Segredo
O garoto andava angustiado pelas masmorras.
Começou a desfazer o nó da gravata, enquanto decidia sair daquela área onde um monitor poderia encontrá-lo.
Tirou a gravata e a jogou a um canto enquanto passava, mas logo mudou de ideia e voltou para pegá-la do chão. Não podia deixar tudo o que estava acontecendo atormentá-lo daquela forma. As coisas não estavam indo muito bem desde que haviam voltado para Hogwarts, mas não podia deixar o desespero tomar conta de si.
Sentiu-se aliviado ao sair da parte baixa do castelo e começou a subir vários lances de escadas. Iria até o quarto andar. Ele tinha noção de que ali poderia ficar em paz algum tempo. Era o andar menos vigiado pelos monitores. A única coisa que ele precisava era se acalmar. Se acalmar e voltar para o Salão Comunal da Sonserina.
Chegando ao andar desejado, ele se aproximou de um canto da parede mais próxima e subiu uma escada apertada. Suava na subida longa, mas sabia que não era a escada a causa de seu cansaço.
Chegou a uma área aberta e se aproximou da mureta. Viu-se mais aliviado com o vento frio em seu rosto e tentou não pensar no que o atormentava.
O que Blásio Zabini não percebeu, é que não estava sozinho ali. Ele não era o único com problemas.
Uma garota de cabelos castanhos olhou surpresa ao ver alguém passar violentamente por ela e se assustou ao perceber que era um sonserino.
A primeira coisa que pensou foi que ele a vira subir ali sozinha e a seguiu para atormentá-la, mas percebeu o erro se seu pensamento quando viu a situação do sonserino que estava alguns metros a sua frente.
Em sua mente, ela via alguém pertubado. Talvez até um pouco mais que ela.
Ela não estava tirando a roupa e jogando-a pelos cantos como ele fazia. Sentiu-se menos envergonhada quando, depois de vê-lo jogar a gravata e tirar o suéter preto, ele parou por ali. Ficando apenas com uma camiseta branca.
Ele começou a murmurar coisas que ela não entedia e ela começou a ficar preocupada. Será que ele estava enlouquecendo?
_Merlin, por que comigo? – foi a única coisa que ela conseguiu entender de seus resmungos.
Resolveu que deveria fazer seu serviço de monitora-chefe.
_Zabini, o que faz aqui a essa hora? – ele ouviu a pergunta vinda com um leve sarcasmo.
Não se virou imediatamente. Não era exatamente uma situação em que ele não sabia quem estava a suas costas.
Suspirou vendo a situação em que estava e virou o corpo para olhar a pessoa que falava.
_Algum problema, Granger? – sua voz não saiu com a arrogância que os dois estavam acostumados.
Ela se admirou e viu que algo sério estava acontecendo com Zabini.
Ele percebeu que fizera besteira saindo das masmorras e agora estava ali, com a sabichona grifinória da Granger.
_Problema? A não ser o fato de você sair a essa hora de sua Casa, não há problema algum.
_Isso é da sua conta? – sua voz voltava ao normal.
Não estava com paciência.
Tudo o que desejava era um momento de paz e agora estava ali, sendo pertubado por aquela garota.
_Claro que sim. – ela respondeu com uma risada.
Não era sua inteção ser desagradável, mas era Zabini quem estava ali. E ele não havia sido educado com ela em nenhum momento de sua vida.
Ele resmungou alguma coisa e se abaixou para pegar as coisas que estavam espalhadas pelo chão.
_Problemas amorosos? – ela perguntou sarcástica e ele lhe lançou um olhar assasino. – Se eu fosse você, não desceria agora.
Hermione disse enquanto ele vinha em sua direção. Não em sua direção exatamente, mas ela estava na frente da saída.
_Ah claro, porque eu aceito sugestões de pessoas como você. – ele disse a dois passos dela. – Poderia, por favor, sair da minha frente?! – ele disse fingindo educação.
Os olhos da garota se tornaram fendas.
_Olha só, está na cara que você não está bem. – ele viu que a voz dela estava mais baixa que um minuto antes. – Mas pra sua informação, o outro monitor-chefe está aí embaixo agora, provavelmente.
_Acha que sou idiota, Granger? Ninguém fica nesses corredores. – ele remungou apontando para porta, mostrando que ainda desejava passar.
_Até ontem, quando resolveram em uma reunião que esse andar precisava ser mais vigiado. Você entende, atividadas extras ocorriam muito por aqui. – ela disse divertida.
Ele a encarou por mais alguns segundos, então girou seu corpo em outra direção e se afastou.
Tudo o que ele menos precisava agora era de uma detenção.
_Você poderia dizer algo como “Ah, obrigada Granger. Muito gentil de sua parte me ajudar nesse momento difícil”. – ela brincou se aproximando da mureta, parando no mesmo lugar em que ele estivera.
Blásio não respondeu, mas os olhos continuaram na garota.
O que estava acontecendo com Hermione? Ela estava ajudando-o?
_O que está fazendo? – ele pediu depois de alguns minutos em silêncio.
Não era sua intenção manter nenhuma conversa com ela, mas sua curiosidade era maior do que outra coisa.
_Olhando o céu. – ela respondeu sem se virar. Ela sabia que a pergunta dizia respeito a proteção que ela estava dando a ele, mas não seria tão fácil.
Uma coisa que ela sabia é que Blásio era orgulhoso, como qualquer sonserino. Ela o faria pedir algo. Mesmo que uma explicação, já era suficiente pra faze-lo ficar irritado.
_Idiota. – ele murmurou baixo, mas pra que ela ainda assim ouvisse.
Não disse mais nada e ela se surpreendeu.
_É como eu disse, é notável que você não está bem.
_Ah claro. E você está querendo me ajudar. – ele resmungou encostando a cabeça na parede fria.
_Não é a toa que eu sou da Grifinória, Zabini.
_Humpf. Claro, a boa alma grifinória.
_É por aí. – ela respondeu sem tentar parecer engraçada e ele abriu os olhos.
Seus olhares se cruzaram alguns segundos e ela desviou. Ele sorriu difarçadamente.
_Alguma coisa a ver com seus amigos? – ele sentiu como um soco no estômago.
A pergunta de Hermione fora no ponto certo. “Será que ela é Legismen? “, ele pensou.
Não, ela não podia.
Hermione sentiu que acertara pela feição de dor que aparecia no rosto do garoto.
_O quê? – foi a única coisa que ele conseguiu dizer. Por algum motivo aquela pergunta o pertubou.
Talvez porque fosse difícil ver aqueles pensamentos fora de sua mente. Parecia uma traição ouvindo uma grifinória se intrometer.
Ela balançou os ombros como se não estivesse se importando.
_Desculpe. – ela sentiu que deveria dizer aquilo antes de qualquer coisa. Cabeça de sonserino era campo difícil de se andar. – Não é algo difícil de perceber se você olhar bem, sabe?
_Anda me vigiando, Granger? – ele soltou qualquer coisa tentando se recuperar do choque.
Ela lhe deu um olhar entediado e sorriu.
_Você não faz meu tipo, Zabini. – ela brincou. – Mas ando vigiando muitas pessoas, não só você.
_Por quê? – sua voz saiu desafiadora.
_Da pra perceber que você se sente desconfortável com a situação em que está. – ela continuou, ignorando a última pergunta.
_E por que isso te interessa?
_Da pra ser menos arrogante? – ela disse mais alto sem esperar resposta. – Ficar ao lado do Malfoy agora não deve estar sendo tão legal.
Novamente ele se sentiu sem palavras. Como aquela garota poderia saber tanto do que ele pensava?
_Ele é meu amigo. – foi a única coisa que ele pensou que seria uma boa respota.
_Eu sei e eu admiro isso se tratando de você.
Blásio pensou um pouco sobre o que ela disse.
A garota se aproximou e sentou em sua frente.
Blásio teve vontade de dizer que ela poderia se aproximar, que ele não se importaria, mas não podia. Ela era uma grifinória e se alguém subisse ali e os visse tão próximos, seria ruim. Draco ficaria muito nervoso.
Era bom ela manter distância, como estava fazendo.
_Legal. – ele disse.
Hermione pensou em dizer “Ah pode se abrir, eu posso tentar te ajudar”, mas conseguiu segurar a língua. Ele parecia ser diferente da maioria dos sonserinos, mas não deveria ser tão diferente assim.
_Pra eu te falar alguma coisa, teria de lançar um feitiço da memória em você depois. – ele disse percebendo as intenções dela.
Ela sorriu sabendo que ele não falava brincando.
_Tudo bem. Se você se sentir mais seguro assim…
Ele se surpreendeu com a resposta percebendo a seriedade ali. E se surpreendeu mais ainda ao ouvir as próximas palavras que saíram de sua própria boca.
_Eu não achei que isso fosse me pertubar, entende? Quero dizer, nós sempre vivemos em um mundo acima dos outros. Nunca nos importamos com o que ninguém pensava da gente. Eu, Draco, Pansy, Goyle e Crabbe. Mas agora, depois da Guerra… eu fiquei preocupado com Draco quando ele disse que tinha ideais além de Hogwarts, mas eu não iria me intrometer nas decisões dele. Se ele queria seguir o “cara do mal”, - ele disse fazendo sinal de aspas no ar. – eu não teria nada com isso. E até o ínicio de setembro quando voltamos estava tudo bem, mas então comecei a ver como as coisas estavam com a gente.
“Draco vive pertubado com o que aconteceu com os pais dele. Crabbe está morto por causa do Lorde das Trevas. Goyle está preso em Azkaban por causa do cara. Pansy só fica com aquelas garotas idiotas e de vez em quando que nos dá atenção. E eu… bem, aguentar Draco não é a tarefa mais fácil do mundo. Daí vem todo mundo te olhando como se estivesse fazendo algo errado. O que eu estou fazendo de errado? Por favor. Eu sequer assumi um lado na Guerra. E não ter lutado do lado negro, pra mim já é muita coisa. Mas não, todos me olham torto só porque meu melhor amigo foi um Comensal.
“Meu amigo foi um Comensal, caramba. Meu amigos foram Comensais ou aliados, mas isso não significa que eu os tenha seguido. Todos, todos viram que eu fui para Hogsmead enquanto acontecia a Guerra. O que eles queriam? Que eu ficasse contra o Lorde das Trevas? Eu não sou burro. Se ele vencesse, eu queria ficar vivo. Então era melhor eu não ficar do lado de ninguém.
_Seus pais eram Comensais? – ela perguntou baixo e ele lhe lançou um olhar de desprezo.
_Não. Meus pais não moram aqui. Eles disseram que quando a coisa apertasse, eu deveria ir embora. Mas não é exatamente fácil deixar tudo pra trás. Eu queria sobreviver, mas eu tinha que ajudar Draco, pelo menos a sobreviver aqui dentro para poder deixá-lo. Eu vi que as coisas estavam ficando ruins. Draco sempre dizia pra eu passar pra algum lado, mas eu via como ele sentia medo. Eu sabia que ele só estava participando daquilo porque a vida de seus pais estavam em suas mãos. Se não fosse por eles, Draco teria tido a mesma atitude que eu.
“Meus pais estavam longe. Eu não tinha esse problema. O único medo que eu tinha era o que aconteceria a ele quando chegasse a hora de lutar. Bem, tudo acabou bem. Ele está aqui, vivo. Mas está triste. Ele fez tudo pelos pais. Agora, um está preso em Azkaban e o outro morreu lá. Não é exatamente o que ele esperava.
Ele viu a garota de cabelos cheio se aproximar mais.
Hermione colocou a mão sobre a de Blásio, que estava em cima dos joelhos e a apertou.
Ele desviou o olhar para ela que olhava a mão dos dois.
Blásio virou a palma da mão e segurou a da garota, em retribuição ao que ela fazia.
_Você não parece ter nojo de mim. – ela comentou olhando-o.
_Não tenho. – ele respondeu simples.
_Mas você sempre me chama de Sangue-Ruim.
_Eu nunca te chamei disso. – ele disse surpreso. – Nunca chamei ninguém de Sangue-Ruim.
_Desculpe, devo ter imaginado então. – ela o olhou séria.
_É, talvez. – ele resmungou.
Ele se sentiu mais aliviado com a conversa.
Talvez a única coisa de que estivesse precisando era daquilo. Uma conversa rápida com alguém. Apenas desabafar. Ele era um ser humano, também sentia angústia.
_Acho que já posso ir, não é? – ele disse soltando a mão da garota.
Se sentiu estranho com aquela aproximação repentina.
_É. – ela levantou rápido. – Eu vou lá embaixo ver.
Ele percebeu que o rosto dela estava vermelho quando o olhou antes de começar a descer as escadas.
Ele considerou aquilo e desceu alguns degraus. Não vendo a garota, foi até o fim da escada e a viu na ponta de um dos lados do corredor.
Ela virou para a mesma direção que tinha chegado até lá e viu Blásio ao pé da escada. Ela confirmou com a cabeça mostrando que ele poderia sair.
Blásio saiu de onde estava e foi na direção de Hermione. Ele não sabia exatamente o que estava fazendo quando chegou ao lado dela e simplesmente depositou um beijo em seu rosto.
_Obrigada. – ele disse e se afastou.
Hermione sentiu seu rosto esquentar.
Ela queria apenas ajudá-lo, não esperava nenhum agradecimento por aquilo, mas já que ele havia demonstrado o agradecimento, ela não rejeitaria.
Lembrou o que ele havia dito no início da conversa sobre lançar um feitiço de memória e pensou que ele tivesse esquecido desse detalhe.
Ela tinha o segredo dele em mãos e se fosse sua inteção, poderia muito bem fazê-lo mal com as informações que tinha. Poucas, mas que se tornavam muitas sendo informações sobre um sonserino.
Ela deu um sorriso bobo e foi na direção da sala dos monitores.
Ela não era esse tipo de pessoa.
Ele confiara nela. Desabafou com ela um pouco e ela mostraria que era de confiança.
Todos os sonserinos poderiam ser iguais, mas estava claro que existia ao menos um diferente.
Ela tinha a prova ali.
Blásio Zabini.
Comentários (1)
gostei desse começo :-)
2012-05-20