Conversa, choro e queixo caído



Conseqüências daquela noite

Autora: Christine Waters

N/A1: Vocês sabem que Harry Potter não pertence a mim! Ainda.

Capítulo 4:


“--- Como exatamente é a gravidez masculina?”- perguntou um ainda tanto trêmulo Draco Malfoy, abraçando os joelhos. Madame Pomfrey olhou de relance para o jovem aluno e sentiu pena do garoto. “Merlin, ele tem apenas 17 anos e já vai ser pai!”. Como Draco quase tivera um ataque nervoso ao saber de sua condição, Madame Pomfrey achara melhor deixar o aluno sobre supervisão na enfermaria. Embora fosse impossível ele sofrer um aborto, as conseqüências do estresse poderiam se manifestar de forma nada agradável no bebê. “Se nascer saudável já vai ser um milagre... “

“--- Madame Pomfrey?” – Draco chamou a pensativa bruxa que olhava além da janela, em direção ao campo de quadribol, onde o sol dava os seus últimos suspiros. Pomfrey sobressaltou-se e olhou mais atentamente para ele:

“--- Sim, senhor Malfoy?”

“--- Eu perguntei como é exatamente a gravidez masculina” – repetiu o loiro, deixando cada palavra escorrer para fora da boca como se fosse uma poesia.” Afinal, Malfoys são finos até mesmo nas piores situações”, pensou Draco, passando a mão esquerda no cabelo. Um instante depois, se censurou por pensar em finura naquela ocasião. “Você, esperando um filho do pior inimigo da sua família, ainda se dá ao luxo de ser elegante? “

“--- Eu já falei, senhor Malfoy” – começou a advertir Pomfrey, a cara amarrada, livrando Draco de levar um sermão da sua consciência – “, que contarei mais detalhes sobre a sua situação desde...” – Fez uma pausa para respirar. Quando voltou a falar, seu tom veio dobrado em seriedade – “Desde de que o outro pai esteja aqui.”

E calou-se. Draco não falou mais nada também, e a enfermaria mergulhou em silêncio. De repente, o sinal agudo que o sonserino conhecia desde seu primeiro dia em Hogwarts tocou, liberando centenas de alunos de suas aulas. Acima das cabeças do adolescente e da medi-bruxa, milhares de passos ecoavam em direção ao Salão Principal. A ausência de Draco no jantar não passaria despercebida pelos grifinórios, claro. “E nem ao outro pai da minha filha”. Draco sentiu uma ligeira contração no estômago. Era muito estranho pensar em Harry como “ o outro pai da sua filha”.” Por Morgana, já estou chamando ele de Harry! “

Definitivamente, não ia dar para esconder isso de Pomfrey muito tempo. Mesmo que não contasse quem era o outro pai, quem garantia que as próprias feições da menina não revelassem isso, quando nascesse? Ou, pior, se Harry abrisse a boca, levantando a hipótese ( verdadeira) de que ele era o tal pai, quando visse a sua barriga? “Ah, Merlin...” Draco olhou para a enfermeira, que agora arrumava alguma coisa nas prateleiras de remédios. De repente, a última e desesperada tentativa lhe ocorreu. Talvez nem sobrasse bebê nenhum para contar história.

“-- Huuummm... Madame Pomfrey?” – ia precisar propor isso com muito cuidado.

“--- Sim, senhor Malfoy?” – a enfermeira se virou e encarou os olhos do sonserino. Olhos castanhos nos azuis. Draco respirou fundo e reuniu coragem para falar:

“--- Sabe... você não acha que um bebê nessa época da minha vida me atrapalharia muito?”

Os olhos de Pomfrey pareceram se incendiar:

“--- Atrapalhar como, senhor Malfoy?”

“--- Bem, nos estudos eu... “

Mas Draco parou a frase no meio do caminho ao ouvir a negativa da medi-bruxa:

“--- Se está falando de um aborto, pode esquecer, senhor Malfoy.” – e voltou a virar-se para as prateleiras.

Draco levantou-se num salto, indignado. A cama rangeu e Pomfrey virou-se rapidamente para o aluno:

“--- Senhor Malfoy, não se levante bruscam.... “

“--- Será que você não vê?”- interrompeu-a Draco, exasperado. – “Um bebê vai... vai arruinar a minha vida! Ter um filho no meio no ano letivo ia ser o fim!”

“--- Sejamos francos, senhor Malfoy” – começou Pomfrey, sentando Draco a força de volta na cama. O sonserino nem teve tempo para reclamar, pois Pomfrey já recomeçara – “O senhor pouco se importa verdadeiramente com os estudos” – Draco abriu a boca para protestar, mas não conseguiu, pois Pomfrey continuava –“..., mas sim com o que sua família vai dizer quando souber da menina.” – Draco olhava de olhos arregalados para ela – “Principalmente o seu pai.” – Lucius Malfoy fugira no ano anterior de Azkaban, e embora não fosse oficial, todos sabiam que ele estava de volta a Malfoy Manor, como braço direito de Voldemort.

Draco olhava direto para o chão, sem voz. Pronto, era o fim. Sua máscara caíra. De fato, ele andava apavorado só com a idéia de que o pai soubesse da sua gravidez. Nem queria saber o que o patriarca dos Malfoys faria. “Principalmente se soubesse quem é outro pai... “. O garoto engoliu em seco e passou alguns instantes sem emitir nenhum som. E quando falou, a voz não passava de um fiapo do que já tinha sido um dia, em nada lembrando o tom prepotente que costumava usar:

“--- Mas...não...eu... “

“--- Não, senhor Malfoy.” – Draco olhou para ela e foi capaz de jurar que havia visto os seus olhos castanhos marejados, mas a impressão se foi tão depressa quanto havia vindo – “Mesmo que desse...” – nesse ponto a voz dela perdeu a dureza e tornou-se mais gentil, ao ver que o sonserino estava a beira das lágrimas novamente – “Mesmo que pudesse, só poderia fazer o aborto aos 5 meses, por causa de termos biológicos. E isso... isso seria assassinato. A menina já seria uma vida.” – Nesse ponto ela parou, suspirando profundamente.

Draco enxugou os olhos, lutando contra as lágrimas teimosas que vinham. Agora ele estava mesmo bem ferrado.

“--- Então...então não tem como...?”

“--- Não, senhor Malfoy. É impossível.” – E depois de uma pausa, a medi-bruxa concluiu – “ O senhor terá essa menina, queira ou não.”

“ O senhor terá essa menina, queira ou não.” Aquilo parecia uma sentença de morte. Parecia não, era. Draco apoiou o rosto nas mãos, desconsolado, quase chorando de novo. Foi quando Pomfrey, inesperadamente, passou os braços em torno das costas do jovem rapaz, numa atitude de comforto um pouco desajeitada. O jovem, embora surpreso, não rejeitou o apoio. Foi quando Pomfrey disse, numa voz macia:

“--- Senhor Malfoy... – fez uma pausa, aparentemente procurando as palavras certas – “ O senhor não vai conseguir criar uma criança sozinho.” – inspirou profundamente e depois terminou – “ O senhor precisa me dizer quem é o outro pai dessa menina.”

Seguiu-se silêncio. Madame Pomfrey olhando piedosamente para o jovem à sua esquerda e Draco pensativo, ainda com o rosto apoiado nos pulsos. Depois de alguns minutos sem fala, Draco finalmente se pronunciou, a voz abafada entre as mãos:

“ --- Harry Potter.”

A boca da medi-bruxa literalmente caiu de espanto. Depois de alguns segundos de perplexidade, Pomfrey reagiu:

“-- Como? Senhor Malfoy, eu escutei direito?”

“ --- Escutou perfeitamente bem” – Draco levantou a cabeça, os olhos sem brilho, e olhou para Pomfrey – “ Sabe...eu e ele ficamos bêbados, e uma coisa levou a outra, e aí...”

“ ---Tudo bem, eu entendo.” – a enfermeira ainda tinha uma ligeira impressão de espanto no rosto quando levantou e foi até a janela. Passaram-se alguns minutos. Do lado de fora da enfermaria, ouvia-se os alunos jantando. Draco nunca soubera o quanto eles faziam barulho.

“ ---Senhor Malfoy?” – Pomfrey voltara de sua reflexão na janela e sentou-se novamente ao lado de Draco. – “Preciso que me ouça com muita atenção, tudo bem?”

Draco assentiu com a cabeça.

“--- Eu irei falar com o professor Dumbledore após o término do jantar” – Draco ouvia tudo muito quieto, a mão esquerda inconscientemente pousada na barriga –“ Ele decidirá o que fazer a respeito do bebê. Até lá, não comente esse assunto com ninguém em hipótese alguma. “

Draco concordou com a cabeça. Não iria falar de qualquer forma. A medi-bruxa voltou a falar:

“ ---O senhor poderia falar com o senhor Potter a respeito do...”

“ ---Não!” – exclamou Draco aflito-“ De jeito nenhum! Ele nun...”

“ ---Tudo bem, tudo bem.” – Pomfrey tranqüilizou-o, a mão acariciando de leve a barriga do rapaz – “ Eu entendo. Falarei com o professor Dumbledore a respeito disso também.”- Ela fez uma pausa, e as palavras pareceram flutuar no ar. – “ Pode ir agora. Vá, vá para o jantar.”

Draco levantou-se, obediente, e rumou para a porta. Quase saindo, porém, lembrou-se:

“ --- Madame Pomfrey?” – chamou, hesitante.

“ ---Sim?” – a enfermeira virou-se para encará-lo.

“ --- O que falo se me perguntarem o que tive?”

Pomfrey sorriu cúmplice. Draco não pode evitar retribuir. Naquele dia, parecia ter se formado uma estranha ligação entre os dois. Não tão forte quanto a que tinha com Harry, mas...era uma ligação, de qualquer forma.

“ --- Pressão baixa” – disse enfim, mais como um suspiro. – “ Agora vá para seu jantar.”

Draco fez uma confirmação silenciosa com a cabeça e saiu pela porta, desaparecendo pelo corredor em direção ao Salão Principal.


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