Quebrando Regras



Capítulo 2
Quebrando Regras


 


- Eu queria poder ficar com mais coisas daquela casa. – Comentei olhando fixamente para a bolinha preta. 


- Como o que? – Perguntou Luan, que junto a mim, estava sentado na mesa da cozinha. 


- Eu vi uma foto de nossos pais, queria ela. E também aquela boneca de pano que Lily adorava. – Rolei a bolinha até o outro lado da mesa onde ele estava. 


- Eu queria poder saber onde eles estão. – Suspirou. 


- Isso também. – Forcei um sorriso. 


E um longo silêncio se instalou na cozinha. 


Fernanda estava no quarto cuidando de seus irmãos. Molly não voltou do St. Mungus e Arthur foi buscá-la. Na cozinha estava apenas eu e Luan, hora falávamos alguma coisa, hora olhávamos um para o outro sem dizer nada. 


- É uma coruja aquele pontinho preto voando para cá? – Luan estreitou os olhos para ter certeza. 


Virei e a vi parando em frente à janela. Corri para abri-la e peguei o pequeno pergaminho que trazia. 


- É para mim. Da Amanda. – A abri e comecei a ler. Luan ficou em silêncio apenas me observando. 


- E então? 


- Ela virá às oito da manhã me buscar. Vou passar as férias na casa dela. – Um sorriso sem graça se formou em meu rosto. 


- Faz apenas três semanas que estamos aqui Melissa. – Suas palavras pareciam mais uma bronca. – Falou pelo menos com Molly? – Neguei. 


- Não tenho outra opção, e passar as férias na casa dela talvez me deixe um pouco mais tranqüila. Aqui me faz lembrar bastante nossos pais. – Olhei tudo em volta. 


Voltei meu olhar para a carta e a dobrei. 


- Queria poder voltar em nossa casa e pegar aquela foto. – Respirei fundo. – Ter uma foto deles seria bom. – Coloquei a carta na mesa. 


E de repente tudo voltou a ficar em silêncio, mas Luan olhava diferente para mim. De duas uma, ou ele estava tendo uma ideia, ou ele estava ficando com fome. 


- E tem como. – Falou rapidamente se levantando. 


- O que? – Meus olhos acompanharam seus passos até chegar perto de mim. 


- Tem como voltarmos até nossa casa. – Disse sorrindo. 


- É impossível, e você viu como o senhor Weasley ficou bravo comigo por... 


- Mas tem Melissa. – Começou a andar de um lado para o outro. 


- Você viu o que ele fez quando chegamos lá? Ele sussurrou algumas palavras, ou números não sei... 


- Sim, eu vi e ouvi. – Pegou nos meus braços para encará-lo. – Eu sei a senha para entrarmos em casa. 


- Mas, como? Impossível. Tem certeza? – Falei animada. 


- Sim... Ou pelo menos quase. 


- Mas amanhã irei para a casa de Amanda, não posso ir Luan. 


- Pode sim, porque iremos esta noite. – Sua voz saiu com total segurança. – Quando todos estiverem dormindo e voltaremos antes que acorde. 


- Mas pode não dar certo... 


- Mas não demoraríamos tanto, o único problema é que iríamos andando, mas estarei com você se estiver com medo... 


- Francamente! 


- Me deixe terminar. – Me calei, e então ele continuou. – A senhora Weasley sempre vai se deitar as dez, pelo menos ultimamente, então o melhor é nos encontrarmos aqui em baixo, meia noite em ponto. – Falou como se fosse obvio. – E voltaríamos antes das cinco da manhã, para podermos nos deitar e ninguém desconfiar... 


- Mas eu durmo no mesmo quarto que Fernanda. – Cruzei os braços impaciente. 


- Acho que teremos que usar o velho truque do travesseiro. – Disse pensativo. 


- Isso não vai dar certo... 


- Não custa tentar irmãzinha, não custa. – Sorriu abertamente. 


- Tudo bem, mas se der errado a culpa é sua. Espertinho. – Falei nervosa, mas no fundo meu coração estava a mil de felicidade. 


- Mas esse será o nosso segredo. – E no instante que terminou de falar, ouvimos um barulho vindo da janela que nos fez saltar de susto. Por sorte era apenas, mais, uma coruja. 


- Todos resolveram mandar cartas para nós? De quem será dessa vez? – Resmungou enquanto caminhava até a janela e deixava à coruja entrar. Peguei a carta e comecei a ler. – De quem é? 


- Da senhora Weasley. – Continuei lendo. 


- E o que ela quer? – Perguntou inquieto. 


E um enorme sorriso se formou em meu rosto o deixando ainda mais curioso. 


- A senhora Weasley vai passar a noite com Luna e Rony no hospital, o senhor Weasley também ficara por lá e diz que Luna já esta melhor era apenas uma virose e em breve estará em casa, pediu para que trancássemos tudo antes de irmos deitar e para que... – Pausei por um instante. 


- Para que? – Insistiu. 


- Ajudasse Fernanda com as crianças. – Engoli em seco. 


- Ora, não é tão difícil cuidar de criança, você sabe e... 


- O problema não é esse, é que depois de nossa briga não estamos nos falando, você sabe. – Revirei os olhos. 


- Mas você vai dar um jeito, mesmo assim, esta tudo dando certo. Vamos para nossa casa essa noite e nada irá nos impedir. – Disse convicto. 


- Tem certeza? – Minha voz saiu trêmula. 


- Tenho.


 


**


 


Mesmo o quarto sendo dos irmãos gêmeos de Fernanda, bati na porta duas vezes antes de abri-la e enfiar minha cabeça, certificando de que estavam ali. Os gêmeos, do contrário de Fernanda, tinham cabelos incrivelmente ruivos. Estavam deitamos lado a lado na cama e aparentavam ter mais do que apenas seis meses. 


- Fiquem quietos, não posso trocar a fralda dos dois ao mesmo tempo. – Fernanda apareceu vindo do banheiro. – Vejamos quem esta na pior situação... Eca Allan! O que lhe deram para comer? – Ela sacudiu a mão para que o cheiro fosse embora. 


- Deixa eu te ajudar. – Falei entrando por completo e fechando a porta. 


- Não precisa... 


- Faço questão. – Me aproximei a observando tirar a fralda de Allan.  


- É melhor ficar com a Thais, porque esse mocinho aqui... – Ela disse olhando para a fralda. – Sujou até as costas... 


- Nojento. – Comecei a rir do comentário, e Fernanda me acompanhou. 


Não demorou muito para que trocasse a pequena Thais, mas Allan foi quem realmente nos deu trabalho. Estava tão sujo que precisei ajudá-la a dar banho nele. Foi engraçado e ao mesmo tempo estranho. Ele estava dando um trabalho, e ainda por cima, em duas adolescentes inexperientes, saímos molhadas do banheiro da cabeça aos pés. E estranho pelo fato de estar gostando de passar um tempo com Fernanda, sentia falta desses momentos. Com minha melhor amiga. Ou ex. 


- Obrigada por me ajudar e desculpa a... – Ela me olhou dos pés a cabeça. 


- Tudo bem. – Peguei uma das toalhas que tinha pelo quarto e comecei a me secar. 


Sentei ao chão junto com Fernanda, estávamos no tapete e os gêmeos brincavam animados e nos incluíram na brincadeira. E como se todas as brigas, desentendimentos e discussões que tivemos fossem embora, passamos um belo fim de tarde e inicio de noite juntos. 


As crianças resolveram mudar de brincadeira, mas dessa vez ficamos de fora. E talvez fosse uma boa ideia, conversamos sobre várias coisas, não citei nenhuma vez Luan e muito menos nossa discussão. Mas algo lá no fundo, bem no fundo dizia que aquilo era coisa de momento. Na manhã seguinte acordaríamos e tudo voltaria ao normal. 


- Vou me deitar. – Olhei para o relógio que marcava oito horas. – Mas antes tomarei um banho. – Falei animada. 


- Vou colocá-los no berço e logo irei me deitar. – Assenti levantando do chão e saindo do quarto. 


Tomei um banho rápido assim que cheguei ao quarto que dividia com Fernanda e quando sai do banheiro ela já estava deitada na cama. Caminhei em passos hesitantes tentando não demonstrar o tamanho da minha ansiedade. Encontraria Luan na cozinha e sairíamos sem avisar ninguém, pela noite a fora e sem o nosso instrumento principal, a varinha. 


Deitei na cama e cobri todo o meu corpo, certificando de que não podia ser visto nem meu cabelo. E agora a única coisa que poderia fazer era esperar.

 


**


 


Uma hora depois de nos deitarmos Fernanda já dormia profundamente. Levantei tentando não fazer barulho e coloquei os travesseiros no meu lugar e os cobri. Só Luan para me obrigar a fazer uma coisa dessas. Tirei o pijama e o coloquei entre as cobertas, peguei meu tênis debaixo da cama, e para minha sorte, bati a cabeça. Mas quando olhei para Fernanda, ela nem se mexera. 


Levantei caminhando até a porta com meus tênis na mão esquerda, e com a direita peguei minha blusa atrás da porta. E sai sem fazer barulho. 


Sentei no degrau da escada e coloquei o tênis, vesti a blusa enquanto descia as escadas. Quando cheguei à cozinha olhei para o relógio que ainda marcava onze horas. 


- Já esta aqui embaixo? – Luan sussurrou me assustando. 


- Quanto mais rápido irmos, mais rápido voltaremos. – Falei o puxando para fora da casa dos Weasley. 


- Calma irmãzinha. Assim acordaremos Fernanda e os gêmeos... Que por acaso não deveríamos deixar sozinhos à noite... 


- Foco Luan. Você bolou isso, agora vamos até o fim. – Falei nervosa enquanto nos afastávamos cada vez mais. – Trouxe dinheiro trouxa? – O olhei tirar algumas notas do bolso. 


- Acho que isso serve. – Comentou. – Vamos andar algumas quadras, tem um ônibus que passa em uma das ruas. 


- Você tem certeza que vai dar certo? E se não tiver mais ônibus? E se formos para o lugar errado? Afinal, estamos pegando ônibus trouxa. – Falei andando rápido. 


- Estou sentindo muito pessimismo. Vai dar certo. Tem que dar. 


E nada mais foi dito. Caminhamos até o tal “ponto de ônibus” e esperamos um longo tempo. Éramos os únicos por ali, poucas eram as luzes que iluminavam a rua a deixando cada vez mais escura. O vento ficava cada vez mais frio e o silêncio estava me deixando assustava, até que um ônibus fez a curva na esquina e esperamos ele parar no ponto. A porta abriu e entramos, quase, correndo. Luan entregou o dinheiro de nossas passagens e nos sentamos no fundo longe de dois homens que estava ali. 


- O que fazem dois adolescentes há essa hora na rua? – Um dos homens virou e nos olhou suspeitando de algo. 


- Nós... Bem... 


- Estamos voltando para casa. – Falei rápido. – Festa. – Ele estreitou os olhos. Com certeza não acreditou, mas voltou a virar nos deixando em paz. – E se ele for um bruxo? – Cochichei, mas a única coisa que recebi foi um olhar censurado de meu irmão.


 


**


 


O ônibus nos deixou na esquina de nossa casa. Entramos na rua e caminhamos em passos rápidos até chegarmos, finalmente, em nosso destino. Luan se aproximou da porta e lançou um olhar esperançoso para mim. 


- Caso 1597852. – E novamente escutamos a porta ser destrancada. Ele a abriu e sorriu ao olhar para mim. – Viu? Não foi necessário varinhas. 


- É só isso? Agora podemos entrar e pegar qualquer coisa? – Perguntei desconfiada. 


- Pelo que parece... Sim. Agora vamos rápido. – Apressou fechando a porta. 


Sem pensar em mais nada subi as escadas e praticamente corri até o quarto de Lily, e aquelas mesmas caixas ainda estavam lá. Observei a caixa que estava mais ao longe e tive a certeza de que era a mesma. 


- É aquela caixa. – Me aproximei e a abri vendo aquele mesmo álbum de fotos. – É essa foto. – Voltei a observar hipnotizada aquela foto de meus pais no natal. 


- Pega só a foto... Se pegarmos o álbum podem suspeitar. – Falou abrindo uma caixa e mexendo em seu interior. 


- Não estava pensando em levar o álbum... 


- Olha o que achei. – Me aproximei com o álbum ainda em minhas mãos. – A boneca que Lily tanto gostava. – Comentou. 


- Vamos levar. – Ele me fuzilou. – Ora vamos, por favor. – Pedi. 


- Vou deixá-la dentro da caixa por enquanto, depois resolvemos. – Falou abrindo outra caixa. – Calma, só quero saber o que estarão levando para o ministério. – Ponderou quando o lancei um olhar de desaprovação. – Apenas pergaminhos, tinteiros, penas... – Tirou um por um colocando em cima de outra caixa. 


- Já chega Luan, vamos embora... – Disse tentando pegar tudo o que ele havia tirado para colocar de volta a caixa. Mas, como sempre, algo deu errado. Tentei pegar tudo de uma vez e acabei esbarrando em um tinteiro que abriu e tombou em cima de um pergaminho. – Droga! – Levantei o tinteiro e quando fui pegar o pergaminho a bola de tinta havia sumido e palavras começaram a se formar lentamente. 


- O que está escrito? – Perguntou Luan curioso. 


- Não sei. – Esperei as palavras se formarem, mais elas estavam lentas demais. – Pegue a boneca, é melhor irmos embora. – Ele colocou o resto das coisas dentro da caixa e a fechou, pegou a boneca que Lily tanto gostava e finalmente saímos do quarto. – Acho melhor vermos direito o pergaminho em casa. – Falei o enrolando. 


- Você esta ouvindo? – Ele parou por um instante. E quando o silêncio se instalou sobre nós, pude ouvir barulhos. Estranhos barulhos como se enormes animais estivessem correndo atrás de nós. Olhei assustada para Luan mais não conseguimos nos mover. Algo estava acontecendo e não era um bom sinal. 


E de repente um enorme buraco se abriu em nossos pés, e sem ter onde nos segurar, mergulhamos em uma apavorante escuridão.



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