O Roubo _ por Matthew O'Leary
A água no copo a minha frente se meche conforme eu mecho meu dedo indicador criando um pequeno redemoinho dentro do copo. Essa é apenas uma das coisas anormais que consigo fazer, mais depois de ser chamado de extraterrestre e de mutante aprendi a controlar esses meus estranhos dons e principalmente a mante - los em segredo.
Moro com minha mãe em um subúrbio de Mannhatan, o que te faz concluir que não somos o que chamam de família rica, alias, estamos muito longe de ser. Minha mãe esta desempregada desde quando eu tinha seis anos, ela foi dispensada porque um bando de vândalos invadiu a loja em que ela trabalhava e quebraram tudo e quando os policiais chegaram ela estava escondida em baixo do balcão, então concluíram que uma mulher como ela não poderia ser atendente de qualquer loja, e então a dispensaram.
Não tenho avós ou qualquer pessoa a quem recorrer, meu pai nos abandonou quando eu ainda estava na barriga dela, e nunca vi ele, só o que sei é o que minha mãe conta que ele era a melhor pessoa do mundo, um verdadeiro herói. E hoje sei bem que tipo de herói que ele é, daquele tipo que deixa a mulher grávida na miséria e foge sem deixar vestígios.
Paro de brincar com a água e bebo ela de uma vez, coloco o copo na pia e termino de preparar o café da manhã para minha mãe, coloco o casaco e saio para a escola.
Quando estou a uma quadra da escola meu melhor e único amigo Huly corre para me acompanhar.
- Cara, soube que hoje o armazém estará quase vazio - diz ele contente. Huly é gordo e carrancudo, estilo trombadinha que não leva desaforo para casa.
- Uhum – é só o que eu digo e continuo andando.
- Ah que isso, vai dizer que não sabe o que isso signifca.
É claro que eu sei, qualquer um saberia. O armazén é usado para guardar todo tipo de games e filmes que serão exportados para várias lojas de todo o mundo. Vários trombadinha já tentaram rouba lo, mais lá sempre foi considerado segurança máxima, menos hoje que é dia de buscar coisas novase tudo o que tem lá é o que restou para próxima remessa.
- Então o que me diz? – Huly está agitado.
- Não sei Huly, temos prova hoje.
Huly corre e se coloca na minha frente.
- Ei, são milhares de games e filmes, vale bem mais que prova. – ele para e dá um sorriso demoníaco – alem do mais amanhã é seu aniversário e só assim você poderá ter dinheiro no bolso... isso não seria legal?
Quando dei por min já estávamos no lado de trás do armazén, espiando atrás de uma moita. É uma área grande, rodeada por uma grade de ferro enorme com arames farpados em cima, e no centro disso está o armazém um construção laranja e enorme o suficiente para guardar todos os videogames do mundo.
Seria fácil entrar, cavaríamos um buraco por baixo da cerca, daríamos carne para os cachorros e entraríamos pela porta de saída. O problema era: e pra sair?
Estremeço ao pensar no que pode nos acontecer e me vejo recuando, ao ver meu distanciamento Huly me puxa para perto dele.
- Não vamos dar para trás agora, está escutando?
E então ele sai correndo e passa por baixo da cerca, sinto pingos de chuva cair em meu corpo e sigo-o.
Não vemos nenhum cachorro a vista e então corremos para a porta de saída e entramos, está escuro lá dentro mais temos duas lanternas e iluminamos um pequeno corredor. Seguimos por ele, passamos por várias portas e enfim chegamos onde queremos.
É uma sala enorme com imensas prateleiras de mais de cinco metros de altura, cobertas com filmes e videogames embalados.
Após um momento de admiração subimos nas prateleiras e pegamos vários games e dvds de filmes, quando sentimos nossas mochilas pesadas descemos e vemos que a saída está travada.
O cachorro é um pitbull desses negros e enormes, ele nos encara e rosna.
- Oh merda! –
- Deixa comigo – diz Huley tirando um pedaço de carne de dentro da mochila e ele joga para o cachorro que ignora o pedaço de carne e começa a correr atrás da gente.
Na corrida não percebo que Huly ficou para trás, é quando eu vejo que ele subiu em cima de uma das prateleiras. Imito-o e subo na mais próxima de min e o mais alto que posso.
Huly começa a saltar de prateleira em prateleira causando estalos nas bases e o ultimo pulo que ele dá quebra a base da prateleira e esta tomba para frente.
- Huly – Grito e ele pula para o chão no instante que a prateleira cai sobre a outra que cai sobre a outra e vem na minha direção, pulo para o chão e começo a correr seguido de Huly e pelo pitbull.
Uma prateleira cai sobre o cachorro esmagando ele, vejo o sangue espichar enquanto corremos desesperadamente, tudo desababando atrás da gente.
Quando chegamos perto da porta Huly tropeça e cai de quatro no chão, e falta apenas duas prateleiras para chegar até a gente.
Corro até ele e tento levanta lo, mais ele é pesado e quando eu vejo uma prateleira já está tombando em cima da gente.
Por instinto levanto as mãos e fecho os olhos esperando o fim e me perguntando se vai doer muito.
Passa trinta demorados segundos e nada, abro os olhos lentamente e pisco, porque parece que estou sonhando.
A prateleira parou no ar, como se houvesse um campo de força invisível entre ela e nós. Olha para a minha mão, ela está formigando.
Isso não pode ser serio!
Huly levanta os olhos assustado e grita.
Algo fez com que a prateleira ficasse parada no ar, e eu estava crente que esse algo saira de min, das minhas mãos.
Enquanto fico ali olhando deslumbrado Huly se levanta e sai correndo assustado.
Eu corro de costas com a mão ainda erguida e então baixo ela e as prateleiras continuam a cair umas sobre as outras, mais não escuto o barulho estou desnorteado demais com o que eu acabará de fazer.
Na minha frente vejo Huly correndo e então parando e um guarda do tamanho de um guarda roupa o surpreendendo. Corro mais rápido enquanto Huly luta com o guarda dando socos e pontapés, o guarda lhe dá um chute que o joga longe, depois o pega pelo colarinho e o levanta do chão.
E o tempo parece fluir em velocidade lenta, vejo Huly tirando algo prateado da calça, uma faca e enfiar ela no peito do guarda tão forte que poderia furar uma mesa de madeira.
O guarda o solta atônito e cambaleia cai no chão.
Alcanço os dois e me vejo gritando.
- O que você fez? Seu idiota, você matou ele – Tento encontrar o pulso do guarda mais ele está gelado. – Você o matou Huly, você o matou – lagrima saltam dos meus olhos.
Isso não pode estar acontecendo, isso não está acontecendo repito para min mesmo vária vezes.
Huly ta ali paralisado olhando o corpo do homem que ele acabou de matar. Então ele olha para min e diz calmo e frio.
- Não, eu não matei. Você matou.
Joga a faca para min e sai correndo.
Eu me levanto cambaleando.
- Não, eu não, não matei ninguém não fui eu, não fui eu – luto contra as lagrimas e tento correr atrás de Huly.
As portas se abrem e vejo lanternas azuis e vermelhas piscando. Uma multidão parece estar ali.
Um em diz pelo auto fone.
- Mãos na cabeça, você está preso em flagrante!
Coloco as mãos na cabeça como ordenado, olho para frente e vejo Huly no meio da multidão me encarando assustado.
O policias entram no local e me algemam, ouço uma mulher constatar que o guarda ainda tem pulso e sinto um leve alivio.
Eles me levam para viatura e os olhos me seguem, olhos curiosos e fofoqueiros, os olhos amendontrados como os de Huly, olhos de raiva dos policiais e no outro lado da rua há uma homem todo de preto e o olhar dele é triunfante e feliz.
Ele me encara e não desvia o olhar.
Sinto calafrios e sinto os olhos dele pesarem sobre min, até mesmo quando a viatura é fechada e deixamos aquela rua.
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