casa. Mas a voz da doutora o interrompeu quando ele já estava com a porta aberta. Ele se virou para encará-la, sem tirar a mão da massaneta.
- Albert?
- Sim? - ele estranhou que a Dra. lhe dirigisse a palavra pelo seu primeiro nome.
- Enquanto estiver fora da camisa de força, ela é responsabilidade sua.
- Claro. - respondeu e saiu, fechando a porta atrás de si.
Era lógico que a Dra. Parker não fosse se responsabilizar por algo que pudesse afetá-la.
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Dumbledore novamente andava pelos mesmos corredores do Ministério da Magia, em direção à mesma sala em que estivera algumas semanas antes. E pelo mesmo motivo: Líllian Evans. A sobrevivência dela vinha desencadeando suspeitas e acontecimentos imprevisíveis. Ele, é claro, permanecia ao lado de Líllian.
Os aurores do Ministério estavam investigando o caso, assim como os policiais trouxas. Ambos diziam estar do lado da lei, embora ainda não fizessem a menor idéia de que lado a lei estava. Dumbledore sorriu com o pensamento e registrou um modo de usá-lo na reunião da qual estava prestes a participar e, embora tentasse se convencer avidamente do contrário, ele sentia que nada de bom sairia dela.
Com esse pensamento nada favorável, o velho continuou a andar rapidamente pelo corredores do Ministério até parar na mesma porta familiar e repetir as mesmas batidas, tendo o mesmo pensamento sobre o chão de mármore e a porta muito bem poilda e relacionando isso com o espelho, como ele hava feito da última vez.
A porta foi aberta e Dumbledore entrou, examinando os presentes na reunião: os mesmos membros da Ordem. Porém havia também o chefe dos aurores a quem Dumbledore conhecia por ter trabalhado com ele uma vez em uma missão que ia em busca de Comensais da Morte. August Rutch, era seu nome. Um homem eficiente e que se movia de acordo com seus instintos, o que fazia dele uma pessoa ingênua quando se tratava de confiar nas pessoas corretas. Isso tudo porque, normalmente, seus instintos estavam terrivelmente errados, um dos motivos pelos quais Dumbledore, por vezes, sugerira ao Ministro a troca do cargo deste homem.
Dumbledore se sentou na mesma cadeira em que estivera na última reunião e se perguntou o porque de tudo parecer tão igual desde que ele deixara de ir visitar Líllian no centro de recuperação. E se perguntou se essa impressão não era a culpa de deixá-la sozinha o assolando.
- Bem, Dumbledore... - começou o Ministro, sentando-se também e pegando dois copos para servir conhaque a ambos. - Me diga, como vai Líllian? - perguntou, entregando um dos copos a Dumbledore e tomando o outro para si.
- Para ser bem franco, não tenho muitas informações para lhe oferecer, Cornélio. - começou Dumbledore. - Mas posso lhe adiantar que Líllian teve um perda de memória temporária e que esta sendo tratada por um psicólogo eficiente.
Cornélio franziu a testa em confusão e perguntou:
- O que vem a ser um psicólogo?
- Alguém que se especializa no estudo da mente das pessoas. - explicou o velho.
- Fascinante! - comentou o Ministro. - E me diga, porque não tem muitas informações para nós, se é você que esta responsável por ela?
Dumbledore pousou seu copo de conhaque em cima da mesa e pensou a respeito. Qual seria a reação do Ministro se dissesse a ele que não visitava Líllian a semanas?
- Parei de visitá-la assim que minha presença não se fez mais útil. - explicou. - Mas pretendo retomar as visitas assim que elas se fizerem necessárias.
- Entendo. - disse Cornélio.
- Agora, diga-me você, Ministro, o porque de nos ter reunido aqui. - pediu Dumbledore.
- Achei que ia gostar de saber como vão indo as investigações dos aurores... - começou Fugde.
- Você sabe perfeitamente que apoio tanto essas investigações quanto as investigações trouxas. - cortou Dumbledore.
- Ou seja, você não apoia. - completou o Ministro.
- Exato.
Fudge suspirou pesadamente e pousou seu copo na mesa, ao mesmo tempo em que Dumbledore pegava o dele e levava até os lábios lentamente. O Ministro disse:
- Mas ainda assim, achei que ia gostar de saber. - e apontando para o chefe dos aurores, acrescentou: - Poderia nos informar sobre as investigações, August?
O chefe dos aurores se voltou para ambos os homens, examinando a ambos incomodamente. Dumbledore deu um sorriso conciliador, incitando-o a continuar. Fugde apenas mediu o auror de volta, estreitando os olhos. O mesmo soltou um suspiro e começou a narrar:
- Quando começamos as investigações, estávamos um pouco atrasados, pelo fato de os trouxas terem chegado antes de nós e retirado de lá Líllian, o que me parece, até agora, uma peça necessária para o desenrolar da história. Mas ainda assim conseguimos montar um relatório, aparentemente completo, sobre o que ocorreu ali e por qual motivo. - August pausou. - O corpo de Tiago Potter foi encontrado próximo à lareira, sua varinha se encontrava do outro lado do aposento. Com isso podemos concluir que ele abriu a porta da frente e foi imediatamente desarmado, logo após golpeado e morto por Você-Sabe-Quem. - mais uma pausa teatral. - Alguns indicios indicaram que o assassino subiu as escadas em seguida. Foi nesse momento que Líllian o viu. Ela fechou a porta para impedir sua passagem, embora eu ache esse um ato idiota, afinal, a porta não o impossibilitou de nada. Enfim, ela foi atacada e caiu em frente ao berço, onde estava Harry Potter, que foi atacado em seguida, mas sobreviveu.
Dumbledore sorriu marotamente quando o auror terminou sua narração e disse:
- Não vejo nada de revelador em nada do que o senhor nos disse. - comentou.
O Ministro concordou com a cabeça, seus olhos perdidos em algum ponto do chão de mármore absurdamente lustroso. O relatório de August nada trazia de novo para a investigação, muito menos uma hipótese de solução para o problema em questão.
August, por sua vez, sorriu maldosamente para ambos os homens e disse:
- Eu não terminei. - deixou que a frase pairasse no ar por alguns instantes, como se esperasse que Dumbledore ou Fugde a absorvesse e se dignasse a respode-la. Mas como nenhum deles o fez, o auror continuou: - Depois de tentar uma permissão para visitar Líllian, sabendo que ela estava viva, e não conseguindo nem a informação de onde ela se encontrava, decidi trabalhar com o que dispunha, mesmo sendo pouco o material. Assim, achei muito estranha a sua teoria, Dumbledore, de que a morte de Tiago influenciou na sobrevivência de Líllian e da criança. Uma teoria possível, mas cheia de furos. - ele pausou mais uma vez, deixando o Ministro impaciente. - Essa teoria defende que Sirius Black entregou Líllian e Tiago à Você-Sabe-Quem e matou Pedigrew. Mas o que notei foi que nenhum dos Comensais declarou o nome de Sirius Black como um Comensal. Então me perguntei se o fato de Líllian e Harry terem sobrevivido não foi conveniente demais...
Alvo Dumbledore, franziu a testa em ligeira confusão.
- O que quer dizer? - perguntou levemente.
- Não acho que tenha sido Sirius Black quem tinha contato com Voldemort.
- A quem você se refere, August? - perguntou Fugde.
- Me refiro a Líllian. - disse. Dumbledore arregalou os olhos e levantou as sobrancelhas, em ligeira surpresa e descrença. O Ministro se engasgou com o conhaque. August sorriu com o efeito de suas palavras. - Pensem comigo, - prosseguiu. - o que uma mãe desesperada poderia fazer pelo filho? Vendo que a Ordem nada poderia fazer para protege-los, pelo menos não para sempre, ela entrou em contato com Voldemort e entregou o marido para garantir a sobrevivência do filho e dela mesma. Mas - acrescentou teatralmente. - algo deu errado. Ou Voldemort não honrou o acordo e tentou matar a ambos, ou o ataque à Líllian e ao filho foi realizado para não levantar suspeitas.
O velho professor, de longa barba branca e oclinhos de meia-lua, olhou August com desgosto e pronunciado desagrado, como se não acreditasse em nada do que ouvia. O Ministro terminava de se recuperar de seu engasgo e limpava a boca com um lencinho branco.
- Mas me diga, August, se no caso de Você-Sabe-Quem não ter honrado o acordo, você poderia explicar o fato de Líllian e Harry estarem vivos? - desafiou Dumbledore, pousando o copo de conhaque novamente na mesa.
August sorriu vitorioso com a pergunta.
- Posso explicar o fato de mãe e filho terem sobrevivido e imendo o porque de Voldemort ter caído. - disse. - Eles, provavelmente, fizeram um pacto de sangue no qual se algum deles desrespeitasse o acordo, cairia morto. E foi o que aconteceu: Voldemort tentou matá-los, mas se esqueceu do pacto. Assim nem mãe, nem filho morreram e Voldemort caiu. - finalizou.
Dumbledore franziu os lábios, com crescente desagrado.
- Então, podemos descartar a outra alternativa, não? Afinal, se o ataque à Líllian e à Harry foi realizado para não levantar suspeitas, porque foi que Voldemort caiu? - perguntou Dumbledore, novamente tentando encontrar uma saída.
August levantou os braços, demonstrando que estava se rendendo.
- Toda teoria tem seus furos. - comentou. - E é por isso que preciso de Líllian.
- No que Líllian pode ajudar? - retrucou o velho, se levantando.
- Quero ouvir o que ela tem a nos dizer. - replicou August, mas se manteve sentado.
- Você é surdo? Acabei de dizer que ela esta com a memória alterada! Não se lembra de nada. - esbravejou Dumbledore.
- O que não significa que ela não possa se recuperar. - disse o auror.
Dumbledore não respondeu. Apenas fitou o chefe dos aurores com o olhar cheio de fúria, como se perguntasse a si mesmo se valeria a pena esganá-lo.
- Ora, vamos, Dumbledore! - exclamou Fugde, percebendo a reação do professor e claramente se sentindo satisfeito pelo trabalho de seu auror. - Todos chegamos à conclusão de que Você-Sabe-Quem tinha um contato entre os nossos.
- Sim! - explodiu Dumbledore. - E creio que também chegamos à conclusão de que esse contato era Sirius Black!
August também se levantou, mas manteve-se calmo:
- Nenhum dos Comensais da Morte confirmou com precisão que Sirius Black era esse contato. - retrucou.
- Mas eles também disseram que Voldemort mantinha seus reais objetivos escondidos atrás de suas ações praticadas! - berrou Dumbledore.
- Sim, ele escondia muitas coisas de seus seguidores, Dumbledore. - disse o Ministro. - Por esse motivo não podemos descartar a idéia de mais um culpado nessa história. - completou.
- Os Comensais podem estar mentindo! - apelou o velho.
- Mas é claro que podem. - concordou o auror. - O seu ódio é tão grande que você mal considera a idéia de que Líllian também possa estar mentindo.
Isso fez Dumbledore parar por um mísero instante. Era bem verdade que Líllian podia estar mentindo, mas quem é que podia declarar isso como um fato? Não era mais fácil acreditar que um Comensal está mentindo, do que acreditar que Líllian mentia?
- Todo ser humano é capaz de mentir, não é mesmo, August? - perguntou ironicamente ao auror. - Os Comensais podem estar mentindo para salvar a pele de Voldemort, Líllian pode estar mentindo para salvar a vida do filho, ou dela própria.
- Claro. - concordou August, voltando a se sentar e se servindo de conhaque. - Temos que considerar todas as possibilidades.
Dumbledore ascentiu, como se considerasse a idéia.
- Sendo assim, - começou. - também podemos considerar a possibilidade de você estar mentindo.
August apenas levantou as sobrancelhas em incredulidade.
- É mesmo? - perguntou sarcasticamente. - E porque eu faria isso?
O velho sorriu marotamente para o auror.
- Para proteger a si mesmo e ao Voldemort. - disse Dumbledore. - Pense comigo: se devemos considerar todas as possibilidades, podemos dizer que você, assim como Líllian, também poderia ser o contato de Voldemort. Deste modo, você esta jogando a culpa nela para que possa se safar.
O auror levantou o copo, fingindo um brinde à Dumbledore.
- Ou posso estar fazendo isso porque Fugde me pediu para investigar Líllian. - corrigiu.
- Ah, posso dizer com precisão que o Ministro estaria cometendo um erro imenso. - sorriu Dumbledore. - Afinal, se a culpa for de Líllian, ele estará passando pelo ridiculo de admitir que colocou um inocente em Azkaban.
Cornélio arregalou os olhos e os moveu de Dumbledore para August.
- Porém - disse Dumbledore, feliz com o efeito que tudo aquilo fazia no Ministro. - acrescento que ainda não lhe dou permissão para visitar Líllian. - e assim, o velho se retirou, fechando a porta atrás de si com um estrondo. Seus passos ecoaram pelo corredor até que ele sumisse de vista.
O Ministro suspirou e se voltou para o chefe dos aurores, para quem disse:
- Não ligue, August. Continue com sua investigação. Dumbledore já tem ideias formadas para acreditar em qualquer outra coisa.
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Albert entrou em sua casa com o corpo dolorido de um homem que fazia exercicios de forma demasiada. O que não era o caso. Seu corpo doía de forma incompreesível, o que o fez relacionar as dores com o fato de ter dormido na poltrona de seu escritório na noite passada.
Sabia que estava obcecado pela mente absurdamente fria e indiferente de Líllian Evans. Albert nunca havia ficado três visitas seguidas sem informações, por menores que fossem. Já havia tido problemas com pascientes, mas não era essa a questão. Os outros normalmente se entregavam após várias promessas de recuperação, ou se suicidavam depois de alguns dias.
Porém Líllian... Ela não havia dado o menor sinal de vida depois de várias promessas que envolviam sua liberdade se ela falasse. Não havia sucumbido ao desejo de suicidio nenhuma vez. Líllian continuava sem reação conforme suas visitas passavam e novas surgiam.
E isso o deixava intrigado. Por esses e outros motivos, Albert dedicava todo o seu tempo à Líllian. O que irritava sua mulher, Nathalie McCanzey.
Já era tarde da noite, quase onze horas. Não havia nada para fazer na rua depois da conversa com a doutora Parker, mas ele fizera questão de se manter fora de casa para evitar a ira de Nathalie por ele ter faltado ao aniversário da filha.
Com um suspiro, ele subiu as escadas que davam para o segundo cômodo e adentrou pela porta de seu quarto.
Nathalie estava deitada, dormindo pesadamente. Seu cabelo castanho contornava o rosto cheio de sardas, sua pele delicada estava coberta por um pijama de seda roxo. Ela tinha um cheiro de café maravilhoso.
Albert a observou por alguns momentos, se deleitando com o cheiro dela. Com mais um suspiro, ele pegou seu travesseiro e desceu para dormir no escritório mais uma vez.
No caminho, ele não pode deixar de observar que o cheiro de café já não fazia mais efeito nele.
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Líllian Evans Potter estava deitada em sua cama. Seus olhos estavam fechados, mas ela não dormia. Qualquer um que adentrasse no quarto naquele momento pensaria que a respiração calma era o indicío de um corpo adormecido. Quem a conhecesse bem diria que é um auto-controle surpreendente.
Mas ninguém a conhecia e isso pouco importava.
A ruiva manteve-se quieta quando ouvia a porta de seu quarto ser aberta. Quem quer que fosse pareceu hesitar assim que constatou a imobilidade da mulher deitada em seu leito.
Ela tinha plena consciência de que dia era. O homem, com certeza o enfermeiro, viera buscar-lhe para a consulta com o psicólogo, cujo nome Líllian não se lembrava. Ela ouviu os passos que o enfermeiro deu em direção à cama em que ela se encontrava.
- Vamos, acorde. - o enfermeiro resmungou, balançando os ombros dela de forma rude.
Líllian sabia que era inútil tentar impedi-lo de fazer seu trabalho. Sabia por experiência própria. Acredite. Ela havia tentado fugir uma vez. Portanto, se levantou e permaneceu em estado vegetativo enquanto ele vestia a já familiar camisa de força nela.
O enfermeiro passou a cabeça de Líllian pelo buraco certo e fez o mesmo com os braços, cruzando-os de encontro ao peito dela e amarrando as sobras enormes das mangas atrás de suas costas. E ela percebeu o quanto o homem apertava o nó mais do que o necessário, pois sabia que a machucava e isso o divertia.
Mas como sempre Líllian nada disse e nem ao menos mudou sua expressão. Quando o enfermeiro se postou à sua frente rindo debochadamente, ela lhe lançou um olhar frio e indiferente. A mulher ria internamente com as tentativas dele de causar-lhe dor.
Assim que ele cansou de sua brincadeira pervertida, conduziu-a até a porta, seguindo pelo corredor, dobrando a direita e entrando em uma porta de vidro que dava para o pátio.
Depois de sentá-la em uma mesa, o homem se virou e foi embora, fechando a porta do pátio atrás de si e deixando-a à espera do psicólogo.
O homem de óculos chegou poucos minutos depois, sentando-se à sua frente, do outro lado da mesa de madeira lascada. Como sempre, ele depositou a pasta preta de couro em cima da mesa e não retirou nada de lá. Porque será, então, que ele a carregava?
- Olá, Líllian. - cumprimentou com o mesmo sorriso de sempre. - Como está? - perguntou. E mesmo sabendo que não obtiria resposta, o psicólogo esperou.
Líllian encarou-o friamente - o que estava se tornando um hábito, já que ela dirigia esse mesmo olhar à todos. Estava claro que ele a tratava com intimidade, como se tentasse se aproximar dela à qualquer custo. Qual era mesmo o nome dele? Ah, sim. Albert.
- Conversei com a doutora Parker sobre você esta semana e pedi à ela que despensasse o uso da camisa de força. - informou, não se intimidando com a indiferença de sua pasciente. - E pelo visto ela ignorou totalmente o meu pedido. - acrescentou ao ver que Líllian estava amarrada à camisa de força. Albert franziu a testa. - Não te machuca? - perguntou, se referindo ao aperto da camisa.
Ele esperou resposta. Mas a ruiva não se deu ao trabalho de responder. A incistência dele lhe parecia familiar.
A imagem de um adolescente de cabelos negros e bagunçados, óculos e olhar maroto atravessou a mente de Líllian. Uma coisa sem sentido e desconexa. Uma lembrança. Sua primeira lembrança. Que ela ignorou totalmente. Ainda assim, ela não pode deixar de comparar aquele garoto à palavra incistência.
A única vez que alguém falou com ela sobre seu passado foi na primeira visita de Alvo Dumbledore. E deste dia em diante Líllian entedeu que seu passado era difícil e triste demais para que ela se desse o trabalho de revivê-lo. Em outras palavras, ela não queria se lembrar dele e barrava qualquer lembrança que lhe viesse a mente. O que não a excluía de sentir ódio do tal Voldemort.
- Me parece mais apertado do que devia. - continuou Albert, ainda olhando para a camisa de força. Líllian continuou a encará-lo com indiferença.
Para a surpresa da mulher - que se manteve impassível -, o psicólogo se levantou, deu a volta na mesa e se postou atrás da cadeira dela, desamarrando a camisa de força e deixando seus braços livres. Albert sentou de volta em sua cadeira e começou a arregaçar as mangas exageradamente longas da camisa, para deixar-lhe as mãos livres.
Líllian, por sua vez, acomodou suas mãos no colo. Se ele esperava alguma mudança no comportamento dela, obteve, ao invés, o mesmo resultado. O rosto da mulher continuava frio e indiferente.
- Melhor? - perguntou à ela. Não obteve resposta. - Sabe, também pedi à doutora Parker que entrasse em contato com Dumbledore. Já faz um tempo que ele não vem te visitar... Sente falta dele? - e mais uma vez, a ruiva permaneceu em silêncio. Albert riu. O desgosto passou a dominar suas feições e ele retirou os óculos. - Você é muito complexa. - disse. - Meu trabalho é ajudá-la à recuperar a memória e voltar à sua vida normal, mas você não colabora. - desabafou.
A mulher permaneceu em silêncio. Já conhecia esses acessos do psicólogo. Nessas horas, ele normalmente começava um discurso sobre como a entendia. Isso a irritava mais do que o necessário.
- Talvez você não queira falar. Talvez não queira encarar a realidade. Talvez você se recuse a dizer qualquer coisa antes que te deixem sair daqui. Ou talvez esteja em depressão. Eu não sei. - ele começou a falar. - Mas quero que saiba que não importa qual é o caso, eu compreendo o que esta sentindo e quero te ajudar. E talvez você se pergunte qual o sentido de tudo isso. Eu digo: Líllian, você perdeu seu marido e seu filho está sendo mantido longe de você. E mesmo assim, até hoje, eu nunca vi você derramar uma lágrima por eles. Isso não te perturba?
Albert deve ter dito mais alguma coisa, mas Líllian não ouviu. Uma onda de fúria incontrolável se abateu sobre ela, que bateu com o punho fechado na mesa, assustando o homem.
- PARE! - ela berrou. - Nunca mais diga que me compreende! Desde que cheguei aqui, a única coisa que escuto são pessoas me dizendo o que devo fazer! Dizendo que me entendem! Que sabem o que estou sentindo! - continuou ainda gritando. - Fui acusada de ser violenta, de não ser violenta e de ter disturbios de personalidade! Você nunca perdeu alguém da sua família, alguém que você sabe que amou, mas não consegue chorar por ela! Você não entende nada do que eu estou sentindo!
Líllian se levantou e jogou a cadeira em que estava sentada longe com um chute.
- AAAAHHHHH!!! - ela gritava, completamente descontrolada.
Albert não pode dizer nada, pois minutos depois, três enfermeiros entraram no pátio, e a levaram dali.
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N/A: meu Merlin, que cap. mais trágico! Enfim, eu tive que repostar ele, porque eu fui revisar só depois e decobri que tinha vários errinhos.
Se tiver algum erro que eu deixei escapar, peço desculpas.
Comentem.
Comentários (4)
Corrigindo a nota. rsrs
2012-12-02Uma história que prende o interesse! Você vai continuá-la?
2012-12-02Muito boa! Quero a continuação :(
2011-11-11Adorei a fiction, de fato. Espero que poste a continuação logo, a estória é intrigante! *-*Acompanharei, ansiosa por cada capítulo novo.xx Bee.
2011-07-25