Pequena Confusão



Capítulo 3
Pequena Confusão


 


Abri os olhos lentamente sentindo uma dor imensa nas costas. Olhei ao redor do cômodo que não havia janelas, apenas algumas velas flutuavam o iluminando, uma estante enorme com livros cheios de pó, uma mesa com vários pergaminhos, tinteiros e alguns retratos que não soube identificar de quem era. Quando percebi que estava deitada em uma poltrona, levantei rapidamente e vi Luan quase de cabeça para baixo no sofá de três lugares que cheirava mofo. 


- Luan. – O chamei baixinho sentindo uma dor na cabeça. Aos poucos ele foi se mexendo e abriu os olhos me encarando. 


- Onde estamos? – Levantou rápido olhando todo o lugar. 


- A melhor pergunta seria como viemos parar aqui? Não acha? – Olhei diretamente para a mesa e vi uma placa preta escrita em letras prateadas “Ministro da Magia David West”. – Essa não! – Exclamei. 


- O que foi? – Apontei para a placa. 


- Estamos no ministério. – Falei mais alto do que deveria. – Como chegamos aqui? Oh meu Merlin, vão nos mandar para azkaban. Não podem, somos menores e nossos pais sumiram. Nós só entramos na casa para pegarmos essas coisas, nem com nossas varinhas estávamos... Não podem fazer isso... 


- Melissa para. – Ordenou e no mesmo instante parei de andar de um lado para o outro. 


- O que eles vão fazer com a gente? – E quando terminei de falar a porta velha de madeira se abriu revelando um homem de aparentemente cinqüenta anos, cabelos grisalhos e olhos incrivelmente castanhos. Não possuía barba e não era muito alto. Ele nos lançou um olhar severo e fechou a porta assim que entrou. 


- Vejamos... Luan Potter e Melissa Potter entram na antiga casa sem permissão... – Dizia enquanto caminhava até sua cadeira. – A pergunta ideal seria por quê? – Ao sentar nos olhou esperando respostas. 


Nesse mesmo instante senti o pergaminho em minha mão direita, o segurava tão firme que quando abri os olhos nem havia percebido. O coloquei dentro da minha calça sem que ele percebesse e a foto foi inevitável, assim que me mexi ele a viu. 


- O que faz com essa foto? – Perguntou pedindo-a com a mão. 


Entreguei-a insegura. 


Ele a analisou e sorriu de canto, o que mais parecia um sorriso irônico. Levantou o olhar para nós e logo repousou novamente na boneca que estava nas mãos de Luan. Mais uma vez fez um sinal para que ele a entregasse a boneca, e assim o fez. Analisou da mesma maneira que a foto e novamente um sorriso brotou em seus lábios. 


- Deixe-me ver se entendi. – Pousou fingindo pensar. – Vocês entraram na casa, sem a permissão do ministério por sinal, para pegarem uma foto e uma boneca? – Terminou nos olhando como se fossemos extremamente estúpidos, o que me deixou muito irritada. 


- Talvez o senhor não saiba, mas eles possuem um valor muito grande para nós. – Dei um passo para frente apontando o dedo, mas Luan me segurou. 


- E vocês acharam mesmo que não seriam pegos? – Soltou uma gargalhada. – Francamente... – Balançou a cabeça como se não acreditasse. – Pensei que filhos de Hermione Granger seriam mais inteligentes. – E mais uma vez tentei partir para cima dele, mas Luan segurou firme meu braço. 


- Não Melissa. Ele é o ministro. – Sussurrou em meu ouvido. 


- O que mais me deixou impressionado é que vocês não pensaram que foi fácil demais entrar na casa... 


- Eu sabia. – Falei baixinho. 


- E também que não perceberam um de meus aurores quando passou por ele... 


- Eu sabia. – Repeti, só que dessa vez alto. – Sabia que aquele homem que nos viu no ônibus era um bruxo. 


- Muito bem, vejo que é mais esperta do que imaginei. – Olhei para Luan que pediu para que me tranqüilizasse, mais uma vez. 


- O que o senhor quer afinal? – Perguntei nervosa. 


- Que vocês parem de tentar ser como os pais de vocês, que não tentem mais entrar naquela casa e muito menos que se envolvam no caso. Sei muito bem o que estou fazendo e não deixarei que dois adolescentes interfiram no meu trabalho. Então voltem para a casa de vocês e sejam adolescentes normais... 


- Impossível, somos bruxos. – Sorri sarcástica, o deixando irritado. 


- Não se preocupem porque Arthur já esta a caminho para levar vocês de volta e... – Disse levantando e apontando o dedo em nossa direção. – Se souber que vocês fizeram mais alguma coisa, tomarei medidas drásticas. 


E quando tive a chance de dizer mais alguma coisa, três batidas foram ouvidas da porta e ela foi aberta relevando um Weasley extremamente chateado. 


- Leve-os. – O ministro colocou a foto e a boneca na mesa, não hesitei em pega-los e caminhar até a porta. – Até breve. – Acenou cinicamente para mim. 


É claro! Ele acha que não estou satisfeita e que em pouco tempo estarei aqui novamente por ter feito “mais uma coisa errada”, mas ele está muito enganado. Satisfeita não estou, mas não voltarei aqui tão cedo.


 


**


 


As paisagens lá fora passavam tão rápido que era impossível ver algo direito. Desde que saímos do ministério estava tudo silencioso entre nós. Ao menos olhares lançavam para nós. Talvez tivéssemos passado dos limites, mais que limites? Eles nunca ditaram as “regras” para nós, o que tecnicamente mostra que não estamos totalmente errados. 


Mais uma pontada de culpa por deixar aquele clima tenso me atingiu. 


- Eu queria pedir desculpas pela minha atitude. – Falei alto o suficiente para que Arthur e Molly ouvissem. 


- Acho que tenho um pouco de culpa também. – Falou Luan.  


- Embora estejamos realmente bravos com a atitude de vocês, e estamos muito mesmo. – Ela dizia no banco da frente sem olhar para nós. – Não é necessário pedirem desculpas. 


- Quero dizer a nossa atitude não foi uma das melhores e... 


- Tudo bem queridos. – Cortou Luan. Sua voz estava mais compreensiva. 


- Mais vocês não sabem o quão constrangedor é receber um berrador. – Comentou Arthur. 


- Talvez um dia pergunte ao tio Rony, ele deve saber muito bem. – Soltei. Só percebi o que havia dito quando senti o beliscão de Luan. – Desculpa. – Pedi vendo a expressão da senhora Weasley ficar rígida. 


- O que me deixa mais preocupada é porque vocês saíram de noite para aquela casa? – Mudou de assunto, isso estava transparente em suas palavras. 


E então, contei tudo a ela. 


- Fiquei realmente preocupada quando recebi uma coruja da Fernanda dizendo que acordou para beber água e percebeu que vocês não estavam na cama. 


- Nós precisávamos fazer isso ou não nos deixariam ficar com a foto e a boneca. – Falei. 


- Foi muita irresponsabilidade da parte de vocês deixarem dormindo uma adolescente que ao menos sabia que ficaria sozinha, e com dois bebês em casa. – Pausou. – Imaginem se algo acontecesse? – Perguntou mais para si mesma do que para nós. 


- Molly, querida, não seja dramática. – Pediu Arthur. 


- Senhora Weasley. – Pigarreei chamando atenção. – Queria avisar que minha amiga virá me pegar para passar o resto das férias com ela. 


- Não ficara mais conosco? – Sua voz era de um tom meio decepcionado. 


- Sinto muito, mais havia combinado com ela antes das aulas terminarem. – Disse. 


- Tudo bem, que horas eles viram? – Perguntou interessada. 


- As oito. – Respondi vendo o carro parar aos poucos. 


- Já estamos atrasados então, vá arrumar suas coisas e desça para o café. – Me apressou assim que saímos do carro.


 


**


 


Desci as escadas correndo e deixei todas as minhas coisas ao lado da porta. Luan já estava sentado à mesa, junto com Arthur, Rony e Luna que haviam voltado do hospital. 


- Bom dia. – Sorri para o casal. 


- Bom dia querida. – Luna sorriu bebendo um pouco de suco. 


- Como esta? – Sentei ao lado de Luan pegando um pouco de geléia e passando na torrada. 


- Melhor do que nunca. – Disse sorrindo e beijando levemente os lábios do marido. 


- Onde esta Fernanda? – Luan perguntou interessado. 


- Cuidando dos gêmeos. – Molly respondeu deixando uma bandeja de biscoitos na mesa. – Fernanda querida, o café esta na mesa. – Gritou no pé da escada. 


Ouvimos passos rápidos descer as escadas e finalmente ela apareceu na cozinha, um pouco surpresa por estarmos ali. Sorriu beijando a bochecha de Rony e Luna. Sentou-se a minha frente e comemos em total silêncio. 


- Eu estava pensando Melissa. – Começou Fernanda me deixando um pouco surpresa por estar falando comigo. – Se quiser podemos andar por aí antes do almoço. – Sorriu tímida. 


Não sabia como dizer a ela. 


- Eu aceitaria, mas vou para a casa de uma amiga agora. – Falei. 


- Quando voltar podemos, hm... Fazer alguma coisa juntas então. – Sugeriu animada. 


- É que, não voltarei mais essas férias. – A olhei percebendo a animação ir embora. 


- Eu acho que é aqui. – Ouvi uma voz um tanto familiar. 


- Francamente Demetria, você disse que sabia onde era. – A voz de Amanda invadiu a cozinha. 


Levantei da mesa e corri abrir a porta revelando as duas irmãs. 


Abracei animada Demi, e depois Amanda. Virei apresentando as meninas para todos, mas percebi que Fernanda não estava mais ali. Imediatamente me despedi de todos, principalmente de Luan. Peguei minhas coisas, e junto com os tios das meninas que as acompanhou até ali, aparatamos para a casa delas.


 


**


 


O dia passou mais lento que o normal. Depois da pequena confusão no ministério, voltamos para a casa e não saímos desde que Melissa fora para a casa das amigas. E agora só a veria no primeiro dia de setembro. 


Terminei de arrumar minhas malas e as deixei ao lado da porta do quarto. Deitei na cama lembrando o que Molly disse quando a avisei que iria pela manhã para a casa de David. 


- Será possível? Todos resolveram me abandonar? As crianças vão crescendo e esquecendo os mais velhos. – Falou aborrecida, mas no final pediu para que deixasse tudo pronto. 


Olhei para o relógio e marcava exatamente dez horas da noite. Todos já estavam em seus respectivos quartos. Levantei colocando a calça do pijama e uma regata branca, mas ao invés de voltar para a cama abri a porta do quarto tomando um rumo totalmente diferente do que deveria. 


Abri a porta sem bater e então eu a vi. Ela estava sentada na beira da janela aberta, o vento batendo em seus longos cabelos loiros. Seus olhos estavam fixos no céu escuro e só quando fechei a porta ela percebeu minha presença. 


- O que faz aqui? – Sua voz estava mais assustada do que irritada. 


- Vim conversar com você. – Disse trancando a porta. – E desta vez, você vai ouvir tudo o que tenho para lhe dizer. 


 


 


 


 

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