#capítulo nove
Capítulo Nove
Ou I Need A Superhero, ‘Cause I’m Just A Girl
A festa ainda não tinha terminado. Estava quase amanhecendo, mas o povoado continuava festivo.
Sirius e Marlene já tinham se beijado algumas vezes, deixando a menina contente, mas travando, ao mesmo tempo, uma batalha em sua mente. O que o pirata tinha em mente, se não a queria realmente?
Lily ainda permanecia com a cabeça amparada pelo ombro de James, observando com entusiasmo o que se passava à sua frente. Era fácil demais se sentir feliz estando de bem com James.
Por um tempo, Lily não queria tocar no assunto que Menfins levantou. O Rei era praticamente um traidor. Lily não poderia conceber essa idéia. O Rei era seu pai. Seu amado pai.
- Tu achas que eu vou morrer? – Lily perguntou a James, abruptamente. Ela ergueu a cabeça e o olhou.
James gostou do contato visual.
Geralmente as meninas do povoado eram tão fúteis, e Lily, mesmo Princesa, não tinha nenhuma futilidade visível.
James gostava daquilo. Entretanto não tinha apreciado a pergunta de Lily. Porque ele tinha prometido sua vida para salvá-la. Se ela morresse, isso significaria que James não tinha se esforçado o bastante para cumprir sua palavra.
E o Cavaleiro sempre fui um homem de palavra.
- Se eu estiver por perto, não – ele lhe disse, com segurança.
- E se tu não estiveres?
- Eu sempre vou estar – James pegou uma das mãos da Princesa e junto com uma das suas. Olhou para aqueles dedos alvos. Nunca que largaria aquela mão, se soubesse que ela corresse perigo – Não importe a situação.
Lily sorriu, fingindo alívio. A verdade é que ela estava pressentindo que aquilo não iria terminar nada bem. Ela sentia que algo muito ruim estava prestes a vir.
- Tu prometes? – Lily piscou insegura.
- Pela minha vida, Princesa – James disse com voz honrosa.
Lily sorriu. Certamente não queria que ele prometesse com sua própria vida, mas sentia-se um tanto quanto mais segura. Principalmente tão perto dele.
Ela voltou a tombar sua cabeça no ombro do Cavaleiro. A sensação era ótima.
Por grandes minutos, a paz parecia reinar naquele povoado. As mulheres estavam satisfeitas, os homens bebiam e riam e as crianças corriam afobadas. Mas Lily sabia que algo estava por vir.
Quando amanheceu definitivamente e as nuvens desenhavam imagens abstratas na tela azul do céu, Dorcas sentou-se a lado de Lily, cansada.
- Acredita que eu não paro de dançar? – Dorcas riu, afogueada de calor – Você deveria experimentar.
- Parece que tu encontraste alguém – Lily lhe disse, apontando para Remus, de forma discreta.
- Bem, é só o Remus. Nós brincávamos com ele quando crianças, lembra-se? – Dorcas deu de ombros, parecendo indiferente.
Mas à Lily, Dorcas não podia enganar. Estava estampado em seu rosto.
Lily sorriu feliz com a felicidade da amiga. A festa parecia ter dissolvido muitos sentimentos quebrados ou maltratados.
Muito rapidamente a maioria se viu cansada demais para continuar ali, e foi tratar de cuidar de seus afazeres. Havia muito que fazer, considerando que o povoado era apenas mais um da região.
- Precisamos descansar, acho – Remus se juntou à Dorcas, Lily e James.
- Ficamos a noite inteira acordados... – Lily se impressionou. Nunca tinha passado por sua mente não dormir por uma noite. Não fez isso nem quando teve de dormir na relva, dias antes.
- Eu sei que preciso dormir – Dorcas disse.
- Cadê Marlene? – Lily perguntou, olhando para os lados à procura da amiga - Poderíamos voltar para a casa que nos emprestaram e descansar por um tempo.
- Concordo – Remus disse, olhando para as botas. Provavelmente seus pés doíam.
Marlene não estava mais na festa. Ela e Sirius haviam passado a noite inteira tentando se entender, e a única maneira que encontraram para fazer isso foi se entregar (quase que completamente). Ainda que Sirius não estivesse disposto a perde a cabeça por uma menina tão doce quanto Marlene Mckinnon, podia aceitar a idéia de apenas beijá-la; uma coisa, ele percebeu, que deixava Marlene muito feliz.
Agora, já cansados de tanto ficarem em pé, decidiram se sentar na grama. Marlene esperava que Sirius dissesse algo, porque não conseguia pensar direito estando muito próxima dele. Algo bloqueava a sua mente e ela não estava gostando nadinha daquilo.
- Acho que você sabe o que tem de errado entre nós, não? – Sirius perguntou.
Marlene franziu o cenho.
Achava que pouco sabia dar aquela resposta.
- Hm, a sua arrogância? – ela sugeriu.
Sirius soltou uma sonora gargalhada.
- Todos são um pouco arrogantes, senhõrita – Sirius comentou, assim que parara de rir – Mas não é isso que está nos atrapalhando.
- Não há nada me atrapalhando – Marlene disse incisiva.
- Bem, é porque você não quer enxergar o problema.
- E qual é o problema? – Marlene rolou os olhos, irritada.
Ela sabia que o único empecilho era Sirius.
- Eu não posso desejá-la. Você é apenas uma criança.
Marlene ficou instintivamente irritada. Apertou os olhos de modo perigoso e crispou os lábios.
- Se eu fosse realmente uma criança, você não teria me beijado naquela primeira vez – Marlene retrucou com raiva.
- Você não entende.
- Mas eu quero você – Marlene choramingou - Você é tudo o que preciso.
Sirius soltou um muxoxo de impaciência.
- O que estamos fazendo é um erro – ele disse com convicção - Desculpe, senhõrita, mas já está resolvido. Não será você quem me prenderá. Sou um homem do mar. E as ondas nunca batem na mesma encosta.
- Mas... – Marlene sentiu as lágrimas quentes tentando pedir passagem.
- É a vida. Nunca se apaixone por um pirata – Sirius disse, levantando-se e tirando alguns fiapos de grama de sua roupa.
Marlene viu o garoto se distanciar dela aos poucos, e se permitiu desabar. Ela era uma menina forte, ainda que não aparentasse.
- Acho melhor corrermos para a festa – Sirius gritou de onde estava - A Princesa deve estar sentindo sua falta.
Marlene não olhou. Não queria que ele visse as lágrimas banhando seu rosto.
Limpou as bochechas e tentou se equilibrar na terra.
E foi nisto que enxergou pessoas correndo. Elas não estavam correndo porque estavam felizes. Estavam correndo e gritando. Mas não de alegria.
Opa, o que estava acontecendo?
Porque todos estavam agindo como... bem, como se estivessem fugindo? E se estavam fugindo, estavam seguindo para onde?
- Corra, menina! – um senhor gritou, quase alcançando as vestes de Marlene.
- Mas por quê? – Marlene gaguejou, observando todos os outros ensandecidos.
O senhor não parou para explicar, simplesmente permaneceu a correr.
- Marlene? – Sirius gritou, em busca dela pela multidão que se aproximava aos prantos.
- Sirius? – ela respondeu – Ah, por Artemis – ela alcançou a mão de Sirius com desenvoltura, nervosa – O que está acontecendo? – perguntou aflita, sem se mover – Por que todos estão correndo?
- Eu não sei – Sirius estava olhando para uma mulher com seu bebê gritando de pavor. Ela, em vão, tentava consolá-lo – Mas... é melhor corrermos também – ele respondeu, arregalando os olhos, sentido o pavor o inundar.
- Precisamos proteger Lily! – Marlene começou a correr de mão dada a Sirius.
- James está ao lado dela, tenho certeza – Sirius gritou, respondendo, tentando fazê-la se acalmar. Não que fosse adiantar, uma vez que ele próprio estava tão assustado quanto à menina – É melhor se preocupar consigo mesma.
- Onde eles podem estar? E por que estamos fazendo isso? – Marlene berrou, esforçando-se para não tropeçar e cair.
Eles apenas prosseguiram. Não havia nada diferente que pudessem fazer. Deveriam seguir o fluxo.
Nisto, ouviram um barulho agudo atingir o céu. Parecia uma bala de canhão sendo lançada. Marlene olhou para cima: algum lugar não muito distante pegava fogo.
- Espere... – Sirius freou o passo, parando abruptamente. Olhou para o final da multidão.
- Ai, o que foi? – Marlene reclamou, sentindo seu braço ser puxado com brutalidade.
- Aqueles homens... olhe! – Sirius pediu, apontando para três seres encapuzados por vestes vermelhas.
- Sei, o que têm eles? – a menina fez uma expressão interrogativa.
- Eles procuraram Lily ontem pela manhã! – Sirius voltou a ficar aflito - Eles estão... oh, não! Acho que eles não são do tipo amigáveis!
- O quê? Como sabe?
- Eles estão com o brasão! Perceba! – Sirius falou com urgência.
- E daí? Não deveríamos estar corren... – Marlene mal terminou seu questionamento e já estava sendo puxada novamente – Sirius! Espere um pouco! – pediu.
- Você não entende! Eles são Matadores! – Sirius gritou – Como não percebi antes? – comentou com ele mesmo.
- Matadores? E eles querem quem? – Marlene quis saber, mas quase no mesmo segundo a resposta lhe atingiu o cérebro – Deus meu! A Princesa! – gritou assustada – Mas por quê?
- Não faço ideia, agora vamos logo. Temos que chegar até Lily! – Sirius devolveu.
Correram preocupados até à fogueira ainda acesa no meio do povoado. Nenhum sinal do grupo.
- E a cabana de Menfins? – Marlene sugeriu insegura.
- Perfeito! – Sirius disse.
Correram até o final do Rio, e logo encontraram a casinha velha do Mago.
- Lily? James? – Sirius bateu na porta com impaciência.
- Quer ser um pouco mais cavalheiro? – Marlene disse irritada.
- Você quer cavalheirismo agora? – Sirius retrucou surpreso.
Passos surgiram. Esperaram com expectativa.
- Ah, vocês! – Lily abraçou Marlene – Achei que tinham...
- Somos legais demais para Artemis nos deixar morrer agora – Sirius disse, com ar zombeteiro.
James riu, que estava acomodado no pequeno sofá.
Sirius e Marlene entraram na casinha abafada. Notaram que Menfins carregava uma expressão de medo genuíno.
- Tenho más notícias – Sirius disse, sentando-se no assoalho.
Lily engoliu em seco.
Ela sabia que enfrentariam tempos difíceis.
- Lembram-se dos três homens que ontem vieram procurar pela Princesa? – Sirius se dirigiu a James e a Remus.
- Os da Peregrinação? – Dorcas perguntou, com a lembrança ainda fresca em sua mente.
- Não existem Peregrinações por aqui... – Lily disse.
- Exato – Sirius respondeu à Dorcas – Eles são Matadores.
- Espere, o quê? – James se retraiu.
- Isso mesmo. Eles...
- Eu sei o que Matadores são! – James respondeu de mau jeito, bufando.
- O que são? – Lily perguntou.
- Bem – James virou-se para a Princesa, que estava ao seu lado no sofá, com expressão sem graça -, eles perseguem bruxas e bruxos.
- Não são os Sanguinários que fazem isso? – James franziu o cenho.
- Não, Sanguinários fazem qualquer tipo de trabalho, já os Matadores têm apenas um único alvo – Sirius respondeu.
- Eu vou morrer – Lily concluiu.
James fechou a cara.
- Não vai. Não vou permitir – ele disse.
Lily sorriu sem esperanças.
- Bem, logicamente, para os Matadores a assassinarem, eles precisam saber que tu és bruxa. Eles certamente não sabem que tu és bruxa. Não há como saber – Sirius disse.
- Emmy – finalmente Menfins se pronunciou.
- Menfins? – James perguntou confuso.
- Emmeline sabe que Lily é bruxa – o Mago falou.
- Mas Emmeline não está aqui – Dorcas disse tolamente.
- Não é por que tu ainda não a viste que significa que ela não está por perto – Menfins disse com assombro na voz.
Dorcas arregalou os olhos.
Batidas na porta fizeram com que todos direcionassem seus olhos para as janelas.
Lily se encolheu. James olhou para ela e entrelaçou uma de suas mãos na direita da de Lily, tentando passar tranqüilidade.
- Olá, senhor – um homem corpulento e loiro disse à Menfins – Será que podes me dizer quem és o senhor?
Menfins arregalou os olhos azuis.
Oh, não. Eles tinham chegado para a Marcação.
- Claro – Menfins sorriu com insegurança nos lábios -, venho de uma família realmente antiga, os Kapla.
- Sei – o homem piscou com indignidade – E tu apresentas algum poder mágico? Alguém de sua família carregava?
Menfins não sabia se aquele homem poderia detectar mentiras.
James e Lily se entreolharam. As mãos de Lily estavam frias de medo.
- Sabes que se mentires, sua alma estará para sempre destinada ao inferno, não? Mais do que já estaria se tu fores um bruxo, não?
Menfins não via saída.
Mas enquanto Menfins tentava arrumar algum desvio, o homem loiro e gordo encontrou os meninos na sala.
- Teus filhos? – ele perguntou, apontando para o grupo.
Lily inspirou com dificuldade.
Era sua vez de morrer.
- Hm, não exatamente. Não vieram de meu sangue, mas os considero como tais – o Mago respondeu.
- Opa, encontrei uma ruiva! – o home comemorou com aspereza na voz.
- Não! – Lily exclamou – Eu... eu... não sou quem pensas!
- Ruiva de olhos verdes e não és uma bruxa? – o homem riu com rouquidão.
- Eu sou... eu sou a Princesa! Não podes me... me... – Lily gaguejou, mostrando-se muito assustada.
- Levo-te comigo! – ele agarrou o pulso de Lily, autoritário.
- Não! – Lily sussurrou, implorando.
- Eu também sou bruxo – James se levantou.
- James! O que está...? – Lily colocou a mão na boca.
- Não posso permitir isso – ele sussurrou em sua orelha.
- Mas...
- Não, não a leve! Ela é a Princesa! Não podes matar a Princesa! – Remus gritou.
- Sou um Matador, tenho ordem para matar quem é desprezível, independentemente de que tipo de sangue tem – o loiro disse – Thalma? – ele chamou, virando-se para a porta – Achei a Princesa!
Uma mulher de cabelos cacheados, cor de mogno, entrou ar com despeitado na casa. Seus olhos castanho-esverdeados eram frios e sem vida.
Ela era claramente a mandante daquilo tudo.
- Desculpe, senhorita, mas creio que não irão podem levar a Princesa, nem o Cavaleiro – Menfins disse em bom tom.
- Ah, senhor Kapla! – Thalma saudou - Quanto tempo, não? Creio eu que não teremos apenas uma caça aqui.
- Oras, sem formalidades! – Menfis riu – Eu apenas levo respostas a quem precisa.
- Não me interessa o que faz com o seu dom, seu velho inútil! – Thalma exclamou com desprezo – Peter, leve o senhor Kapla também. Conheço-o de outras décadas.
- A Vossa Alteza ficará encantada! – Peter disse.
- Então quer dizer que Emmy chegou a esse nível, é? – Menfins riu com suavidade – Tudo apenas pelo rancor?
- Calado, senhor, antes que eu mesma feche a sua matraca! – Thalma mandou e se virou para Lily – Ora, ora. A Princesinha. Tão indefesa, não? Como está se sentindo, minha querida? O que queres dizer antes de nós a jogarmos ao fogo? – ela riu agudamente.
Lily não respondeu. Sua mente estava vazia.
- Por favor, não faça isso. Eu sou a Princesa! – Lily disse, choramingando.
- Ah, sem chorar, sua fracote! – Thalma levantou a mão, mas James interferiu em seu gesto – Ora, tem alguém que luta por ti? Estou lisonjeada.
- James, por favor, não se comprometa... – Lily pediu.
- James, não? Então, senhor Cavaleiro, até onde iria por essa menina?
- Eu morreria por Lily! – James exclamou.
- Acho que posso levá-lo também. Ninguém saberá que o senhor não é um bruxo real... – Thalma mostrou os dentes amarelados.
- Não, não o inclua nisso! – Menfis disse suplicante.
- Muito bem. Já perdi tempo demais nessa casinha imunda – Thalma olhou com desgosto para as paredes da casa - Garibaldy, Otto? – a mulher chamou.
Dois homens realmente musculosos entraram.
- Ah, caramba, estamos ferrados – Marlene sussurrou.
- Não precisa agir com brutalidade e irracionalidade, Thalma – Menfins disse.
- Quem decide isso sou eu. Então, continue mantendo a boca muito bem fechada, por favor – Thalma disse, fazendo sinal para os dois musculosos agarrarem Lily e James.
Então, foi aí que Sirius e Remus resolveram reagir com suas espadas.
- Opa, calminha, meus queridos – Thalma riu - Não estamos querendo machucá-los. Eu apenas quero a Princesa, seu amiguinho e o velho. Não há por que agirmos com as espadas.
- Se querem machucá-los, quer dizer que irão nos machucar também – Remus retrucou sem descer sua espada.
- Eu realmente não queria começar a ser má com ninguém, mas acho que não tenho escolha – ela disse, estalando os dedos.
E como por magia as espadas de Remus e Sirius caíram de seus dedos e foram parar grudadas ao chão.
Todos, até mesmo Menfins, olharam para a mulher com surpresa e horror nos olhos.
- Viram? – Thalma riu mais uma vez – Tive que recorrer à magia.
- Espere, se tu és uma bruxa como... – Remus ficou furioso.
- Sou bastante útil, garoto. O que não posso dizer de você – ela olhou para a espada brilhante de Remus jazida no assoalho.
As espadas estavam mesmo coladas ao chão.
- O que estão esperando? – a mulher olhou com fúria para os dos músculos.
- Não! Coloque-me no chão agora mesmo! – o de cabelo cor de areia moveu-se com uma rapidez incrível e logo acomodou Lily em seu ombro, onde a mesma tentava de algum modo escapar.
James também foi carregado, mas com muito mais esforço.
Menfins, no entanto, não necessitou de carregador; Thalma deu um jeito nele, quase como com magia.
O restante permaneceu imóvel na estreita salinha. Certamente Thalma também era ótima em feitiços de paralisação.
- Para onde vamos, Thalma? – Peter perguntou alegremente – Levamos a Princesa até a Vossa Alteza?
- Não. Iremos levá-la para o fogo. É o que ela merece – Thalma respondeu com nojo na voz.
- Mas... bem, achei que a Vossa Alteza queria a menina viva – Peter sussurrou.
- Que se dane o que Emmeline quer! Eu achei o velho! Sabes há quantos anos estou procurando-o? – a mulher ficou irritada.
- Acho que teremos um espetáculo muito lindo na Praça Principal... – comentou Peter cantarolando.
Calados, Thalma, Peter, e os carregadores seguiram caminho até a Praça Principal.
Lily, logicamente, gritava e soluçava. James tentava se comunicar com Lily dizendo frases como “Não se preocupe, tenho certeza de que iremos ficar bem”. Não que tivesse amenizado o estado sôfrego da Princesa.
Ainda na casinha, Sirius disse irritado:
- Uau, essa porcaria de feitiço é mesmo poderoso, hein?
O efeito da magia já tinha passado e eles tentavam se colocar em pé.
- Alguém tem algum ideia para onde os levaram? – Marlene perguntou, analisando as pernas doloridas.
- Para qualquer lugar – Sirius deu de ombros – Mas como saíram há pouco é bem improvável que estejam muito longe.
- Onde os atos de Bruxaria são organizados? – Dorcas quis saber.
- Na Praça Principal. Os mandantes sempre querem que os outros assistam à cerimônia como um alerta – Remus respondeu.
- Acham mesmo que irão matar Lily? - Marlene perguntou assustada.
- Espero que não – Remus disse, catando sua espada do chão e se movendo em direção à porta.
Saíram correndo, quase sem rumo.
Precisavam chegar a tempo.
Na Praça Principal, muitos estavam espionando o que Thalma dizia.
- Temos de nos precaver, pois muitos estão ao nosso redor. Nós claramente não podemos permitir que eles continuem a perpetuar em nossas terras! – ela dizia.
Lily estava se debatendo por entre os braços fortes de seu captor.
Então, James tentou se soltar ao máximo, e conseguiu.
Thalma logo correu para segurá-lo, mesmo sem magia.
- Tudo bem. Se queres acelerar a coisa... – Thalma sorriu maldosamente para James e olhou para Lily – Solte a menina, Otto. Deixe comigo, agora.
Lily ofegava e sentia as lágrimas banharem seu rosto.
Não podia morrer.
Não queria morrer.
Thalma, Peter, Otto e Garibaldy se afastaram.
- Tragam o garoto. Ninguém lhe disse que podia se apaixonar por uma bruxa – Thalma sorriu maleficamente.
James soube o que iria acontecer. E não podia permitir aquilo. Tinha dado a sua palavra que não deixaria nada machucar a Princesa.
Menfins e Lily ficaram no meio do pequeno palco de concreto, completamente amarrados.
Não havia como fugir.
Estavam perdidos.
- Afaste-se, menino! – Thalma exclamou, assim que James tentou se aproximar de Lily, desesperado.
James não lhe deu ouvidos. Precisava salvar Lily. Tinha jurado. Não podia perdê-la.
- Eu mandei se afastar! – Thalma gritou.
James não movimentou um só músculo. Tinha prometido fidelidade até encontrar um lugar salvo a ela. Não podia (não queria) quebrar a promessa. Sua mágoa já tinha há muito se evaporado. Talvez tivesse sumido no instante em que a vira, mesmo que de modo inconsciente. Ela, a Princesa de todo aquele Vale, de todas as montanhas e de todos os lagos que conhecia. O sentimento de posse lhe foi impelido tão drasticamente, tão facilmente. Quase como se necessitasse eternamente de sua presença cativante e envolvente.
Tinha sido ainda mais inevitável (e ele se recusava a aceitar) sentir-se completo e seguro junto a ela. Lily não era apenas a Princesa. Era muito mais. Mais até do que ela própria sequer enxergava. Era translúcida, impagável, implacável. A melhor dama que James já se envolvera até então; não pelo sangue real ou pela divindade mágica. Lily, para James, não era apenas a garota estranha que nunca tivera permissão de afrontar seus pais. Era aquela que, mesmo sob pressão e não tendo mais alternativas, ajudara-o quando mais necessitava de apoio. Seu pai, enfim, fora honrado e tal situação só foi conquistada ao lado da pessoa correta. E Lily era a pessoa correta que sempre almejou se ligar.
Os outros, enfim, chegaram. Infelizmente haviam outros homens músculos no recinto, que logo os imobilizaram.
O homem baixo e corpulento, aquele que abaixava os olhos à Thalma e que era tão rechonchudo quanto um boi velho, pegou-o. Agarrou as mãos de James e o imobilizou, quase o sufocando.
O sentimento, antes reprimido a todo custo durante aqueles dias, eclodiu por inteiro com tanta intensidade, que James achou que não fosse se agüentar em pé. Olhou fixamente para Lily, amordaçada e apresentando um ar de desafio no rosto; estava tão bem armada emocionalmente que sequer entendia os olhos de James nela. Então, enfim, notou. Viu que ali naquele mar verde e profundo existia algo desconcertante. Havia amor e... seria medo? Desespero? Sim, absolutamente.
Sorriu-lhe mínimo. Não queria que ele achasse que precisava salvá-la.
Princesas, às vezes (era raro, mas certamente já ouvira relatos), tinham que se sacrificar. Não fisicamente, com trabalho braçal, mas sim espiritualmente. Tinha que ceder ao sacrifício. Tinha que entender que se ali estava não era por menos. Notara que durante aqueles dias com James, agindo como uma fugitiva de primeira classe, pensara muito sobre sacrifício, bem maior e morte. Previsivelmente, tais pensamentos eram inevitáveis. Todas suas ações lhe remetiam a eles.
- James. Fique aí – Lily pediu em tom de voz tão gentil, que Thalma se virou para olhá-la por um instante. Para uma bruxa que estava a poucos segundos de seu desaparecimento, Lily parecia bem demais. Para Thalma, aquilo não era previsível. Irritou-se.
- É, James, fique aí. Seja obediente e deixe-a queimar de uma vez – Thalma riu com escárnio caloroso.
Então, começou a acontecer. O toco de madeira inflamado na ponta se inclinou, vagarosamente, em direção às pedras irregulares que compunham o calçamento da praça. Logo foi se encostando à madeira à volta da Princesa. A combustão parecia agir tão brusca e momentaneamente, que o palco se incendiou todo em apenas alguns segundos.
- Não! – foi tudo o que escapou da garganta de James, livrando-se, com um golpe seco, de seu caçador.
Thalma riu. James, ela constatava, estava tão impotente quanto um bebê-passarinho que caíra de seu ninho.
James correu, mas tudo o que enxergava era fogo.
Marlene, incapacitada de lutar com o homem que a segurava, chorava tão copiosamente que, apesar do barulho crepitante da massa alaranjada viva se alastrando, quase fazia eco. Dorcas fechou os olhos e inalou a fumaça que ardia em suas narinas. Remus e Sirius se debatiam, mas pouco se afrouxavam das mãos que os prendiam.
Lily parou de sorrir. A conformação cedeu lugar ao pânico.
A morte não mais lhe parecia ser uma experiência tão boa.
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N/a: oi oi, pessoal *-* então, aí está. Eu finalizei o capítulo no sábado, mas não tive tempo (com o cursinho e tal) para postar e é por isso que estou postando hoje. Desculpem pela demora. E comentem, viu? Por favor. Porque a fic está acabando... :/ Beijo beijo ;*
Nina H.
22/03/2011
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