Insegurança



 Insegurança


 


 



O expediente já havia acabado e quase todos os outros funcionários já deveriam ter ido embora para suas casas. Mas mesmo assim ele ainda estava ali no Ministério. Nunca antes, ele pensara realmente que chegaria a ter um bom cargo ali, ainda mais chegar a se tornar Auror. É claro, que depois da guerra, as coisas se acalmaram, pois não havia tanto no que se preocupar como antes. Mas, bem que, o que fizeram pelo mundo bruxo, muitos Aurores sequer podiam imaginar. Era quase impossível não imaginar que eles não receberiam propostas para adentrarem na carreira de Aurores, no ministério, depois que Voldemort morreu.


 


Estar ali, naquele lugar, trabalhando, era estranho. Ele se lembrava bem, do dia em que entraram no Ministério, sob o efeito de Poção Polissuco, disfarçados de funcionários, em busca da Horcrux que estava com Umbridge.


 


Olhou para o relógio, a reunião havia começado a mais de uma hora, mas ele não prestara atenção em quase nada. Ainda bem que nenhuma vez, pediram para que ele falasse algo. Ele só olhava para quem estivesse falando e balançava a cabeça, uma vez ou outra, pra mostrar entendimento.


 


Não via motivos para essa reunião, afinal, eles haviam falado dos mesmos assuntos na reunião do dia anterior. Ainda mais porque não tinham resolvido nada, que já não tivessem feito ontem.


 


Harry, como chefe, guiava a reunião, ficando de pé quando falava. Mas ele só queria que a reunião acabasse logo, mas não queria ir para casa.


 


Ele e Hermione brigaram, logo após ele chegar em casa, na noite anterior. O assunto não podia ser outro: Terem um filho. Hermione queria ser mãe, ele já desconfiava, mas ele não estava certo sobre isso. Ele não sabia bem o motivo, mas não se achava capaz de ter um filho. Não que ele não quisesse, não era isso, pelo contrário. Mas a ideia não soou tão bem quanto poderia.


 


Levou ainda mais meia hora para que a, tediosa, reunião acabasse e os aurores fossem dispensados. Mas aquele assunto não o deixava em paz.


 


Ele se levantou devagar, demorando propositadamente, e recolheu alguns materiais de trabalho que estavam sobre a mesa. Harry, ao seu lado, fazia o mesmo. Agora que ele se livrara da reunião, desejou que ela não tivesse acabado, pois assim teria que ir para casa e provavelmente encarar a esposa. Ele não estava se sentindo bem com os últimos acontecimentos e não queria brigar com Hermione novamente, sobre aquele assunto.


 


Ela falara em terem um filho. Mas ele não queria ter que falar outra vez sobre aquilo, não agora, pelo menos.


 


Ele também queria ter um filho ou uma filha, sonhava com isso. Mas agora que a hora pareceu finalmente chegar, sentia-se assustado. Ele seria bom pai? Ele teria jeito com crianças, como a esposa tinha?


 


Não, ele não teria. Hermione sim, ela fazia tudo muito bem. Mesmo que ela tivesse cinco filhos e dois empregos, ela daria conta e ainda tiraria de letra. Como sempre fora organizada, nunca se esqueceria de algo que precisasse comprar, de alimentar as crianças, de continuar com o mesmo desempenho do trabalho. Mas ele, Ron Weasley, se veria num caos com uma criança. Ela até podia ver a cena de Hermione chegando em casa e encontrando uma verdadeira bagunça, a criança chorando de fome, os armários vazios porque ele esquecera de comprar comida.


 


Lembrou-se da noite após o aniversário de Vick, dois dias atrás. Hermione estava com a pequena Molly nos braços e a menina dormia tranquilamente no colo da tia. Já ele, não se demonstrava muito habilidoso, quando o assunto era cuidar de criança. No primeiro dia em que James ficara na casa deles, Hermione demonstrou muito agilidade em cuidar do menino, parecia já ter até filhos, com tamanha facilidade que mostrou naquelas poucas horas com o bebê em casa. Ele ao contrário, mal conseguiu segurar o sobrinho, que era bem pequeno e parecia escorregar pelos seus braços, muito maiores que o bebê. E se tivesse deixado James cair?


 


Talvez ele não estivesse preparado para ser pai, nem naquela hora e nem mais tarde. E deixou isso claro na briga com a mulher, na noite anterior.


 


Eles nem se olharam depois disso. Quando ele acordou a mulher já havia até tomado o café e se arrumava para sair. Não falaram durante aqueles poucos minutos em que ela terminava de se aprontar e tampouco se despediram, quando ela saiu, pelo menos uma hora antes do horário de costume.


 


- Ron, você está bem cara? - Falou Harry tirando-o de seus pensamentos, assim que os últimos colegas saíram.


 


- Estou sim, só estava pensando nas pautas da reunião...


 


- Sei...


 


- A reunião foi bem... interessante né? - Falou ele tentando disfarçar.


 


- Ron, você nem prestou atenção na reunião de hoje. - Falou-lhe Harry. - Se eu perguntar do que falamos, você não vai saber responder... então fala o que está te perturbando.


 


- Não é nada.


 


Eles ficaram em silêncio por alguns instantes. Ele tinha que falar com alguém. Harry era pai, seu melhor amigo, cunhado, quase irmão. Não deveria ter problema falar sobre aquele assunto com ele...


 


- A Hermione quer ter um filho... - Falou ele olhando para os próprios pés, já não bastava falar dessas coisas com o amigo? Não precisava ficar olhando pra ele...


 


- E isso não é fantástico? - Indagou Harry.


 


- Pra ela sim... ela é magnífica em tudo o que faz! - Falou ele nervoso.


 


- Isso eu sei! Só não entendi o que você quer dizer com isso.


 


- Mas... eu... eu não... - Gaguejou ele.


 


- Mas você, não o quê?


 


- Eu não vou saber lidar com uma criança! - Disse ele mais alto do que realmente era necessário. Harry o olhou com uma expressão engraçada. Ele desviou o olhar do amigo.


 


- Você está com medo... de ser pai? - Perguntou Harry.


 


Ele não respondeu. Não havia necessidade de dizer aquilo, estava na cara. Bom, pelo menos pra ele.


 


Eles ficaram em silêncio por alguns instantes.


 


- Mas o que aconteceu então? – Perguntou Harry retomando o assunto.


 


- Nós brigamos.


 


- Isso tá na cara, eu quero saber o que você di...


 


- Eu disse pra ela que não queria ter filhos! – Falou ele, nervoso.


 


Harry não respondeu, mas pareceu chocado.


 


- Eu nem sei cuidar direito do James, isso porque ele é meu sobrinho e afilhado... portando eu deveria ser responsável e capaz de cuidar dele. - Falou ele encarando o chão. - Agora imagina com meu próprio filho...


 


- Com seu filho vai ser diferente...


 


- Porque seria diferente? - Perguntou ele desviando o olhar do chão e olhando para Harry.


 


- Por ser seu filho, já é diferente. - Respondeu Harry. - Quando eu ficava cuidando do Teddy, quando mais novo, também não tinha muito jeito, você lembra. Era só eu o pegar no colo, que ele chorava. Eu não sabia o que fazer, mas alguém sempre me ajuda, ainda bem.


 


Harry vez uma breve pausa e depois continuou:


 


- Eu imaginava que quando eu tivesse filhos, seria daquele jeito, ou até pior. Me apavorei no dia em que Gina me disse que estava grávida.


 


- Cara, você quase desmaiou. - Falou Ron com um sorrisinho.


 


- Nem me lembre! - Falou Harry, também rindo.


 


Ron se lembrava bem daquele dia. Foi num domingo, em que toda a família almoçava na Toca. Quando Gina deu a notícia, Harry, que estava sentado, pareceu não ter ouvido direito, ficou olhando para o nada, com cara de bobo. Depois ficou mal e todos pensaram que ele iria desmaiar. Ele próprio, mesmo surpreso com a notícia que a irmã dera, sorria e dava tapinhas no ombro de Harry, enquanto a família abraçava Gina, desejando felicitações.


 


- Mas a cada mês, conforme a barriga de Gina crescia e a chegada do bebê se tornava mais real, eu fui me adaptando e no fim, já não aguentava mais esperar e queria que ele nascesse logo. - Disse Harry. - Quando James chegou, eu não sei explicar bem como, mas eu sabia o que fazer...


 


- E se eu não souber o que fazer? Mesmo depois de o bebê nascer? - Perguntou Ron nervoso.


 


- Isso não vai acontecer...


 


- Com a Hermione não, mas comigo é bem provável que isso aconteça, sejamos francos...


 


- Ron, deixa de besteira. - Disse-lhe Harry. - Quando a criança nascer você vai saber... é algo natural.


 


Ron só confirmou com a cabeça. Despediu-se de Harry e disse que ia pra casa. Ao sair do Ministério e aparatar na rua, perto de casa, as palavras do amigo ainda rondavam em sua cabeça.


 


Seria mesmo natural? Ele saberia cuidar de uma criança assim que a visse?


 


Ao entrar em casa, percebeu que estava sozinho... Hermione não voltara. Ela deveria estar com Gina ou na casa dos pais dela. Aparentemente, Bichento também não estava por ali. O gato, geralmente passava mais tempo fora de casa e hoje não era exceção. Mesmo depois de tanto tempo, ele e Bichento não se davam as mil maravilhas, como gato e dono normais.


 


Foi direto tomar banho. Precisava pensar em tudo aquilo que estava acontecendo. No quarto, percebeu que Hermione levara uma mala, com algumas roupas. Ele olhou triste, para algumas gavetas vazias do guarda-roupa, onde antes eram ocupadas pelas roupas da esposa.


 


Enquanto tomava banho, ele ficou pensando. Sempre imaginou que quando o assunto era ter um bebê, natural só era para as mulheres. Lembrou-se de sua mãe que tivera sete filhos, provavelmente ela reagira com muita sensatez. Já seu pai, sempre fora mais liberal e inconsequente do que a mãe. Mesmo assim, ele agira com tranquilidade na criação dele e dos irmãos. Ele seria parecido com seu pai?


 


Apesar de tudo, seu pai fora alguém presente e participativo na vida deles e ele não se imaginava com um pai diferente.


 


Harry crescera sem pai, e ao contrário dele, não teve nenhuma referência paterna. Sirius, talvez, foi o que mais se aproximou disso, mas morreu apenas dois anos depois que o amigo descobriu que tinha um padrinho. Além do mais, Sirius era meio irresponsável e nem tivera filhos. Então de onde Harry "aprendeu" como ser pai? Era algo natural como o amigo disse?


 


Depois do jantar, ou do que pareceu ser um, ficou na sala. Mesmo sabendo que Hermione, pelo menos naquela noite, não voltaria pra casa, ele ficou esperando por ela. Ele precisava dela. Pensou em ir procurá-la, mas mesmo que a encontrasse, ela não falaria com ele e nem iria voltar pra casa se ele pedisse.


 


As horas foram se passando. Nenhum barulho era ouvido. E nem o gato, Bichento, apareceu.


 


Ele sentiu-se só. Quanto tempo demoraria até que Hermione voltasse?


 


Começou a ficar tarde e resolveu ir logo dormir. Não tinha motivo para ficar esperando, ela não apareceria.


 


Deitou-se e ficou pensando, pois o sono não veio tão facilmente quanto ele imaginava. A conversa que tivera com Harry ia e voltava a sua mente.


 


"Quando a criança nascer você vai saber... é algo natural"


 


Virou-se e revirou-se na cama por vários minutos, mesmo cansado, não conseguia dormir. Ficou olhando para o lado direito da cama, que era onde Hermione dormia. Colocou a cabeça sobre o travesseiro dela. O perfume dos cabelos da sua mulher no travesseiro, era maravilhoso, ele adorava aquele cheiro.


 


- Hermione... - Sussurrou ele para o travesseiro.


 


Onde ela estaria? Como estaria?


 


Como uma enorme dor no peito, ele sentiu falta dela. Começou a sentir mal pela briga da noite anterior. Ela ficara visivelmente muito triste e chorou no banheiro depois disso.


 


Ela estaria chorando agora?


 


Automaticamente, olhou para a aliança dourada em seu dedo. Gravada no metal, estava escrito: "R & H", que foi feito em uma loja trouxa, a pedido da esposa, mas ele adorou a ideia. Sentiu-se um idiota e o remorso bateu, instantaneamente. Como pode fazer aquilo com ela? Dizer o que disse à Hermione?


 


- Você é um idiota! – Falou para si mesmo, irritado.


 


Uma vontade súbita de sair e ir atrás dela tomou conta dele. Queria pedir perdão.


 


Mas pra isso, ele precisava descobrir onde ela estava e se aproximar dela. Seria difícil, mas faria qualquer coisa para trazê-la de volta.


 


Passou muito tempo em Hogwarts, até perceber e admitir para si mesmo, que gostava de Hermione. Sentiu-se, por diversas vezes, covarde, por ter a feito esperar anos por ele e perdido a chance de viver muitos momentos ao lado dela. Agora, sozinho, todos aqueles sentimentos voltaram. Não conseguia mais viver sem Hermione ao seu lado. Precisava dela, ali, com ele. A esposa sempre esteve ao lado dele, mesmo durante a época da escola, na guerra e depois, quando a dor da perda de Fred, afetou a todos, inclusive, ela mesma.


 


Ela o apoiou em muitas decisões e problemas. Quando George o convidou a ajudá-lo com a loja, ela foi a pessoa que mais o apoiou.


 


Ele ainda não conseguia acreditar como conseguira conquistar Hermione. Na verdade, foi ela que o conquistou. Pouco a pouco, ano após ano, ela conseguiu fazer, ele, Ronald Weasley, perceber o quão maravilhosa ela era, e de como valia a pena estar a seu lado.


 


 Aquela menina, que por vezes ele não gostou e até chegou a zombar quando se conheceram, se tornou a mulher que subiu ao altar com ele.


 


Lembrou-se da vez que viu o reflexo do seu maior desejo, no espelho de Ojesed. Ambições do sexto filho, não era o melhor jogador de quadribol, ou mais inteligente, corajoso, divertido ou sequer bonito dos irmãos. Viveu e cresceu à sombra dos mais velhos, tanto quando criança e até na escola. Durante a guerra, quando abandonou Harry e Hermione, se arrependeu e seu maior desejo foi voltar. Agora, todos aqueles antigos sonhos e até, temores, ficaram para trás, nada daquilo tinha mais importância. Tornou-se monitor, jogou pelo time da Grifinória, ajudou na guerra e destruiu uma Horcrux.


 


Imaginou o que veria se ficasse diante do espelho, naquele momento.


 


 O desejo de seu coração tinha um nome: Hermione.


 


Adormeceu ainda pensando em sua morena.



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Eu quero agradecer aos comentários!!! Vocês fazem essa autora muito feliz! :)  E com mais vontade de postar os capítulos para vocês! Esperem que gostem desse também.

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Comentários (1)

  • Gabriele Lima

    aai lindo demais! parabens! pena q acabam rapido os caps hehehe posta logo o proximoo!

    2011-03-17
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