Prólogo



Capítulo 1 – Prólogo – Véspera do décimo aniversário


 


        Emillie Erin McCartney era, certamente, uma garota diferente. Controlava as coisas, fazia coisas estranhas acontecerem, apesar de sua irmã, Dakota, também fazer. O que ela não gostava.


         Queria ser especial, única, original. A boa. Mas, com sua maldita gêmea, o máximo que conseguiria era ser mais uma.


         Não entendam mal, não que fossem parecidas ou algo do tipo. Mas diziam que eram gêmeas. Seus pais adotivos Adam e Shannon McCartney as pegaram no orfanato de Londres quando tinha um ano e alguma coisa.


         Ninguém sabia se eram mesmo gêmeas, mas provavelmente eram, pois foram levadas ao orfanato pela mesma pessoa, no mesmo dia. A pessoa, que usava um capuz, e só dava-se para perceber que era mulher, nada disse sobre isso. Só tinha dito: “Cuide delas, são irmãs. Nasceram no mesmo dia”.


         Então fora-se presumido que fossem gêmeas. O que não agradava Emillie.


         Elas eram muito, muito diferentes na sua opinião própria.


         Sua irmã tinha aquele sorriso meiguinho, que encantava qualquer um. Quando ficava brava mexia o nariz de porcelana, e logo já estava desencrencada. Piscava os doces olhinhos verdes esmeraldas, que fazia qualquer um sorrir. A pele porcelana delicada, como se fosse uma boneca. E os cabelos pretos como a noite, caindo em perfeitos cachos até a metade das costas. E, ainda, aquela (feia) cicatriz em forma de raio na testa, que muitos achavam que dava um charme, ela achava que iria vomitar.


         Bufou, ao pensar nisso. Sua irmã poderia ser meiga e fofa para os outros. Mas para ela, era só tosca. Uma garota tímida, alegre por qualquer coisinha idiota e tonta. Porque era isso que ela era de verdade, para Emillie Erin.


         Com certeza, ela devia ser única, não poderia haver gêmeas McCartney, somente e somente, a filha única dos casal McCartney, e seria ela.


         Afinal, ela era, certamente, a melhor.


         Tinha olhos azuis escuros e penetrantes, que diziam claramente “sou melhor”, apesar de não deixar isso transparecer a ninguém sequer. Era muito mais alta que sua irmã, que devia ser baixa para a idade. A pele com um pouco de mais cor, apesar de que Dakota Lílian tinha uma pele porcelana e não pálida doente. Os cabelos eram num castanho chocolate maravilhoso e caia como ondas até um pouco abaixo dos ombros.


         Com certeza, era muito melhor. Não era insegura, não era tímida, não era boba.


         Olhou para a cama a sua frente. Dakota dormia tranqüilamente, os ombros subindo e descendo numa leve respiração. Como isso lhe irritava.


         Como se não bastasse ter uma “irmã”, tinha que dividir o quarto. Bufou novamente, irritada. Ah, mas tinha um plano perfeito.


         Sentou-se ereta na cama, um sorriso um tanto diabólico formando-se na face, mas logo tratou de colocar uma “máscara” de doçura, enquanto cutucava, para acordar, a maldita irmã.


- Hm? – disse Dak, grogue de sono.


- Acorda, Dak – tentou não cuspir quando disse o nojento apelido de sua irmã.


- Que foi, Em? – perguntou Dakota Lílian, espreguiçando-se silenciosamente e piscando os verdes olhos.


- Vamos descer lá embaixo e ver nosso bolo de aniversário? – indagou Emillie, com falsa inocência, sorriu.


         Dak parecia apreensiva. Afinal, não iriam ver o bolo amanhã? Para quê descer agora?


          Mas assentiu, e seguiu a irmã pela casa. Elas morava, junto as seus pais adotivos, na vila Ophome, na Inglaterra. Não era uma vila realmente grande. Mais tinha outros povoados próximos, apesar de nunca irem muito além do seu próprio, com medo de perder-se. Como Ottery St. Catchpole, Winbourne ou o mais longe de todos (mesmo os outros já sendo bem longe), o povoado de Brookshire.


         A casa deles era modesta e não muito grande, possuindo somente dois andares, mas não muito extensa para os lados.


         As gêmeas desceram, em silêncio, as escadas da casa nº 8. Rapidamente, chegaram na bonita cozinha, onde tinha um tradicional chão quadriculado em preto e branco.


         Andando até a geladeira, Emillie tirou dois bolos e os depositou cuidadosamente na bancada. Ambos eram muito bonitos. Brancos de glacê enfeitados com rosas e um lindo EE no centro, e, claro, um DL noutro.


         Enquanto Dakota admirava, Emillie Erin sorriu maléficamente. Seu plano iria dar certo.


- Vamos ver como fica com as velas? – perguntou, o sorriso mal não mais no rosto.


         Dakota olhou hesitante para o bolo, como se discutisse consigo mesma se devia ou não. Era muito quieta e doce, além de observadora e esperta. Mas sua irmã era quase como a manda-chuva. Em geral, obedecia, para não criar encrencas desnecessárias.


         Mas, deveria? Emillie sabia que a irmã morria de medo do fogo, que oportunidade melhor teria? Fazendo como sempre, não contrariou a irmã, e pegou as duas velas, uma com 1 e outra com 0.


         Quando ia colocar no bolo de Emillie, está parou-lhe segurando o pulso fino e disse:


- Coloque no seu – poderia ser gentil, mas parecia quase uma ordem.


         Com cuidado, pôs as velas no seu bolo branco, e lembrou-se de repente que não saberia cobrir a evidência de que estivera ali com a irmã, mas continuou o processo.


         Um tanto trêmula de medo, passou um fósforo na bancada de mármore e este acendeu. Ficou nas pontas dos pés para ver melhor a bancada, pois esta era muito alta e ela muito baixa, mas com cuidado foi acendendo a vela.


         Emillie viu, enraivecida, a irmã conseguir acender as duas velas e sorrir orgulhosa de si mesma.


Queime, pensou.


         E, no instante seguinte, o roupão rosa de Dakota estava queimando e a mesma estava ao desespero.


- Ai, meu Deus, Dak! – gritou falsamente preocupada.


         E saiu em direção ao quintal para pegar um balde e encher de água, “o mais rápido possível”.


         Shannon e Adam, que dormiam a sono solto no andar de cima, acordaram com os gritos, agudos e desesperados. Vestiram as pressas um roupão e qual fora suas surpresas ao chegar na cozinha? Encontrar sua filha, Dakota Lílian, chorando de medo enquanto o roupão rosinha dela pegava fogo.


         Adam rapidamente tirou o roupão, e Shannon abraçou a filha desmaiada.


- Chame a emergência! – falou para o marido que foi rapidamente depois de ter apagado o fogo.


         Nesse espaço de tempo, chegou Emillie sorrindo enquanto segurava um balde cheio de água, mas o sorriso logo sumiu ao ver seus pais ali. Como fora se esquecer deles?


         Máscara de preocupação.


- Mamãe – fingiu-se a beira das lágrimas – Dak ‘tá bem? Ela não morreu?


- Não, querida – sorriu docemente para a preocupada filha – sua irmã irá ficar bem.


         Shannon não viu o rosto sombrio de Emillie Erin devido as “boas” notícias.


         Se quisesse matar a irmã, porque era isso que teria de fazer, teria de matar seus pais também.


         Mas não que isso fosse um problema.


         Sorriu diabolicamente enquanto via colocarem sua irmã, desmaiada e com algumas queimaduras, na maca e dentro da ambulância.

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