Um pedido de perdão

Um pedido de perdão

 

Quando os raios de sol iluminavam o amplo quarto, já naquela manhã de quarta-feira, Ron acordou. Por um momento ele se esqueceu do que havia acontecido. Mas, ao ver que o lugar ao lado, na cama, estava vazio; ele se lembrou de tudo.

 

Como se sua mente tivesse trabalhado a noite inteira, ele acordou com um plano. A ideia tinha lhe trazido esperanças o que o deixou repentinamente feliz. Sorriu e levantou-se. Vestiu-se depressa, tamanha a empolgação.

 

O plano tinha que dar certo. Faria qualquer coisa para tê-la de volta.

 

Nem tomou o café da manhã, foi direto para o trabalho. Deixou, momentaneamente, o plano de lado, queria estar lá bem cedo, pra ver se via Hermione. Saiu de casa e andou a passos largos até a rua que sempre usavam para aparatar e desaparatar. Alguns minutos depois, já se encontrava no átrio do Ministério. Poucos bruxos se encontravam ali, pois ainda era muito cedo.

 

Os minutos foram se passando. Ele ficou no átrio, perto das lareiras, esperando para ver se a via. Pensava nela. Estava arrependido e queria desculpar-se. Nunca antes, após uma briga, ele se arrependera tanto do que dissera.

 

Ficou de um lado para outro, hora ou outra olhando para as lareiras para ver se ela chegara. Bruxos e bruxas irrompiam das chamas verdes e logo o átrio estava lotado. Ele sentiu alguém tocar em seu ombro, virou-se esperando que fosse a esposa, mas não era...

 

- Ron, bom dia.

 

- Bom dia Harry. - Disse ao amigo.

 

- Aconteceu algo? - Perguntou-lhe Harry.

 

- Não... quer dizer sim. - Falou ele meio confuso. - Queria ver a Hermione, ela não foi pra casa ontem.

 

- É eu sei... ela estava na minha casa. - Disse Harry. - Ela pediu, ou melhor, "exigiu" que não contássemos pra você que ela estava lá.

 

- Então ela estava na sua casa? - Perguntou Ron, mas antes que pudesse perguntar como Hermione estava, Harry falou:

 

- Mas ela não passou a noite lá. Gina insistiu, mas ela disse que ficaria na casa dos pais dela, que estão viajando.

 

- Mas como... como ela está? - Ele perguntou meio nervoso e arrependido.

 

- Bom, ela está mal, não posso mentir. - Respondeu Harry. - Ela chorou um pouco, falou e reclamou bastante... mas não ouvi tudo, ela e Gina ficaram conversando no quarto, não queriam que eu ouvisse.

 

Ron nem conseguiu falar nada, acabara de ver Hermione atravessando o átrio depressa, indo em direção aos elevadores. Ele nem viu quando ela apareceu na lareira. Obviamente, ela pensara que ele a esperaria, então tratou de fazer o caminho até a lareira, o mais rápido que suas pernas permitiam.

 

A ideia que sua mente bolou durante a noite, enquanto ele dormia, sofreu uma pequena alteração. Uma luz se acendeu em sua mente: Iria pedia a ajuda de Harry e Gina, neles Hermione, agora, confiaria.

 

- Harry, preciso de sua ajuda e da de Gina também. - Disse ele.

 

- Pra quê? - Indagou Harry.

 

- Eu tenho um plano pra me desculpar com a Hermione. - Falou ele olhando para o amigo, esperando por uma reação positiva.

 

- Por mim tudo bem, desde que eu não seja azarado pela Mione, quando ela descobrir. - Respondeu Harry pensativo. - Mas a Gina, eu não sei, você vai ter que falar com ela.

 

- Com a minha irmã eu me entendo. - Disse ele sorrindo. Gina tinha que ajudá-lo. - E pode deixar a Hermione não vai azarar você.

 

- Você que não se lembra da vez que você voltou... - Disse Harry sem completar a sua fala. Ele pareceu se arrepender e não disse mais nada. Ron tampouco se importou, não negava o que fizera durante a guerra. Abandonar os amigos no momento mais crítico de suas vidas, fora vergonha para ele, por muito tempo.

 

- Eu lembro sim, sorte que a varinha dela estava com você. - Disse ele tentando reanimar. Harry sorriu.

 

Naquela ocasião, a varinha de Harry fora quebrada, durante o confronto com Nagini, em Godric's Hollow. Ele havia ido embora, após uma briga com Harry, mas se arrependera e quando voltou, teve que se entender com uma Hermione furiosa. Mas como a varinha dela, estava com Harry, e o amigo negou-se a devolver, ela só pode expressar sua raiva, verbalmente.

 

Poucos minutos depois, já na sala dos aurores, Ron aproveitou que os demais colegas ainda não haviam chegado e contou, sem muitos detalhes, o plano. Harry gostou do plano e permitiu que ele ausenta-se pela manhã, do trabalho, para que pudesse colocar o plano em prática.

 

Saiu do Ministério da Magia e aparatou na rua, perto de casa. Bichento, o gato de Hermione dormia sobre o sofá da sala, quando ele chegou. Ron foi até a lareira, sem dar bola para o animal, que acordou com a chegada do "dono".

 

- Gina! - Chamou ele, ajoelhado no tapete, em frente à lareira. Comunicação por lareiras não era sua preferida, mas por carta demoraria mais para poder se comunicar com a irmã.

 

- Ron, a Hermione não está aqui. - Disse a "cabeça" de Gina, aparecendo na lareira.

 

- Eu sei disso... preciso de sua ajuda.

 

- Ajuda pra quê?

 

- Pra me desculpar com a Hermione. Pra que mais seria? - Falou ele rindo, mas tentando ficar sério.

 

- E por que eu deveria te ajudar? - Falou Gina num misto de rispidez e curiosidade.

 

- Porque você é minha irmã... e além do mais, você me deve por eu deixar você casar com o Harry.

 

- Você por acaso tem poder para deixar algo ou não, que tenha haver com a minha vida, irmãozinho? - Falou Gina com mais rispidez.

 

Os anos passavam, mas eles não mudavam.

 

- Eu sei, eu sei. Só estava brincando, desculpe. - Falou ele. - Vai me ajudar ou não?

 

- Se eu ajudar... o que eu ganho com isso? - Perguntou ela.

 

- Consideração e respeito, ora! - Disse Ron rindo, já percebeu que Gina estava irritada. Mesmo precisando dela, não conseguia evitar uma brincadeira. Implicar com ela era algo natural. - Além do mais, o Harry já concordou em me ajudar.

 

- Ok, eu ajudo. - Disse ela ainda irritada. - Mas só pela Hermione, porque ela é minha amiga. Se fosse só por você, eu não ajudava.

 

- Tanto faz...

 

- O que você quer fazer?

 

Alguns minutos depois, Ron se despediu da irmã, depois de explicar o que consistia seu plano. Gina demorou um pouco para concordar com a parte do plano em que ela estava responsável, mas acabou aceitando.

 

Ele se levantou e percebeu que Bichento estava o encarando.

 

- Não conta nada pra Hermione, Bichento.

 

Ele desaparatou na rua deserta, precisava comprar algumas coisas. Pensou em comprar algo especial, que não havia pensado antes, para expressar melhor, seu arrependimento pelas coisas que disse durante a briga.

 

Entrou na loja e foi olhando os produtos. Uma moça, que trabalhava no estabelecimento, foi até ele.

 

- Posso ajudá-lo, senhor? - Ela perguntou sorrindo.

 

- Sim, quero levar aquele ali. - Disse apontando para um dos produtos, o que mais lhe agradou. - Pode embrulhar em papel cor-de-rosa?

 

- Como quiser. - Disse a atendente, em seguida pegou o item que ele queria, colocou em uma caixa e embrulhou.

 

Depois de pagar, Ron saiu da loja. Ainda tinha que ir a outros lugares.

 

Pouco mais de duas horas depois, aparatou nos arredores da casa de Harry e Gina. Bateu na porta e alguns segundos depois a irmã atendeu.

 

- Comprou tudo? - Perguntou ela, quando eles chegaram à sala. O pequeno James estava dormindo, tranquilamente, em um carrinho de bebê, que estava ao lado do sofá. O menino nem se mexeu, quando eles entraram na sala.

 

- Comprei, está tudo aqui. - Disse ele lhe entregando uma sacola de papel, que a irmã colocou sobre a mesinha de centro.

 

- Não sei se isso vai dar certo... Hermione pode, ou melhor, vai desconfiar! - Falou Gina quase sussurrando, para não acordar o filho.

 

- Faz tudo como eu disse e o resto fica por minha conta. - Disse ele com um sorrisinho, confiante.

 

Ron deu uma olhada no afilhado antes de sair. O menino dormia a sono solto, despreocupado com tudo. Depois Gina o acompanhou até a porta.

 

- Obrigado. - Disse Ron, abraçando a irmã.

 

- Não me agradeça. - Falou ela. - Só depois, no caso desse seu plano todo, der certo.

 

- Vai dar certo.

 

- Assim espero. - Falou a irmã. - Não gosto de vê-los brigados por tanto tempo.

 

Gina abriu a porta e Ron saiu. Ela lhe acenou e sorriu, antes de fechar a porta. Em seguida, ele desaparatou.

 

Ron voltou ao Ministério, ainda tinha que trabalhar. A parte de Harry era quase exclusivamente, deixar ele se ausentar por algumas horas. A segunda parte que caberia ao amigo, viria depois.

 

- Deu tudo certo? O que a Gina disse? - Perguntou Harry mais tarde, quando já estavam na hora do almoço e os outros aurores saíram.

 

- Deu tudo certo. Ela concordou... não tinha escolha. - Respondeu ele sorrindo.

 

- Mas, você acha que esse plano vai dar certo? - Questionou Harry. - E se a Hermione desconfiar de algo?

 

- Não vai. Gina mente muito bem.

 

- Eu sei, mas a Hermione consegue detectar uma mentira ou algo suspeito muito facilmente, você sabe...

 

- Não se preocupe. - Disse ele ao amigo. - Vai dar tudo certo.

 

Ele estava confiante com o plano, queria que desse certo e que Hermione o perdoasse. Ainda estava arrependido do que falara para a esposa. Ele a amava, mas nem ele próprio conseguia explicar, como conseguiu dizer a ela que não queria ter filhos.

 

Lembrou-se da expressão de Hermione, quando ele disse aquilo. O rosto dela misturava dor e surpresa. Lágrimas correram dos castanhos olhos e depois, ele a viu correr em direção ao banheiro, fechando a porta com estrondo, o deixando sozinho no quarto. Mesmo com a porta fechada, ele conseguia a ouvir chorando e soluçando. Ele saiu do quarto do casal, indo dormir do quarto de hóspedes. Nunca a vira daquela maneira. Daquela vez, ela não revidou ou respondeu, apenas chorou.  

 

“Eu não quero ter filho nenhum!”

 

Ecoava em sua cabeça a frase que gritou para a mulher naquela noite.

 

Sentiu-se um idiota covarde. Desejou nunca ter dito aquilo a ela. Se arrependimento matasse, ele estaria mais do que morto.

 

As horas se arrastaram muito devagar durante a tarde. Quanto mais ele queria ir embora, mais devagar o tempo passava. Gina já deveria estar preparando sua parte no plano. Na verdade, a parte a qual a irmã estava incumbida, era complicada; nem ele acreditou que ela aceitaria.

 

Quando finalmente o expediente acabou, despediu-se rapidamente dos colegas e de Harry. Não viu Hermione do átrio, na verdade só a viu naquela manhã, muito de longe.

 

Depois que saiu do Ministério, ele desaparatou, foi direto para casa. Precisava se aprontar. Viu que Bichento, estava em casa. Como sempre, o gato sabia das coisas.

 

- Ela vai voltar Bichento. - Disse ele ao animal, que o observava do sofá, enquanto balançava o rabo.

 

Repassou o plano mentalmente, pois não queria que nada desse errado. Hermione tinha que perdoá-lo. Ela precisava dela. Demorou tanto tempo para ficarem juntos e agora ele não queria mais ficar sem ela, nunca mais.



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