Capitulo II
Capitulo II
- Seguindo você? - Gina arregalou os olhos em total descrença. - Você é muito pretensioso, não é?
O tom provocativo fez Harry estreitar os lábios.
- Pare de disfarces, Ginevra - resmungou ele.
- Como você me encontrou?
Ela deu um gole no chá antes de responder:
- Eu sempre o considerei paranóico em marcar espaços, e agora parece que você foi um pouco além do limite. Talvez os homens de jaleco branco devam vir procurá-lo...
- Muito espirituosa... e muito evasiva.
Ela deveria saber que ele notaria. Palavras eram a profissão de Harry, a força e o talento... interpretando nuances e dando significado a cada diálogo da prosa. Ele a envolveria com palavras se Gina permitisse. Sua melhor chance era formar frases simples que não aprovavam nem desaprovavam. Ou, melhor ainda, não falar nada.
-Você, certamente, não vai dizer que foi outra coincidência que a levou à porta de minha casa - acusou ele em tom agressivo. - O que está acontecendo, Ginevra?
Um tremor de fraqueza a assolou. "Oh, se você soubesse!" Ela estudou-lhe o semblante e sentiu a familiar onda de atração física que era o motivo de sua tensão. Ainda achava surpreendente que um homem tão carismático e apaixonante tivesse reagido com tanta intensidade a ela, que era uma pessoa tão comum. Contudo, Harry sempre ditara as regras, e por um tempo Gina realmente tinha obedecido. Recuperou-se antes que começasse a mergulhar nas lembranças do passado. Não iria permitir-se cair de novo naquela armadilha! Não era mais aquela mulher... disposta a saciar os desejos alheios à custa de suas próprias necessidades e objetivos.
- O que está acontecendo é que tirei umas longas férias atrasadas - disse ela. - Trabalhei tantas horas extras nos últimos dois anos que meu chefe foi forçado a inserir uma cláusula no meu contrato que diz que tenho até o próximo mês para usar as férias, ou as perderei...
- Draco? - interrompeu ele, entendendo que o editor de Nova Zelândia estava envolvido. Seus olhos demonstravam fúria, como se tivesse sido traído. - A Enright mandou você me encontrar?
- Ninguém me mandou encontrá-lo. Draco não tem idéia de onde estou - insistiu ela, falando a verdade. Sua reputação era de uma funcionária dedicada, com quem todos podiam contar a qualquer hora. A decisão abrupta de tirar as férias acumuladas não tinha sido bem recebida, e menos ainda quando rejeitara a oferta de Draco de um bônus compensatório se ela sacrificasse o período de descanso. A Enright Mídia era uma empresa séria e exigiria que alguém assumisse as responsabilidades de Gina enquanto estivesse fora, mas, como pesquisadora, ela conhecia seus direitos, e finalmente obrigara o chefe a lhe conceder férias. - Já lhe disse, estou de férias. É quando pessoas normais tiram alguns dias para descansar, viajar ou refugiar-se em alguma praia.
- E você espera que eu acredite que, com tantas praias do mundo, você escolheu esta por acaso? -perguntou ele, a voz repleta de sarcasmo.
A paráfrase da famosa linha de Casablanca atingiu um ponto doloroso. Tinha sido a habilidade de Gina em reconhecer conotações de velhos filmes e clássicos obscuros que capturara a atenção de Harry dois anos atrás, quando se conheceram numa festa, em um dos lançamentos de Draco. Eles tinham passado a primeira parte da noite discutindo livros e assuntos intelectuais, o forte senso de competitividade de Harry desafiado pela memória fenomenal de Gina. A provocação hostil dos dois aumentara no decorrer da noite, e Gina surpreendera a todos, inclusive a si mesma, partindo da festa nos braços dele.
- Coincidências acontecem - comentou ela, relaxando deliberadamente contra a bancada e bebendo um pouco do chá.
O rosto bonito de Harry demonstrava agora contentamento.
- Se eu tentasse usar esse velho clichê em meus livros, não sairiam das prateleiras.
- Motivo pelo qual dizem que a verdade é mais estranha que a ficção - respondeu ela, olhando-o por cima da borda da xícara. Por um momento, observando a expressão frustrada dele, quase se sentiu no controle da situação. Tinha consciência da violência contida na natureza de Harry, mas, apesar de todo aquele físico forte, nunca se sentira ameaçada pela força dele. Com 33 anos, Harry possuía maturidade e experiência para lidar com suas fraquezas. Sempre que se descontrolava, era com palavras inteligentes, nunca com os músculos.
- A estranha verdade. Menos de quatro semanas depois de eu deixar Auckland, você "por acaso" escolheu Oyster Beach para umas férias repentinas e "por acaso" alugou uma casa vizinha à minha?
- Eu, geralmente, não me incomodo em verificar quem são os donos das propriedades vizinhas quando saio de férias, nem me certifico que não vou invadir-lhes a preciosa privacidade - replicou ela com o mesmo tom irônico.
- Então, como você sabe que eu sou o dono?
- Considerando seus hábitos de isolamento e horários irregulares para escrever, duvido que se sentiria confortável trabalhando em qualquer lugar que não fosse seu próprio espaço - disse ela. - Um lugar de onde possa sair e voltar sem ser notado. Além disso, não há muitas opções de aluguel se você quisesse uma casa na praia... ou pelo menos foi o que o corretor de imóveis me informou.
- E como você achou esta casa? - Ele apontou com o queixo, indicando ao redor. - Na Internet? Anúncio de jornal?
Gina quase concordou antes de perceber a armadilha em potencial. Pelo que sabia, o aluguel nunca fora anunciado.
- Por acaso - ela sorriu. - Li numa revista um artigo sobre algumas pessoas que acampavam em Oyster Beach no Natal, e então me informei. Sou pesquisadora, você sabe.
Harry comprimiu o maxilar.
- E uma boa atriz, também. Você nem pareceu surpresa quando eu abri a porta, como se estivesse esperando me ver. Entretanto, fingiu não me reconhecer.
- Fiquei surpresa - disse ela.
- Então, você continuou com seu discurso alegre, como se nunca tivesse me visto antes, em vez de falar com o homem com quem dormiu nos últimos dois anos.
Gina enrubesceu.
- Nós nunca realmente dormimos juntos - ela o corrigiu com uma exatidão que teria deixado sua mãe orgulhosa. - E na estranha circunstância, pensei que você preferiria que eu não mencionasse nosso relacionamento...
- Mencionasse? - ecoou ele, incrédulo. - Sou tão insensível assim?
- Francamente, é - replicou ela. - Você deixou muito claro desde o começo que havia situações e assuntos estritamente proibidos entre nós...
- Pensei que tivesse sido um acordo mútuo - interrompeu ele rudemente. — Somos duas pessoas independentes, e se bem me recordo, era você quem não gostava da idéia de dormirmos juntos. Nunca quis ficar em meu quarto de hotel, e jamais me convidou para passar a noite em sua casa...
Pondo uma das mãos para trás, Gina cerrou o punho a fim de tentar controlar a decepção que sentia. Harry achava que ela não tinha consciência dos sinais conflitantes que ele lhe dera naquelas primeiras semanas? A paixão que os pegara de surpresa e os levara a um relacionamento indevido? Harry estivera, na época, no intervalo entre os seus livros, aproveitando sua liberdade, e Gina acreditou que quando ele retornasse ao ciclo criativo, perderia o interesse por ela. Não possuindo experiência em romances casuais, tentou absorver os sinais que ele lhe dava. Tinha visto como Harry fugia de mulheres muito românticas. Notara que, embora ele tivesse muitos conhecidos, possuía poucos amigos verdadeiros. Era rápido para encantar, mas lento para confiar, portanto, ela tomara muito cuidado para nunca invadir-lhe o espaço, ou exigir mais do que ele estava preparado para dar. A recompensa de sua atitude tinha sido manter o interesse de Harry Potter por mais tempo do que o usual e estender a relação. O preço de amá-lo, Gina descobrira, era não amá-lo.
Agora, reprimiu as palavras de protesto que queria dizer.
- Estamos fugindo da questão principal.
- E qual seria essa questão? - Ele inclinou a cabeça. - Oh, sim, certo, o fato de você fingir que não me conhecia.
- Tive medo que você pensasse que eu o segui até aqui, e me acusasse por isso! Afinal, você jamais diria: "Olá, Gina, que bom ver você. O que faz por aqui?" Sua obsessão paranóica precisa construir uma teoria conspiratória centrada apenas em você.
Raiva surgiu nos olhos dele quando percebeu que ela o estava manobrando.
- Foi isso que você quis dizer com "estranha circunstância"?
Ela hesitou e certa compreensão cobriu o semblante de Harry.
- Ah... Suponho que foi uma referência pelo fato de eu estar com Melissa.
Gina censurou-se por dar-lhe a oportunidade de torturá-la com mais dúvidas pessoais. Não ia demonstrar nenhum interesse na companhia seminua de Harry.
Ergueu o queixo e meneou a cabeça.
- Eu me referia ao fato de que sei o quanto você detesta ser interrompido quando está escrevendo. -"Exceto pela misteriosa Melissa", pensou Gina. - Mas se ninguém sabe onde você está, não entendo como as pessoas podem saber que lugares evitar. Talvez, se você fizesse menos segredo de seu paradeiro, descobriria que as pessoas na verdade não querem encontrá-lo.
- Se você quer me evitar, Ginevra, há uma solução simples. Faça as malas e vá passar suas férias em outro lugar. Se eles não reembolsarem o aluguel, eu o faço. Até mesmo lhe pagaria um hotel cinco estrelas em algum outro lugar.
Qualquer lugar, exceto ali... Ele, realmente, estava ansioso para livrar-se dela! Gina sorriu.
- Obrigada, mas nunca aceitei presentes caros de você antes, e não pretendo começar agora. Já me instalei e estou satisfeita com a escolha - murmurou ela, sabendo que suas malas e sacolas estavam escondidas atrás da porta do armário do quarto, onde as colocara antes de ir encontrá-lo. Aproximou-se da mesa para se sentar segurando a xícara de chá, indicando que estava despreocupada com a presença dele.
- Estou adorando a idéia de sair de casa e pisar direto na areia, todos os dias.
- Você é uma garota de cidade - apontou Harry.
- Logo vai ficar entediada. Não terá o que fazer se a temperatura diminuir. Aqui não há lojas, cafés ou restaurantes...
- Felizmente, eu trouxe meu próprio cérebro - disse ela friamente. - Um acessório essencial para mulheres solteiras modernas. Tenho certeza que encontrarei um meio de me divertir. E duvido que o resto da comunidade local seja tão reservada quanto você. Talvez eu conheça um bonito pescador que se ofereça para me mostrar os pontos turísticos - acrescentou de maneira impertinente.
Um músculo moveu-se no maxilar de Harry. Olhando para a xícara de Gina, arqueou as sobrancelhas.
- Isso é chá? Pensei que você tivesse dito que ia fazer café.
Gina criticou-se por ter sido pega em outra mentira.
- Mudei de idéia.
- Eu não sabia que você tomava chá.
- Há muita coisa que você não sabe sobre mim -afirmou ela.
- É o que parece. - Ele a estudou por um momento. - Bem, já que eu lhe trouxe o açúcar, talvez você pudesse me oferecer uma xícara de chá.
Gina estava atônita.
- Perdão?
- Mas não de chá. Prefiro café. - Ele começou a andar pela cozinha. - Onde estão os grãos de café? - Abriu a geladeira para inspecionar as prateleiras. -Nossa, isso tudo parece insuportavelmente saudável. Onde estão os queijos gordurosos que você adora? E não tem vinho ou chocolate. Ameixas secas? Quem leva ameixas secas para as férias? Não me diga que você está fazendo uma daquelas dietas que sua mãe sempre sugere. - Harry fechou a geladeira e dirigiu-se à dispensa.
- Você se importa? - Gina chegou primeiro e pegou o pequeno pote de café, pressionando-o contra o peito dele, antes que Harry pudesse ver o outro pote,ja cheio de açúcar, na prateleira. Fechou o armário e; cruzou os braços.
- Café instantâneo? - murmurou ele, olhando para: o pote nas mãos. - E quanto aos grãos frescos?
- É tudo que tenho. É pegar ou largar - disse ela secamente. Em sua casa, Gina sempre se certificava de ter os grãos que ele gostava.
- O que é isso? Descafeinado? - Ele leu o rótulo, parecendo totalmente ultrajado.
- Não faz mal para o estômago.
- O café é feito para deixar uma pessoa mais ativa. Isso é parte de alguma dieta? Alguma forma de terapia de aversão?
- E parece estar funcionando até agora - murmurou ela, olhando-o com expressão desgostosa.
Harry meneou a cabeça. Como um homem que escrevia livros tão excitantes e carregados de emoção podia ser tão tolo e insensível? Gina sentia que estava perdendo seu autocontrole. Em seguida, ele iria querer que ela convidasse a loira Melissa para tomar um drinque!
- Então, presumo que você não vai ficar para esse café, afinal - disse ela, voltando a sentar-se à mesa.
Ainda fitando-a, ele abriu a tampa do pote e inalou o aroma, torcendo o nariz.
- Suponho que seu chá também seja descafeinado. - Gina curvou os dedos ao redor da xícara.
- Não, mas não fiz um pote de chá. Usei um sachê comum.
- Nesse caso, o chá terá de servir.
Ela o observou pegar uma xícara em uma das prateleiras e depois um sachê de chá da caixa aberta sobre o balcão.
- Fique à vontade - zombou Gina, enquanto ele colocava a chaleira no fofo.
- Obrigado. Eu estou. - Harry preparou o chá e sua fisionomia era divertida agora. O que o fizera mudar de humor tão de repente?
Gina desejou que não tivesse deixado tão óbvio que o queria longe dali, pois agora, aparentemente, ele queria puni-la, demorando-se em sua casa.
- Tem alguns biscoitos? - perguntou ele, pegando uma colher de chá na gaveta.
- Não. Pensei que você estivesse ansioso para voltar para... - Ela parou quando Harry sentou-se à sua frente, as longas pernas roçando as suas por baixo da mesa, provocando um tremor no corpo de Gina que rapidamente cruzou as pernas e recostou-se, de modo que ficasse longe do alcance dos toques provocativos.
- De volta para Melissa? - ele completou a frase, enquanto adoçava o chá.
Mais uma vez, Gina teve de se controlar para não reagir.
- Para seu trabalho - respondeu. - Sei que você tem prazos para cumprir.
- Foi isso que Draco lhe disse?
- Desculpe-me, não falo de trabalho quando estou de férias - replicou ela. Deixaria que Harry pensasse que estava lá a mando de alguém. Na verdade, aquilo tiraria o foco sobre ela, e estava perto da verdade o suficiente para não lhe causar culpa.
Ele provou o chá.
- Então, sobre o que vamos conversar? - murmurou naquela voz profunda que invadia os sonhos de Gina.
Ela baixou os olhos para esconder a intensa emoção.
- Sobre o que nós geralmente conversamos?
- Tudo.
E nada... Eles nunca falavam do tipo descompromissado do relacionamento que mantinham. As semanas apaixonadas juntos, seguidas por meses de separação, com pouco ou nenhum contato. Numa conspiração mútua de silêncio, podiam conversar sobre a situação no mundo, mas nunca sobre os próprios sentimentos.
O único lugar onde se comunicavam verdadeiramente era na cama, onde ações falavam mais alto do que palavras, e seus corpos sintonizavam-se com perfeição. Harry era um amante perfeito, e Gina extasiava-se nos braços dele, o que a ajudava a suportar os longos períodos de solidão e espera.
Tudo que ansiava dizer-lhe estava subitamente estancado, escondido por um muro de ressentimento. Ele não queria realmente conversar, apenas desejava que Gina respondesse às suas perguntas... perguntas que ela não tinha respostas para si mesma.
- Estamos tendo um clima bom para esta época do ano - comentou ela.
- Verdade. E você, obviamente, está aproveitando - concordou Harry, olhando para os ombros delicados expostos pelo vestido de verão de alças finas.
Gina, de repente, percebeu seus seios comprimidos sob o tecido de algodão. Nunca tinha usado roupas casuais na presença de Harry, por saber que era seu estilo clássico e elegante que agradava ao gosto sofisticado dele.
Ela prendeu a respiração quando o olhar de Harry desceu para sua pele pálida revelada pelo decote do vestido. Também costumava usar sutiã toda vez que estava em sua companhia, preferindo a proteção da renda para realçar suas curvas bem-feitas. Não usava aquele vestido desde o último verão e agora se sentia desprotegida, quase nua sob o insistente olhar de Harry.
Ele estaria fazendo comparações... ou pensando que ela havia se descuidado ultimamente? Tal pensamento a incomodou, e só então percebeu que ainda estava prendendo a respiração e exalou o ar com alívio, respirando fundo em seguida, o que a deixou ainda mais consciente de si mesma quando sentiu o movimento do peito.
Não era apenas com o vestido que não se sentia mais confortável, mas também com sua pele, perturbou-se. E se ele ousasse perguntar se ela engordara desde a última vez que a vira, iria receber uma xícara de chá quente no rosto!
Talvez Harry tivesse sentido seu impulso violento, porque se recostou na cadeira com um sorriso preguiçoso, dando um longo gole no chá antes de descansar a xícara sobre o peito.
- Cores vibrantes combinam com você neste cenário. Este vestido a faz parecer... - ele fez uma pausa sugestiva e Kate se deixou enganar.
- O quê?
- Uma jovem frívola procurando problemas.
- Eu nunca fui frívola - defendeu-se ela, ofendida. Harry combinou a ofensa com um sorriso zombeteiro.
- Desculpe-me. Talvez eu devesse ter dito "despreocupada".
- E não estou procurando problemas - acrescentou Gina, com menos sinceridade.
- Não? E quanto ao seu pescador bonito?
- O quê? - Ela levou um momento para lembrar de seu próprio comentário. - Aquilo foi brincadeira.
-Foi?
A resposta cínica a fez aumentar o tom de voz.
-Você sabe que foi!
- Sei? -Ele inclinou-se sobre a mesa, o divertimento abandonando seu semblante. - Porque não existe motivo para que você não experimente. Nunca prometemos total fidelidade um ao outro, certo, Gina?
O coração dela disparou. Experimentar? O que ele estava pretendendo?
- Nunca prometemos nada um ao outro - murmurou ela. - Mas acho que, pelo menos, devemos um ao outro respeito e consideração.
- Você quer dizer que devemos ser discretos sobre nossas indiscrições? - sugeriu ele, os olhos escuros fixos no rosto de Gina .-Pensei que eu estivesse num pequeno "esconderijo" aconchegante, longe do tumulto da multidão... Quanto mais cuidadoso um homem pode ser?
Harry sabia bem como transformar uma frase agressiva num comentário poético, mas Gina estava acostumada com aqueles jogos verbais. Reprimiu a apreensão e tentou entender onde ele queria chegar, porque tinha de haver um motivo. Harry era brutalmente honesto, mas raramente cruel... e nunca em relação a Gina. Todavia, ela jamais violara as regras não escritas do relacionamento de ambos...
Era quase como se ele quisesse que ela ficasse furiosa, que discutisse como uma esposa ciumenta e insistisse em ser a única mulher da vida dele. Ah, sim, isso lhe daria a desculpa perfeita para dispensá-la, para acabar com o envolvimento deles antes que se transformasse em algo mais sério.
- Você poderia experimentar longe da costa - aconselhou ela, visualizando-o no fundo da baía com uma âncora pendurada no pescoço. A satisfatória imagem mental a fez sorrir.
Ele largou a xícara e se levantou. Gina pôde perceber que sua calma forçada estava surtindo o efeito desejado.
- Você não vai acabar de tomar o seu chá?
Ele a encarou, o semblante revelando frustração.
- Não, obrigado. Melissa está me esperando.
"Com ou sem o robe?”, Gina imaginou.
-Certo. É melhor você correr para casa, então.
Não vai querer que ela pense que você está aqui procurando um estudo alternativo.
Os olhos verdes faiscaram.
- É lógico - continuou ela - que você já deve ter deixado claro que Melissa não é única ou a mais importante na sua vida. É sempre melhor deixar as coisas bem definidas desde o princípio, não é, Harry?
Os músculos do rosto de Harry se contraíram.
-Nós concordamos, desde o começo, que não queríamos cenas emocionais...
- Não sou eu quem está fazendo uma grande cena - interrompeu Gina antes que ele dissesse alguma coisa irrevogável. Então, se levantou e foi lavar as xícaras, falando com ele por sobre o ombro. - Eu só pedi um pouco de açúcar, lembra-se? Foi você quem veio aqui com suspeitas tolas, fazendo todos os tipos de alegações dramáticas. Você devia se acalmar, Harry, e parar de fazer um drama disso. Em vez de gastar tanta energia se preocupando com o que estou fazendo, vá viver sua própria vida. Seremos vizinhos por um mês, isso é tudo. Ficarei quieta e serei discreta... você mal vai notar que estou por perto. - Ela fez uma pausa. - E se não se importa de deixar o resto do açúcar aqui, acho que vou fazer panquecas para o jantar!
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N/A: Mais um capitulo, desculpem a demora mas foram corridos estes dias!
Obrigado em especial para Bruna que deu o primeiro comentário na fics!
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