Olhos de sangue
Era noite, estava na janela olhando o casal de namorados sentados abaixo da árvore.
- Draco! Vamos. – meu pai me chamava.
- Lucio, não leve o meu filho, por favor! – Minha mãe implorava.
- Lord Voldemort tem planos para ele, é melhor que ele vá se acostumando. – Disse rispidamente e se soltando das mãos de minha mãe que o agarravam.
- Por favor! – Ela implorava.
- Me solte. – Disse ele levantando a mão.
- Pai, pare! – Gritei. – Mãe eu quero ir! – Disse levantando a minha mãe que chorava encolhida no chão.
- Draco...
-Está tudo bem mãe. – Dei um beijo em sua testa e sai atrás de meu pai.
Estava tudo muito silencioso, as ruas desertas a não ser por nós e mais quatro comensais que andavam um pouco afastados, mas sem nos deixar perceber sua presença. Haveria um ataque esta noite, apenas para matar mais trouxas. O que Sally pensaria se visse isso? Fiquei me perguntando todo o caminho.
- Draco ponha isso. Não quero que te reconheçam. – Disse ele me entregando uma capa negra e uma mascara que cobria boa parte do meu rosto deixando apenas a boca e os olhos à mostra.
- Ola Lucio, vejo que trouxe meu querido sobrinho! – Era voz de Bellatrix. – Ola Draco.
- Tia – acenei com a cabeça cumprimentando.
- Pronto para nossa brincadeirinha!? – Disse ela com um sorriso maldoso na face.
- Vamos logo Bellatrix e não enrole.
Fomos andando até uma pequena vila perto de casa, pude ver umas crianças brincando perto de uma fonte, elas riam e jogavam bola sem se preocupar com o que se aproximava.
Vi então um jato de luz verde vindo da nossa direção, uma das crianças caídas no chão e a risada de Bellatrix ao longe. No mesmo instante não se conseguia ver mais nada, as pessoas começavam a gritar e feixes de luzes iam para todos os lados. Vi, provavelmente, a mãe daquela criança, agachando em cima do corpo frio e sem vida e chorando, implorando para que tivessem levado a sua própria alma ao invés da de seu filho.
Foi quando dois jovens, tentando fugir, bateram em mim!
-Por favor, deixe nos ir! – implorava o rapaz. A garota me olhava assustada de mais para dizer alguma coisa.
- Porque faria isso? Seu Trouxa inútil! – Disse empurrando o rapaz para o chão.
- Não! – a garota chorava, chorava e chorava!
- Sally, vamos para lá. – Disse o rapaz tentando fugir. Ele a chamara de Sally?? Não devo ter ouvido coisa errado.
- Luci, vamos para lá! – O rapaz dissera novamente.
Apontei a varinha para eles.
- Por favor, deixe ela viver, se quiser me mate, mas deixe ela viver. – Implorava o rapaz pela vida de sua amada.
- AVADA KEDAVRA! – Ouvi meu pai gritar ao longe, e os dois caíram ali na minha frente. – Muito bem filho, não deixou esses idiotas fugirem. Como se tivessem chance! – ele riu gostosamente e foi para o outro lado.
Meu coração apertou, ao morrer não era a garota ali, tive a impressão de ser Sally.
Olhei para o céu, estava com a imensa marca negra no céu, era a única coisa que se dava para ver no meio daquela escuridão e de tanta fumaça. Senti falta das estrelas, e de Sally.
***
“Onde ela está?” me perguntei olhando pela janela. Depois da briga com meu pai, Sally disse que ia ver Lord Voldemort, mas ela não aparecia há dois dias.
Estava no meu quarto, olhando pela janela, a noite estava limpa e não haveria mais nenhum casal.
- Malfoy... – Sally acabara de aparatar no meio do meu quarto. Ela estava com a roupa cheia de pequenos cortes, que perfuravam também toda a sua pele, esta cheia de sangue.
- Sally, Meu Deus o que aconteceu? – Fui até ela, a segurando antes que caísse.
- Não ponha essas mãos em mim. – Disse ela se esquivando de mim e caindo sentada.
- Mas o que...?
- Como pode?! Eles pediram misericórdia, pediram para deixá-los viver.
- Mas como...? – Como ela sabia? Lembrei do casal de namorados pedindo para deixá-los viver, mas eu os impedi, jogando-os para os comensais como se joga alimento para os leões.
- Não, nunca imaginei você fazendo isso.
- Mas como você sabe?! – Perguntei ainda incrédulo.
- Não interessa como sei, apenas não ouse... – Vi lagrimas saindo dos seus olhos – Apenas me esquece, Malfoy.
Aquelas palavras doeram mais do que tudo. Ela então saiu do quarto.
Olhei novamente para a janela, desde aquela noite nenhuma estrela voltara a brilhar naquele céu.
Na manhã seguinte acordei ainda naquela janela, fiquei me perguntando se tudo havia sido um sonho ou não.
Me troquei e fui para sala para ver se ela estava ali. Não havia nada o sofá estava como ontem e anteontem, vazio.
- Ahhh! – Ouvi um grito na sala de jantar.
- Que está acontecendo aqui? – Entrei correndo, e para a minha surpresa ela estava lá, mas com um micro short de malha, um pequeno top preto e com o cabelo todo ensaboado. Não consegui dizer mais nada depois daquela cena.
- Ela?! O que você está fazendo aqui assim?! – Minha mãe percebendo o estado que eu estava me mandou para fora. “Qual é? Eu também sou homem” - Draco saia daqui agora!
- Mãe... – tentei me recompor
- Agora!
Sai da sala, mas me apoiei na porta para ouvir o que estava acontecendo.
- O que você esta fazendo aqui? – Perguntou minha mãe. – Você não devia estar no treinamento?
- Sim. Eu estava. – Sally, dizia com uma voz cansada. – Mas estava muito suja e tinha ido lavar o cabelo, não sei como...
- Draco, o que está fazendo aqui! – meu pai apareceu me assustando.
- Sally, está lá. – Disse apontando para a sala.
- Ah, ótimo, ela já chegou! – Disse abrindo a porta. – Srta. Sally, você... – Ele parou no instante em que viu o estado em que ela se encontrava. – Pelo jeito ninguém lhe avisou que a Srta. Viria direto para cá depois do treino. – Ele disse com um sorriso sarcástico.
- Ah! O Sr. está por trás de isso não?! – Disse ela, quando voltei para a sala vi o quanto Sally estava machucada, não havia mais sangue, porém dava para ver o quão mal aquele treinamento estava fazendo a ela. – Eu já devia esperar. Já teve a sua vingançinha Sr. Malfoy? É melhor eu trocar de roupa. – Disse ela levantando a alça do top. “Por Merlin, ela quer me deixar Louco” imaginei.
Meu pai riu e saiu da frente para que ela pudesse passar.
- Malfoy, posso usar o seu banheiro novamente? – Ela perguntara para mim rispidamente, é a noite passada não havia sido um sonho ruim.
Depois de uns dez minutos tive que ir chamá-la.
- Sally?! Está tudo bem? – perguntei batendo na porta. Mas ninguém respondeu. – Sally! – bati de novo. – Sally! – Ouvi então um barulho de algo se quebrando.
Percebi que a porta estava destrancada. Entrei de mansinho, ela estava sentada ao lado da banheira. Tinha um aparelho no ouvido e chorava como se alguém houvesse arrancado seu peito. Vi então o que tinha sido quebrado, e para minha surpresa era uma foto da família Potter. Acredito que um pouco antes da morte deles porque o Potter era um bebê.
- Sally você está bem? – Perguntei colocando uma de minhas mãos em seus braços.
- Saia daqui Malfoy – Ela falou num sussurro.
- O que?
- Eu disse pra sair daqui Malfoy – Ela me olhou com os olhos cheios de lagrimas.
- Mas Sal...
- SAIA DAQUI! AGORA!!! – Ela me empurrou, fechando a porta na minha cara.
- Sally, estamos indo para o Beco Diagonal, comprar os materias. Você não quer ir?
- Não Malfoy. Eu já tenho tudo. – Ela disse entre as lagrimas.
- Você está bem?
- Draco, por favor, eu estou bem só preciso ficar sozinha. – Ao ouvir meu nome, senti uma tristeza imensa vinda de sua voz. Sai cabisbaixo deixando ela lá.
***
Voltamos logo, Sally já estava na sala com aquele negócio no ouvido novamente. Sentei ao seu lado e perguntei o que era aquilo.
- É um aparelho trouxa, chamam de Ipod, nele podemos ouvir musicas. Quer ver? – ela disse me oferecendo um dos negócios de por do ouvido.
Então comecei a ouvir uma musica, mais ou menos assim:
Let’s go all the way tonight, no regrets, Just Love.
(Vamos por todos os caminhos hoje à noite, sem lamentar, apenas amor)
We can dance until we die, you and I will be young forever
( nós podemos dançar até morrer, você e eu seremos jovens para sempre)
You make me feel like I’m live a teenage Dream
(Você me faz sentir como se estivesse vivendo um Sonho adolescente)
The way you turn me on, I can't sleep
(Você me deixa tão ligada que eu não consigo dormir)
Let’s run away and don’t ever look back
(Vamos correr por ai e nunca olhe para trás)
Don’t ever look back.
(nunca olhe para trás)
My heart stops when you look at me
(Meu coração para quando você me olha)
Just one touch now baby I believe this is real
(Apenas um toque, agora querido, eu acredito, isso é real)
So take a chance and don’t ever look back
(Então dê uma chance e nunca olhe pra trás )
don’t ever look back.
(nunca olhe para trás)
O mais interessante não era o fato de uma musica sair de um aparelhinho como aquele mais como ela ficava ao ouvir uma musica, seus olhos estavam fechados e ela cantava movimentando apenas a boca, sem som.
- Malfoy! – ela se pronunciou – Nós não podemos ser amigos.
- Sally, o que eu fiz? Para você me tratar dessa maneira. – Ela riu como se as respostas estivessem na minha cara e eu não conseguisse vê-las.
- Não foi exatamente o que você fez! Mas é que cada vez que me envolvo com alguém acabo falando demais e alguém na minha posição não pode falar demais.
- Como assim?
- Ah muita coisa além das estrelas Draco, elas só são uma fachada para o que há de mais obscuro no universo. Me desculpe, mas não posso! - Minha mãe gritara nos chamando para o jantar, então ela se levantou e saiu para a sala de jantar. O que será que ela queria dizer com “o que há de mais obscuro”?
Não agüentava a curiosidade de saber o que ela queria dizer com aquela frase. Era a ultima noite que passaríamos em casa. Fui até a sala onde ela dormia, para conversar, quando estava próximo a porta ouvi vozes.
-Meu Mestre... – era Sally
- Olá minha Dama! – quem era? Não conhecia aquela voz. Imaginei ser Lord Voldemort, mas não tinha certeza. – Há quanto tempo, estava com saudade.
- Também meu senhor, com toda essa gente aqui e com o treinamento com o Voldemort nem tive tempo para o Senhor. – Sally dissera “ Epa, se não era Lord Voldemort, quem era?”
- E como está a nossa menina? – a voz dissera
- Esta mais difícil controlá-la. – Sally dissera – A cada sentimento bom que ela sente minhas forças vão enfraquecendo.
Entrei na sala lentamente para ela não me ver, percebi que a voz vinha da lareira.
- Pelo jeito temos companhia, minha querida.
Sally virou-se para mim, seus olhos estavam, totalmente, numa cor vermelho sangue, ao me ver ela colocara a mão na cabeça e gritara, desmaiando logo em seguida.
- Sally! – corri até ela, olhei na lareira, e só restavam cinzas das madeiras queimadas. – Sally.
- Draco... Ai minha cabeça! – disse ela sentando-se devagar. – O que aconteceu?
- Você desmaiou. - Vi então em seu pescoço um cordão que eu nunca tinha visto, era o símbolo de Salazar Slytherin, uma serpente com um rubi no lugar dos olhos, por um instante parecia que a serpente chorava, mas eram lagrimas de sangue.
- Eu... eu não me lembro. Minha cabeça está doendo muito.
- Vem, deite-se aqui – a coloquei no sofá. – Você estava falando com alguém e quando me viu desmaiou.
- Com alguém? Quem?
- Não sei, você não se lembra mesmo?
- Não! Eu estou com medo! – Disse ela me abraçando da maneira que podia, pois estávamos os dois, tortos.
- Tudo bem, eu to aqui agora.
- Draco?! Fica aqui comigo esta noite? – ela perguntou fechando os olhos.
- Ah... Claro – disse surpreso com o pedido.
- Mas Draco, isso não muda nada! – o pequeno sorriso que se formara em meus lábios desaparecera no mesmo instante. Mas ainda assim permaneci ali.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!