#capítulo sete
Capítulo Sete
Ou She’s Ripping Wings Off Of Butterflies
- Não é confuso, é esquisito. Isso quer dizer que certo alguém está escondendo coisas de nós – Sirius disse, cruzando os braços, estampando um semblante de escárnio.
- Eu... não estou – Lily sussurrou, tremendo de frio sob o cobertor roxo que estava disponível na cabana.
- Eu disse que estava me referindo a você? – Sirius ergueu uma sobrancelha; Lily empalideceu – Mas isso lhe serve só pode significar uma coisa...
A Princesa olhou para os outros; ninguém tinha se alarmado tanto quanto Sirius. Quis sorrir aliviada.
- Certo, o que está acontecendo aqui? Não estou entendendo nada. O que Lily está escondendo de nós, Sirius? – Marlene perguntou, brandamente sentindo-se confusa.
Sirius, que parou de analisar com suavidade o rosto horrorizado de Lily, soltou um muxoxo e uma risadinha.
- Bem, se ela não lhe quer contar, não serei eu que a estimularei - Sirius deu de ombros, olhando para fora da pacata casinha de madeira.
- Muito bem, muito bem. Acho que a festa nos entorpeceu um pouquinho – James delatou – É melhor descansarmos – trocou um olhar com Lily e continuou a se dirigir ao grupo – Agora que temos camas e colchas, será mais fácil aliviar o que temos de ruim.
- Ficarei à espreita, caso tivermos companhia – Sirius disse, prontificando-se. Caminhou até o batente da porta, puxou uma cadeira de palha e sentou-se nela, como um guardião.
- Que tipo de companhia? – Marlene quis saber.
- O Coelhinho da Páscoa, ou o Papai Noel. Eles são bastante perigosos – o pirata lhe respondeu com sarcasmo implícito – Agora vá se deitar, antes que eles a descubram.
- Não temos camas suficientes, por isso irei dormir aqui no sofá. Espero que não tenha pulgas – Marlene apontou para o sofá estreito e bastante velho.
A Princesa e James se entreolharam novamente, preocupados. A noite estava ficando chuvosa.
Lily e Dorcas subiram para o segundo piso da casinha e se depararam com um cômodo amplo e úmido. Havia três camas precárias e mal-cheirosas, porém, Lily vendo que não tinham opções, aproveitou e se acomodou na primeira cama que viu. Tudo o que mais desejava naquela noite de chuviscos intensos era de um lugar morno e seguro para dormir em paz. E ela sabia que nunca estaria solitária, uma vez que James lhe prometera proteção.
Remus e James cochicharam em um canto para sortearem quem ficaria com a outra cama, já que as meninas deveriam dormir em uma. James preferiu fabricar uma cama de colchas coloridas ao lado da cama de Lily, e esta concordou sem mais delongas.
No andar de baixo, as coisas não ocorriam do jeito mais silencioso possível. Marlene tentava a todo custo conversar com Sirius, mas o garoto apenas se deliciava com suas tentativas fracassadas.
- Querida, é melhor parar. Seu charme não é o bastante para mim – ele lhe disse, com um ar de zombaria.
- Acha que estou tentando...? – Marlene riu enrubescida.
- Esta, está, sim – afirmei ele, rindo baixo - Muitas mulheres formosas como você tentam. Não que todas realmente consigam, porque eu sei me precaver.
- Ora! – exclamou ela – Tenho mais o que fazer do que ficar tentando lhe conquistar!
- Presumo que inicialmente esta informação seja verdadeira, mas não é exatamente o que quer que eu acredite, é?
Marlene fez uma careta.
- É o que estou tentando lhe dizer. É para acreditar em mim.
- Tão ingênua – Sirius murmurou.
Ele, então, se levantou da cadeira puída e sentou ao seu lado, no sofá. Juntou as mãos e suspirou.
- Você poderia ser especial se não tentasse se explicar o tempo todo – ele lhe falou com a voz calma.
- Eu sou especial – vociferou Marlene.
- Meninas especiais não passam o dia e a noite seguindo os passos de uma Princesa mentirosa.
- Princesa ment...? Marlene tentou repetir com selvageria, mas Sirius já a atropelava.
- Meninas realmente especiais são livres e não precisam arrumar o quarto de uma Princesa.
- Bem, é o que sou. Por quê? Isso lhe incomoda? Você não se envolveria com uma mulher do meu tipo?
- Todas fazem o meu tipo, tecnicamente... mas você. Não sei. Ainda não consigo decifrá-la.
- Então, decifre-me!
- Opa, opa – Sirius riu, colocando as palmas das mãos para fora – Cama aí, senhõrita. Eu não deixei escapar que estou interessado em você.
- Mas se estivesse...
Sirius riu.
- Se estivesse, não estaríamos conversando.
Marlene ficou quieta.
Eu poderia desejá-lo de várias formas. Mas não seria justo pedi-lo tanto – ela disse.
Sirius pôs-se ereto.
- Você está interessada em mim? – Sirius perguntou com ar de assombro.
- Por que não estaria?
Sirius apertou os olhos e fez uma careta.
- Você tem consciência do que quer, não? – ele perguntou.
- Você não me quer? – a voz de Marlene saiu aguda.
Ele fez pousar um dedo indicar nos lábios de Marlene.
- Não seria de todo uma má idéia lhe querer, senhõrita.
Dito isso, Sirius se aproximou vagarosamente de Marlene e capturou os lábios entreabertos da garota.
Na manhã seguinte, Lily foi despertada por um cutucão. Abriu os olhos desesperada e esfregou-os rapidamente.
- Hey – Sirius falou com a voz grossa.
- O que houve?
- Shiiu. Venha – ele a puxou pelo pulso, calmamente.
- O que quer? – Lily perguntou, ainda bastante sonolenta.
- Olhe, não quero forçá-la a nada, principalmente sabendo que você está me dando cobertura em relação à Marinha Espanhola, mas se você irá esconder o que saber sobre você aos seus amigos, o risco se expande a todos. Não quer ser responsável por mais assassinatos, quer? – Sirius lhe falou com a fala rápida e baixa.
- O quê? – Lily levou uma das mãos à cabeça – Por quais assassinatos fui responsável? Eu nem sei manusear uma arma!
- Sabe do que estou falando, garota – Sirius disse.
- Não, não sei! Aliás, será que pode me deixar dormir mais um pouco? Não acredito que me acordou para me acusar de coisas que nunca fui e que nunca fiz!
- Princesa, seu tempo está se esgotando. Não cabe a mim lhe dizer as ordenadas para essa batalha, mas os minutos estão se esvaindo.
- De que está falando, por Artemis?
- A senhõrita sabe. A coisa. A pedra. É o que querem. Está com você.
- Não existe pedra alguma sob a minha custódia, senhor! Além do mais, a história me nos contou não tem nada a ver comigo nem com minha família!
- Sabe que isso não é verdade – Sirius disse – Sabe, também, que se não revelar o seu segredo, será responsável pela morte de James.
- O que James tem a ver com isso?
- Bem, eu vi, okay? Eu sei como você estão... íntimos. E sei também que você não deixaria nada arriscar a vida dele.
- Não deixaria mesmo! Mas, o que isso tem a ver com...
- Tudo. Você não entende. O pai dele... e o seu pai... é uma longa história. Você precisa se livrar do segredo antes de saber da história inteira.
- Espere, você sabe por que meu pai matou o pai de James? – os olhos verdes de Lily se arregalaram.
- Sei – confirmou o outro -, mas não posso revelar isso antes de você contar a verdade a ele. Aliás, se está querendo algum tipo de relacionamento com James, deixá-lo fora de sua história não é muito simpático de sua parte.
- Eu não estou... – Lily parou ao ver a expressão sarcástica de Sirius – Tudo bem, eu acho que devo realmente dizer a verdade.
- Acha que pode se livrar do segredo?
Lily sentia-se tonta. Sirius pegou-a desprevenida e com a cabeça fraca.
A Princesa não podia se livrar do segredo. Era um segredo de família; deveria honrá-lo até a morte. E se fosse necessário morrer por ele, teria de estar disposta a fazê-lo.
- Tudo bem, dou a minha palavra. Contarei o segredo. Mas você tem que prometer deixar-me contar sozinha. Nada de historinhas introdutoras nem nada, okay?
- Não creio que dessa vez será preciso, meu amor. Eles já ouviram o prólogo da sua história ontem à noite.
- Sei. Você praticamente me expôs, foi isso o que fez! E pare de me chamar de “meu amor”. Eu sou a Princesa desse lugar! – Lily ficou enfurecida.
- Seja como queira, então – Sirius deu de ombros, sorrindo torto para Lily.
Sirius e Lily se separaram. Lily voltou a sentar-se na cama sem despertar James, que estava adormecido bem ao seu lado, no chão. Sirius foi para o primeiro andar, cuidar do sono profundo de Marlene.
A Princesa foi acordada novamente, mais tarde. Olhou para os lados, preocupada, mas então constatou que era apenas James ao seu lado, na cama.
- Oi – ela disse.
- Tu tens um sono de pedra, hein? – comentou ele rindo.
- Desculpe-me. Achei que como estávamos bem instalados deveríamos desfrutar com mais vontade da hospitalidade.
- Tens razão, mas acho que poderíamos aproveitar o povoado também. Preciso procurar o Menfis, vem comigo? – James pediu.
Lily pensou que estava terrível para sair daquela cama. Seu cabelo há muito tinha se emaranhado e seu penteado já tinha se desfeito. Mas se sairia por aí com James, pensou, não deveria ser tão ruim. Ela adorava estar em sua companhia.
Corou ao se lembrar do que Sirius tinha dito logo pela manhã sobre o “relacionamento” que tinha com James.
- Claro, só... – Lily respondeu, deixando os olhos correr pelo local.
- Ah, sim, privacidade – James levantou-se do colchão em um pulo, como se um inseto tivesse lhe picado - Marlene recebeu alguns vestidos e disponibilizou um para ti – ele apontou para a cama vazia de Dorcas.
- Oh, obrigada – Lily disse, observando James deixar o quarto úmido.
O vestido longo, cor de vinho, lembrava muito os que tinha no castelo. Como o dia estava um tanto mais fresco do que os anteriores, as mangas eram três-quartos e o tecido era bem mais grosso e aconchegante do que vestia no corpo. Animou-se com a idéia de um vestido diferente, porque não suportava mais o rosa, que lhe caía nos pés, desalinhados.
Trocou-se rapidamente, fazendo uma nota mental futura para nunca, nunquinha mesmo, dividir o quarto com outro garoto. A menos que estivesse casada com ele, claro.
Saiu do cômodo úmido e se espreitou na escada. Vozes graves chamaram a sua atenção.
- A Princesa aqui? Vocês têm certeza? – um homem corpulento com uma capa vermelha-sangue nas costas perguntou, mostrando-se muito arredio e surpreso.
- Ela está, no momento, muito ocupada, e é melhor tu não interferires – James mandou com o tom aborrecido.
- Mas se a Princesa saiu do castelo, ela corre grande perigo. Onde está o Rei? – o outro tornou a se pronunciar, levantando acusativamente seu cetro.
- Olhe aqui, Senhor do Campo, ou sei lá qual seja o teu nome – um Sirius muito furioso começou a falar bufando -, a Princesa está conosco e nada a levará de nós.
- Eu sou da Peregrinação. Eu posso ajudar a Princesa.
- Não precisamos do senhor – James disse taxativamente.
- Posso ao menos dizer à Princesa as condições de seu reino?
- Como sabes que condições o reino está?
- Vim de lá. A Peregrinação começa desde lá.
- Que maldita Peregrin... – Marlene teve vontade de berrar, mas Sirius segurou seu antebraço em sinal de aviso. Ela se calou e lançou a Sirius um olhar ferino.
- Receio que precisamos realmente ver a Princesa – outro homem, agora mais baixo, falou. Não parecia tão indefeso quanto o primeiro.
- Ninguém vai passar daqui, sinto muito – Remus avisou, levantando-se do sofá e se posicionando no pé da escada de madeira que desembocava no piso superior.
Sirius e James flanquearam os homens e foram parar ao lado de Remus, com expressões fervilhantes.
- Muito bem, acho que poderemos retornar mais tarde – o mais alto disse, como uma promessa.
- Ou talvez nunca mais – sugeriu Sirius com selvageria.
Os dois homens se retiraram com cuidado e sem fazer contato visual.
Lily, com cautela, foi descendo degrau por degrau sem chamar muito a atenção. Parou perto do final da escada e sentou-se na madeira.
- Não os reconheço – ela falou.
James se virou e piscou. A Princesa estava radiante naquele novo vestido.
- Quem, Lily? Os homens? – Dorcas perguntou com curiosidade.
- É. Não conheço nenhuma Peregrinação por estas terras. Normalmente elas se deslocam mais para o Sul.
- Acha que... eles eram impostores? – Sirius colocou uma das mãos no queixo.
- Acho que não estou muito segura – Lily opinou.
- Nós estamos fazendo o possível – James disse, mas não como quem tinha se ofendido.
- Eu sei e agradeço – Lily sorriu com gentileza.
- E se eles voltarem? – perguntou Marlene.
- Não estaremos mais aqui – a Princesa respondeu.
- O quê? – James fez, começando a se irritar – Mas você concordou em ir atrás de Menfis comigo!
- Claro que irei – Lily o tranqüilizou – Mas acho que não será muito conveniente se prolongarmos a nossa estadia por aqui. As pessoas estão se perguntando por que estou aqui.
- Claro, mas você disse a verdade.
- Muitas vezes, quando uma Princesa saia de sua toca, é abordada por muitos mal-feitores – Lily explicou.
- Sabemos – Remus disse.
- Bem, é melhor partirmos depois do meio-dia.
- Jamais! Tenho respostas a encontrar.
- James... – Lily suspirou, incapaz de se conter – Parece que é simples, mas não é.
- De que está falando, Princesa? – Remus quis saber.
Lily trocou um olhar com Sirius.
O Pirata sabia de tudo.
Ele era muito esperto, realmente.
Mas existiam coisas que apenas uma Princesa era capaz de compreender e de fazer.
- Não posso lhes dizer agora, mas... vocês saberão – a Princesa prometeu com tristeza – Vamos, James.
- Agora?
- Não era isso que queria?
- Tudo bem, então, vamos.
James e Lily saíram da casinha e se depararam com um Sol escaldante, ainda que o dia estivesse amanhecido mais frio.
- Acha que ele está por perto? – Lily perguntou.
- Menfis sempre está por perto – James garantiu.
Caminharam alguns metros enquanto James tentava se recordar se alguma trilha ou algum objeto. Nada. Simplesmente o lugar tinha mudado tanto quanto uma floresta tropical.
Ao mesmo tempo em que James e Lily estavam atrás de Menfis, Sirius e Marlene tinham também se afastado da cabana, mas para averiguar o local. Sirius dissera que estava com saudade daquele mundo e que precisava sair para pensar; Marlene, estando cada vez mais apaixonada por ele, o seguiu, como um modo de lhe dizer que estava com ele para sempre.
Andavam por um pedaço de grama verde e seca, que já tinha sido pisada por animais com casco, como bois ou cavalos. Marlene ria abobadamente de qualquer história que Sirius lhe contava, e quando pararam ao lado de um poço, Sirius lhe perguntou:
- Acha que ele realiza desejos?
- Parece muito velho para apenas servir de poço de água – Marlene disse.
- Tens alguma moeda?
- Não. Não trabalho com remuneração – Marlene riu.
Sirius se abaixou até quase cair dentro do poço.
- É.
- O que você desejaria?
- Meu navio.
- Só seu navio? – Marlene se aborreceu, ao mesmo tempo em que se decepcionou.
- Ah, e a piedade da Marinha, porque não é nada fácil ser um pirata – Sirius soltou uma risadinha.
- Você só pensa em... você? – os lábios de Marlene se crisparam.
- Em quem eu deveria pensar?
- Você... bem, você me beijou ontem – ela disse.
Sirius ergueu as sobrancelhas. Aquela menina estava achando que ele deveria pensar nela? O que ele poderia ganhar em troca? Vestidos? Porque, por Artemis, ele era um pirata. Piratas apenas precisam de mar. E de rum.
- O que quer em troca? Flores? – Sirius lhe perguntou, irônico.
- Achei... achei que você estava gostando de mim. Afinal, ninguém beija outra pessoa se não gosta um pouquinho dela – Marlene justificou.
- A senhõrita anda lendo muitos livros de Princesinha – Sirius lhe respondeu.
- Você não está...
- Apaixonado por você? – Sirius riu.
- É.
- A senhõrita é uma bela moça, não nego, mas não quero nada com você.
Marlene ficou calada. Esperava querer chorar, mas não foi essa a reação de seu corpo. Seu íntimo apenas se contorcia, magoado e ofendido.
Então, sem nem lhe avisar, a raiva guardada se expeliu. Lágrimas ardidas brotaram em seus olhos.
- Você... você é um covarde, um animal, um depravado, um aproveitador! Seu imundo! – Marlene tentava acertar algum pedaço do corpo de Sirius, mas este a repelia com extrema facilidade.
- Belas palavras – ele fez um aceno gentil - Quer dizer mais outras? – perguntou sarcástico e cínico.
- Seria indecoroso lhe dizer todas que estão em minha mente! – arquejou a garota, com desprezo - Você... eu acreditei em você!
- Bem, boa sorte da próxima vez em que se apaixonar por um pirata – ele riu, não demonstrando arrependimento - Sabe, não é, que somos todos iguais – continuou a rir, agora com mais satisfação.
- Eu... eu o odeio! Por que me beijou se não quer nada comigo?
- Bem, preciso mesmo explicar?
- Seu imundo! – Marlene berrou a última vez e saiu caminhando decidida até qualquer lugar onde Sirius não estivesse ao seu redor.
Ao mesmo tempo em que Marlene chorava correndo pronta para cair na grama, Remus e Dorcas cortavam legumes para o almoço.
- O que você acha que Lily está escondendo de nós? – Dorcas perguntou.
- A Princesa é mesmo muito misteriosa, mas todos carregam segredos. E todos são invioláveis. Quer mesmo discutir sobre isso, daminha?
Dorcas riu.
- Não sou daminha alguma. A dama aqui é a Marlene – ela disse, ainda rindo - Eu sou filha de um Boticário.
- Eu ainda me recordo. Lembra-se das vezes que saíamos para caçar raízes?
- Claro. Éramos muito pequenos, não?
- Acha que vai seguir a carreira de seu pai?
- É o que me resta. Não sei fazer outra coisa – Dorcas deu de ombros – E você? Pretende voltar para a guerra?
- Não, acho que me cansei de ficar longe das pessoas que amo.
- Seus pais? Eles ainda estão vivos?
- Estão, mas não estou me referindo bem a eles – Remus disse.
- Ah, você se apaixonou, foi? – Dorcas riu.
- É. Essas coisas são inevitáveis – ele lhe respondeu com uma risadinha sufocada.
- É alguém do povoado?
- Alguém que você bem conhece.
- Ah, Deus meu, Marlene? – Dorcas levou as mãos à boca.
- Não! – exclamou ele, horrorizado.
- Lily? Mas ela vai se casar com um Príncipe!
- Não, eu nunca me apaixonaria por uma Princesa sabendo que ela já tem um destino.
- Milady Coroline?
- Muito, muito longe – ele disse.
Eles se calaram.
- Eu sei que não sou muita coisa. E que provavelmente não valho muito, mas...
- Esqueça o assunto – Remus lhe disse.
- Não posso lhe oferecer mais do que alguns maços de ervas maceradas. Ou cicutas. Mas isso o envenenaria. E eu nunca seria capaz de lhe prejudicar.
- Agradeço o apreço – Remus disse.
Eles riram por um tempo e continuaram a fatiar. Não havia muito que falar depois daquilo.
De volta ao rumo de Lily e James, os dois aparentavam estar se divertindo na busca de Menfis. Lily, que nada conhecia do lugar, apenas acatava os comandos de James; e James, que antes entendia daquele lugar, estava mais perdido que Lily, mas fingia que os estava levando a algum lugar.
Até que ele percebeu que estava mesmo encontrando um rumo para seus pés.
Menfis, enfim, apareceu no meio de uma multidão perto da Praça Principal. Estava rodeado de crianças e segurava um livro muito velho. Poderia ser os mandamentos de Artemis.
- Menfis! – exclamou James, surpreso.
Menfis, que sempre preferiu estar isolado em sua própria cabana, agora estava se mostrando muito mais aberto ao povo.
Lily e James caminharam abrindo caminho por entre as crianças. James sorriu quando os olhos azuis do Mago se encontraram com os seus.
- Menfis – James disse, lisonjeado.
Menfis, ainda mais velho que James se recordava, franziu a testa enrugada.
- James? O pequeno James? – Menfis perguntou com a voz rouca e fraca.
- Eu sim, senhor – James garantiu, agarrando a mão de Lily para que não se separassem.
- Como voltou? A cidade ficou inutilizada mesmo depois de anos!
- Encontrei amigos – James disse.
- Oh – Menfis olhou para o rosto indecifrável de Lily e sorriso bondoso – Eu vejo isso – estendeu a mão frágil para Lily e disse: - Olá, minha querida.
Lily sorriu sem jeito.
- Oi. Sou...
- Lily. A Princesa. Até eu sei – Menfis soltou uma risada rouca.
- Oh, é verdade – Lily disse.
- Bem, andemos até minha casa. Sei que você – ele apontou para o peito de James – precisa de mim.
- Sempre preciso, senhor – James lhe respondeu.
- Como fez amizade com a Princesa, James? – Menfins lhe perguntou, sorrindo para as crianças.
Lily riu.
James lhe deixou contar essa parte da história:
- Bem, ele tentou me matar! – Lily disse rindo.
- Meu caro rapaz, tentou matar a Princesa? – Menfis ficou surpreso e insatisfeito.
- Achava que precisava – James se envergonhou.
- Não traria seu pai de volta, sabe disso – Menfis disse.
- Sabe do pai dele? – Lily perguntou surpresa.
- Sou um Mago. E você?
- E que tenho eu, senhor? – Lily mordeu o lábio.
- Já sabe manusear seu dom?
- O quê? A feminilidade dela? – James apertou os olhos e franziu a testa, confuso.
Menfis riu.
- Você é mesmo uma bela dama, mas creio que não esteja sendo sincera – o Mago disse à Lily.
Lily piscou e sentiu seu coração bater muito rápido, como se pressentisse riscos.
- O que me está escondendo, Menfis? – James retorquiu, parecendo muito preocupado.
- Ela não lhe contou por que seu pai morreu ou porque consegue acalmar as pessoas com o toque?
- Ela consegue fazer o quê? – impressionou-se James, olhando para Lily como se ela fosse uma besta selvagem.
- Minha pequena Lily. Acha que pode se esconder por mais quanto tempo?
Lily sentia as costelas doerem.
- Não, por favor. Não faça isso. Eu prometi que contaria – Lily sussurrou, desesperada.
- Contaria o quê, Lily? - James disse agressivo.
Lily se retraiu.
- James, me perdoe, por favor, mas não...
- A Princesa tem descendência mágica – Menfis resolveu contar logo.
James achou que o povoado todo tivesse se calado, porque não ouviu direito mais nada depois daquilo. As conversas pareciam ter morrido, e tudo o que enxergava eram os olhos verdes da Princesa se banharam vagarosamente de lágrimas grossas.
- Você é... uma delas? – James sussurrou.
- Minha mãe me fez prometer que nunca abriria mão de meu segredo! – Lily gritou.
- Você é uma das ta-ta-ta-ta-ta-ra-netas de Artemis? – James perguntou com os olhos arregalados.
- Ora, não pode culpá-la por ter nascido com poderes, James – Menfins lhe aconselhou, mas James já estava balançando a cabeça, em sinal muito claro de desespero.
- Então era mesmo verdade, não era? Você tem uma áurea esquisita! Uma áurea de bruxa! – James a confrontou, mas Lily estava impossibilitada emocionalmente de lutar contra as palavras dele.
- Perdoe-me – Lily pediu, chorando – Eu não quis que fosse assim!
- Você nem ao menos teve a decência de comentar isso! – James gritou.
- As coisas não são assim, pequeno James – Menfins disse.
- Mas ela poderia ter me dito! Eu era amigo dela! Eu estava dando a minha vida por ela! – James não parou de gritar, apontando o dedo furiosamente para Lily.
- James, não faça isso. Não reaja assim, por favor! – Lily disse, soluçando.
- Eu poderia ter morrido um monte de vezes por causa desse seu segredo imundo! Sua mentirosa! – James berrou, e então virou-se para o lado oposto e seguiu em frente.
- James, você precisa ouvir a outra parte da história – Menfins disse, autoritário, fazendo com que James parasse.
- Ah, é? E qual seria? Ela vira um unicórnio em noite de Lua cheia? – James bradou.
- Seu pai – o Mago lhe disse, com simplicidade – Você tem o direito de saber por que ele morreu.
James se largou na grama e enterrou a cabeça nas mãos.
- Eu odeio o Rei. Se ele não tivesse matado meu pai, eu não teria arriscado a minha vida por uma bruxa mentirosa! – James disse baixo.
Menfis se abaixou até James e também se sentou na grama. Lily, ainda muito abalada e com os olhos invadidos de lágrimas, fez o mesmo.
- Desde que Filluna desapareceu em busca de poder e de vingança, homens e mulheres de todo o Reino foram marcados para serem Guardiões das Deusas. Eles tinham como missão proteger todas as filhas das Deusas de Filluna – Menfis olhou para James com piedade – Nunca se perguntou porque quase nunca via seu pai?
- Ele era um viajante!
- Ele era um dos Guardiões. A missão dele era proteger Lily.
- Proteger a mim? – Lily arregalou os olhos.
- O quê? – James fez, perdido e com raiva – Não! Meu pai... ele acabou morto pelo Rei porque...
- Porque o Rei não queria uma filha com poderes e desclassificou qualquer Guardião que chegasse perto de Lily, pois ele acreditava que se ela não tivesse nenhum Guardião, a magia iria embora.
- Então... meu pai sempre soube também? – Lily perguntou.
- Há muito mais história por trás disso, minha querida.
- Eu não quero ouvir! – James disse – Vocês dois são dois mentirosos! Não merecem a minha atenção! – e dito isso, levantou-se da relva e se foi em direção à trilha.
Lily fez menção de segui-lo, mas o Mago a deteve.
- Deixe-o. Se ele a ama irá voltar. Ele sempre voltava – Menfins lhe disse.
- Mas e agora?
- Não gaste suas energias. Precisa descansar. James não sabe o que está fazendo ou pensando, mas uma hora seu mundo fará sentido. Não se preocupe.
Lily e Menfins, então, desandaram a caminhar vagarosamente pelo povoado, com esperanças de que o mundo fizesse sentido para todos, uma hora.
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N/a: nossa, faz mesmo tempo que não atualizo essa fic. Me desculpem, mas estive ocupada com as outras fics (: Espero que você não queriram me abandonar, embora eu esteja realmente sentindo um decaimento de comentários (mas talvez o início de aulas faça isso com as pessoas). Então, comentem, por favor. A fic está quase acabando e seria se suma importância você me dizerem o que estão achando dela (: Beijo Beijo :*
Nina H.
27/02/2011
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