Bufos, muxoxos e os problemas
Conseqüências daquela noite
Autora: Christine Waters
N/A1: Harry Potter não pertence a mim. O que eu posso fazer?
Capítulo 7 :
Estava silêncio. Completamente silencioso agora. Na Torre da Grifinória, a única coisa que se ouvia era o barulho sutil que as gotas de chuva faziam quando batiam nas janelas de vidro do Salão Comunal, onde três jovens se encontravam. Um ruivo, alto e desengonçado, estava jogado num pofe cor de sangue, ainda mais branco do que o habitual. Outra, a única garota do ambiente, estava sentada numa cadeira de madeira, os cotovelos apoiados na mesa de carvalho antiga, enrolando os cachos castanhos febrilmente, os olhos brilhantes, mas em silêncio. O última pessoa era um garoto...não, era um rapaz. Era um pouco mais baixo e troncudo do que o ruivo, moreno e com enigmáticos olhos verdes-vivos, que faziam um par peculiarmente charmoso com a cicatriz em forma de raio que cortava sua testa. Olhos, em outras ocasiões, iriam parecer felizes, tristes, aborrecidos, sonolentos, deprimidos, alertas. Mas agora, os espelhos da alma de Harry James Potter, o Não-Mais-Tão-Garoto-Que-Sobreviveu, estavam brilhando de outra forma.
Preocupados.
Harry realmente esperava tudo dos amigos quando entrou calado no Salão Comunal e foi imediatamente assaltado por todos os tipos de perguntas de Ron e Hermione. Não ia ser exatamente uma coisa fácil de contar. Durante toda a subida pela escada, Harry se perguntara como iria falar uma coisa daquele quilate para eles. Qualquer plano que ele tivera, tinha ou ia ter perdeu o sentido quando Hermione, com os olhos dilatados de ansiedade e preocupação, tendo ao seu lado um Ron quase pulando de curiosidade, fizera a pergunta com voz temente:
“--- Harry... Harry, o que foi que o professor Dumbledore te disse?”
E pronto. Bum. Explodiu. Harry ficou vários segundos... ou minutos, já que ele perdera a noção de tempo, apoiado na parede de mármore ao lado da ladeira, divagando sobre qual bomba soltar primeiro. Depois de aparentemente decidir, falou.
E agora, aquele silêncio. Aquela incredulidade muda que Ron e Hermione expressavam, cada um à sua forma. Ron, em pausa absoluta, olhava o teto de veludo vermelho revirando ocasionalmente os olhos. Hermione, não menos pior, batia distraidamente os pés no carvalho que sustentava a mesa, lançando olhares a Harry que variavam de “ não estou acreditando nisso” à “ como isso aconteceu?”. Irritantes, sem dúvida. Harry não sabia o que o deixava mais nervoso, se os bufos de Ron ou os muxoxos ocasionais de Hermione. Ambos, por si só, já o deixavam à beira de um ataque de nervos.
Bem, mas Harry Potter havia feito tudo o que podia para que a bomba explodisse de forma mais suave possível. Se bem que não havia muito como amaciar a notícia, de qualquer forma. Mas, sejamos justos, Harry fez tudo o que podia para que Ron não surtasse e Hermione desmaiasse. Falou tudo em frases bem devagares, explicando tudo em detalhes – ou quase tudo -, para que não tivesse que repetir tudo de novo. Mas agora, com os dois amigos literalmente sem palavras, o moreno começava a achar que ia ser um pouco melhor se tivesse soltado tudo de uma vez e deixado que ambos digerissem.
Ele nem se lembrava do que tinha falado direito ... “ Amigos, eu vou ser papai!” ou “ Ron, Mione, desculpem, mas naquela mesma festa que vocês se esfregaram eu me agarrei com Draco Malfoy no banheiro masculino e agora ele está ... grávido, digamos assim.” Bem, de qualquer forma, ao final da narrativa, Ron se jogou em um pofe, branco como a neve, e Mione sentou-se numa cadeira de madeira, meio horrorizada, meio fascinada, apoiando o rosto na palma na mão direita. Harry havia deslizado da parede até o tapete fofo, e abraçou os joelhos, se acomodando ali mesmo, naquele cantinho perto da lareira.
Isso havia sido a dez minutos.
E nem Ron nem Mione haviam dado um pio nesse tempo.
Lá fora, a chuva que havia começado pesada aliviara e somente se ouvia a chuva batendo na janela se você prestasse muita atenção. Os vidros da janela já estavam embaçados pela baixa temperatura ; era final de novembro, e o frio do inverno, pelo visto, havia chegado mais cedo.
Ron deu um pesado suspiro no pofe, sobressaltando Harry e Hermione. “ Bem, já é um avanço.” Ron sentou-se mais reto no pofe, apoiando o rosto nas duas mãos. Já parecia mais conformado, mas ainda não muito disposto a discutir o assunto. Não que Harry realmente desejasse.
“--- Ele está de quanto tempo?” – perguntou, tentando fazer a pergunta parecer impessoal, mas a verdade era impressa em sua voz, carregada de tensão. Hermione levantou-se da cadeira e veio sentar-se na poltrona ao lado de Ron. Harry esperou ela estar sentada antes de responder;
“--- Madame Pomfrey acha que são uns dois meses.” – disse, a voz oca. Não havia necessidade real de Ron ter feito essa pergunta. Por falta de força para discutir sobre o tremenda força que o loiro sonserino teria sobre o trio maravilho agora, talvez. Ou, mais provável, para ter algum assunto para recomeçar uma convivência normal com o amigo. Mas Harry não estava a fim de pensar sobre as razões ocultas de Ronald Albert Preweet Weasley para fazer uma pergunta completamente desnecessária como aquela. Sua mente já estava fastigada demais por um dia.
“--- Mas é fantástico, não é” – começou Hermione, os olhos brilhando como duas jóias. – “O fato de Malf... Draco ter...”- nesse ponto ela parou, aparentemente procurando as palavras corretas –“... gerado uma criança, não é incrível? Bruxos engravidarem não é exatamente uma novidade, mas segurarem o bebê até os dois meses...” – Hermione parecia genuinamente espantada.
“ --- Segurar? Quer dizer que o Malfoy ainda pode... ahn...” – Ron ainda não estava muito acostumado a novidade – “ ...perder o bebê?”
“--- Perder? Difícil. Se ele agüentou até os dois meses, só um acidente muito sério faz o bebê morrer. Como ele ficar em coma ou algo pior.”
Ron pareceu meio decepcionado. Harry sentiu o estômago revirar ; agora nada relacionado a Draco passava sem despertar aquela sensação... Parecia com aquela que ele sentira dois meses atrás. “ Você fez algo de errado...” , mas era, de uma estranha forma, diferente. Agora havia um laço entre eles, uma união, mais forte que a vontade deles. Não importa o que eles fizessem ou deixassem de fazer, ela estaria lá, pelos próximos sete meses.
Pelo resto da vida.
“--- Amanhã, eu vou pesquisar mais sobre a gravidez masculina” – a voz de Hermione surgiu de novo no campo auditivo de Harry – “ Há poucos casos que a gestação foi tão longe, sem ser absorvido pelo corpo do bruxo. Agora, já que nós também teremos mais convivência com Malf... desculpa, Draco...” – Ron gemeu ; a idéia de conviver com o sonserino não era lá muito agradável – “..., eu vou poder observar melhor.” – os olhos de Hermione brilharam com um brilho obsessivo que Harry tanto conhecia – “ Poder acompanhar um bebê gerado assim vai ser fascinante.”
“ Oh, Elbereth , ela vai transformar o Draco em objeto de estudo.”
O pensamento definitivamente o incomodava.
“--- Harry, por favor, não me convide para ser padrinho do bebê” – pediu Ron, num tom que Harry não saberia dizer se era sério ou brincadeira – “ Sim?”
Harry nem teve tempo de responder, porque Hermione atropelou a resposta :
“--- Ah, Harry! O nome! Você e Draco tem que começar a pensar nisso! Eu pessoalmente gosto de Ashley...” – sugeriu, com ar sonhador –“ E você, Ron?” – perguntou, segurando na mão do namorado.
Ron fez uma careta antes de responder:
“--- Menina? “– fez uma cara de concentração, antes de sugerir – “ Anna?”
Harry se permitiu um sorrisinho satisfeito. Graças a Merlin, eles estavam aceitando bem.
“--- Eu gosto de Anna.”
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Quando Draco Malfoy chegou silenciosamente ao dormitório masculino do sétimo ano da Sonserina, seus colegas de quarto já ressonavam. Crabbe, Goyle, Zabini, Noot ; era difícil saber quem roncava mais alto. Quando o loiro chegou na ponta dos pés a sua cama, Zabini fungou alto e virou-se, ficando de bruços, um braço pendendo para fora. Até se certificar que Blaise realmente não havia acordado, o que demorou uns cinco segundos, Draco congelou, nem ousando respirar. Apenas depois que Zabini deu um ronco que parecia mais uma britadeira em velocidade máxima, Draco se permitiu jogar na cama e puxar as cortinas. Estava realmente cansado para mudar de roupa.
Agora, ali, deitado feito uma estrela do mar na sua cama, com os roncos dos colegas como trilha sonora, Draco Malfoy se lembrava de uma montão de coisas que iria perguntar ao diretor e havia acabado não o fazendo. Havia ficado tão nervoso com... o outro pai da sua filha. O bebê pareceu tremer no seu cochilo. Draco deu um pequeno sorriso, acarinhando a barriga e acalmando a adormecida menina. Ela dera para se agitar quando seus pensamentos se viravam para Harry. Ele também não sabia exatamente explicar como, mas estranhamente já sabia quando a menina estava acordada ou dormindo. Podia também jurar que sentia os chutes. Aos dois meses, não era para sentir nada... estranho.
A menina se acalmou, voltando a relaxar e a dormir profundamente, e a mente de Draco pode voltar aos seus problemas. Aos vários problemas.
1- Como eu vou esconder do meu pai?
Dumbledore havia falado que daria um jeito para disfarçar a barriga, certo? Isso eliminava um dos principais problemas: “ O que eu vou falar quando a barriga começar a crescer?”. Tudo bem. Mas faltava menos de um mês para o Natal. Ele estaria de três meses, um barriga perfeitamente disfarçável. E quanto os enjôos, Madame Pomfrey havia lhe receitado uma poção, que havia sido a única coisa que o impedia de vomitar, ou desmaiar, já que o bebê consumia muitas energias. Mas Lucius Malfoy não era exatamente o tipo de pessoa que se deixava enganar por feitiços de disfarce ou poções contra enjôos. Durante o Natal, que Draco fatalmente passaria em Malfoy Manor, o patriarca perceberia que havia algo errado com o herdeiro. Descobrir era questão de tempo. Draco sentiu algo amargo na garganta. A menina tremeu levemente. Lucius realmente não se importaria em manter o filho prisioneiro até o tempo certo do aborto. De repente, o pensamento de que cortariam sua barriga e tirariam sua filha de dentro causou uma gigantesca náusea em Draco. Antes que a menina se agitasse, ele se encarregou de acalmá -la, passando a mão febrilmente debaixo da pele, a pele como a única coisa que o separava da filha. Sua filha. Era muito estranho como em poucas horas, já havia começado, mesmo que de uma forma primordial, a amá-la. Era muito interessante o que carregar uma filha de Harry Potter no ventre faz com as pessoas.
O bebê se acalmou, embora continuasse a tremer ligeiramente. Draco voltou a se concentrar nos seus problemas, tomando cuidado para evitar a imagem de sua barriga cortada e o seu bebê morto, que teimava em aparecer em sua mente. Se alguma coisa que temia mais que ter barriga cortada por seu pai, era – Draco sentiu um medo mortal se avolumar no coração – que o Lorde descobrisse. Só em seus sonhos ele iria apenas cortar sua barriga e matar o bebê. Tendo como atingir o pior adversário pelo sonserino e pela filha... provavelmente morto era uma coisa que Draco desejaria intensamente se Voldemort descobrisse.
Melhor nem pensar. Ele teria que arranjar uma desculpa muito, mas muito boa para passar o Natal em Hogwarts e, consequentemente, fugir de Lucius Philippe McLaren Malfoy e Voldemort. Ou então apelar a Dumbledore e sua genialidade. A segunda alternativa parecia melhor. Bem melhor.
Problema resolvido. Tinha que falar com o diretor.
2 – Como eu vou me livrar da Pansy?
Pasifae ( Pansy era como ela compreensivelmente preferia ser chamada) Alícia Mithrandir Parkinson era sua noiva, sua prometida desde sempre. Seus nascimentos haviam sido sincronizados para não haver diferença de idade. Enfim, Pansy era a escolhida para ter um menino e perpetuar a dinastia milenar dos Malfoy. Draco já estava conformado que ia ter que casar com aquela cara de buldogue há muito tempo. Seu pai costumava dizer que só escaparia do matrimônio de três formas: estando ele morto, Pansy morta, ou ambos. Resumindo, sem escolhas.
Mas agora...
Com seu estado especial, as coisas mudavam, e muito. Não ia dar mais para tornar Pansy a Sra.Malfoy, nem que ele quisesse. Se ela soubesse de sua situação, também não ia querer. Mas como ele não poderia contar para ninguém...bem, aí tinha um problema.
Dumbledore resolvia.
3 – Como eu vou conviver com o Weasley e a sangue-ruim?
Bem, isso não era um problema tão grande quanto os outros, mas... Já pensara sobre o assunto e percebera que não ia conseguir evitar contato com... – o bebê chutou levemente - ... os amigos do outro pai de sua filha. Weasley nem era tão problema assim ; era puro-sangue, assim como ele. Já Granger... ela era outra história. Uma vez Malfoy, sempre Malfoy. Era sangue-ruim. Filha de trouxas. Draco não gostava desse tipo de bruxo.
“ Nem por Harry eu vou mudar meu comportamento.”, pensou ele, virando-se e preparando-se para dormir. Seu bebê deu um chute que parecia ser de protesto.
“ Bem, talvez eu mude um pouco.”
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