#capítulo oito
Capítulo Oito
Ou I'm Just One Of Those Ghosts
Já estava anoitecendo. O céu se tingiu de vermelho-alaranjado no horizonte enquanto seu ápice escurecia rapidamente. Alguns pontos iluminados surgiam tímidos tentando anunciar a noite.
A tarde tinha passado rastejando vagarosa, como se não quisesse ir embora.
Dorcas tinha fervido alguns legumes e raízes para satisfação do grupo, que reclamava de fome. Remus tinha ficado ao lado de Dorcas naquele tempo inteiro, apenas apreciando seus movimentos e se deliciando com suas risadinhas. Eles tinham se afundado em conversas intermináveis sobre o povo, sobre os tempos de criança e sobre o futuro. Remus gostava de falar sobre isto. Aparentemente ele almejava amadurecer mais rápido do que seus dias permitiam. Dorcas, que nunca se importou em se tornar mulher tão cedo (apenas preferia aproveitar o que Artemis lhe destinava com gosto), não pensava muito no futuro, uma vez que já sabia o que teria de fazer pelo resto de seus anos. Seu pai era o que ela gostaria de ser. Não tinha aprendido a admirar outra profissão. Cortaria, maceraria e diluiria para sempre. E mesmo se encontrasse alguém especial, se mostraria a Dorcas de sempre. A aspirante a Boticária. Era tão simples, que ela mal podia acreditar que aquilo fosse mesmo se realizar.
Marlene, que tinha ficado tão arisca quanto um porco selvagem, passou a tarde rodeando o povoado, porque assim, ela pensava, poderia manter Sirius longe dos pensamentos. Viu James também por ali, completamente só, o que a fez pensar sobre Lily. Será que ela tinha se perdido? Será que tinha ido embora? Não, a Princesa nunca deixaria Marlene. Princesas precisavam de suas damas de companhia. Sentou-se algumas vezes na relva rala e inócua, revivendo aquele beijo com o pirata. Ela tentava, tentava mesmo, mas não conseguia abster de seus sentimentos; simplesmente não podia ignorar aquela chama quente que parecia que a qualquer momento a sufocaria.
Sirius, embora não quisesse dar o braço a torcer, enxergava algo puro em Marlene. Algo muito distinto do que via nas outras meninas com quem se envolvia. Ele nunca tinha se prendido a alguém; nunca teve ânsia por amor, ou por compaixão. Ele trabalhava sozinho e gostava de como as coisas eram. No mar, o único amor que possuía era o tesouro. O sabor de apreender bens sentimentais que não lhe pertenciam.
James tinha passado as horas, pensativo. Queria enxotar a mágoa e a raiva, mas não achava que se o fizesse melhoraria qualquer situação. Estava acostumado a andar somente com seus pensamentos, o que não possibilitava qualquer proximidade. E quando se deparou com Lily, achou que tinha encontrado alguém onde pudesse depositar sua confiança. Considerou fielmente que pudesse se ver livre da vida que levava.
Sentia raiva, primeiramente, porque achou que Lily estivesse sendo verdadeira com ele. Lily, ele tinha percebido desde o início, era humilde e alegre como ninguém; ele achava que Princesas eram desonrosas e esnobes, mas Lily mostrou-se ser muito mais do que apenas uma Princesa. Mostrou-se ser uma menina de verdade. Claro que a Princesa carregava defeitos (todos carregam, não?), mas suas qualidades suprimiam quaisquer defeitos. Lily podia ser tudo, menos amarga ou princesinha demais. Por um lado, adorava as roupas, o pó de arroz e os batons. Ela era uma menina como qualquer outra. Porém, interessava-se pelo bem-estar do povo, pelos sorrisos das crianças e pelas doenças que se alastravam em épocas diferentes pelo vilarejo. Ela não era uma cabeça-de-vento como as outras: ansiava pelo poder, mas para fazer o que tinha direito de fazer. Lily queria poder mudar as perspectivas dos velhos, queria dar mais recursos às mães, mais trabalho aos pais e futuros às crianças.
E tudo isso, James tinha visto em Lily. Ele via como Lily era uma menina de mente pura, porém esforçada.
Mas ele ainda não conseguia aceitar a nova notícia. Lily ser Princesa já era muito desconcertante na maior parte do tempo, agora ela também era bruxa?
James jamais gostou de se associar a elas. Normalmente as meninas de linhagens mágicas eram caçadas ou mantidas fora do Reino, para poupar o povo de algum mau. Nunca tinham sido bem vistas.
Por que ela não tinha dividido aquilo com ele? James achou que estavam nutrindo amizade um pelo outro. E amigos contam segredos, não contam?
Ele não entendia. E sabia que demoraria a entender aquilo.
Lily, por outro lado, sabia exatamente por que James não queria mais vê-la. E compreendia aquilo.
Não que tivesse propriamente mentido, como James a tinha acusado. Mas claramente escondeu um segredo. Mas o que a Princesa podia fazer se segredos deveriam permanecer invioláveis? Sirius a tinha obrigado a falar sobre aquilo e Lily sentiu-se retraída e pequena diante da situação. Não sabia o que a Rainha pensaria dela. Provavelmente a castigaria. É. Exilaria a Princesa em algum Reino longínquo e desabitado, assim como a Rapunzel.
Mas, bem, a Rainha não estava ali. Ela sequer sabia onde sua filha protegida estava, na verdade. Mal ela sabia que a Princesa (que tinha sido criada para uma só finalidade) estava rodeada por meninos (meninos que não tinham sido criados no castelo) e que seu segredo corria grande perigo. O que diria se soubesse que a filha tinha contado seu segredo? Aliás, o que diria se soubesse que um pirata já tinha entendido seu segredo antes de qualquer um?
Lily nunca tinha entendido aquilo. O segredo.
Não entendia por que tinha de carregar aquele segredo se nenhum mal poderia fazer (nenhum que tivesse aprendido). Seus dons eram voltados para afagar e cuidar de pessoas. Tinha o poder de acalmar quando necessário e de curar quando lhe fosse pedido.
Além daquilo, nada sabia fazer tão bem.
Sabia que estava destinada a uma coisa a qual nunca tinha gostado, entretanto era o que deveria fazer. Não por ela. Reis e Rainhas não pensavam em si. Tinha um povo a guiar. Tinha que manter os pensamentos em cada morador do Reino.
Agora, o que poderia fazer com seu dom mágico? Que futuro realmente tinha?
Ninguém sorria a uma bruxa. Isso, Lily tinha aprendido desde cedo.
Aos cinco anos, enquanto brincava com outras crianças na Praça Principal do vilarejo, machucou-se. Lembrava-se daquele tombo todos os dias porque a cicatriz não havia sumido de sua pele alva. Lembrava-se também da sensação do pedregulho penetrando sua carne. Mas, quando começou a chorar, entendeu que nada estava tão ruim. Colocou os dedos na ferida sangrenta e desejou que o corte parasse de pungir. E quando viu, só restava o sangue em seu calcanhar e a cicatriz pequenina. A princípio não entendeu, era pequena demais para sequer compreender aquilo, mas então quando completou oito anos, sua mãe lhe explicou palavra por palavra o que era capaz de fazer. No dia seguinte disse às crianças com quem brincava o que era e ninguém mais voltou a falar com ela, exceto Dorcas e Marlene, que não tinham levado a amiga à sério.
Bruxas, para elas, naquela época, só existiam nas histórias que as mães lhes contavam.
Lily, anos depois, achava que James podia também não acreditar em Menfins. Apegava-se àquilo.
James não podia deixá-la. Fazia parte de uma pequena história que tinham conquistado juntos.
Na cabana, Dorcas e Remus ainda continuavam animados.
Uma mulher gorda e com um vestido barato e muito colorido entrou.
- A festa começou, queridos! – ela disse animada.
Dorcas arregalou os olhos, frustrada.
Tinha cozinhado e se esquecido da festa.
- Ah! – Dorcas exclamou – É mesmo – olhou para Remus.
- Mas cadê os outros? – ele perguntou, quando retoricamente.
- Bem – a senhora gorda sorriu, simpática -, achem-os! A comida está sendo servida e as bebidas também.
- Com certeza, senhora – Dorcas respondeu calma.
A mulher saiu correndo para entrar nas casas dos outros.
- Onde será que Lily está, hm? – Remus perguntou, mantendo a voz baixa, tentando fazer com que Marlene não se alarmasse.
- Marlene disse que não a viu a tarde inteira, embora tenha visto James. Mas ele estava sozinho. Estranho, não? Por esses dias eles andaram tão grudados.
- Eles não foram atrás do Mago?
- Creio que sim.
Olharam obliquamente para Marlene, que mirava o pirata, que estava sentado ao lado de fora da cabana. Sirius apenas estava olhando as mulheres e as meninas de mais idade passaram.
- Nem ele nem ela apareceram. Acha que eu devo ir atrás deles? – Remus questionou com a testa tensa.
- Talvez seja melhor. Eu vou com você – ela sorriu.
Remus fez o mesmo e aproximou-se de Marlene, sentada no sofazinho.
- Iremos procurar a Princesa – ele disse.
- E James? – Marlene perguntou.
- Também. Espero que estejam juntos.
- Acho que eles discutiram. Não os vi juntos. Apenas enxerguei Lily com um senhor.
- Seria Menfins? – Remus sugeriu curioso.
- Segurava um cajado e estava rodeado de crianças. E Lily estava junto. Parecia estar amuada – Marlene informou.
Dorcas ficou preocupada e inquieta.
- Vamos – ela disse com urgência – Se ela está sem James isso é mau sinal, então.
- Acho que devemos ir junto – Marlene disse, olhando para Sirius – Poderemos encontrá-los no meio do caminho e já ir para a festança.
- E se alguém fez algo com a Princesa? – Dorcas supôs – E se o senhor com que ela estava acompanhada não era o Mago?
- Achas que pode nos levar ao lugar exato onde a viu, Marlene? – Remus perguntou.
- Não era muito longe daqui. Era perto do final do Rio.
- Muito bem. Vamos – Dorcas disse.
Saíram e se puseram na frente de Sirius.
- Você vem conosco? – Marlene perguntou com indiferença.
Sirius sorriu de lado para o comportamento de Marlene.
- Para onde vão?
- Para as colinas – Dorcas disse com dureza e sarcasmo.
- Atrás de quem? Do Bicho-Papão? – Sirius retorquiu, limpando uma das unhas.
Marlene ficou irritada. Não conseguia nem mesmo ouvi-lo falar.
- Lily e James desapareceram – ela disse.
- Muito bem, vão atrás deles – Sirius falou, fazendo gestos com os dedos para que fossem embora.
- Vai ficar aqui? – Marlene perguntou indignada.
- Não, irei para a festa – ele disse, levantando-se da terra – Vemo-nos lá, donzela – ele fez um aceno com o chapéu e começou a caminhar.
- Ah, muito bom. Para que precisamos dele mesmo? – Remus perguntou com irritação.
- James pediu para que ele viesse conosco e Lily está lhe dando proteção contra a Marinha – Marlene explicou com os lábios crispados.
- Bem, vamos, então. De nada adianta ficar aqui – Remus disse.
Começaram a caminhada leve para o Leste.
A princípio só encontravam moradores trajados corretamente para uma festa muito alegre, mas depois que passaram por muitos vestidos de algodão e de seda, homens levando crianças que corriam e velhos andando lentamente, nada mais encontravam. Nas bordas do Rio apenas restavam animais e alguns aldeões que cuidavam dos plantios dali.
Quando James viu Dorcas acenar bobamente para ele, teve vontade de perguntar sobre Lily. Mas lembrou-se que não queria saber mais dela. Ele sabia que aquilo era provavelmente muito estúpido, principalmente considerando todas as horas que ele e ela conversaram e riram juntos, mas era uma coisa que era maior do que ele. Ele não queria de fato, mas era necessário.
Não podia se associar a uma menina que mentira por tanto tempo, podia?
O grande motivo não era por Lily ser bruxa. Lily era uma menina encantadora, e James tinha consciência disso e aquilo não iria mudar sua perspectiva perante a ela. Mas não admitia ter sido enganado por uma menina. Uma menina que deveria ter morrido em suas mãos.
Como pôde ter confiado em uma Princesa?
- James! – Marlene berrou feliz.
- Oi – ele disse, apreciando a distância do grupo.
- Cadê Lily?
- Não sei. E não quero saber.
- Por quê? – Remus perguntou, franzindo a testa.
- Rá, eu sabia que você tinham brigado! – Marlene comemorou - Vocês nunca se separaram antes...
- Cadê Sirius? - James quis saber.
- Foi para a festa – Marlene respondeu com uma careta.
- Preciso conversar com ele. Ele sabia que algo que Lily não nos contou.
- E o que seria? – Dorcas perguntou.
James não estava disposto a falar, mas estava tão irado com aquela menina!
- Lily é... – engoliu em seco, olhando para as estrelas – Lily é uma coisa que, bem, nós não adoramos muito.
- Casada?
- Desonrada?
- Sem humor?
- Não – ele balançou a cabeça – Hm, bruxa.
- Por que está ofendendo a Princesa? – Marlene quis saber.
- Não estou! Menfins me disse! Lily é bruxa! – James exclamou.
- Woe, como assim? Ela nem ao menos se parece com uma! – Remus disse – E eu conheço a Princesa desde os meus sete anos! Eu saberia!
- E eu mais ainda! Trabalho para ela – Marlene disse aborrecida.
- Bem, ela mesma confirmou. Não posso lhes dizer mais nada – James deu de ombros, triste.
- Mas por Artemis! Ela contava essa história quando criança... Ela dizia que era uma bruxa, então esqueceu-se disso e apenas virou a Princesa.
James olhou-a com condolência. Não imaginava que a Princesa já era louca desde criança.
Mas ele não podia desmentir aquilo. Menfins não erraria suas confirmações.
Menfins era a pessoa mais confiável que James conhecia.
- Acho que então ela dizia a verdade – James disse.
- Mas isso é...
- Espere... Vocês se lembram da história das Deusas?
- É – James afirmou -, ela é uma possível descendente de Artemis.
- Não creio! – exclamou Marlene, colocando as mãos na boca.
- Ainda estou digerindo isso também. Até agora.
- Vocês brigaram por isso? – Dorcas perguntou.
- Por que eu fui acreditar nela?
- Mas você está dizendo que é verdade! Que ela é uma bruxa!
- Ela é. Não é a isso que estou me referindo! – James levou uma das mãos ao cabelo, furioso novamente – Eu acreditei que ela fosse uma pessoa confiável!
- Mas ela é.
- Não é!
- Era um segredo, tu não poderias cobrar-lhe nada! – Remus falou.
- Mas ela poderia me ter dito algo... – James justificou cabisbaixo.
- Tu não podes cobrar fidelidade de uma pessoa que não convive! – Remus exclamou - Digo isso por ti, porque eu a conheço – Remus emendou.
- Achei que eu e ela tínhamos, sabe, uma coisa especial – James disse.
- Vocês continuam a ter! Não é porque ela não lhe contou uma coisinha que...
- Não foi uma coisinha! Ser bruxa não é uma coisinha! – James berrou.
- Deus meu! O que você tem hoje? – Dorcas estreitou os olhos.
- Nada. Só achei que eu estivesse...
- Não me diga que você está... – Marlene sorriu.
- O quê? Em que está pensando? – James fez uma careta.
- Bem, está na cara. Eu saberia. Você gosta dela.
- Gostava – James torceu o nariz, decidido.
- Mentiroso – Marlene riu.
James que estava ficando cada vez mais irritado, levantou-se da relva seca e perguntou:
- A festa já começou?
- Aparentemente, já – Remus respondeu.
- Mas antes temos de achar a Lily. Onde você acha que ela está? – Dorcas inquiriu.
- E eu é que vou saber? – ele disse de má vontade.
- E se ela se perdeu ou se alguém tentou fazer-lhe algum mal? – Dorcas sugeriu, erguendo as sobrancelhas.
James mordeu o lábio. Não tinha pensado naquilo quando virou as costas para a Princesa.
- Eu a vi com um senhor – Marlene contou, achando que aquilo pudesse auxiliar.
- Com um senhor? – os lábios de James se inclinaram para cima. Estava sorrindo aliviado – Então ela está com Menfins.
- Mas e se não for ele?
- É ele. Deixei-os juntos – James afirmou – Vamos. Devem estar na cabana de Menfins.
- E se eles tiverem ido para a festa?
- Menfins nunca foi a fim de festas.
- E se a preferência dele tiver mudado? – Remus perguntou.
- Não mudou, tenho certeza.
E assim, seguiram para onde James achava que ainda era a casinha do Mago.
Sua casa não era muito longe de onde James tinha passado a tarde inteira, então não precisaram realmente caminhar quilômetros.
Viram que a chaminé azul exalava uma fumaça cinza-chumbo e que se ouviam vozes de lá de dentro.
Entreolharam-se e bateram.
As vozes subitamente cessaram e passos ecoaram.
Aquele lado do povoado estava tão silencioso que era possível ouvir os roncos dos porcos.
- James? – Menfins olhou desconfiado para o resto do grupo.
- Ah, oi. É... A Lily. Tu a viste? – James perguntou, tentando olhar para dentro do cômodo apertado.
- Bem... – Menfins pensou por um instante – Depende para o que a quer.
- Estamos indo para a festa, senhor – Remus respondeu.
- Oh, a festa! – o Mago exclamou – Acho que a sua amiga não está para isso.
- O quê? O que quer dizer com isso? – James apertou os olhos e tentou mais investidas contra a cabeça de Menfins, que atrapalhava sua visão.
- Não acho que esse seja o momento certo para tirá-la daqui – o senhor explicou com aquele ar amável.
- Por quê? – James perguntou para Menfins – Lily? Lily! – ele berrou.
- Shhhi. Ela está magoada com você. E não tiro as razões dela – Menfins acrescentou.
James rolou os olhos.
- Deixe-me vê-la! – ordenou o Cavaleiro.
Menfins fechou a porta e caminhou até Lily, que estava deitada, quase com uma expressão sonolenta no rosto, no sofazinho da pequena salinha.
- Querida, creio que suas companhias chegaram – Menfins falou para a Princesa.
- É o James? – ela levantou-se em um salto – Ele está atrás de mim? – levou uma das mãos nos cabelos embaraçados a fim de consertá-los um pouco.
- Você quer vê-lo? – Menfins ficou surpreso.
- Só se ele quiser me ver.
- Eles querem lhe levar até a festa.
- Ah – Lily caiu de volta no sofá, decepcionada -, mas eu não vou.
- Quer que eu diga isso a eles?
- Eles? Marlene, Dorcas, Remus e Sirius estão aí fora? Procurando por mim?
- Hm. Só têm três e mais o James. Mas, sim, estão procurando por você.
- Ah – Lily não sabia se estava feliz ou apenas decepcionada.
- Bem, farei com que todos se sentam confortáveis – Menfins prometeu e foi em direção à porte mais uma vez – Não querem entrar? Tenho uma história a contar.
- Não, nós iríamos nos encontrar com Sirius na festa – Marlene esqueceu-se da mágoa para com Sirius e disse.
- É uma história que interessa a todos. E é de suma importância.
- O sobre o Reino? – James quis saber – Ou sobre Lily de novo?
- Um pouco sobre os dois. Passado e presente irão se misturar, logo, logo.
- Agora?
- Não, mas logo – Menfis garantiu.
Todos ficaram quietos por um momento e aceitaram o convite de se meterem na pequena casa.
Viram Lily no canto da salinha. As meninas se juntaram a ela enquanto James não a olhou, preferiu ignorá-la. Lily fez o mesmo.
- Já que não irão para a festa... – Menfins começou, sentando-se na poltrona vermelha e baixa.
- Tu não nos dá outra alternativa, ou dá? – Remus ironizou.
Menfins sorriu.
- Posso começar?
- Começar o quê? – Lily perguntou desatinada.
- A contar uma história.
- Se é mais histórias sobre...
- Ela explica por que estão tão destinados a correr do Reino – o Mago disse.
- E por que estamos? – James perguntou.
- Calma, garoto... – o Mago riu – Bem, começa quando Filluna, a Deusa da Água, nasceu. Ela tinha muita inveja de Antonieta, porque esta era Deusa do Fogo. Elas eram tão antagônicas, tal como seus elementos, que até hoje as descendentes ainda estão em luta constante. Lily – ele virou-se para a menina -, você, como uma das descendentes de Artemis deveria saber. Você sabe, bem lá no íntimo, o que todos querem.
- Meu segredo – Lily respondeu.
- Não, minha querida. Não apenas isso. Todos almejam A Pedra.
- A Pedra da qual minha mãe falou?
- Ela é de suma importância. Enquanto ela estiver perto de você fará seu dom funcionar.
- Mas eu nunca a vi.
- Tenho certeza de que a Rainha fez um bom trabalho em mantê-la perto de você. Mas claro que agora você está longe demais de casa.
- Mas o castelo foi saqueado! – James lembrou.
- A Rainha deve ter levado A Pedra consigo – o Mago respondeu – Bem, voltando ao início da história... Filluna sempre quis a Pedra da irmã, porque os poderes podem ser transferidos para outra bruxa, caso ela saiba como usá-los, claro.
- E suas descendentes querem a mesma coisa, não? – Lily riu sombria.
- É, por isso presumo que quem atacou seu Reino não foram qualquer um. Foram a mando de uma das descendentes de Filluna. O nome dela é Emmeline.
- Como sabes? – Remus perguntou.
- Já me encontrei algumas vezes com ela – Menfins respondeu com um riso raso – Emmeline, há muito tempo atrás, morava no vilarejo do Reino de sua mãe, Lily.
- Elas eram amigas?
- Emmeline se engraçou com seu pai, uma época. Tentou de tudo para fazê-lo se esquecer de sua mãe, que era Princesa. Mas ele escolheu a Princesa, claro. Acabou arranjando um casamento com ela e se casaram. Mas Filluna não largou de seu pai. Até que um dia conseguiu. Trocou confissões com ele, e ele prometeu que se casaria com ela um dia. Mas então veio você.
- E eu mudei a vida dele – Lily sorriu - É isso que ele vive me dizendo.
O Mago sorriu com serenidade.
- Não é esse o ponto de vista que conheço.
- O que quer dizer com isso?
- Seu pai desejava muito Emmeline. Não por conta de ela ser uma mulher realmente atraente, mas pelo seu dom.
- Mas minha mãe também é bruxa! – Lily exclamou, não entendendo.
- Ele adora a sua mãe, isso é óbvio, mas quem ele verdadeiramente ama é a Emmeline. Ele só se casou com a sua mãe, porque ela seria Rainha.
- Mas... o meu pai não é desse jeito! Não é! – Lily gritou.
- Sempre foi assim, querida, mas você é filha, nunca que veria os defeitos dele.
- Meu pai não é um traidor!
- Não, mas é um aproveitador – Remus disse com uma risadinha.
Lily olhou-o furiosa.
- Ele a rejeitou muito quando criança. Você não deve se lembrar, claro, mas é verdade. Ele não queria uma menina ruiva. Ele achava que apenas as ruivas tinham o poder da magia.
- Ele não sabia que Emmeline era também bruxa? – James perguntou.
- Não. Emmeline nunca lhe disse nada. O dom a que me referia não era o mágico. Era o poder que ela tinha de sempre conseguir o que desejava.
- Mas meu pai sendo Rei, também carregaria esse dom!
- Não era a mesma coisa, entende. Ele não via as coisas dessa maneira. Ele não a queria de jeito algum. Mas então você cresceu e ele percebeu que de nada adiantava renunciá-la se você se tornaria uma Rainha futuramente. E foi assim que ele aprendeu a amá-la.
- Só por conta de meu poder com perante o povo? – Lily estava incrédula.
- Sim.
Lily piscou, tentando lutar com as lágrimas em fúria.
- Mentiroso! Meu pai me ama. Sempre me amou! – ela gritou.
- Lily, talvez seja verdade... – James disse, em tom indiferente – Pense. Atacaram seu Reino, você teve de fugir... seu pai nunca a buscou... talvez queira que morra aqui.
- Ele não quer! – Lily olhou para James com raiva – Cale a boca!
- Quem garante que não? – Remus perguntou.
- Vocês são... Vocês estão me confundindo! – Lily sentiu as lágrimas transbordarem, queimando seus olhos – Não tem ninguém atrás de mim! Parem de achar que essas lendas são verdadeiras.
- Se não fossem, você não seria uma bruxa – James observou com amargura.
Lily ofegou, parando de fechar os punhos.
Então deveria estar correto aquilo.
Ela era uma bruxa e estavam atrás dela. Queriam seu poder, queriam sua morte.
- Eu vou para a festa! – ela exclamou de repente, levantando-se afobada e com ódio.
- Mas Lily... – Remus tentou argumentar.
- Não sou uma das descendentes e essa festa não é em homenagem às elas? Então, essa festa é perfeita para mim – Lily disse grosseira.
Enfim, Lily saiu porta afora, deixando um rasto de perfume de rosas no ar.
- Deixem-na. Ela está surpresa. Afinal, estou mudando a história como ela a conhece – o senhor disse – Mas se quiserem ir, fiquem à vontade.
- Bem, acho que nós deveríamos nos juntar a ela, não deveríamos? Não podemos perdê-la novamente – Dorcas disse.
- É verdade – Remus concordou.
- É, e Sirius está lá sozinho – Marlene crispou os lábios.
- Muito bem. Agradeço a visita – Menfins sorriu aos jovens – James, pode me ajudar em uma coisa? – chamou.
James, que já estava a caminho da festa, voltou para dentro da cabaninha.
- Pois não, Menfins? – James sorriu com bondade.
- Vai deixá-la partir apenas por conta de um segredo não revelado? Acho isso sensato?
- Ela deveria me ter dito. Estávamos nos tornando amigos!
- Amigos, é?
- Olhe, eu fiz uma promessa a ela. Não quero quebrá-la, mas não posso meramente esquecer que Lily me traiu.
- Ela não podia. Você não vai ser criança agora, vai?
- Não me importo que ela seja bruxa. Nunca as apreciei, é verdade, mas nunca fiz mal a elas.
- Então, onde está o erro dela?
- Queria ter sabido antes. Queria que ela tivesse confiado mais em mim.
- Ela confia. E quer o melhor para você, e foi por isso que não lhe contou. Ela carrega esse segredo como um anjo carrega um pecado. Nunca irá se perdoar por ter nascido desse jeito.
- Verdade?
- Se ela pudesse ter escolhido, nasceria filha de uma camponesa, meu filho.
- Eu sei que ela não gosta de seu Sangue Real. Ela não sabe se está preparada para governar um Reino.
- E você quer ajudá-la, não?
- Gostaria – ele sorriu.
- Então vá atrás dela.
- Ela não está magoada?
- Está. Mas você sabe exatamente o que lhe dizer para ela adorá-lo ainda mais. Vá atrás dela. Antes que seja realmente tarde demais.
E antes que Menfins pudesse lhe atirar outras palavras de conselho, James já estava correndo porta afora.
Quando enfim encontrou Lily sentada perto das crianças que corriam, sorriu. Não sabia mais o que deveria fazer naquele momento.
- Oi – ela me disse, assim que me sentei ao seu lado.
- Lily...
- Está tudo bem – ela sorriu enquanto abrigava uma das mãos de James junto à sua e deitava a cabeça em seu ombro.
- Não, não está. Eu fui um egoísta. Você estava certa. Eu passei tanto tempo sozinho que deixei de saber como é cuidar verdadeiramente de alguém. E eu quero cuidar de você. Lembra? Eu lhe prometi proteção. E eu quero honrar essa promessa até o último segundo.
Lily sorriu.
- Nem se você me deixasse aqui e fosse embora eu iria me esquecer de você. Você ainda não cumpriu a sua promessa – ela gargalhou e olhou para ele.
- Eu vou cumpri-la. Juro que não a abandonarei nunca mais.
- Nunca mais é tempo demais.
- Por isso mesmo – ele disse, aconchegando-a melhor em seu colo.
- Você é um ótimo Cavaleiro. Alguém já lhe disse isso?
- Algumas pessoas. Mas nenhuma delas era uma Princesa encantadora como você.
Ambos sorriam tão felizes que não sabiam explicar.
:::
N/a: oi oi *-* Então, né. Aqui está mais um capítulo. A fic está terminando. Acho que terá mais dois capítulos e o epílogo. Quero agradecer de coração a todos que a estão acompanhando, porque eu estou mesmo me divertindo ao escrevê-la *-* E quero pedir a vocês que coloquem os dedinhos para comentar, hmm. Sei que "começo" de ano é difícil, mas poxinha, quero também comentários como todo mundo :/ Me deixem feliz, vai *-* beijo beijo :*
Nina H.
05/03/2011
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