Capitulo I



Capitulo I:


 


- O que você quer?


Ginevra Weasley manteve o sorriso educado nos lábios quando confrontou o homem que abriu a porta com evidente impaciência, irritado.


Parado ali, ele parecia assustadoramente alto, os ombros largos e os músculos do peito delineados pela camiseta cinza bastante usada, o jeans surrado cobrin­do as longas e musculosas pernas. Os cabelos curtos e negros estavam desalinhados, como se ele tives­se, propositalmente, criado aquele efeito com as mãos. O rosto muito bronzeado revelava hostilidade.


Apesar do óbvio mau humor, o homem era devas­tadoramente bonito, e parecia mais um atleta profis­sional do que um autor de best-sellers, que passava grande parte do tempo sentado a uma mesa de com­putador.


- Perdoe-me perturbá-lo, mas será que você pode­ria me emprestar um pouco de açúcar? - disse ela, erguendo uma xícara vazia e vendo a expressão as­sustada dele se transformar em cautela. E Gina então ficou subitamente feliz por estar usando um vestido casual de verão, e não estar vestida com a elegância que era sua marca na cidade. A última coisa que desejava era dar a impressão que queria impressioná-lo. Nem mesmo se incomodara com a maquiagem. Afinal, estava agora oficialmente de férias.


- Acabei de me mudar para a casa vizinha - expli­cou Gina, apontando para a casa em frente à praia, do lado oposto da cerca viva... um pequeno bangalô antigo, o qual parecia insignificante perto dos sobra­dos modernos ao redor.


- Aluguei a casa por um mês, e pensei que tivesse trazido tudo o que precisava, mas quando fui fazer café, percebi que tinha esquecido uma das coisas básicas - continuou ela. - Sei que há um mercado há alguns quilômetros daqui, mas... Acabei de passar quatro horas dirigindo desde Auckland, e preferia evitar sair por um tempo. Ficaria grata se você me emprestasse um pouco de açúcar até amanhã. E, é claro, eu lhe recompensarei a gentileza. - Ela mante­ve a voz firme, desejando parecer muito mais contro­lada do que estava. Embora fosse apenas um pouco mais alta do que a média, as curvas esbeltas, a ele­gante estrutura óssea e as feições altivas que Gina tinha herdado da mãe ajudavam a preservar um ar de sofisticação e graça, independentemente de seu conflito interior. Para sua mãe, não importava se a sere­nidade fosse apenas superficial. Fortes emoções arruinavam o processo de pensamento lógico, e, conseqüentemente, deviam ser desencorajadas. Advogada criminal ambiciosa, determinada a ser a mulher mais jovem indicada para o Tribunal da Nova Zelândia, Molly Prewett  desejara que a filha seguisse seus passos, mas Gina havia provado ser uma séria decepção em todos os sentidos. Uma criança gentil e imaginativa, estudara arduamente na escola para obter apenas re­sultados médios, e não conseguira suas credenciais acadêmicas nem tivera o desejo de competir com a mãe brilhante e perfeccionista. Numa rebelião silen­ciosa, escolhera seguir uma carreira totalmente dis­tinta, que se provou, contra todas as expectativas, bem-sucedida e satisfatória.


Todavia, em momentos como este, sentia-se grata pelas lições que aprendera quando criança no que dizia respeito à rejeição. Tais lições haviam construído sua independência emocional, equipando-a para en­frentar críticas e desaprovação com uma calma que frustrava seus oponentes.


Agora que a surpresa inicial tinha passado, os lindos olhos verdes esmeraldas estudavam Gina com desconfiança.


Ninguém deveria saber onde Harry Potter se escondia para escrever seus romances de grande su­cesso. Quando não estava escrevendo, vivia a maior parte do tempo em hotéis... festejando, gerando toda a publicidade para que seu editor agendasse entrevis­tas, noites de autógrafos e eventos... ostensivamente apreciando seu estilo de vida patético. Mas, entre os momentos de hiperatividade pública, havia intervalos de total anonimato. De vez em quando, ele desapare­cia por períodos que variava de algumas semanas a diversos meses, e cada ano surgia um novo livro nas prateleiras para encantar os fãs e confundir os críticos.


Para frustração de Gina, muitas das informações dis­poníveis sobre ele eram falsas. Até mesmo o editor de Harry Potter alegava não saber onde ficava seu esconderijo na Nova Zelândia. Foi preciso muita determinação, perspicácia e uma sorte inacreditável para finalmente encontrá-lo na tranqüila comunidade de pesca de Oyster Beach, escondida na costa leste da península Coromandel.


Gina ergueu as sobrancelhas delicadas, juntamen­te com a xícara, demonstrando que ainda esperava por uma resposta. Mas quando ele parecia prestes a que­brar o silêncio, uma voz feminina surgiu do imenso hall atrás dele:


- Quem é, querido?


Gina mal teve tempo de ver a morena alta, vestida num robe branco curto, antes que a grande figura masculina se virasse, bloqueando-lhe a visão com seus ombros largos.


- Ninguém. - Enquanto falava, ele fechou a porta com o salto da bota, deixando Gina piscando para os painéis de madeira.


Por um momento, ficou parada ali, atônita por ter sido insultada daquela forma.


Então, forçou-se a andar, o estômago se revolven­do.


"Supere isso. Mova-se."


Tinha feito o que fora fazer. Dera o primeiro tiro em sua guerra particular. Havia um velho ditado que dizia que um homem surpreendido estava metade golpeado, então, se isso fosse verdade, estava no caminho para o sucesso. Mas agora que já usara o elemento surpresa, necessitava redefinir sua defesa.


Atravessar os poucos metros do gramado arenoso entre o deque atrás da casa de Harry e a praia pública parecia levar uma eternidade, mas Gina continuou andando sem pressa, ciente das janelas coloridas que rodeavam os fundos da casa, tanto no piso inferior quanto no superior, oferecendo aos ocupantes uma vista da praia de três quilômetros.


Eles estariam assistindo sua retirada, ou já tinham voltado ao que estavam fazendo antes da interrupção inesperada? O desejo de olhar para trás era quase in-controlável, e Gina precisou de muita força de vontade para continuar fingindo um ar de indiferença.


Quando alcançou a beira da praia, uma brisa leve desmanchou seu cabelo castanho-claro, e algumas mechas longas se enrolaram ao redor do pescoço elegante. Ela parou para colocar os cabelos para trás, agradecida ao ar fresco que batia em sua nuca, que parecia queimar. Seus olhos azuis se estreitaram con­tra os raios de sol do fim da tarde, enquanto tentava respirar fundo, para aliviar o aperto que sentia no peito. Barcos ancorados na baía balançavam suave­mente. Embora estivesse um esplêndido dia de pri­mavera, a estreita faixa da praia estava vazia.


Oyster Beach fora descoberta há pouco tempo, e desde então era considerada uma praia da moda. Com Auckland a apenas algumas horas de distância, a praia era divulgada como o último refúgio não poluído para habitantes fatigados da cidade. Grandes propriedades com suítes e garagens duplas, e novas construções surgiam a cada dia, enquanto as pequenas casas nos morros eram demolidas.


No momento, a população permanente não passa­va de algumas centenas de pessoas, mas esse número subia para mais de mil na época entre o Natal e o Ano-novo, no período das férias escolares. Como ainda estavam no mês de novembro, época de exames do ensino médio e universidades na Nova Zelândia, Gina conseguira acomodação. Se tivesse demorado mais algumas semanas para viajar, teria tido poucas chances de achar algum local para alugar em Oyster Beach, muito menos uma casa vizinha à sua "presa". Mesmo a área de acampamento era reservada com vários meses de antecedência, na época do verão.


Em qualquer outro momento, Gina poderia ter fica­do inclinada a parar para absorver a tranqüilidade do cenário à sua frente, mas, naquele instante, tudo que queria era chegar ao santuário de seu lar temporário.


Prosseguiu a pequena caminhada, percebendo que suas pernas estavam trêmulas, e suspirou aliviada quando chegou em casa. Movendo-se um pouco mais rápido agora, entrou na varanda e passou pela porta de vaivém que tinha deixado aberta para que o ar refrescasse a casa.


- Graças a Deus cheguei - murmurou, os dedos apertados ao redor da xícara, enquanto revivia os momentos de horror e humilhação quando a porta fora fechada "em seu rosto". Ficara tentada a jurar que nunca mais falaria com ele, mas era uma mulher de 27 anos, madura, não uma adolescente rebelde. Tinha perguntas a fazer e uma responsabilidade a defender, e como sua mãe gostava tanto de dizer, o fracasso não era uma opção viável!


Gina pôs a xícara sobre a mesa da cozinha e fle­xionou os dedos. Para falar a verdade, o que ela es­perava? Harry Potter possuía a reputação de dispen­sar as pessoas que o importunavam, e ela o abordara como uma fã afoita ou uma paparazza inconveniente. Considerando os hábitos de trabalho solitário dele, pelo menos agora ela havia confirmado que estava no lugar certo e na hora certa.


Enquanto economizava dinheiro para as férias, tinha agido muito mais por instinto do que baseada em fatos, embora seus instintos não a tivessem avisa­do que encontraria uma morena misteriosa, ou um escri­tor zangado. Ingenuamente, acreditara no mito de que Harry criava seus romances em total isolamento.


No entanto, era daquilo que tinha ido atrás, não era? Separar o homem do mito? Explorar a verdadei­ra personalidade dele, não apenas o que o grande escritor queria que as pessoas vissem. Mesmo isso sendo verdade, era difícil digerir.


Precisava controlar-se e não tirar conclusões preci­pitadas. Talvez a mulher fosse da família e o estives­se visitando. Ela meneou a cabeça, em dúvida. Pelo que sabia, Harry Potter não tinha parentes vivos.


O nervosismo que vinha contendo o dia inteiro de repente revolveu-lhe o estômago, dando-lhe apenas tempo suficiente de chegar ao banheiro, antes de vomitar a porção de salada que tinha se obrigado a comer em um restaurante de estrada durante a viagem de carro. Enganou-se ao pensar que a salada acalmaria sua difícil digestão!


Gina lavou a boca e o rosto, depois olhou-se no espelho. Sem maquiagem para realçar seus olhos catanhos-mel e a boca estreita, teria parecido pálida e desinteressante, mas o velho espelho acima da pia a confortou. Uma das poucas coisas boas que tinha herdado de seu pai irresponsável e ausente fora o tom de pele dourado, que só precisava de pouca exposição ao sol para se transtornar num bonito bron­zeado. A Nova Zelândia estava tendo uma primavera quente, e os meteorologistas previam mais sol e calor para as próximas semanas. Portanto, se aquelas férias se tornassem desastrosas, pelo menos poderia retornar para casa com um bronzeado que causaria inveja aos amigos que moravam com ela, pensou com ironia.


Enquanto ajeitava os cabelos com as mãos, disse a si mesma que aceitava o fato de não ser tão linda como sua mãe, ruiva e espetacular, mas possuía feições simétricas e delicadas, e alguns homens achavam a cor incomum de seus olhos bastante atraente. O sor­riso era sua arma secreta, o qual, quando espontâneo, transmitia um entusiasmo que encantava a todos. E ela sorriu, a fim de tentar levantar o ânimo. "Se você parecer confiante, vai agir de modo confiante", era mais um dos ditados favoritos de sua mãe, juntamen­te com a crença agressiva de "Não fique zangada, vingue-se!".


Sentindo-se melhor, Gina de súbito descobriu que estava faminta e foi para a cozinha. Abriu a geladeira e pegou um pote de iogurte e alguns biscoitos enquan­to esperava a água da chaleira ferver. Olhou ao redor do velho cômodo, muito diferente da luxuosa cozi­nha de sua casa em Auckland, que compartilhava com a amiga Luna e o primo dela, Neville. Os eletro­domésticos ali eram simples, funcionais, mas sem estilo, provavelmente instalados quando a casa fora construída. O papel de parede verde, a bancada de fórmica desbotada e o piso com padrões floridos também deviam ser originais, porém o que parecia na moda três décadas atrás era totalmente antiquado agora. Gina mal tivera tempo de desfazer as malas antes de ir à casa de Harry Potter, entretanto perce­bera que a casa de praia de três quartos era bem con­servada, mas não havia sinal de nenhuma reforma ao longo dos anos, e ela supunha que o dono atual a herdara ou comprara com a intenção de alugá-la para temporadas.


A chaleira apitou e Gina ocupou-se com a tarefa de fazer um chá. Jogou o saquinho na pia, adicionou um pouco de leite, mexendo o líquido com força desnecessária enquanto seus pensamentos retornavam ao enredo complicado que sua vida se tornara. Esco­lhas que um dia pareceram claras e simples eram, agora, repletas de perigo. Apenas esperava que não se tornasse presa da teia de enganos que vinha tecen­do ultimamente.


Gina levou a xícara aos lábios para o primeiro gole mas, de repente, uma onda de tensão a deixou nervo­sa. Virou-se, o coração acelerado, e percebeu que não estava mais sozinha. Tremendo, acabou derrubando algumas gotas do chá quente na mão.


Parado em silêncio na abertura em forma de arco entre a cozinha e a sala de estar, parecendo não mais amigável do que alguns minutos antes, estava Harry Potter.


- O que você está fazendo aqui? - perguntou ela, trocando a xícara de mão para sacudir os pingos que lhe queimavam os dedos, arrependida ao ouvir que seu tom de voz estava alto e acelerado, em vez de calmo e controlado.


- A porta estava aberta - disse ele, gesticulando a cabeça na direção da varanda. - Tive a impressão que você estava esperando que eu a seguisse...


- Está aberta porque a casa é quente e abafada - in­terrompeu ela. Sabia que devia agir com tranqüilida­de, mas as palavras sarcásticas saíram de seus lábios antes que pudesse detê-las. - O que você quer?


Os olhos verdes brilharam. Harry colocou um pequeno vasilhame de plástico sobre a mesa de fórmica, centralizando-o com uma precisão zombeteira.


- Eu trouxe o açúcar que você disse que precisava.


- Oh! - Ela abraçou a xícara defensivamente con­tra o peito. - Obrigada - murmurou, sabendo muito bem que o gesto dele era uma desculpa.


Confirmando o seu pensamento, Harry falou:


- Então, diga-me, você vai partir quando descobrir que está perdendo seu tempo aqui? Ou será necessá­rio homens de jaleco branco ou uma ordem de despe­jo para eu me livrar de você? Por acaso, está me se­guindo?


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N/A: Assim como minhas outras duas adaptações já tenho toda pronta, são 10 capitulos, então aproveitem pois eh uma leitura rápida e muito agradavel, adoro particularmente este livro.


Lembrando que todos os créditos são de Susan Napier!!!


 


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