eleven
Semanas se passaram daquele jeito. Marlene conseguia esquecer cada vez mais freqüentemente que seu cachorro não era exatamente um cachorro, e a convivência entre os três se tornava cada vez mais pacífica. Ele agora até buscava o jornal para ela.
Só à noite, quando o fechava com Fifi no quartinho e deitava em sua cama, é que lembrava-se e deixava algumas lágrimas correrem e molharem seu travesseiro. Mas logo adormecia e começava tudo de novo.
Estava tudo perfeito.
Então por que não se sentia assim?
-Senhorita Marlene, telefone para a senhorita – Albert bateu na porta do quarto, abrindo-a quando ela instruiu-o a isso. – Um tal de James Potter.
Marlene reconheceu o nome do amigo de Sirius e pegou o telefone, saudando-o.
-O Sirius está aí com você? – Ele perguntou e ela corou.
-Sim, está. Mas...
-Como cão, imaginei. Tudo bem, ponha o telefone na orelha dele, preciso falar com ele – Marlene saiu da cama e abriu a porta do quartinho, encontrando o cão acordado. Ajoelhou-se no chão e colocou o telefone na orelha dele, como o rapaz pedira.
-E aí, cara, tudo dando certo? – James perguntou ao amigo, rindo quando ele ganiu em resposta. – Certo, certo. Estou orgulhoso de você, pelo menos está tentando ficar com a garota – Sirius latiu e James riu. – Estou te ligando pra te convidar pra ser padrinho do meu casamento com a Lily, cara. Você topa? – O cachorro hesitou e James engoliu em seco. Sirius por fim latiu alto e James entendeu aquilo como um sim.
-Okay cara, depois a gente se encontra pr’a gente conversar sobre isso, ok? Agora passa pra tua dona – Sirius rosnou e James riu.
Sirius empurrou o telefone na direção de Marlene com o focinho. Ela hesitou.
-Pra mim? – Ele assentiu com a cabeça e ela colocou o telefone na orelha. – Olá – Disse, sem saber o que dizer.
-Eu e Lily queremos te convidar também para o nosso casamento.Estamos planejando tudo agora e ela gostaria muito de ter a sua ajuda nos preparativos. – Marlene hesitou. Ajudar a noiva do amigo de seu cão a preparar o casamento? Aquilo era muito estranho.
-T-tudo bem, e-eu vou sim. E ajudo também. Obrigada pelo convite – Marlene respondeu e se despediu, desligando o telefone.
Fitou Sirius e passou a mão pela cabeça peluda, suspirando.
-Vá para o banheiro e se vista – Disse ao cachorro que a seguiu até o seu quarto, jogando a calça preta dele para dentro do banheiro. – Nós temos que conversar sobre isso.
O cão entrou no banheiro e fechou a porta com o focinho, voltando humano e fechando o botão da calça.
-Eu usei uma escova de dente nova no seu banheiro – Avisou-a sem jeito – Já a joguei no lixo. Não poderia falar com você daquele jeito. – Sorriu amarelo - Mas enfim, o que foi? – Ele perguntou fitando-a. Ela nunca ia deixar de achar aquilo estranho. Tinha um carinho tão grande pelo cão, carinho que não conseguia associar à pessoa a sua frente.
Situação bizarra.
-Se você vai ao casamento do seu amigo...
-Sou o padrinho – Sirius disse e ela estancou.
-Certo, se você é o padrinho do casamento do seu amigo, vai ter muito que fazer. Não pode mais ficar aqui – Marlene declarou sentada na cama. Ele a olhou tristemente.
-Mas eu gosto de estar aqui. Com você – Sirius disse se ajoelhando na frente dela, sentando-se sobre as pernas.
-Sim, eu sei, mas isso está... esquisito demais.E você vai ter muito o que fazer, tem os preparativos, acalmar o noivo, comprar um terno... enfim, coisas que não pode fazer como um cão. E se não for pra ser como cão, eu não te quero aqui. – Marlene declarou, dura, e ele fitou os pés dela.
-Nunca mais? – Perguntou a ela, que evitou olhá-lo, forçando sua expressão mais fria.
-Nunca mais. – Respondeu doída.
Sirius fitou o chão e passou a mão pelos cabelos, suspirando.
-Então me conceda... me conceda um último desejo. Eu tenho sido um bom garoto – Ele pediu e ela ficou ali, quieta, esperando-o falar.
Mas ele não falou. Não, ele mostrou a ela o que queria, levantando-se, segurando seu rosto e a beijando.
Marlene não tentou resistir quando ele a deitou na cama, segurando seus braços sobre sua cabeça. E nem tentou impedi-lo quando sua camisola foi erguida e retirada.
Horas depois, Fifi acordou e saiu do quartinho, indo pular na cama de sua dona. E, pela primeira vez, deitou-se ali e ficou quietinha, apoiando-a, enquanto Marlene abraçava um travesseiro e chorava.
Sem saber o porquê.
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