Stranger feelings
Draco acordou lentamente, tentando não se lembrar dos acontecimentos recentes. Mas era impossível. Tudo que ele e seus pais haviam passado nos últimos dias circulavam sua mente constantemente. Não sabia como seus pais não foram presos. Talvez por não terem se rebelado quando os aurores chegaram para prender os Comensais, depois que Voldemort morreu. Sua mãe havia lhe contado que sabia que Harry estava vivo, mas precisava de uma maneira de chegar ao castelo para encontrá-lo. Draco de certa forma agradeceu internamente à mãe, e a Harry. Mesmo que não desse o braço a torcer, ele tinha medo de Voldemort. Achava que ele não precisava fazer tudo que fez no mundo mágico e não-mágico, como matar milhares de inocentes. Era só ignorá-los. A porta de seu quarto se abriu.
- O café está pronto, filho – informou Narcisa. Ele resmungou que já desceria e se levantou. Foi até o guarda-roupa e pegou uma roupa qualquer, se vestiu e desceu.
O café foi como eram os outros, antes do retorno de Voldemort. Lúcio Malfoy se sentava na ponta da mesa absurdamente grande, lugar que outrora fora ocupado por Voldemort. Ele sentava-se ao lado esquerdo do pai e a mãe logo a sua frente. Os elfos domésticos serviam a mesa, o pai lia O Profeta Diário sem ao menos olhar para o filho ou a esposa. Narcisa comia silenciosamente. Ninguém conversava. O silêncio era absoluto. Todos os dias. Draco já estava cansado disso. Começou a comer, relembrando das situações dos últimos meses. Ele tinha alguém para conversar. Sentia falta dela.
*Flashback*
Voltava de Hogwarts para férias de Natal. Voldemort estava diariamente por perto, agora que se hospedava na mansão dos Malfoy. Havia alguns prisioneiros no sótão da casa. Agora mesmo os comensais chegavam com Di-Lua Lovegood. Não entendia que importância ela tinha, mas achava melhor não perguntar nada.
Dias depois o mandaram levar o almoço para os prisioneiros. Achavam melhor não confiar esse tipo de tarefa aos elfos. Ele não queria fazer isso. Há muito já não gostava de servir o Lord das Trevas. Porém era obrigado ou seria castigado. Pegou a bandeja com quatro tigelas de uma água meio amarelada, que ele percebeu ser uma sopa muito rala. Desceu a escada íngreme cuidando para não cair. Abriu a porta com cuidado. A luz invadiu o cômodo. Segurou a bandeja com uma mão, sacou a varinha e a acendeu e sem tirar os olhos dos quatro pôs a bandeja no chão. Eles estavam escorados numa das paredes aparentemente fracos demais para se revoltar ou algo parecido. Seus olhos caíram sobre Luna. Os cabelos loiros compridos estavam sem vida, os olhos azuis encovados, a pele extremamente pálida. Olhando bem, eles não representavam perigo algum. Enquanto eles avançavam vagarosamente para pegar as tigelas decidiu ficar ali com a varinha acesa. Sentou-se no chão, observando-os e de vez em quando Luna lançava olhares para ele. Quando eles terminaram, Draco pegou a bandeja e levou novamente para cima. Naquela noite certos olhos azuis atormentaram seus sonhos.
Nos dias seguintes, Draco insistiu que podia levar a comida a eles. E todos os dias ele fazia da mesma maneira que no primeiro, observando os dois alunos de Hogwarts, o duende e o fabricante de varinhas, com especial atenção na moça loira. Até que certo dia, Luna terminou de comer e não tendo os outros terminado ainda, caminhou até Draco, depositou o prato na bandeja e sentou-se ao lado dele. Ele a ficou olhando como se ela tivesse um terceiro olho ou tentáculos saindo do queixo.
- O que faz aqui? – perguntou naturalmente, como se não estivessem num porão.
- Como assim - ele arregalou os olhos - o que faço aqui? Vim trazer comida para vocês.
- Não é apenas isso. Não precisa ficar enquanto comemos. – sonhadoramente ela olhou para os lados antes de completar - Porque alguém ficaria num lugar repleto de zonzóbulos?
Ele continuou a olhá-la como se fosse louca, porém respondeu.
- Bom, eu, de certa forma, não concordo com tudo isso. Prisioneiros e mortes e muita, muita destruição. – disse, abaixando a cabeça – E lá em cima ninguém me dá atenção alguma e aqui eu não... me sinto tão sozinho.
Luna nada disse, por um tempo ficou só o olhando. Por fim exclamou
- Eu te entendo. – e saiu de volta para junto dos companheiros de cela.
A partir daquele dia Draco e Luna começaram a conversar todos os dias quando ele levava a refeição, fazendo surgir um sentimento doce, porém confuso para Draco. Ele tinha com quem conversar e se sentia bem com Luna. Ficava à vontade. Queria tirá-la de lá. Mas não podia. Até o dia que Harry Potter apareceu.
*Fim do flashback*
- Draco, Draco – Narcisa gritava o nome do filho para que ele acordasse de seu devaneio. O loiro virou seu rosto lentamente para a mãe.
- Filho, me passe a manteiga. – Draco pegou o pote branco e deu na mão da mão – No que pensava Draco? – ela indagou, curiosa.
- Hogwarts – Draco mentiu, naturalmente.
- Hmm – Narcisa fez uma leve careta e perguntou receosa – você vai voltar para lá, se for reaberta?
- Claro que vai ser reaberta – ele demonstrou um pouco de receio em sua voz – e sim, vou voltar.
Pela primeira vez Lúcio Malfoy tirou os olhos de seu jornal e olhou para o filho.
- Vai?! – havia um tom de deboche em sua voz. – Você sempre odiou aquele ninho. Porque vai voltar?
Draco fez uma cara impaciente como se tivesse que explicar pela oitava vez para uma criança de cinco anos como resolver uma equação algébrica.
- Sempre odiei. Mas não posso ficar sem formação mágica. Ainda mais agora que o... Lord das Trevas se foi... de uma vez.
Tanto Lúcio como Narcisa aceitaram aquela resposta. Mas Draco sabia que não era apenas isso que o levava a Hogwarts.
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