O Cabeça de Javali.



                                         Capítulo três. – O Cabeça de Javali.


 


 Na manhã do final de semana os alunos se enfileiraram muito ansiosos pelo passeio, perante o zelador Filch, que checava o nome dos alunos que tinham permissão para irem à Hogsmeade. Na vez de Lince, Filch rosnou baixo para ela, suspeito de que portava alguma coisa ilegal e fazendo com que Lince se irritasse e rosnasse ainda mais alto para ele. Quando acabou, ela se juntou à amiga e desceram a escada de pedra, saindo para o dia frio e ensolarado.


 


- E aí, já tem em mente o que vamos fazer hoje? – perguntou Linette.


- Não completamente... eu tenho aquela reunião, lembra? Depois que eu sair nós podemos comer alguma coisa no Três Vassouras e comprar porcarias na Dedosmel e na Zonko`s...


- E o que eu vou ficar fazendo nesse meio tempo? – fez biquinho.


- Atacando algum grifinório indefeso, imagino eu. – Lince riu prazerosamente ao saírem para a estrada que levava aos portões.


 


Linette deu uma risadinha.


 


- Por que você não usa melhor o seu tempo e vem pra reunião comigo hein?


- Reunião é pros fracos, os bons ficam sozinhos.


 


Lince riu e revirou os olhos, que menina engraçaaaada, meu deus.


 


As duas passaram entre os altos pilares de pedra encimados pelos javalis alados, e viraram à esquerda, tomando a estrada para a vila, a força do vento fazendo os cabelos fustigarem seus olhos. Durante todo o caminho a Hogsmeade, Linette tagarelava sobre como gostava de passear por lá.


 


-... e podemos passar na Zonko`s antes de você ir? Por favor, por favor, por favooor! – ela se virou e deu de cara com os olhinhos de Linette brilhando infantilmente, e sua cara de cãozinho abandonado.


- O que é que você vai fazer lá?


- Só quero passar em algum lugar com você antes de você sumir para o mundo das conspirações, só Merlin sabe quanto tempo vai durar essa porcaria!


- Essa porcaria poderá salvar sua vida, sabia?


- Ok, ok... não vamos começar com as teorias novamente, só quero comprar uma sacola de bombas de bosta.


- Pra quê? – ela se surpreendeu com a menina – desde quando você gosta dessas coisas?


- Desde quando Filch me ameaçou com uma espada que arrancou de uma armadura... – Linette dizia com a voz descontraída, como se aquilo fosse cotidiano.


- Explique melhor... que raios Filch estaria fazendo correndo atrás de você com uma espada? – riu.


- É que... bem, eu não estava fazendo nada de errado... quer dizer, nada muito sério... só estava... que problema há em se divertir um pouco com as estátuas?


- Deixe-me adivinhar: você as enfeitiçou pra saírem por aí dançando can-can pelas escadarias? – suspirou Lince com um olhar desaprovador sobre Linette.


- É... tá vendo? Nada demais, uma bobagem!


- Bobagem?  - ela gargalhou, imaginando a cara de Filch - de onde você tira essas coisas? 


- Andei me inspirando em Fred e Jorge ultimamente, os caras são uns gênios pra aprontar.


- Nisso eu sou obrigada a concordar... – apontou pra Linette o dedo indicador ao mesmo tempo em que desciam pela rua principal de Hogsmeade – acho que Hogwarts nunca teve alunos tão... geniais nesses termos, mas aparentemente você está querendo entrar pra lista também, não é mesmo?


- Claro que não! Você sabe que eu sou uma aluna comportada! Não acho que correr atrás de uma aluna inteligente e exemplar como eu com uma espada na mão seja justo só porque acaba de ver Salazar Sonserina levantando as vestes! Como se ele já não fizesse isso antes de ser enfeitiçado por mim...


- E como você tem essas informações, senhorita Valois? – Lince se divertia com a amiga.


- Fontes minha querida... fontes antigas...


 


Linette parou com seus devaneios sobre Salazar Sonserina no momento em que entraram na Zonko`s - Logros e Brincadeiras, onde encontraram Fred, Jorge e Lino Jordan enchendo suas sacolas.


 


- É sério, vai falar com ele Lince...


- Falar o quê?


- Pega isso – Linette agarrou um objeto pontiagudo e preto sem função óbvia, deu uma espiadela nos garotos e voltou-se para Lince, escondidas atrás de uma prateleira particularmente cheia – pergunta pra ele qual é a função disso... puxa assunto...


- Não, Linette... para com isso, pelas barbas de Merlin eu não quero nada com o...


 


Mas Linette já se fora com o objeto na mão, atravessando a loja por entre as pessoas e prateleiras na direção dos três. Lince sentiu um frio na barriga e ansiedade, qual era o problema da amiga? Mas que droga. Foi atrás dela e quando finalmente a alcançou, parou ao seu lado, um pouco corada.


 


-... eu não entendo muito de logros e vocês são praticamente experts nisso, e preciso dar alguma coisa pro meu primo, o aniversário dele é semana que vem sabe... – Linette se recostara na parede e sorria, completamente à vontade – podem me indicar alguma coisa?


- Olha só Fred, ela nos chamou de experts, nos considera bons em alguma coisa, vamos escrever para mamãe assim que chegarmos no castelo e contar pra ela a novidade...


- Com certeza nossa adorável mãe mudará de ideia sobre nossos N.A.Ms assim que ficar sabendo...


- ... e vai esquecer que o Percy existe, com filhos gênios como nós... – acrescentou Jorge.


 


Linette riu.


 


- Então... podem me ajudar? – indagou.


- Mas é claro que podemos, é só dizer se gosta ou não do seu primo, que já damos um jeito nisso... – Fred lhe deu uma piscadela, fazendo com que Lince sentisse uma pontada de ciúmes.


- Digamos que ele não é a pessoa mais simpática do mundo. – ela revirou os olhos e enrolou um cacho loiro e crespo no dedo indicador, pensativa.


- Nesse caso é mais fácil... – Lino deu um passo à frente e olhou para os lados – podemos te mostrar várias formas de sacanear alguém.


- E sacanear no aniversário é ainda mais divertido – os olhos de Fred apresentavam um brilho de maldade.


 


Lince se encolheu contra a prateleira atrás de si e acidentalmente derrubou o que pareciam ser vassouras com várias verrugas no cabo, e se prontificou apanhá-las do chão e a recolocar tudo na prateleira nervosamente.


 


- Ah, quase me esqueço... essa aqui é minha amiga Lauren. – Lince quase suspirou alto de alívio ao constatar que Linette tivera o senso de não chamá-la pelo apelido depois do que havia acontecido com Pirraça no outro dia.


- E aí Lauren?  - cumprimentaram os três.


 


Uma Lince trêmula e corada apareceu ao lado de Linette, e acenou timidamente:


 


- Oi.


- Está procurando alguma coisa também? – perguntou Lino.


- Ah... não... só estou fazendo companhia pra ela mesmo...


 


Lince captou um olhar de censura de Linette pela visão periférica e então limpou a garganta:


 


- Na verdade eu gosto daqueles logros, ahm... engraçados, sabe? Que... que contêm tipo uma azaração quando a pessoa usa.


- Gostamos desses também, se quiserem podem vir com a gente, mal começamos a comprar por aqui – Jorge balançou a sacola da Zonko`s.


- Queremos sim... – Linette deu um pulinho e se pôs ao lado de Jorge – vocês conhece algo que faz os pêlos do nariz crescerem? Porque eu ia adorar ver meu primo entrando em pânico...


- Vamos ver o que a Zonko`s tem a nos oferecer...


- Ah... infelizmente eu não posso ficar, tenho um compromisso...


- Qual é Lauren, nós acabamos de chegar... – seus lábios se arredondaram num biquinho.


- Não posso perder a reunião, Linette. – Lince disse entre dentes.


- Calma, não deve ter ninguém no Cabeça de Javali, as pessoas estão todas espalhadas por aí ainda...


- Você tá louca? Fala baixo! – pôde ouvir as palavras saírem num tom agudo.


- Fica tranqüila, os rapazes são amigos do Harry, tenho certeza que foram chamados, não foram? – ela se virou para os três, que observavam atentamente algo de aspecto peludo, que soltava guinchos risonhos em intervalos.


- Tá falando sobre... encontrar o Harry no Cabeça de Javali? – Lino sorriu discretamente.


- Aham.


 - Sim, nós também vamos.


- Gosh, e eu achando que só minha amiga era retardada – Linette revirou os olhos.


- Você devia ouvir o que o Harry tem a dizer – disse Fred – ele sabe das coisas.


- É... é... tanto faz. Vamos logo com esses logros antes que a Lauren tenha um enfarte aqui. Tá vendo sua bobinha? Eu disse que eles também iam, eu sou um gênio.


 


Jorge riu e então os rapazes ajudaram Linette a escolher um presente maldoso e engraçado para o primo de Linette, algo que fez Lince sentir pena do garoto. Enquanto os meninos ajudavam a amiga, ela mal pôde tirar os olhos de Fred, que estava uma gracinha com seu suéter verde, e se admirou por manter o controle apesar de ter esbarrado naquelas vassouras.


Linette levou também uma sacola de bombas de bosta que fizeram os três aplaudirem-na quando contou que as usaria com Filch, e Lince, que tinha ficado quieta na maior parte do tempo, ria baixo dos comentários. Pagaram e saíram.


 


- Então, é isso aí, vejo vocês mais tarde - despediu-se Linette, rumando para uma loja de livros e deixando Lince sozinha com os três.


 


 


 - Você é bem quietinha não é mesmo? – Fred encostou ao seu lado enquanto rumavam para o Cabeça de Javali.


 


Meu deus, Fred estava falando com ela. Calma Lince, respire, não tenha um treco e nem um Ataque De Pelanca.


 


- Deve é estar de saco cheio de nós, isso sim, porque não calamos a boca um instante sequer – Jorge veio se postar ao seu outro lado.


- Não... claro que não é isso, não sou de falar muita coisa, não se preocupem.


- Acha que ela está mentindo, Lino? – indagou Jorge ao olhar para o amigo.


- Com certeza.


- Deve estar assustada com a sua cara feia, maninho. – ouviu Fred dizer.


- Não me venha com essa, todo mundo sabe que sou sete vezes mais bonito do que você...


- Nos seus sonhos.


 


Lince deu uma gargalhada mas logo colocou a mão na boca, corando.


 


- Viu, já temos alguma coisa... por mais que isso seja uma grande mentira – constatou Jorge, ao entrarem no Cabeça de Javali.


 


 


                                                                  ˚¤~¤˚


 


 


Lince se encolheu ligeiramente ao entrar no bar, o Cabeça de Javali compreendia uma salinha mal mobiliada e muito suja, e tinha um cheiro forte que lembrava cabras. As janelas curvas eram tão incrustadas de fuligem que pouquíssima luz solar conseguia chegar à sala, iluminada com tocos de velas postos sobre mesas de madeira tosca. O chão, à primeira vista, parecia ser de terra batida, mas quando Lince o pisou, deu para perceber que havia pedra sob o que concluiu ser uma camada secular de sujeira acumulada.


Passou os olhos rapidamente pelo estabelecimento e identificou várias pessoas: Neville Longbottom, Dino Thomas, Lilá Brown, Parvati e Padma Patil, Cho Chang e Marieta, Luna Lovegood, Cátia Bell, Alícia Spinnet, Angelina Johnson, dois rapazes loiros e muito franzinos que Lince não reconheceu, Ernesto Macmillan, Justino Finch - alguma coisa, um sobrenome confuso que ela não se lembrava, Ana Abott e uma garota da Lufa-Lufa que ela não sabia o nome.


 Conhecia a maioria de vista, pessoas com quem ela nunca havia falado, mas estava prestes a conhecer se fossem realmente freqüentar essas reuniões. Lince olhou para Harry Potter e seus dois amigos acomodados em uma mesa no canto do bar, Potter estava absolutamente boquiaberto com a quantidade de pessoas, e sua cara estava absolutamente hilária, gostaria que Linette estivesse lá pra ver enquanto ria baixo.


 


- Oi – ela ouviu Fred dizer ao barman depois de contar rapidamente seus companheiros - , pode nos servir... vinte e cinco cervejas amanteigadas, por favor?


 


O barman o encarou por um momento e jogou um pano imundo que estava usando para limpar os copos, irritado, como se tivesse sido interrompido no meio de algo importante e começou a passar as cervejas amanteigadas cheias de poeira de baixo para cima do balcão.


 


- Obrigado – disse Fred, distribuindo-as. – Pessoal, pode ir se coçando, não tenho ouro para tudo isso...


 


Lince recebeu, corada, sua cerveja amanteigada e a bebericou timidamente, olhando as pessoas em volta procurarem moedas nos bolsos. Passou seis sicles à Fred e prestou atenção em Harry, que conversava efusivamente com Hermione ao sussurros. Aos poucos, os alunos foram se organizando em pares e trios e sentando-se próximo a um Harry Potter prestes a ter uma crise nervosa com todos olhando-o, excitados ou curiosos. O silêncio caiu sobre o lugar quando todos estavam adequadamente organizados, todos os olhares concentrados em Harry. Lince sentiu um arrepio de ansiedade percorrer sua espinha: Estavam prestes a começar algo grande, algo que poderia ajudá-los na grande batalha.


 


- Hum – começou Hermione, a voz ligeiramente mais alta do que normalmente, nervosa. – Bom... hum... oi.


 


Todos olharam para ela embora os olhares continuassem se voltar para Harry em intervalos.


 


- Bom... hum... vocês sabem por que estão aqui. Hum... bom, Harry, aqui, teve a ideia... que seria bom se as pessoas que quisessem estudar Defesa Contra a Arte das Trevas, e quero dizer realmente estudar, sabem, e não as bobagens que a Umbridge está fazendo a gente... – sua voz se tornou mais forte e mais confiante – Bom, porque ninguém pode chamar aquilo de Defesa Contra a Arte das Trevas... - ouviu-se um coro de ´Apoiado, Apoiado´ de Antônio Goldstein, que animou Hermione – Bom, eu pensei que seria bom se nós, bom, nos encarregássemos de resolver o problema.


 


Ela parou, olhou de esguelha para Harry Potter e continuou:


 


 - Com isso, eu quero dizer aprender a nos defender direito, não somente em teoria, mas praticando realmente os feitiços...


- Mas acho que você também quer passar no N.O.M de Defesa Contra a Arte das Trevas, não? – perguntou Miguel Corner.


- Claro que quero – respondeu Hermione imediatamente. – Mas, mais do que isso, quero receber treinamento em defesa adequado porque... porque... – ela tomou fôlego e concluiu –porque Lord Voldemort retornou.


 


Um alvoroço tomou conta do lugar, e Lince sentiu-se estranhamente corajosa, precisou reunir forças para reprimir o desejo de subir na cadeira e gritar ´Apoiado, Apoiado´. Ótimo – pensou ela - posso ver que Hermione Granger tem a cabeça no lugar e também sabe o que fala, acho que não vou me arrepender de ter vindo, as coisas ficam mais interessantes a cada palavra.


 


- Bom... pelo menos esse é o plano, se vocês quiserem se juntar a nós, precisamos resolver como vamos...


- E cadê a prova de que Você-Sabe-Quem retornou? – Zacarias Smith, agressivamente, fizera a pergunta que Lince tinha certeza de que viria a seguir.


- Bom, Dumbledore acredita que sim... – começou Hermione, fazendo as entranhas de Lince rugirem de contentamento, era exatamente o que pensava.


- Você quer dizer que Dumbledore acredita nele - interrompeu, indicando Harry Potter.


- Quem é você?  - perguntou Rony, sem muita polidez.


  - Zacarias Smith, e acho que tenho o direito de saber exatamente o que faz você afirmar que Você-Sabe-Quem retornou.


- Olhe  - respondeu Hermione, intervindo rapidamente – não foi bem para tratar desse assunto que organizamos a reunião...


- Tudo bem, Hermione - disse Harry.


 


Os olhares se concentraram em Harry, ansiosos, e Lince quis socar Zacarias Smith por ser tão idiota e presunçoso.


 


- O que me faz afirmar que Você-Sabe-Quem retornou? – ele repetiu a pergunta, encarando Smith nos olhos. – Eu o vi. Mas Dumbledore contou a toda escola o que aconteceu no ano passado, e se você não acreditou nele, também não vai acreditar em mim, e não vou perder a tarde tentando convencer ninguém.


 


Lince deu uma risadinha baixa e quis abraçar Harry pela fala direcionada à Zacarias, alguém precisava fazer aquele menino se tocar. Então Zacarias falou, mudando de tom:


 


- Só o que Dumbledore nos contou ano passado foi que Diggory foi morto por Ele e que você trouxe o cadáver de volta a Hogwarts. Ele não nos deu detalhes, não nos contou exatamente como Cedric foi morto, acho que todos nós gostaríamos de ouvir.


- Se você veio ouvir exatamente como é que Voldemort mata alguém, eu não vou poder ajudá-lo. – a irritação era evidente na voz de Harry – Não quero falar sobre Cedric Diggory, está bem? Portanto, se é para isto que você veio, é melhor ir embora.


 


Nenhum deles se levantou, nem mesmo Zacarias, que agora observava Harry atentamente.


 


- Então – recomeçou Hermione – como eu ia dizendo... se vocês quiserem aprender alguma defesa, então precisamos resolver como vamos fazer isso, com que freqüência vamos nos encontrar e aonde vamos nos...


 


Hermione fora interrompida novamente por Susana Bones, que indagou a Harry se era verdade que este seria capaz de produzir um Patrono corpóreo, notícia que teria ouvido de sua tia, Amélia Bones, que trabalhava no Ministério e havia feito parte do julgamento de Harry antes das aulas começarem.


Lince sentiu-se irritada por mais uma interrupção, mas ficou admirada com a notícia de que Harry era capaz de produzir um Patrono com apenas quinze anos... Sinal de que o menino com certeza daria um bom professor, nesse caso, e prestou mais atenção ainda.


Então uma discussão sobre as habilidades de Harry logo corria pelos aposentos, os alunos citavam os feitos dos anos anteriores como matar um basilisco, salvar a Pedra Filosofal das mãos de Você-Sabe-Quem, das duras tarefas realizadas por ele no Torneio Tribruxo em que lutou contra sereianos, acromântulas e dragões. Harry mantinha-se muito modesto, e alegou ter recebido ajuda nos seus feitos.


 


- Você está tentando fugir do compromisso de nos mostrar tudo isso? – perguntou Zacarias.


- Tenho uma ideia – disse Rony em voz alta, antes que Harry pudesse falar-, por que você não cala a boca? 


- Ora, todos viemos aprender com Harry, e agora ele está dizendo que, no duro, não sabe fazer nada disso.


- Não foi isso o que ele disse – reagiu Fred.


- Quer que a gente limpe seus ouvidos pra você? – perguntou Jorge, tirando um longo instrumento metálico de aspecto letal, de dentro de uma das sacas da Zonko´s.


- Ou enfie isso em qualquer outra parte do seu corpo, para falar a verdade, não somos muito luxentos – acrescentou Fred.


 


 Lince, que até então bebericava sua cerveja amanteigada, ao ouvir o comentário de Fred justo no momento escolhido para dar um grande gole, se engasgou e começou a tossir. Ela sentiu tapinhas gentis de Padma Patil nas costas enquanto Hermione continuava:


 


- Bom, continuando... a questão é: estamos de acordo que queremos tomar aulas com o Harry?


 


Houve então um murmúrio de aprovação geral. Zacarias cruzou os braços e se manteve calado, talvez porque estivesse ocupado demais em prestar atenção ao instrumento na mão de Fred. Hermione começou a falar sobre os horários das reuniões, que tinham que realizá-las pelomenos mais de uma vez por semana para serem efetivas, e então Ernesto Macmillan a interrompeu com a observação de que aquelas reuniões seriam ainda mais importantes do que qualquer coisa que fizessem aquele ano, talvez até mais importante do que seus N.O.Ms.


 


- Pessoalmente, não consigo entender por que o Ministério nos impingiu uma professora inútil como essa, em um período tão crítico. É óbvio que se recusam a admitir o retorno de Você-Sabe-Quem, mas daí a nos mandar uma professora que está tentando nos impedir por todos os meios de usar feitiços defensivos...


 


Lince arqueou as sobrancelhas, queria beijar Ernesto, era exatamente o que pensava: Como? Como o Ministério tinha chegado a esse ponto? Estariam eles à beira da loucura, ou tomados de vez pelo governo das trevas? Teria Você-Sabe-Quem estendido suas influências até as entranhas do Ministério da Magia?


 


- Nós achamos que a razão por que Umbridge não quer que treinemos Defesa Contra a Arte das Trevas é que ela tem uma ideia alucinada de que Dumbledore pode usar os alunos da escola como um exército particular. Acha que ele poderia fazer uma mobilização contra o Ministério – disse Hermione.


 


Todos pareciam perplexos com a notícia, mas aquilo não atingira Lince, pois já sabia, era óbvio demais. Então, após uma breve interrupção de Luna Lovegood, Hermione tirou um pergaminho e uma pena da bolsa e disse esperar que, se eles estivessem concordando em ter aulas com o Harry, para assinarem o papel, e então não contassem nada Umbridge ou qualquer outra pessoa, o que deixou vários presentes bem menos satisfeitos em ter que pôr o nome no papel.


Alguns alunos estavam inseguros quanto à assinatura, como Zacarias Smith, que tentou renunciá-la com a desculpa de que Ernesto fosse avisar quando as datas das reuniões fossem marcadas, mas Ernesto também não estava tão confiante assim, com medo das conseqüências que teriam se Umbridge os descobrissem.


Hermione convenceu Ernesto e depois Zacarias acabou assinando, assim como todos os presentes, e então ela guardou o papel na bolsa.


 


- Bom, o tempo está correndo – disse Fred com vivacidade, ficando em pé. – Jorge, Lino e eu temos uns artigos de natureza delicada para comprar, veremos vocês depois.


 


Novamente em trios e pares, o restante do grupo também se despediu. Lince se levantou e já ia saindo quando sentiu alguém tocar-lhe o ombro:


 


- E aí, você vem? - virou-se e viu Lino parado ali com Fred e Jorge em seus calcanhares.


- Ah... ah, acho que... acho que não. Linette está me... esperando. – sabia que era muito ridículo todo aquele nervosismo, que tinha passado um bom tempo com os meninos na loja de logros, mas nem tinha falado muito, e aquele tempo da reunião fora o bastante para ela esquecer como era estar perto deles, o suficiente para que imaginar ficar perto de Fred já a fazia ter frio na barriga.


- Beleza, diga à Linette que mandamos um alô – Jorge sorriu e então os três saíram.


 


Lince piscou, achando ter visto Fred olhar para ela e sorrir antes de desaparecer pela porta do bar.


 


 


 


 


 


O vento ainda era forte quando ela saiu do Cabeça de Javali, seus curtos e negros cabelos chicoteando seu rosto corado e a deixando nervosa pela falta de visão. Sentia-se tão bem por saber que outras pessoas acreditavam que Você-Sabe-Quem tinha voltado, enfim a confirmação de que não era nem tão louca e nem tão tola quando Linette costumava dizer, e sentiu um fiozinho prata de esperança enrolando seu coração e aquecendo-o: iriam treinar, ficariam fortes e preparados, estariam prontos para lutar no fim das contas. Imaginou a cara de sapa velha da Umbridge se descobrisse o que estavam fazendo, e daria todo o seu dinheiro para poder ver a expressão de Cornélio Fudge, o Ministro da Magia, se viesse a também descobrir.


Mal podia esperar pela primeira das reuniões, estava realmente ansiosa pelo aprendizado e também por poder compartilhar o sentimento de estar se preparando para o que os aguardava num futuro desconhecido, com pessoas que acreditavam nas mesmas coisas que ela e não a achassem maluca ou psicótica... Pensou em Linette e no quanto sentia por ela, a amiga não teria a oportunidade de compartilhar tudo aquilo, e nem de aprender mais. Mas era uma escolha própria, então não havia nada que pudesse fazer.


Havia também outra coisa que a fazia gostar de ter assinado o papel e se comprometido... e era o fato que Fred também estaria lá, e poderia observá-lo o quanto quisesse e bem longe dos olhos de Linette. Talvez pudesse até dizer um alô, cumprimentá-lo se tivesse coragem. Olha só, senhorita Lince, o que Linette diria agora, hã? Muito, muito corajosa. Falar em Linette, precisava achá-la, e sabia onde exatamente deveria ir, sabia que a amiga gostava de ir à Escriba Penas Especiais e sair com sacolas de lá, e então foi o próximo lugar que Lince visitou.


Entrou na loja e logo a localizou parada em frente a um lindo arranjo de penas de corvo, e então saltitou até ela:


 


- A reunião foi demais! – guinchou Lince, fazendo Linette dar um pulo de susto – demais, demais!


- AAH, não precisa me assustar desse jeito! – ela largou uma pena particularmente negra e se virou para encará-la, sua carranca se desmanchando ao ver o sorriso de Lince – nossa quanta felicidade... já pegou o Fred?


- Não, não peguei ninguém ok? Só que a reunião foi demais, - ela baixou o tom de voz- eu não sou a única maluca naquele castelo que acredita que acredita que Ele voltou!


- Que seja, todo lugar tem suas meia dúzias de retardados – revirou os olhos.


- Você precisava ver, Linette, tem vinte e oito pessoas naquela maldita reunião!


- Vinte e oito? – ela pareceu surpresa, recomeçando a andar pela loja com algumas penas e tinteiros no colo.


- Pois é, sem contar comigo. – riu Lince, se sentindo ainda mais feliz em ver a surpresa de Linette, tão feliz que começou a remexer nas penas por onde passava e até selecionando um par de duas azuis para combinar com seu blusão da Corvinal.


- É, tudo bem, qualquer coisa... vamos cair fora.


 


As duas pagaram, saíram da loja no mesmo momento em que Harry Potter e seus dois melhores amigos entravam, e rumaram pala o calor da Dedosmel.


 


A loja estava apinhada de gente, fazendo com que as duas tivessem que se espremerem entre as pessoas para chegarem às prateleiras de sapos de chocolate e feijõezinhos de todos os sabores. As duas encheram suas sacolas da Dedosmel com os doces quando Lince declarou:


 


- E não se esqueça de pegar cem sapos de chocolate extras pelo que vou fazer por você, ainda não esqueci.


- CEM? Fala séééério! – Linette reclamou, esbarrando em uma pilha de caixas de doces amontoadas à sua direita.


- Nem mais nem menos, foi o que nós combinamos não foi?


- É, que seja. – começou a resmungar.


 


Lince sorria abertamente por não ser ela quem resmungava dessa vez, e voltou a incluir mais doces em sua grande sacola, feliz. Deixou a amiga arrumando a bagunça com a varinha e saiu saltitante – quase saltitante, já que a loja estava cheia – até a seção dos chicletes.

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