Do Mistério Encerrado no Triân
N/A: Esse capítulo é especial para o meu grande amigo Déh! É aqui começa a se desenrolar a trama do personagem dele, que nós dois vimos nascer! :) Pois é, o Allard é dele e eu o agradeço por toda a inspiração que o pequeno sonserino me trouxe para a fic e, enfim, por tudo que ele é! ^_~
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- Aprenda, Warrick, que certas simpatias devem ser cultivadas. A família Malfoy é de grande influência em todo o país... Certamente você não vai querer se indispor com eles... - Falou Snape secamente.
Allard não respondeu, mas pôde compreender porque o outro recebera um castigo tão leve.
Snape observou-o discretamente por um momento. Havia algo de estranho com aquele garoto. Estranhamente familiar. Balançou a cabeça de leve, como que para afastar aquelas considerações vagas e voltou a habitual posição.
- Preste atenção no que faz, não admito erros em uma tarefa tão simples!
O professor saiu da sala, fechando a porta atrás de si e andando apressadamente em direção à sala do diretor e Allard, debruçado sobre os mais diversos ingredientes para poções, pôs-se a encarar os fatos: Não era nada exageradamente complexo, mas copiar todos aqueles nomes científicos nos novos rótulos exigia muita atenção. "Zingiber Officinale: Raízes", "Scarabeus Sacer: Pernas", "Batrachoides Cornatus: Olhos"... Estava indo muito bem, passados vinte minutos já pegara uma certa agilidade e não estava mais cometendo erros ortográficos. Manteve o ritmo durante mais de uma hora, mas, então, começou a sentir o cansaço e um certo incômodo na mão direita. Resolveu parar por um momento, massageando o punho e respirando fundo, afinal, as paredes eram forradas com prateleiras cheias de fracos e, apesar de ter feito bastante na primeira hora, aquilo ainda demoraria muito. Ajeitou-se na sólida cadeira, passando a mão pela nuca, esfregando os olhos e espreguiçando-se. Então, tendo aberto a mente para pensamentos diversos, a voz de Aurea voltou a repetir-lhe: "Você é parecido com o professor Snape"... "Vocês são parentes?"... Fechou os olhos formando mentalmente a imagem do rosto do professor e a sua própria... A voz da garota não parava de ecoar... Agora ele tinha certeza. Seus olhos estavam incrustados na face do professor contrastando com a mesma pele pálida... Uma forte contração no estômago acompanhou o eco em sua cabeça: "Vocês são parentes?"...
Ele precisava saber, a curiosidade lhe corroía as entranhas, sentia como se mil abelhas o picassem... A respiração falhava e seu peito estava mais oprimido que nunca. Depois de tantos anos ele finalmente encontrara uma pequena réstia de luz nas trevas da solidão. As semelhanças eram inegáveis... Coincidência, talvez? Ele precisava saber. Estava muito nervoso, suava frio e olhava por todo lado movimentando a cabeça como um autômato... Então seu olhar tocou a estante de pergaminhos e seu cérebro, num baque quente, voltou a funcionar à toda potência: Sim, se ele quisesse descobrir a verdade teria de procurar algum documento de família que porventura trouxesse alguma pista... Não, aquilo era improvável! Como poderia saber se ali havia algum documento que tratasse de algo além da própria pessoa de Severus Snape?! As lágrimas anunciavam sua chegada embaçando a vista do pequeno que sentia um terrível aperto na garganta, medo de seguir em frente e angústia de permanecer parado. Finalmente a angústia venceu a batalha no jovem coração e ele saiu à passos rápidos em direção à estante em segundos que pareceram intermináveis, mas terminaram logo com uma fisgada na parte inferior da barriga que colidiu fortemente com a escrivaninha do professor fazendo-o dobrar-se pela dor. Gemendo, Allard abre os olhos e percebe que o destino havia-lhe mostrado o lugar correto. Obviamente que documentos pessoais não iam estar atulhados no meio de dezenas de tratados de magia! Eles estariam em um lugar separado e, que lugar este senão a escrivaninha?! Levado por estas considerações, o garoto pôs-se a revirar os papéis sobre a mesa, verificou tudo e, sem que seu ânimo diminuísse, partiu para as gavetas que, por capricho da Fortuna ou descuido do professor, encontravam-se destrancadas. A cada nesga de pergaminho a tensão aumentava. Garranchos, rascunhos, selos rompidos, ofícios e tudo o mais que se possa imaginar. Mas no canto mais escuro, bem no fundo daquela gaveta, Allard encontrou seu tesouro - um estojo antiquíssimo de cedro perfumado com letras douradas curvando-se em belos floreios que diziam orgulhosas: "A Eterna Casa de Snape".
"Vocês são parentes?" O eco em sua cabeça finalmente teria sua almejada resposta. Abriu com reverência o estojo sentindo a emanação dos anos, a história viva em suas mãos. Desenrolou o pergaminho antigo sobre a mesa com carinho e dúvida, as abelhas curiosas picando-o por dentro... Correu os olhos pelas gerações temendo e ansiando o que estaria na parte mais inferior.
Não precisou procurar para achar o que queria. Na última linha estava a indecisa forma de três lados. Círculo para elas, quadrados para eles. O triângulo, ele já soubera, era para aqueles dos quais não se conhecia a natureza. Mas aquela forma convexa encerrava ainda mais mistérios: não havia data de nascimento e nem mesmo a data de óbito.
Allard estava como que congelado. Subiu o olhar apenas mais um centímetro e encontrou a linha que formava um ângulo de noventa graus com a do triângulo. Linha essa, que, numa das extremidades exibia um círculo que não se ligava aos níveis superiores. Obviamente estava lá por casamento. O círculo continha um nome que ele desconhecia: Igraine Greatfield. Não fazia nenhum sentido para o garoto. Seguiu com o olhar em direção ao elo que ligava a mulher àquela família, mas antes que chegasse, deparou-se com uma barra oblíqua que era praticamente auto-explicativa, denotando separação. Passou pelo símbolo agourento e chegou ao quadrilátero: o pai. Pelo que pode perceber, descartando-se o triângulo misterioso, aquele era o último descendente da dinastia. O mundo parecia ter parado agora e Allard já não percebi mais nada ao redor. Aquelas letras negras rebuscadas contra o papel amarelado e escuro, a voz de Aurea em sua cabeça. Ele já não distingüia mais o que era o pergaminho e o que era sua lembrança... O nome de Severus Snape em miúdas letras floreadas dançava na frente de seus olhos que já começavam a embaçar com as lágrimas. Quando as primeiras começaram a cair, a dor no coração se tornou mais aguda, mas logo ele sentiu-se mais leve e teve forças para recolocar o documento onde estivera há poucos minutos. Voltou para sua tarefa sentindo-se oprimido, chorando silenciosamente. Aos poucos as lágrimas cessaram, mas um nervosismo tomo conta do pequeno ser. A curiosidade, os mistérios e a ansiedade, tudo aquilo era demais para ele. Executar a tarefa que lhe fora designada estava se tornando um suplício, felizmente logo chegou o professor e lhe dispensou.
Tudo estava se passando estranhamente, Allard via as coisas como se não estivesse presente, como num sonho ruim. Dirigiu-se ao quarto, apressado, e meteu-se debaixo das cobertas assim que pode. Não conseguia mais chorar, estava alquebrado pelo nervoso e, assim, logo lhe veio um sono pesado e reconfortante.
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