As memórias de Rony
Bem, mais um capítulo, somente um dia depois do último. Bem, resolvi postar dois em seguida porque essa semana não vou poder escrever muito. Tentarei não demorar demais com o próximo. Já sabem né! COMENTEM, COMENTEM, COMENTEM!
Algumas vezes durante o capítulo eu narrarei a cena como se estivesse ocorrendo naquele instante e não como lembranças do passado.
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Capítulo 15: As memórias de Rony
Assim que chegaram ao Ministério, Harry e Rony foram conduzidos à sala de interrogatório. Lá estavam presentes o ministro, o investigador, o chefe dos aurores e um outro bruxo muito estranho que ainda não conheciam. Tinha longos cabelos e barbas prateadas, que se assemelhavam muito a Dumbledore. Ele foi apresentado como sendo o especialista em reconhecimento e autenticação de memórias. Era estrangeiro e veio diretamente da França a pedido da família Malfoy. Faltava apenas uma pessoa para completar as sete que entrariam na penseira. Depois de aproximadamente 15 minutos outro bruxo chegou. Harry e Ron logo reconheceram seu antigo colega de Hogwarts Blásio Zabini. Os três se cumprimentaram, mas havia uma certa tensão no ar. Harry logo percebeu que ele não demonstrava muita animação por estar ali. Entre os amigos de Draco, somente Zabini não possuía nenhum familiar entre os comensais da morte, o que provavelmente justificava a sua escolha para ser a testemunha escolhida pela família Malfoy.
- Bom, já que estamos todos aqui, vamos aos procedimentos – o ministro fez um sinal a um dos seus funcionários, que estava ali meio que escondido na sombra. O tal funcionário trouxe sete pergaminhos diferentes e entregou um pra cada um. Ron abriu o seu e examinou seu conteúdo.
Depoimento Ministerial Especial
Motivo: Assassinato de Lúcio Malfoy e Fenrir Greyback.
Data: Segunda-feira, 16 de julho de 1999.
Acusado: Ronald Abílio Weasley.
Denunciante: Narcisa e Draco Malfoy.
Testemunhas: Harry Potter (indicado pelo acusado), Blásio Zabini (indicado pela família do denunciante), Kingsley Shacklebolt (ministro da magia), Mark Campos (chefe dos aurores), Jonathan Mallet (investigador da Suprema Corte dos Bruxos) e Michel Henne (especialista em reconhecimento e autenticação de memórias).
Os bruxos acima descritos declaram ter sido totalmente esclarecidos sobre o protocolo ministerial para a revisão de memórias. Declaram também relatar somente a verdade em seus relatórios e fornecer ao acusado amplo direito de defesa. Se for constatada algum tipo de adulteração das memórias, o depoimento será cancelado e o acusado poderá sofrer as sanções previstas em lei.
Li e concordo com os termos acima e me disponho a dizer a verdade e nada além da verdade.
Ron leu e releu seu pergaminho. Olhou para os outros e alguns já estavam assinando o seu. Pegou uma pena e fez o mesmo. Entregou o pergaminho de volta ao assistente que os distribuíra. Depois que todos estavam assinados, o ministro pediu que eles o acompanhassem até a sala ao lado. Era um lugar muito amplo com vários objetos diferentes espalhados. Havia milhares de frascos pelas paredes, provavelmente contendo lembranças. Caminharam até o fundo da sala e se depararam com uma penseira enorme. Era, sem favor nenhum, quatro a cinco vezes maior do que a que tinha na sala de Dumbledore. Os sete bruxos se alinharam ao redor dela e o ministro esticou a Ron um frasco, solicitando a ele que fornecesse suas memórias. O ruivo encostou a varinha na têmpora e um fino fio de prata saiu dela. Depositou-o no frasco e devolveu ao ministro. Kingsley derramou o conteúdo na penseira e o líquido começou a espiralar.
Os bruxos começaram a separar os itens que pretendiam levar com eles. Ron esfregava as mãos em nervosismo. Diante dele estava o pior ano de sua vida, pronto pra ser revisitado. Além disso, várias outras pessoas poderiam ver em detalhes coisas que ele nunca teve coragem de revelar. Ficou encarando a penseira, sem realmente prestar atenção aos outros ao seu redor. Foi tirado de seus devaneios por Harry.
- Ron, você está pronto? – Ron simplesmente acenou com a cabeça.
- Tem certeza? – Harry acrescentou preocupado.
- Vamos logo com isso – o ruivo respondeu respirando fundo.
- Então vamos – o ministro falou e todos se aproximaram da borda da bacia. Colocaram suas cabeças dentro do líquido e no instante seguinte estavam viajando. Quando puderam se localizar, estavam no banheiro masculino do primeiro andar de Hogwarts. Viram o Ron do passado parado diante da pia. Viram em seguida Lúcio Malfoy saindo de uma das cabines e o diálogo que se desenrolou entre eles.
“- Achei que tivesse fugido, como os outros Comensais.”
“- Não, ainda tenho assuntos a resolver em Hogwarts.”
“- O que, posso saber?”
“- Garantir que você nunca mais veja a luz do sol, seu traidor do sangue miserável.”
Viram então Greyback aparecendo e Ron sendo estuporado. O lobisomem tomou o garoto nos braços e desapareceu. Nesse instante a lembrança ficou embaçada e eles foram deslocados até outro lugar. Os outros bruxos faziam anotações freneticamente. Não tinham tido tempo de fazer nenhuma pergunta a Rony quando outra imagem apareceu.
Agora estavam em uma sala de pedra, escura e fria. Puderam perceber algumas goteiras e ratos passeando por ela. A um canto havia um colchão muito gasto com um cobertor muito puído por cima. Viram Ron pendurado pelos braços em grossas correntes do outro lado da sala. Não havia nenhuma forma de iluminação ali, a não ser a lamparina que Lúcio tinha nas mãos. Como se tratava das memórias de alguém, e não do cenário real, eles conseguiam ver o que estava acontecendo, apesar da ausência de luz. Ron estava começando a abrir os olhos, sem entender o que estava acontecendo. Quando Malfoy percebeu que ele estava acordando, se levantou e foi encará-lo de frente.
- Até que enfim acordou – Ron olhou pra ele sem entender. Aos poucos as lembranças foram se ajeitando em sua cabeça.
- Onde eu estou? Me solta seu desgraçado – ele começou a se debater, tentando se desvencilhar das correntes. Lúcio riu dos esforços do rapaz.
- Não adianta espernear, daqui você não sai. Ainda teremos muito o que conversar – Lúcio deu um tapa no rosto do menino e saiu andando. Com ele a luz foi morrendo e novamente tudo ficou escuro. Como se o tempo estivesse se acelerando, outra luz reapareceu. Greyback vinha descendo agora e tinha um olhar assassino no rosto.
- Então você é nosso traidorzinho do sangue né? Lúcio me pediu pra te fazer uma visita – Ron tinha uma expressão de dor no rosto, provavelmente já estava há muito tempo preso pelos punhos. Greyback chegou muito próximo ao rosto do garoto e ficou analisando-o por longos segundos. Se afastou, sacou sua varinha e disse.
- Crucio – a imagem que se formou era terrível. Ron urrava de dor enquanto se contorcia. As correntes retiniam acima dele. O lobisomem soltou uma gargalhada e repetiu.
- Crucio – agora com mais ímpeto. Ron parecia que ia arrancar seus braços de tanto se contorcer. Se possível fosse, Greyback ria ainda mais.
- Bom, isso foi só um gostinho do que está por vir se você não cooperar. Mas agora eu quero adicionar um toque pessoal a essa brincadeira. Nunca gostei muito de usar varinha, afinal eu sou um lobisomem – ele atirou sua varinha de lado e antes que alguém pudesse perceber o que estava acontecendo, Ron foi atingido por um tapa violento que fez alguns filetes de sangue espirrarem de seu rosto. Quase que instantaneamente seu olho começou a inchar. O ferimento causado pelas garras do lobisomem sangrava profusamente. Ron estava aturdido e a beira de perder os sentidos. Sem dó, Greyback atirou novamente suas garras contra o garoto, abrindo um corte agora do outro lado.
- Vou parar por aqui. Não quero que você desmaie, ainda não, pelo menos. Também vou resistir à tentação de transformá-lo em lobisomem, senão você não terá mais utilidade para nós. Amanhã nós retornaremos. Tente dormir enquanto pode – ele então apontou a varinha para as correntes e disse.
- Relaxo – as correntes se abriram e Ron caiu de joelhos no chão. Respirava fundo enquanto sangrava sem parar. Ficou achando que aquilo seria seu fim, mas aos poucos o sangramento foi diminuindo. Ele se arrastou pelo quarto completamente escuro até que caiu de lado, inconsciente, a alguns metros de distância do colchão. Apesar da escuridão total, os outros conseguiam ver claramente Ron caído sobre uma poça de sangue que insistia em aumentar.
Harry olhou para o lado e viu que o Ron atual estava catatônico, absolutamente sem reação. Harry não conseguia pensar em nada pra dizer.
- Esse foi o primeiro dia? – o investigador do ministério perguntou sem tirar os olhos do seu pergaminho. Com muito custo Ron respondeu que sim. O bruxo responsável pela análise das memórias escrevia freneticamente em um grosso rolo de pergaminho. Somente Harry e o próprio Ron pareciam realmente abalados com o que presenciaram. O chefe dos aurores conversava com o ministro a um canto. Mais uma vez, o tempo pareceu se acelerar, e quando perceberam outra fonte de luz vinha aparecendo. Agora eram Lúcio e Greyback juntos e vinham acompanhados de alguém. Harry logo reconheceu a figura de Monstro. Ao perceber que os outros não sabiam de quem se tratava, o ministro se apressou a explicar. Tomaram nota e voltaram suas atenções para a lembrança.
- Monstro, acorda esse aí – Lúcio ordenou rispidamente. O elfo foi até Ron, visivelmente com medo e cutucou-o. Ron não respondeu de imediato. Monstro continuou a cutucá-lo, mas sem obter reação. Malfoy olhou irritado para o lobisomem.
- Eu falei pra você pegar leve com ele. Será que já o matou na primeira noite? – antes que Greyback pudesse responder, ouviram um gemido e olharam para baixo. Ron estava recuperando a consciência. Estava com os olhos inchados. Seu rosto estava imundo de sangue e seu cabelo todo empapuçado.
- Levante-o – Lúcio ordenou a Greyback, mas esse pensou em recusar. Malfoy o ameaçou e ele acabou cedendo. Colocou Ron sentado apoiado na parede. O ruivo parecia incapaz de falar alguma coisa. Apesar dos olhos inchados, Harry pôde perceber o terror nos olhos do garoto. Se para ele estava sendo difícil assistir àquilo, ficou imaginando como deveria estar sendo para o amigo. Olhou para o lado e viu que o Ron atual também tinha uma expressão de dor e terror. Os outros simplesmente anotavam em seus pergaminhos.
- Espere Monstro terminar de alimentá-lo e pendure-o nas correntes – Greyback soltou m grunhido, enquanto Lúcio voltava pelas escadas. Harry novamente voltou suas atenções ao que ocorria na sala. Monstro se abaixou e, com as mãos trêmulas começou a dar uma sopa muito rala, de aspecto horrendo, a Ron. O ruivo cuspiu a primeira colherada, e Greyback quase o atacou novamente. O garoto se assustou e se encolheu de medo. O lobisomem riu. O elfo não dizia nada. Simplesmente estendeu a mão com outra colher cheia, que Ron aceitou de bom grado. Assim que terminou a sopa, Greyback empurrou o elfo de lado.
- Agora saia daqui e volte lá pra cima – Monstro fez uma reverência e saiu andando resmungando.
- Agora vem cá – ele pegou Ron pelos cabelos e levantou-o do chão – o menino tentava inutilmente se livrar das garras do lobisomem. Algumas lágrimas corriam pelo seu rosto. Greyback mandou-o calar a boca e novamente o prendeu nas correntes.
- O que vocês querem comigo? – ele conseguiu perguntar. Sua voz quase inaudível.
- Você verá. Ah, aí vem ele – nesse instante, Lúcio vinha descendo as escadas. Parou em frente a Rony. Depois de alguns segundos encarando-o, falou.
- Você deve estar se perguntando por que está aqui. Preciso saber onde está Harry Potter e você vai me dizer. O que fizemos a você ontem não será nada comparado ao que faremos daqui pra frente se você não cooperar. Então me diga, cadê seu amiguinho? – Ron ficou olhando pra ele, sem dizer nada. Quando Lúcio estava começando a perder a paciência, o ruivo disse.
- Eu prefiro morrer a te dizer qualquer coisa, seu miserável filho da... – antes que pudesse terminar, Lúcio acertou um soco na sua cara, que praticamente o deixou inconsciente. Ron demorou a se recuperar e se virou para Malfoy.
- Então, vai cooperar? – o comensal perguntou. Ron ficou um tempo olhando pra ele e então cuspiu na sua cara, sujando-o de sangue. Lúcio se virou e limpou o rosto.
- Ele é todo seu – ele disse a Greyback e se virou para as escadas. O lobisomem parou em frente a Ron com um sorriso no rosto.
- Crucio – Ron mais uma vez contorceu e berrou de dor. Greyback repetiu a Maldição Cruciatus pelo menos mais umas cinco vezes, mas Ron não cedeu. O lobisomem chegou mais perto a ele e disse.
- Vou te dar um tempinho, daqui a pouco eu volto. Veremos se você terá mudado de ideia – o lobisomem saiu e a sala ficou escura novamente. O Ron do sonho começou a chorar. O choro foi se intensificando até que o Ron atual não aguentou mais.
- CHEGA – ele berrou. Todos olharam para ele. – Por favor, não aguento mais. Voltamos amanhã, por favor – ele olhou suplicante para o ministro. Kingsley fez menção de falar alguma coisa, mas o investigador falou antes dele.
- Sinto muito senhor Weasley, mas não podemos parar. É de extrema importância que resolvamos tudo de uma vez.
- Tenho certeza que uma parada não fará mal algum – o ministro olhou severamente para o bruxo do ministério. Ele pensou em protestar, mas acabou voltando atrás. Conferiu suas anotações e perguntou aos outros se já tinham registrado tudo. Os outros confirmaram e então ele falou.
- Bem, por hoje paramos por aqui. Amanhã retornaremos. Todos de acordo? – os outros bruxos responderam que sim e eles saíram da penseira.
Quando estavam de volta à sala, Ron imediatamente sentou-se numa cadeira e afundou o rosto nas mãos. Harry pensou em ir consolar o amigo, mas preferiu não se aproximar. De repente, o ministro se aproximou.
- Bem, falei com eles e eles concordaram amanhã nesse mesmo horário. Tudo bem? – Harry respondeu que sim, mas Ron ficou calado. Kingsley se aproximou e informou ao ruivo que precisavam ir embora. Harry ajudou Ron a se levantar e eles saíram da sala.
O retorno pra Toca foi muito calado. Ron passou a viagem inteira olhando pela janela, sem dizer uma palavra. Desceram pouco antes da entrada e terminaram de chegar a pé. Quando viram que os dois estavam chegando, a família Weasley e Hermione vieram ao seu encontro. Ron não demonstrou nenhum entusiasmo. Não falou quase nada e entrou em casa. Sentou-se em uma poltrona e ficou encarando um ponto fixo à sua frente. Como já era de se esperar, todo mundo inundou Harry de perguntas assim que esse se ajeitou na cozinha. Ele achou melhor lançar um Abaffiato sobre o aposento para que Ron não o ouvisse. Quando já estava sentado, as perguntas recomeçaram e todos falavam de uma vez.
- Calma, calma, eu não estou entendendo nada – ele precisou dizer quando Molly, Arthur e Gina começaram a lhe fazer várias perguntas simultaneamente. Os três se acalmaram e a Sra. Weasley perguntou mais calma.
- Como foi Harry, o que você viu? – ela parecia preocupada.
- Olha Sra. Weasley, só posso dizer que não foi muito agradável, mas por lei não posso contar nenhum detalhe. Além do mais, prometi ao Ron não revelar nada e pretendo cumprir minha promessa. Ele me disse que contará à senhora e aos outros quando estiver pronto – a bruxa olhava pra ele perplexa.
- Mas, mas, ele é meu filho. Eu tenho direito de saber.
- Eu sei, eu sei. Mas ele pediu e eu prometi não falar nada. Me desculpe – ela pensou em protestar, mas seu marido foi mais rápido.
- Calma querida, não adianta insistir. Ele não pode contar. Olha como nosso filho. Deve ser muito difícil passar por isso de novo. Vamos ter calma – ela ficou olhando pra ele com um olhar severo, mas sua expressão foi se anuviando. Fez um gesto com a cabeça e se sentou.
Todos ficaram muito calados. Harry desfez o feitiço quando achou que era seguro. Hermione não disse nenhuma palavra. Ficou o tempo todo encarando o namorado, decidindo se deveria ou não ir falar com ele. Felizmente ela não teve que tomar essa decisão, porque o rapaz veio até ela.
- Mione, eu já vou me deitar. Você me faria companhia até eu dormir? – sua voz não era mais que um sussurro. Estava claro que ele estivera chorando, mas ninguém comentou nada. Mione olhou para a Sra. Weasley, que já estava de pé junto dela.
- Acho que você devia ir minha querida. Eu separo o jantar para você. E você meu filho, não quer comer nada? – Ron fez que não com a cabeça e esticou sua mão para a menina. Mione segurou-a e se levantou. Ron deu boa noite a todos e saiu.
- Antes de você ir, tome isso – Molly chamou o garoto quando esse começava a subir a escada. Ron voltou para ver o que era e ela lhe entregou um copo contendo uma poção que ele logo identificou como sendo a poção para dormir sem sonhar. Ele segurou o copo e deu um beijo na mãe antes de voltar a subir as escadas.
Assim que os dois entraram no quarto, Ron sentou-se na sua cama e Mione ao seu lado. Ela segurava as duas mãos do ruivo com firmeza. Ron mantinha o corpo inclinado pra frente com os cotovelos apoiados nos joelho e olhando para o chão. Ficaram em total silêncio, até que Mione viu lágrimas escorrendo da ponta do nariz do namorado para o chão. Seu coração estava dilacerado, mas ela não sabia o que fazer. O choro foi se intensificando até que ele começou a soluçar. Ela largou suas mãos e o abraçou. Ron se virou e abraçou-a de volta, o choro se intensificando. Ela tentava falar alguma coisa, mas tinha um nó na garganta. Para sua surpresa ele falou primeiro.
- Foi tudo muito horrível. Eu, eu não sei se aguento mais – o choro não diminuía e estava difícil entender o que ele dizia. Hermione, também com o rosto molhado, respondeu.
- Calma meu amor, tudo vai ficar bem, tenho certeza – ele não disse mais nada. Ela enxugou o próprio rosto, tinha que ser forte por ele. Aos poucos ele foi se acalmando e parou de chorar. Levantou seu rosto e ficou olhando para ela, sem dizer nada.
- É tão horrível ver tudo de novo. Eu não tô conseguindo me segurar.
- Calma Ron. Imagino como deve estar sendo, mas tudo vai se resolver, você verá – ele ficou olhando para ela, novamente em silêncio.
- Eu te amo. Obrigado por tudo – ele se inclinou e deu um beijo na namorada. Hermione retribuiu e eles ficaram um tempo abraçados. Ron falou primeiro.
- Tô muito cansado, acho que já vou deitar – ela concordou com a cabeça e se levantou para arrumar a cama dele. Rony insistiu que ele mesmo faria aquilo, mas ela não permitiu. Disse a ele que fosse se arrumar, que ela cuidaria do quarto. Ele conseguiu abrir um sorriso e deu mais um beijo nela.
- Não sei o que seria de mim sem você – ela também sorriu.
- Eu também não. Agora vai.
Ron voltou momentos depois e encontrou tudo arrumado. Na poltrona ao seu lado, ele viu um cobertor e um travesseiro extra.
- Para que isso? – ele perguntou apontando para a poltrona.
- Vou dormir aqui, caso você precise de mim.
- Não precisa, essa poção vai me fazer dormir a noite toda.
- Faço questão, não vou conseguir dormir sabendo que você pode acordar precisando de alguma coisa. Vou descer para o jantar e já já eu volto – Ron olhava pra ela apaixonadamente. Hermione corou um pouquinho e saiu do quarto. Jantou rapidamente e quando voltou, notou que ele já estava dormindo. O copo ao seu lado vazio. Sentou-se ao seu lado e falou baixinho.
- Eu te amo. Vou estar aqui sempre que precisar – começou a fazer carinho nos cabelos dele. Não sabe quanto tempo ficou assim, mas de repente, reparou que estava com muito sono. Olhou para a poltrona nada confortável ao seu lado e não se sentiu muito animada a se deitar nela. Olhou para a cama de Ron e teve que refrear a ideia de dormir ao lado dele. Com um aceno de varinha, a poltrona se esticou um pouco e agora estava muito mais parecida com uma cama de verdade. Se ajeitou da maneira que pôde e logo adormeceu.
Quando levantou-se na manhã seguinte, não encontrou Ron deitado. Pulou da cama preocupada, ainda com os cabelos desarrumados e os olhos desacostumados com a claridade. Desceu rapidamente as escadas e sentiu um alívio ao encontrá-lo na mesa tomando café.
- Bom dia – ela falou. Não havia mais ninguém com ele.
- Bom dia, Dormiu bem? – ele falou, mas não havia nenhum entusiasmo na voz.
- Ah, mais ou menos, e você?
- Dormi. Aquela poção ajuda bastante. Mas acordei hoje cedo e me lembrei do que me espera, então não consegui mais pegar no sono.
- Fica calmo, já está acabando. Eu sei que é ruim, mas dessa maneira você esclarece tudo de uma vez por todas – ele acenou com a cabeça e continuou tomando sua xícara de chá. Hermione não disse mais nada e permaneceu sentada. Aos poucos os outros foram acordando. Ron saiu da mesa e voltou para seu quarto. Só retornou para a sala na hora que o carro do Ministério chegou. Ele e Harry se despediram de todo mundo e saíram. Ron deu um beijo em Mione que tentou lhe dar coragem. Ele parecia ainda mais abatido quando entrou no carro.
Chegaram ao Ministério e foram direto à sala de interrogações. O depoimento de Ron era notícia em todo o prédio e todos ficavam olhando para ele e comentando baixinho. Por sorte encontraram o Ministro no meio do caminho e por um momento os cochichos cessaram. Chegaram à sala e encontraram os outros bruxos. Se cumprimentaram cordialmente e voltaram para a penseira.
Voltaram ao mesmo momento de quando haviam saído no dia anterior. Ficaram olhando enquanto o Ron do sonho tentava se manter consciente. O sangue voltara a escorrer do seu rosto. O tempo se acelerou e o lobisomem reapareceu. Aconteceu basicamente o mesmo. Greyback alternava a Maldição Cruciatus com alguns tapas e socos. Quando o garoto estava à beira da inconsciência ele parava. Ao final do dia, ele soltava-o das correntes. Ron quase nunca encontrava a cama que estava ali pra ele, desmaiava geralmente assim que atingia o chão. Os dias que se passaram foram mais ou menos os mesmos. Os bruxos do Ministério insistiam em ver cada detalhe, então aquilo estava se tornado absolutamente torturante para Ron. Depois de alguns dias, Lúcio e Greyback deixaram ele em paz. Somente Monstro aparecia, trazendo a comida, sempre abominável. Em um certo dia, o garoto conseguiu falar enquanto comia vorazmente um pouco de sopa com um pedaço bolorento de pão.
- Então Monstro, achei que você pertencia ao Harry? – o elfo olhou assustado pra ele. Geralmente não havia conversas enquanto ele estava ali em baixo. Ele nem mesmo olhava para Ron. Monstro demorou para responder.
- Eu sirvo a nobre família Malfoy – ele recolheu o prato vazio e se virou para sair. Ron segurou-o pelo braço.
- Eu vou morrer aqui embaixo Monstro. Você está vendo meu estado. Enquanto Harry Potter estiver vivo, ele é seu dono e você deve obedecê-lo. Eu tenho certeza absoluta que, se ele estivesse aqui, ele mandaria você me ajudar – Ron ficou olhando para ele em silêncio. Ron finalmente o soltou e o elfo repetiu antes de sair.
- Eu sirvo a nobre família Malfoy.
De acordo com as contas do especialista, eles já haviam percorrido pouco mais de um mês das memórias de Ron. Lúcio e Greyback voltaram a torturá-lo. Malfoy, que raramente fazia o trabalho sujo, agora parecia estar gostando.
- Crucio – Ron contorcia-se de dor e gritava cada vez mais alto. Lúcio insistia com a Maldição Cruciatus.
- Então não vai me dizer onde está seu amiguinho né. Veremos se você vai gostar dessa. Sectusempra – o feitiço atingiu Ron no peito e, como lâminas em brasa, abriram vários cortes profundos. O garoto gritava desesperadamente. O bruxo repetiu o feitiço mais algumas vezes antes de deixar a sala.
O Ron do presente se contorcia sempre que via aquilo, como se estivesse relembrando as dores que sofrera. Harry pensou em pedir para fazerem um intervalo, mas Ron interveio.
- Não quero parar agora. Já que terei que assistir tudo de novo, prefiro fazer isso o quanto antes. Se me lembro bem, acho que os comensais me deixarão em paz por algum tempo.
Os bruxos do ministério ficaram reparando e constataram que era verdade. Não havia nenhuma movimentação por parte de Greyback e Lúcio. Somente Monstro aparecia. Desde a conversa com Ron naquele dia, o elfo parecia mais arredio. Mantinha maior distância e nunca olhava para o bruxo. Ron tentava conversar com ele, quase sempre tentando conseguir sua ajuda. Lúcio e Greyback reapareciam esporadicamente. Atacavam-no por algum tempo e sumiam. Isso aconteceu por um bom tempo, até que certa vez Lúcio desceu sozinho.
- É o seguinte, seu desgraçado. Precisamos de Harry Potter e nossa paciência está se esgotando. Já que você não quer colaborar, eu tive uma ideia. Eu mandei o lobisomem caçar aquela sua namoradinha sangue-ruim – Lucio reparou que a expressão de Ron mudou. O garoto agora parecia mais amedrontado. Aproveitando-se disso ele continuou. – Já estamos em agosto e daqui a pouco ela vai voltar a Hogwarts. Pedi a ele pra fazer uma visitinha a ela no dia do embarque. Quem sabe na hora que ele transformá-la em lobisomem você não resolve cooperar. Vou deixar você aqui pensando nisso – e saiu deixando-o na escuridão.
Ficou claro pra todo mundo que aquilo mexeu com Ron. O do passado e o do presente. Harry olhou para o amigo, que agora parecia em pior estado que antes. O Ron das memórias também parecia mais preocupado, apesar dos horrendos machucados tornarem impossível identificar alguma coisa na sua expressão. O ministro notou que o ruivo mudara e decidiu pedir um intervalo. Já estavam ali há seis horas, sem almoço. De acordo com o especialista, já haviam percorrido três meses. Faltavam mais quatro meses de memórias e só teriam o dia seguinte para revê-las. Ron concordou em rever mais um mês daquelas memórias, depois do almoço.
Rony permaneceu calado a maior parte do tempo durante a refeição e mal tocou a comida. Harry também se sentia mal. Apesar de tudo que viu durante a guerra. Apesar das mortes de pessoas queridas, como Sirius e Dumbledore, nada poderia prepará-lo para o que estava vendo. Seu melhor amigo sofria barbáries que poucos seres humanos suportariam e o que deixava Harry mais perplexo era o fato de Ron estar sofrendo aquilo tudo porque não queria entregá-lo. Sentia ainda mais admiração pelo amigo. Harry ficou pensando naquilo durante todo o almoço. Quando acabaram voltaram para o Ministério para mais uma sessão.
Reencontraram os outros bruxos e o ministro. O excêntrico especialista em memórias já havia preenchido três enormes rolos de pergaminho. Ao reparar o olhar impassível daqueles homens, Harry se perguntava se o que estavam vendo não os estava afetando. Até o próprio ministro, um dos aurores mais respeitados que o Ministério já teve, por várias vezes se mostrou visivelmente incomodado com tudo aquilo. Depois dos últimos preparativos, mergulharam novamente na penseira.
O mês que se transcorreu não foi muito diferente dos outros. Ron teve mais tempo de paz, mas ficou claro que, sendo essa a intenção ou não dos dois comensais, a solidão estava começando a afetar sua cabeça. Passava seus dias encostado no precário colchão que havia ali. Muitas vezes era possível escutá-lo chorando baixinho ou então conversando, literalmente, com as paredes. As imagens estavam muito monótonas e os bruxos do ministério já estavam começando a achar que não veriam nada de relevante. Harry reparou que a expressão do Ron atual mudara e ele parecia aterrorizado. Eles logo descobririam por que.
Um certo dia, Greyback e Lúcio apareceram. Nunca era bom sinal quando os dois estavam juntos. Azararam Ron com o feitiço do corpo preso e colocaram-no nas correntes. Até aí estava igual aos outros dias, só que dessa vez não desfizeram o feitiço.
- Já percebi que você não vai colaborar. As aulas começarão amanhã e eu já te expliquei o que o meu amigo aqui vai fazer com sua namoradinha. Se mesmo assim você não quiser colaborar eu tenho mais uma coisinha pra tentar – Lúcio fez um movimento de cabeça que Greyback logo entendeu. Se aproximou de Ron e golpeou-o várias vezes. Quando o menino recomeçara a sangrar, Lúcio ordenou que o lobisomem tirasse a camisa de Ron. Depois apontou a varinha para ele e começou a pronunciar um feitiço em voz baixa. Um filete de luz saiu da ponta da varinha e começou a queimar a pele de Ron. Como o ruivo estava enfeitiçado, não conseguia se mexer nem gritar. Harry sentiu asco ao ver as letras lentamente formando a palavra MORRA. Viu o terror estampado nos olhos do garoto. Olhou para o lado e reparou que o Rony do presente não se encontrava em estado muito melhor. Os bruxos do Ministério pela primeira vez demonstravam algum tipo de reação. Depois de alguns minutos a cena terminou. O ministro achou melhor encerrarem a sessão e dessa vez ninguém discutiu.
Do lado de fora da penseira, os bruxos ficaram todos em silêncio. Era a primeira vez durante aquela extenuante experiência que aqueles indivíduos pareciam abalados com o que viram. Até mesmo o investigador, sempre muito pomposo e cheio de si, tinha um semblante mais tenso. Demorou até que ele falasse alguma coisa.
- Bem, paramos por hoje, após termos revisado quatro meses. Voltaremos amanhã para revermos os últimos três meses, que serão os mais importantes. Poderemos enfim elucidar como foi a participação do elfo, além de entendermos melhor tudo o que aconteceu na noite em que os dois foram mortos – ninguém parecia ter prestado atenção ao que ele dissera. Simplesmente concordaram e saíram da sala. Harry e Ron entraram no carro e voltaram pra casa.
Quando chegaram à Toca, Ron passou sem falar com ninguém e trancou-se no quarto. Harry mais uma vez foi bombardeado de perguntas. Aquele foi um dos dias mais extenuantes de sua vida e ele não tinha muita vontade de conversar. As imagens da tortura voltavam cada vez mais fortes. Depois do jantar, ele se despediu de todos e foi logo dormir. Quando estavam sozinhas, Hermione perguntou a Gina.
- O Harry já comentou alguma coisa com você?
- Nada, nenhuma palavra. Já insisti diversas vezes. Mas, pelo jeito que os dois chegaram aqui hoje, deve estar sendo horrível.
- O Ron me falou ontem que, que está sendo horrível. Ele ficou um tempão chorando. Não consigo mais vê-lo assim – Mione agora tinha lágrimas nos olhos. Gina passou seus braços pelo ombro da amiga e as duas ficaram em silêncio por um bom tempo. A ruiva também chorava baixinho. Quando já era bem tarde, resolveram ir dormir. Hermione não conseguiu pregar os olhos a noite inteira. Ficou se perguntando por que seu namorado não queria sua ajuda, mas nada vinha a sua cabeça. Cochilou um pouquinho quando o dia finalmente amanheceu.
Ron permaneceu muito calado. Harry também parecia muito abatido. Tomaram café em silêncio e se prepararam para sair. Estavam no quarto se arrumando quando Harry perguntou.
- E aí Rony, se sentindo bem?
- Ah Harry, na verdade não. Pelo menos hoje é o último dia. E você? – Harry não sabia muito bem como responder àquela pergunta. Ficou olhando para Rony até que resolveu responder.
- É meio complicado. Não imaginava que seria assim dessa maneira. Também estou feliz que esteja acabando. Não sabia que a causa disso tudo era eu – Harry finalmente falou o que estava entalado na sua garganta. Queria saber por que Rony não havia dito logo onde ele estava e assim teria salvo sua vida.
- Não era só por você Harry. Para revelar onde você estava, eu teria que revelar a localização da Toca. Eles viriam até aqui e encontrariam toda a minha família. Tinha muito medo do que poderiam fazer. E além do mais, achei que corria o risco da Mione também ser encontrada aqui. Não poderia me arriscar. Tenha certeza que eu nunca entregaria meu melhor amigo. Nunca. E sei que você faria o mesmo por mim e por essa família. Duvido sinceramente que me deixariam vivos depois que eu revelasse sua localização – Harry ficou imaginando porque não havia pensado naquilo antes. Entregá-lo aos comensais colocaria toda a família Weasley em risco. Ron tinha razão. Se fosse com ele, ele nunca entregaria nenhum Weasley. Os dois terminaram de se arrumar em silêncio e antes de sair, Harry falou mais uma vez.
- Obrigado, cara, por tudo. De verdade – Ron não disse nada. Deu um abraço no amigo e os dois desceram as escadas. O carro do Ministério já os aguardava
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Espero que tenham gostado. Me digam o que acharam. Como eu disse, não poderei escrever muito essa semana, mas prometo não demorar demais com o próximo capítulo. COMENTEM, COMENTEM, COMENTEM.
Comentários (1)
capitulo muito tenso! coitado do ron sofreu pra caramba espero que tudo corra bem pra ele no proximo capitulo!
2011-08-08