Ventos sussurrantes no jardim
Conseqüências daquela noite
Autora: Christine Annette Waters
N/A1: Não, Harry Potter não pertence a mim! Pertence a Joanne Kathleen Rowling!
Capítulo 8:
5 meses depois
O outono na região de Hogwarts é uma coisa realmente estranha. Começava com um calor tão, mais tão intenso, que nem parecia que havia acabado de sair de um inverno gelado. O desespero para se refrescar chegava a tal que alguns estudantes desesperados inclusive apelavam para materiais trouxas para se banharem no lago, usando marretas para quebrar o gelo ainda resistente das partes mais remotas. Naqueles finais de semana afobados, ninguém em sã consciência ficava dentro do castelo, enfunado nos Salões Comunais ou então enterrados na biblioteca. O lago ficava cheio de estudantes, alguns nadando, outros na sombra de árvores, conversando com colegas ou então lendo algum livro, sempre em companhia de algum suco bem gelado de caju ou abóbora. Dizem os boatos que até o sombrio mestre de Poções, Severus Snape, fora visto passeando sem as habituais vestes negras nas frescas bordas da Floresta Negra, perto da cabana de Hagrid. Resumindo, era realmente muito calor.
E depois, vieram os temporais.
Primeiro, foi o granizo. Centenas de estudantes estavam nos jardins quando começou. Primeiro, o céu, de um azul celestial, foi para um cinzento em questão de minutos. Então, pedrinhas de gelo começaram a bater suavemente nas janelas, fazendo um ruído semelhante a quando se pisa em um chão cheio de pedras soltas. No início, o granizo foi fraco, mas em dez ou vinte minutos - quando todos já estavam dentro do castelo – parecia que Merlin estava atirando pedras do céu. Quatro janelas quebraram na hora, pela força das pancadas. No dia seguinte, quando acabou a chuva, os professores foram checar os danos. Segundo alguns, encontraram pedregulhos do tamanho de um punho. Foi assustador a ponto do Profeta Diário ir cobrir o acontecimento. Foram entrevistados inclusive cientistas, que afirmaram que tal fenômeno nada tinha de sobrenatural, como alguns diziam – havia sido apenas um fenômeno que acontecia de tempos em tempos naquela região. Um verão sufocante seguido por tempestades furiosas. Apesar de todas as explicações detalhadas dos especialistas, algumas pessoas continuavam achando que se tratava da fúria de alguma entidade, ou – sussuravam alguns – , o próprio Você-Sabe-Quem estaria por trás das tempestades. De fato, os temporais haviam sido violentos o suficiente para alimentar todo tipo de crença.
Principalmente quando os vendavais começaram.
Depois que o granizo parou de cair, ou melhor dizendo, despencar do céu, começou um tempo frio muito parecido com o do Natal, com a significativa diferença que não havia neve. Só para compensar, havia um vento frio e cortante, que era capaz de matar de susto qualquer desavisado que saísse para fora sem cachecol. Com o passar dos dias, o vento começou a crescer de intensidade, até, que um dia, o castelo foi despertado por uma ventania que balançou até as masmorras da Sonserina. Na biblioteca, uma janela deixada meia aberta por uma estudante distraída da Corvinal bastou para que quatro estantes fossem derrubadas. A ventania durou menos de vinte minutos. Depois, apenas um leve vento sussurrante e perturbador, e o mesmo tempo frio úmido.
Apesar de ( asseguravam os especialistas) o pior já ter passado, ninguém se arriscava a ir para os jardins. As tempestades podiam voltar, afinal. Por isso, naquele entardecer de 17 de abril, todos os estudantes da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts estavam seguros em seus salões comunais, esperando o jantar bem aquecidos perto das lareiras, enquanto jogavam Snap Explosivo com os colegas.
Todos, menos um.
Draco Malfoy.
Desde pequeno, Draco nunca havia entendido esse temor mortal que muitas pessoas tinham do frio, fazendo-as vestir casacos e mais casacos além do necessário. Quando saiu das masmorras decidido a ir para os jardins, equipou-se apenas de um casaco e um cachecol, ante os olhares horrorizados dos colegas. Draco realmente não se importava com o frio. Naquele momento, a única coisa que sentia era uma leve cosquinha provocada pelo vento sussurrante. Estavam lá eles sozinhos, sem nenhum bruxo a no mínimo trinta metros de distância, fazendo companhia apenas um ao outro.
Quer dizer, não estavam exatamente sozinhos. Um dos motivos porque Draco havia escolhido aquele canto dos gramados era porque era um pouco escondido da principal entrada do jardim, tornando possível tirar aquele maldito feitiço de ilusão ( que ele podia jurar, o sufocava) e poder contemplar, com todo o seu esplendor e vida, a barriga de sete meses de gravidez. Sua menina se mexeu ligeiramente, em seu sono leve. Draco sorriu, e acariciou a barriga.
Sentado ali naquele banco, tendo apenas o vento frio e a filha adormecida lhe fazendo companhia, Draco chegava a conclusão que, no futuro, ia ter realmente muita coisa para contar para a filha sobre sua gravidez, quando ela crescesse.
Os últimos cinco meses haviam sido aos trancos e barrancos, literalmente. Primeiro, a inesperada notícia de aliança de Pansy com o lado de Harry, e – lembrou-se, uma arrepio quente percorrendo-lhe a pele ao lembrar-se do grifinório -, conseqüentemente, com o seu lado. Tão logo Pasifae saiu do escritório de Dumbledore, o rosto ainda vermelho de determinação para lutar contra o bruxo que matara seus pais, Draco lhe arrastara para um canto e – com a autorização prévia do diretor, claro – lhe explicara tudo o que estava acontecendo com ele, e porque não poderia casar-se com ela. Para sua grande surpresa, o único comentário que Pansy havia feito havia sido perguntar se podia ser madrinha do bebê. Draco havia respondido que ia ver – e esse ia ver, significava, claro, conversar com o Harry. Com o passar dos meses, Pansy mostrou-se uma ex muito compreensiva e até o havia ajudado, quando, na aula de feitiços, quando Draco já estava com seis meses, sentiu que havia algo errado com o bebê, que agora se mostrava anormalmente quieto. Pansy o levou para a enfermaria rapidinho, fingindo que havia errado um feitiço Estuporatus nele. No final, o problema havia se revelado um descolamento de placenta, levando Madame Pomfrey a dar um descomunal esporro em Draco sobre o repouso que ele não estava respeitando. Pansy levou as palavras de Pomfrey a sério sobre perder o bebê, e agora patrulhava Draco diariamente, mostrando um lado gentil de sua personalidade jamais revelado antes. Às vezes Draco se perguntara se Harry não havia ameaçado Pansy para tratar o sonserino bem, ou, sei lá, jogado um Imperius – mas tais alternativas eram descartadas rapidamente. Harry era bom demais para isso.
Depois, havia Weasley e Granger. As caras que ambos haviam feito quando viram Draco pela primeira vez depois de saberem da grande notícia havia sido cômica. Weasley olhava para ele como se nunca o tivesse visto antes e Granger... bem, Granger o encarava como se estivesse diante de uma maravilha da ciência. Os três – Draco, Ron e Hermione – se davam melhor agora, mas Draco tinha certeza que o ruivo ainda fazia comentários sarcásticos sobre ele por trás – bem longe dos ouvidos de Harry, claro.
E havia Harry... nos últimos meses a ligação entre eles havia crescido de uma forma assustadora, principalmente porque a menina começara a se mostrar viva dentro da barriga dele. No início o tratamento ainda era um pouco vago, mas depois do episódio de descolamento da placenta, eles haviam se unido completamente, principalmente pelo fato de Harry ter chegado esbaforido poucos minutos depois dele ter dado entrada, movido por uma intuição que nem ele sabia explicar. Eles costumavam conversar bastante agora, muitas vezes bem seguros debaixo da capa de invisibilidade de Harry. Ele, Harry e o bebê. Eles ficavam horas, muitas vezes em salas vazias ou então em jardins abandonados, Harry brincando com sua barriga e ele sorrindo feliz sem saber porque. Ou melhor, sabendo exatamente porque. “ Mas eu não sei se é o que ele quer.”, pensou o sonserino, suspirando, o vento fazendo um delicado uníssono. Era verdade que a situação às vezes ficava bastante embaraçosa, como a vez em que Harry havia descido demais a mão, numa carícia meio desajeitada, tirando rápido a mão e sorrindo embaraçado, enquanto Draco corava intensamente. Essas pequenas carícias haviam se repetido por semanas, com um Harry indecifrável por trás do sorriso doce e um Draco impaciente por mais, mas morrendo de medo de ser rejeitado, ou então ser aceito por pena. Num dia que haviam se encontrado, num dos jardins desgrenhados do andar térreo do castelo, seus lábios haviam se encontrado por alguns instantes e suas línguas se tocado por um fulgaz segundo, antes de se separarem sobressaltados, já que Draco havia visto o que parecia ser a sombra de Madame Norra no corredor.
Quando haviam se encontrado de novo, no dia seguinte, Harry estava claramente menos solto, deixando Draco com uma descomunal sensação de arrependimento correndo a toda em sua pele. Mas o que ele havia feito depois havia o deixado completamente perdido: quando o deixou na porta das masmorras, Harry havia lhe dado um beijo na buchecha que havia pegado parte da boca.
Ele nunca havia feito isso antes, deixando Draco desorientado ; ele realmente gostaria que Harry esclarecesse as coisas, tirando aquela sensação de inquietude dentro dele.
“ Eu gostaria que ele estivesse aqui agora”
Mal havia concluído o pensamento quando ouviu o barulho de folhas sendo pisadas.
Alguém havia chegado.
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