Reconciliação
Reconciliação
Depois que saiu da casa de Harry e Gina, ela foi direto pra casa de seus pais. Eles haviam viajado para a Suíça, apenas há alguns dias, mas deixaram a chave da casa com ela. Mesmo não sendo necessário o uso da chave para Hermione entrar na casa dos pais, ela gostava de fazer as coisas à moda trouxa. Fora criada assim, e por mais que descobrir ser uma bruxa tivesse sido fantástico, tinha saudades da vida de antes e de quando morava naquela casa.
A casa estava silenciosa. Só podia-se ouvir o tic-tac do relógio, na parede da sala. Era bom entrar ali novamente, mesmo o momento não sendo muito feliz.
Ela se sentou no sofá. À sua frente, havia um aparelho de televisão. Nem Hermione e nem os pais gostavam de assistir, salvo raros casos de programas educativos, ou falando sobre o cuidado com os dentes e o noticiário da noite.
A sala tinha vários livros, dispostos em estantes de madeira. Ela se levantou e começou a olhar tudo em volta. Havia muitas fotos dela e dos pais. Mesmo as fotos trouxas não se movendo, elas ainda podiam transmitir a emoção do momento em que foram tiradas. Isso era algo que ela adorava nas fotos "normais". Encontrou uma da época em que ela era criança, antes de descobrir que era bruxa. Na foto, ela estava sentada no sofá, e sorria feliz, abraçada ao pai. Ela ainda lembrava-se da alegria que sentiu no dia da fotografia, no seu aniversário de nove anos. Tinha também muitas fotos de quando ela ainda era bebê, nos álbuns e nos porta-retratos.
Ver suas fotos de bebê, lembrou-lhe o motivo de estar ali naquele momento.
Ela voltou a se sentar no sofá e chorou. Por que Ron estava fazendo isso com ela?
Não sabia o que fazer agora. Por enquanto, decidira que não voltaria para casa, ficaria ali na casa dos pais até eles voltarem da viagem.
Levantou-se, pegou sua mala e subiu para o segundo andar. Foi direto para seu antigo quarto. Ao abrir a porta, uma onda de nostalgia a invadiu. Podia ver-se ali, quando criança, lendo os livros de Hogwarts, depois que descobriu que era bruxa. Na verdade, ela tinha várias lembranças naquele quarto. Era lá que ela se refugiava quando algo a chateava; quando estava triste; quando lia, especialmente as cartas de Harry e Ron, durante as férias.
Ron... Por que não conseguia se esquecer dele nem por um minuto?
Ela colocou a mala sobre a cama e olhou ao redor. O quarto estava um pouco mudado em comparação ao último dia que dormiu ali. Seus livros todos não estavam mais ali, mas na sua casa, a que comprara com o marido; e muitas coisas ela jogou fora quando se mudou. Mesmo assim, continuava como era, seu quarto; ou melhor, antigo quarto. Ele estava ali mais como uma lembrança dela para seus pais.
Colocou as roupas que trouxera em sua mala, no guarda-roupa. Era estranho estar de volta depois de tanto tempo. Desde o dia em que se mudou para morar num apartamento com Ron, há quase seis anos, ela não voltara ali. Ela não sabia quanto tempo ficaria hospedada na casa dos pais e imaginou se estaria ali, quando os eles voltassem da viagem e qual seria a reação deles, ao vê-la. Estando ali ao não, quando os pais chegassem, decidiu não contar sobre a briga com Ron, e muito menos no assunto que ocasionou tudo.
Após arrumar as roupas, colocou a mala debaixo da cama.
Hermione se deitou sobre as cobertas da cama, sem nem ao menos tirar os sapatos. Ficou pensando em Ron e na briga que tiveram. A briga em si, não era novidade, eles brigavam por tudo, ou por nada. Mas o real motivo de sua tristeza não era a briga, mas o assunto dela. Seu marido deixou muito claro que não queria ter filhos e fez um estardalhaço por isso. Ela nem se deu ao trabalho de responder, logo se trancou no banheiro e chorou.
Relembrou com tristeza os últimos acontecimentos.
FLASHBACK
Na manhã seguinte, após a briga, ela tinha acordado mais cedo do que o habitual e tomou café rapidamente. Quando estava terminando de se arrumar para sair, Ron acordou. Ela nem se importou, tampouco ele. Saiu depressa, sem nem se despedir ou desejar um bom dia.
No trabalho, mal se concentrou, a briga deles ficou em seus pensamentos durante todo o dia.
Depois do serviço, saiu da sua sala e atravessou o átrio com pressa. Não queria encontrar com ele. Foi até sua casa, ou melhor, a casa deles. Ele ainda não estava lá. Subiu até o quarto, pegou uma mala e colocou algumas peças de roupa dentro. Resolveu ficar na casa dos pais por alguns dias. Ao descer, procurou por Bichento, mas o gato não estava em lugar algum. Ela se lembrou que o viu sair na noite anterior, depois da briga que teve com Ron.
Novamente Ron. Não havia nada que ela pensasse que ele não estivesse envolvido, nem mesmo o gato, que ele nem gostava muito.
Resolveu não procurar mais por Bichento, Ron poderia chegar a qualquer minuto, ele que aturasse o gato que tanto chegou a odiar, mas que ainda não havia se afeiçoado. Sentiu-se muito mal, em deixar o seu gato em casa, mas não tinha tempo. Entrou na lareira, com a mala na mão.
- Casa dos Potter! - Falou enquanto jogava o Pó de Flu.
Ficou conversando com Gina e logo Harry chegou. O amigo não se intrometeu na conversa delas e nem deu opinião sobre a briga. Na verdade, ela acreditava que Harry, assim como Gina, já havia mais do que se acostumado em ver ela e Ron brigando. Ele somente a abraçou em sinal de apoio e as deixou sozinhas conversando.
Ela resolveu não passar a noite ali, não queria incomodá-los, pois ainda tinham James para cuidar e a temida hora de dormir, do menino, estava próxima. Despediu-se deles e do bebê e foi para a casa dos pais.
FIM DO FLASHBACK
Pensou em Bichento. Teve que deixar o gato em casa, mas queria que ele estivesse ali, pra lhe fazer companhia, pois estava se sentindo só. Já estava acostumada com a vida de casada, em ter Ron ao seu lado e em casa. Mas ali, deitada em sua cama, a casa silenciosa, só a fez ficar ainda mais triste. Não queria incomodar Harry e Gina, então tinha que ficar sozinha ali.
Resolveu trocar de roupa e dormir, pois sozinha ou não, ela ainda tinha um emprego e compromissos para cumprir.
Ao acordar, pela manhã, percebeu que acordara quase uma hora depois do horário que geralmente acordava. O relógio não se enganara. Como dormira tanto? Levantou-se de um salto e foi para o banheiro, tomou banho em tempo recorde, escovou os dentes, se vestiu e calçou os sapatos, tudo em dez minutos. Não tinha tempo para comer, arranjaria algo lá no trabalho. Pegou sua bolsa, e saiu, depois de fechar a porta da casa. Colocou as chaves na bolsa e caminhou pela rua, tinha que arrumar um lugar para aparatar. Encontrou um rua deserta, poucos metros a frente. Alguns minutos depois, já aparecia na lareira do Ministério. Viu, com tristeza, Ron mais à frente, conversando com Harry. Mas ela não queria falar com ele, então se apressou e entrou em um dos elevadores.
Durante todo o dia pensou na briga que tivera com Ron. Ele reagira tão mal a ideia de terem um filho. Mas porque não queria afinal? Era mesmo medo de ser pai, como ela já estava imaginando? Ou ele não queria mesmo ter filhos com ela?
Ao sair da sua sala, após o trabalho, faz o caminho todo, até chegar aos elevadores, muito depressa. Ron poderia ir atrás dela. Ou não? Ele nem estaria ligando pro que aconteceu?
Quando chegou ao átrio, encontrou Gina.
- Oi Hermione! – Falou a cunhada, indo em direção a ela.
- Oi Gina. - Disse ela surpresa. - O que faz aqui?
- Vim esperar pelo Harry e te convidar pra ir lá em casa...
- Não, eu não posso , tenho coisas pra resolver - Mentiu Hermione. - Vou pra casa dos meus pais.
- Vamos! James está com saudade da madrinha... - Falou Gina tentando convencê-la. James era somente um bebê e mesmo assim, ela o vira no dia anterior, não tinha como ele estar com saudades. Havia algo estranho naquela história. Ela queria saber o que era então concordou.
Logo Harry apareceu e eles foram embora.
Assim que saíram do Ministério, Gina disse:
- Acho melhor irmos para a casa de seus pais Hermione... pra conversar mais a vontade, só nós duas. Depois podemos jantar lá em casa e ai você pode mimar o James um pouquinho.
- Tudo bem então... - Disse Hermione desconfiada. O que Gina estaria aprontando?
Despediram-se de Harry, que não parecia nem surpreso e nem desconfiado. Se havia algo... ele sabia?
Aparataram na mesma rua deserta que Hermione usou mais cedo, quando foi para o trabalho.
Quando ela colocou a chave na porta, percebeu que ela já estava aberta.
- Gina... o que...
- Vamos entrar primeiro. - Disse a cunhada e as duas entraram. Hermione mais do que desconfiada, já imaginava o que seria. E não foi uma surpresa tão grande assim ver Ron, de pé, na sala.
- Gina, o que vo...
- Hermione, me escute... - Ia dizendo Ron.
- Eu não quero falar com você! Saía! - Disse ela nervosa, interrompendo o que ele dizia.
- Hermione, por favor, ele só quer conversar. - Disse-lhe Gina.
- Mas eu não quero! - Falou ela encarando Ron. - Gina, vocês armaram isso juntos?
- Ele é seu marido... - Disse Gina, sem responder sua pergunta.
- Ele deveria ter lembrado disso antes de me dizer o que disse. - Falou Hermione rispidamente. - Harry sabe desse encontro forçado?
- Melhor em ir andando. - Disse Gina tentando fugir do assunto. - Vou fazer um feitiço pra você não assustar os trouxas com seus gritos...
Hermione queria uma resposta de Gina. Não queria falar com Ron nem ver a cara dele.
- Tchauzinho. - Disse Gina saindo. - Você vai me agradecer depois cunhada!
Ela saiu fechando a porta.
Hermione se manteve de pé onde estava. Ron estava mais a frente, no meio da sala. Ele usava uma calça social preta e uma camiseta de manga comprida, branca. Uma roupa trouxa demais, ela reparou, mas não parou pra pensar sobre aquilo. Os dois se fitavam, ela estava com raiva, nem sabia dizer como ele estava.
- Hermione, eu quero...
- Não quero ouvir.
- Me deixa falar! - Disse ele indo pra perto dela, enquanto ela dava alguns passos para o lado.
- Mas eu não quero te ouvir, te ver ou sequer estar no mesmo cômodo que você! - Ela disse sem olhar pra ele.
Ron segurou seu braço.
- Me solta! - Disse ela tentando se desvencilhar, o encarando.
- Não até você me ouvir. - Falou Ron. Ela parou de lutar contra o ruivo e começou a chorar, mas não era porque ele estava apertando seu braço, mas por tudo o que estava acontecendo naqueles dias.
- Estou te machucando? - Perguntou Ron preocupado, soltando o braço dela no mesmo momento. - Me desculpe...
Como ela queria abraçá-lo, seu ruivo... Mas ele havia a machucado muito, não iria perdoar fácil.
- Não, você não machucou meu braço... machucou meus sentimentos. - Disse ela olhando para os próprios pés. As lágrimas ainda corriam soltas.
- Hermione eu te peço, me perdoe! - Disse ele tentando pegar a mão dela, mas ela não deixou. - Eu falei sem pensar... eu nem sei porque disse aquelas coisas pra você...
- Nem eu sei por que você disse aquilo... - Ela disse e em seguida se sentou no sofá. Esta farta daquela história e cansada do trabalho. - Pensei que me amasse...
Ron se ajoelhou a sua frente, colocou as mãos sobre os joelhos dela. Ela só se limitou a olhar para o lado.
- Hermione, eu te amo mais do que a mim mesmo, nunca duvide do meu amor.
Ali, ela teve que se segurar para não abraçá-lo e perdoá-lo, sem que fosse necessário dizer mais nada. Mas metade dela queria perdoar, mas a outra, ferida e triste, não queria.
- Eu sei que sou um idiota, falei aquilo por impulso... na verdade... foi porque...porque... eu estava com... medo. - Disse ele corando.
Ela não acreditava no que ouvia.
- Medo de quê? - Arriscou ela a perguntar, olhando pra ele. Ron desviou o olhar e se levantou, ficando de costas para ela.
- Quando você disse que queria ter um filho, eu surtei... mas não é porque eu não quero ter um filho com você... - Disse ele virado para a televisão, ainda de costas para ela. Hermione ficou em silêncio, ainda incrédula. - Você é tão inteligente, se dá muito bem com crianças... mas eu... eu não sou nada... não sei cuidar direito nem de mim mesmo!
Hermione caiu em lágrimas. Não conseguia acreditar no que o marido estava falando, estava emocionada por vê-lo confiante em admitir aquilo para ela. Estava certa, Ron estava com medo de ser pai, não queria dizer, necessariamente, que ele não queria ter filhos.
- Me perdoa? Por Merlin, me perdoa! - Disse ele voltando a se ajoelhar na frente dela. - Diz que sim...
- Eu não... - Disse ela num soluço, o que espantou Ron. - Eu não saberia viver sem você.
Ron sorriu e eles se abraçaram e ficaram assim por algum tempo. Ela mais feliz do que nunca.
- Espera, tenho algo para você. - Disse ele ainda sorrindo. - Bichento!
Hermione olhou em volta, surpresa. Logo o gato laranja apareceu, vindo da cozinha. Estava com uma fita vermelha, amarrada em um laço, no pescoço. Junto ao laço, estava presa uma caixinha. A caixa não era grande e parecia não ser pesada, pois o gato a carregava com certa facilidade.
Bichento pulou no sofá, parando ao lado de Hermione.
- Bichento! Que saudade. - Disse ela acariciando o gato.
- Pegue a caixa. - Disse Ron. - É para você.
Hermione, mais do que curiosa, tirou a caixinha do laço de Bichento. Era leve, como ela imaginava.
Abriu a caixa e dentro havia uma corrente prateada com um pingente, uma letra "H", pendurada. Ela olhou para o marido.
- Queria te dar algo especial. - Ele tirou a jóia da caixa, afastou os cabelos dela, e colocou a corrente envolta do seu pescoço.
Ela levou a mão ao pingente e olhou para o marido. Antes que ela pudesse falar algo, ele se levantou, foi até a estante dos livros, de onde tirou uma outra caixinha, maior do que a primeira, só que esta estava embrulhada em papel de presente cor-de-rosa. Ele se sentou ao lado dela e lhe estendeu o novo presente.
Hermione pegou a caixa, tirou o papel rosa com cuidado e abriu a tampa devagar. Lágrimas caíram instantaneamente de seus olhos, emocionada, ao ver o conteúdo da caixa.
- Creio que será algo útil. - Disse Ron, olhando pra ela esperando alguma reação. Hermione tirou o par de sapatinhos de bebê da caixa. Eram brancos, com detalhes em amarelo. Os dois juntos cabiam na palma da sua mão. - Comprei numa loja trouxa... branco, pois serve para menino ou para menina.
Hermione abraçou Ron, ainda chorando.
- Se eu tiver filhos, com certeza, a mãe não poderia ser outra a não ser você Hermione. - Falou Ron, enquanto eles ainda estavam abraçados.
- Ron, eu nem... nem sei... - Gaguejou Hermione.
- Me perdoa?
- Quantas vezes forem necessárias para estar ao seu lado novamente. - Ela disse, e foi pega de surpresa pelo beijo de Ron.
Como ela estava com saudade. Se possível ficaria ali com Ron, para sempre.
Quando se olharam, Ron tinha os olhos vermelhos. Ele sentira falta dela. Hermione não pode deixar de se sentir segura ao lado de Ron e sortuda ao tê-lo por marido. Quando ele se levantou, pegando a mão dela, a conduziu para fora da sala.
Ron não disse nada, apenas caminhou.
- Aonde vamos? - Perguntou ela curiosa. Mas ao entrarem na sala de jantar, respostas não eram mais necessárias.
A mesa estava coberta por uma toalha vermelha. Reconheceu os pratos brancos do jogo de louça de seus pais. Havia duas velas, cada uma em um castiçal que parecia ser de vidro. Um buquê de flores vermelhas, ao meio da mesa. Uma garrafa de vinho. Talheres de prata, que eram dos pais dela também. O jantar, Hermione logo reconheceu, era tradicionalmente trouxa... bom, tudo ali era trouxa.
- Eu não acredito que você fez tudo isso. - Falou Hermione surpresa, olhando para Ron.
- A Gina me ajudou, eu praticamente só dei a ideia e comprei algumas coisas. - Falou ele, que parecia envergonhado.
Ele a guiou até uma das cadeiras e ele sentou do lado oposto, bem em frente a ela.
- Está tudo lindo! A comida parece saborosa! - Disse ela sorrindo. Ron, a cada dia a surpreendendo. Não importava se ele havia tido ajuda ou não, mas ele pensara nela quando teve a ideia, isso já bastava.
- Queria que nosso jantar fosse à moda trouxa, numa casa trouxa, ou melhor, na sua casa trouxa. - Disse Ron segurando uma das mãos dela. - Sei que você, mesmo sendo bruxa, não consegue se desligar completamente do mundo trouxa... por isso... eu quero...
Ron engoliu seco, parecia nervoso.
- Quer o quê? - Perguntou ela curiosa. Haveria mais surpresas?
- Que nossos filhos tenham criação trouxa também... sabe, que eles conheçam as coisas dos trouxas. - Disse ele vermelho, mas parecia seguro do que falava. - Quero que você conte pra eles, aquelas histórias infantis trouxas.
- Ron, eu nem sei o que dizer! - Disse ela mais do que feliz. Tudo aquilo parecia um sonho. Um lindo e maravilhoso sonho.
- Só diga que me ama... será o suficiente.
******
(N/A): Mais um capítulo postado! Eu já disse como eu amo esse casal? Eles são perfeitos!
Comentem!
Comentários (1)
Muito bom!!!Parabéns
2011-03-24