Inveja

Vários meses depois de ter deixado Hogwarts, Marlene acordou se sentindo meio desorientada. O cheiro habitual de cravos e brisa marítima a fez lembrar de noite anterior, e não pode deixar de corar.

Depois de uma longa reunião da Ordem da Fênix, pontuada com as informações úteis que Marlene obtinha de Rabastan, que estava na Noruega "ajudando os bruxos estrangeiros a escolher o lado certo na guerra", (ou seja, recrutando pessoas para o lado das trevas), Sirius aparatou com a namorada para a sua pequena casa em Manchester. Ele começou com a pergunta habitual:

- Como você consegue aquelas informações? - Perguntou sem olhar para Marlene, ela suspirou.

- Já disse. Dumbledore concorda comigo que quanto mais pessoas da Ordem souberem de minha fonte, mais fácil será para que Voldemort também saiba.

- Mas você pode confiar em mim! Só quero saber quem é que te manda longas cartas toda semana cheias de informações sobre os planos de Voldemort. - Ele fitou a namorada com firmeza, mas ela olhou para a janela ao dizer:

- Sinto muito, Sirius, mas ainda não chegou a hora de lhe contar.

- E QUANDO VAI CHEGAR? - Gritou Sirius. - Quando a "fonte" for assassinada ou parar de te escrever? Por que Dumbledore pode saber e eu não?

- Ora, fancamente, Sirius! Não aja como criança. Eu não posso contar, bem que gostaria, mas não posso! Estou sob voto perpétuo!

- Ah, mas para o Remo você pode contar? - Gritou Sirius caminhando para longe de Marlene.

- Por que o Remo entrou na história?

- Ele sabe!!! Eu sei que sabe! Você contou a ele e não a mim.

- Não contei a ninguém! - Agora Marlene também estava gritando. - Remo suspeita de como eu obtenho as informações, mas quando eu expliquei que não era seguro explicar ele entendeu! Diferente de você! Sempre mimado, sempre querendo que tudo aconteça exatamente do jeito que você quer! Aposto que está descontente com o casamento de Lílian e Tiago depois de amanhã! Porque vai perder um amigo, e...!

- Não estou descontente com o casamento, eu vou ser padrinho!

- Porque não achou uma meneira educada de dizer não. E porque quer ter até o último segundo para fazer Tiago desistir. - Acusou Marlene. - Foi por isso que você ficou irritado quando nos pegou ensaiando o pedido de casamento dele para a Lil! Não tinha nada comigo, você só detesta a ideia de ver o seu melhor amigo se casar!

Sirius se virou bruscamente para Marlene:

- Você não tem IDEIA do que está falando! - Gritou ele. - A única coisa que eu quero e ver o Tiago feliz, seja lá como ele preferir fazer isso. Mas nem ele, nem ninguém tem o direito de tirar você de mim. Eu mataria alguém que tentasse! Porque, droga, eu AMO VOCÊ!

De repente, tudo desapareceu e somente Sirius existia no mundo de Marlene. Eles ficaram se fitando em silêncio, o único som era o da respiração ofegante de ambos. Então foram tomados por uma consciência mútua, Marlene se atirou nos braços de Sirius no exato momento em que este os estendeu para pegá-la. Se beijaram com um ardor que quase tinha sido esquecido. Inicialmente, a moça não entendeu o que acontecia. Por que de repente sua respiração tinha ficado presa, seu coração disparara descontrolado e um frio descomunal invadia a região de seu abdômem? Ao mesmo tempo, seus dedos pegavam fogo como se ela estivesse segurando uma brasa. Nem Sirius ou Marlene se atreveu a interromper o beijo, e com uma selvageria praticamente desconhecida eles se uniram.

　

- Bom dia, Marly. - Sussurrou Sirius para Marlene, a voz dele estava ainda mais rouca que o normal, o que fez com que Marlene risse antes de responder.

- Bom dia, Sirius. Qu...? Ah, meu Deus! Já é quase meio-dia! - Ela se levantou da cama em um salto e agitou a varinha para que as roupas se vestissem nela.

- E daí? - Perguntou Sirius se espreguiçando.

- O ensaio de casamento da Lil e do Pontas! Começou há quase duas horas. E você é o padrinho! - Gritou Marlene agitando a varinha agora para que as roupas de Sirius se vestissem nele. Antes mesmo que o zíper da calça do rapaz terminasse de se fechar, Marlene se esticou para segurar a mão de Sirius e aparatar.

　

- Ah! Agora podemos começar, o padrinho chegou! - Saudou Tiago quando Sirius e Marlene se materializaram na sala de estar da casa dos Evans. - Oi, Agridocicada!

- Finalmente! Eu pensei que vocês não viessem! Meu casamento é amanhã e vocês não conseguem nem me fazer o favor de chegar NO HORÁRIO! Que tipo de amigos são vocês?! - Exasperou-se Lílian. Marlene sorriu para a amiga num pedido mudo de desculpas. Lílian olhou para o sorriso e sorriu de volta, depois correu para Marlene e a abraçou, desatando em lágrimas.

- Ei, calma, Lil. - Consolou Marlene. - Tenho certeza que esse será o casamento mais lindo que a bruxidade já viu.

- Não vai, não. Eu v-vou t-tr-tro-p-p-peçar e esquecer o q-q-que tenho que dizer! - Soluçou ela.

- Mas ainda assim eu vou querer casar com você. E não importa o quanto você fique nervosa ou com quantas pessoas grite hoje, você ainda vai ser a noiva mais linda do mundo para mim. - Declarou Tiago ajeitando os óculos. Sirius revirou os olhos.

"Ele precisa bancar o panaca apaixonado na minha frente..." Marlene o ouvir pensar.

"Ele não está bancando o panaca, está dizendo para ela o quanto a ama. Isso é lindo." Repreendeu Marlene. Lílian se desprendeu da amiga e foi beijar Tiago. Sirius riu e Marlene também, mas por dentro, um sentimento muito estranho se entranhava em seu peito. De repente, não mais que de repente, ela sentiu uma vontade louca de criticar aquele casamento. De rir com Sirius da imbecilidade de Tiago e Lílian por estarem se casando.

Segundos depois, percebeu que tinha inveja da falicidade de sua amiga e sentiu nojo de si mesma.

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